Por Que os Empreendimentos
Marítimos Portugueses Davam Muito Lucro? Qual Era o Grande Centro de Construção
Naval na Época de Colombo? Por Que a Geografia Como Disciplina Não Constava do
Trívio Nem do Quadrívio?
Durante muito
tempo Gênova lutou contra Veneza pelo domínio marítimo do Mediterrâneo e, na
juventude de Cristóvão Colombo, Gênova era um centro de construção naval e empreendimentos
marítimos cujos autores de mapas dominavam o mercado de cartas marítimas no
Mediterrâneo.
Eles faziam
mapas de partes da costa da África recém-descobertas pelos discípulos do
Infante Dom Henrique, embora tenha sido em Gênova que Cristóvão Colombo começou
a aprender a arte de fazer mapas.
Enquanto
Gênova permanecia um lugar de nascimento e viveiro de bons exploradores, os
grandes empreendimentos marítimos exigiam maiores recursos e, tendo os
Muçulmanos grande domínio do Mediterrâneo, uma exposição mais ocidental.
Em 1476,
quando Colombo escoltava um carregamento no estreito de Gibraltar o seu barco
foi atacado e afundado pela armada francesa. Mas, felizmente, foi perto da
costa de Portugal (Lagos) e ele serviu-se de um dos remos como jangada, que o
impulsionou à terra.
Naquele tempo
não podia ter havido melhor lugar para um jovem (e ambicioso) marinheiro dar à
costa, pois o amigável povo de Lagos secou-o, alimentou-o e depois o enviou ao
encontro de seu irmão (Bartolomeu) que estava em Lisboa.
Dom Henrique
tinha feito de Portugal o centro explorador da Europa e do Mundo e, em 1476, os
empreendimentos marítimos davam muito lucro com suas cargas de escravos,
pimenta e ouro. As recompensas eram visíveis em toda parte e os irmãos Colombo
se lançaram ao negócio, vendendo cartas marítimas.
Em Lisboa
eles atualizavam as cartas antigas, acrescentando-lhes informações
recentes que eram trazidas pelos navios portugueses. E, com um conhecimento
mais claro e profundo de novas costas, quem fazia mapas virou uma espécie de
“jornalista” marítimo.
Quando os
irmãos Colombo se estabeleceram em Lisboa, os navios portugueses ainda
avançavam costa abaixo da África e chegaram a Guiné. Mas, a completa forma
africana – que Ptolomeu puxara para reunir o sudeste asiático e transformar o
Índico em um mar interior – ainda não tinha sido traçada.
No final de
1484, quando Colombo ofereceu aquilo que ele chamou de a sua “Empresa das
Índias” ao rei português D. João II, continuava a parecer que uma passagem
marítima para ocidente poderia ser não só a rota mais curta, mas também a única
para as Índias.
Uma década
antes, D. Afonso V parecia ter considerado uma passagem marítima para as Índias
pelo ocidente e pediu a opinião de um famoso astrólogo (Paolo Toscanelli), o
qual propunha – numa carta – um caminho mais curto para ir por mar para as
terras das especiarias, do que aquele feito pela Guiné. E, no início de 1482
quando Colombo ouviu falar dessa carta, escreveu a Toscanelli e pediu-lhe mais
informações.
Colombo
recebeu uma resposta encorajadora acompanhada de outro mapa, o qual levou
consigo na sua viagem para provar que Toscanelli tinha razão. Embora ele,
Colombo, já estivesse convencido, a partir daí quis tentar essa possibilidade.
Os que podiam
financiá-lo eram difíceis de persuadir
e, a fim de convencê-los, ele precisava estar familiarizado com os escritos dos
viajantes. Pois, a Geografia como disciplina não constava nem do Trívio ([1])
nem do Quadrívio ([2]),
e ainda não tinha lugar na escala do saber medieval cristão.
A língua
materna de Colombo (genovês) era um dialeto falado e não uma língua escrita e,
por isso mesmo, não o ajudou a documentar a empresa das Índias. Mas, ele não
sabia falar nem escrever o italiano – que era uma língua escrita – pois ele não
tinha muitos estudos.
Por outro
lado, ele aprendeu a falar castelhano que era a língua preferida das classes
instruídas de Portugal e toda Península Ibérica. E, quando escrevia em
castelhano, Colombo usava ortografia portuguesa, o que dava a impressão de que
falou primeiro português – o que não é verdade. Mas, ele aprendeu a ler em
latim, o que era indispensável para seus esforços de tentar persuadir os mais
instruídos.
Em 1484
Colombo fez sua apresentação da empresa das Índias ao rei D. João II que, em
princípio, deixou-se influenciar pelo entusiasmo do jovem genovês. Ele tinha
lido muito Marco Polo, chegando a conclusão de que pelo mar ocidental podia-se
navegar para terras desconhecidas e, com esse propósito, pediu ao rei que
tripulasse e equipasse 3 caravelas. Mas, o rei deu-lhe pouco crédito achando
que ele era um “grande falador”.
Apesar das
suas dúvidas, D. João II se sentiu convencido a apresentar o projeto a uma
comissão de especialistas, cujo grupo incluía 2 médicos judeus e 1 clérigo e
que acabou rejeitando o projeto. Essa rejeição não se baseou em qualquer
discordância sobre a forma da Terra – nessa altura os europeus já não tinham
nenhuma dúvida quanto à sua esfericidade –, mas a comissão ficou perturbada com
a grosseira subestimação da distância a navegar para ocidente até à Ásia.
Evidentemente
que os europeus não tinham ideia de que pudesse haver entre a Europa e a Ásia
uma barreira de terra sob a forma de 2 grandes continentes. No máximo
desconfiavam de que no oceano ocidental poderia haver ilhas como as Antilhas e
outras, as quais serviriam de escala.
Cálculos de
Colombo indicavam que a viagem direta para ocidente – das Canárias para o Japão
– seria apenas de 2400 milhas que se transformaram numa perspectiva tentadora,
pois de modo algum isso seria além da
capacidade dos barcos portugueses.
A comissão de
D. João II não se convenceu da vontade de Colombo. No entanto, em 1485 o rei
autorizou 2 portugueses (Fernão Dulmo e João Estreito) a tentar descobrir as
Ilhas Antilhas, desde que as despesas ficassem a cargo dos navegadores e com a
promessa de que se tornassem governantes das terras descobertas.
Mas, procurar
as Antilhas durante 40 dias era uma coisa e, percorrer toda distância até a
Ásia, outra coisa bem diferente. A distância real entre as Ilhas Canárias ao
Japão é de 10600 milhas e os cálculos da comissão eram próximos e, por isso
mesmo, seus membros não se atreveriam a encorajar o rei investir num
empreendimento tão especulativo.
Nessa época,
Colombo conheceu o tormento dos anos de conversas burocráticas entre a Rainha
Isabel e seus validos espanhóis. Entretanto, a comissão mostrou suas
qualificações acadêmicas não aprovando nem rejeitando o projeto, pois eles debateram
a largura do oceano ocidental e mantiveram Colombo em suspenso com a esmola de
uma insignificante mesada real.
Enquanto as
negociações espanholas se arrastavam, ele se lembrou de que o rei português D.
João II se mostrara cordial em 1484 e, por isso, resolveu voltar a Lisboa e
tentar de novo. Escreveu ao rei contando-lhe suas esperanças.
Mas, Colombo
partira de Portugal deixando para trás muitas contas a pagar e, por isso, não
se atrevia regressar se o monarca não lhe concedesse garantia de que não seria
preso pelas suas dívidas.
O rei
concordou e instigou-o a regressar, pois o interesse do rei devia-se ao fato de
a viagem de Dulmo e Estreito à Antilhas ter dado em nada. Mas, Colombo não
poderia ter escolhido pior hora, pois ao regressar à Portugal com seu irmão viu
Bartolomeu Dias subir triunfalmente o Rio Tejo alardeando que dobrara o Cabo da
Boa Esperança e descobrira a passagem aberta para a Índia.
Dessa forma,
o êxito de Bartolomeu Dias matou o interesse de D. João por Colombo. Afinal, se
a passagem marítima para o oriente era aberta e desimpedida, para quê especular
noutras direções?
Colombo foi
para Sevilha, onde encontrou Fernando e Isabel ainda hesitantes e,
preparando-se para embarcar para a França a fim de persuadir o rei Carlos VIII,
a rainha Isabel resolveu apoiá-lo após ser persuadida pelo seu chanceler.
O defensor de
Colombo salientou que o apoio a tal empreendimento não custaria mais do que uma
semana de hospedagem. Talvez a rainha tenha sido persuadida pelo fato de
Colombo ter revelado sua intenção de oferecer a pechincha do seu empreendimento
ao rei do país rival – Portugal.
Somente em
abril de 1492 – oito anos depois de Colombo ter feito a 1ª oferta ao rei de
Portugal – foram finalmente assinados os contratos com os soberanos espanhóis,
pois os anos de persuasão tinham acabado e o seu elemento agora era o mar, onde
o encanto pessoal não ajudaria muito porque não havia amigos na corte de
Netuno.
____________________________________________________
([1])
Trivia é um conhecimento não essencial, mas que é
interessante ter.
([2])
Quadrívio é um lugar onde se cruzam duas
vias ou onde se encontram (ou terminam) quatro caminhos. Encruzilhada.
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