sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

A Preocupação Com a Preservação do Meio Ambiente Nas Relações Internacionais

 Em termos de Meio Ambiente, Quais São os Principais Temas a Serem Tratados no Nível Doméstico e Internacional? Quando Começaram as Primeiras Tentativas de Regulação do Uso dos Recursos Naturais e da Vida Silvestre? Como Ocorreu o Desenvolvimento de Leis Internacionais e de Normas de Comportamentos Aceitáveis Sobre o Meio Ambiente?

 


 


Nas últimas décadas, a discussão sobre os efeitos do crescimento econômico, do crescimento populacional, da expansão dos centros urbanos e do desenvolvimento tecnológico tem sido pautada por uma preocupação com a preservação do meio ambiente. Alguns temas são vistos como necessários de ser tratados não só no nível doméstico, mas também no nível internacional. São eles:

 

Poluição do ar e dos rios;

Recursos naturais;

Aquecimento global;

Ocupação desordenada e drenagem;

Emissão de gás carbônico e aumento do efeito estufa, e

Destruição de biomas silvestres com desmatamento.  

 

Na medida em que problemas ligados ao meio ambiente ultrapassam as fronteiras domésticas, eles se tornam fenômenos e temas da política internacional. Na análise da questão do meio ambiente na política internacional, algumas perguntas começam a surgir, tais como:

 

Que tipo de forças políticas, sociais e econômicas causa a variedade de problemas ambientais, de alcance internacional, que nós enfrentamos hoje?

Por que alguns desses problemas se tornam questões internacionais e outros não?

Por que algumas políticas desenhadas para lidar com esses problemas os mitigam e, algumas vezes, até os eliminam, enquanto outras falham completamente?

 

Essas perguntas refletem a realidade do sistema internacional. Apesar da magnitude de alguns problemas relacionados ao meio ambiente, uma resposta eficiente para traçar as causas e estabelecer políticas para lidar com os problemas ainda depende de um sistema fragmentado, composto de mais de 190 Estados soberanos. Enquanto as preocupações com o meio ambiente não eram exclusivas do mundo globalizado, elas, tradicionalmente, restringiam-se à preocupação com a poluição e com o uso dos recursos naturais:

 

POLUIÇÃO:

 

A poluição não respeita fronteiras nacionais e, muitas vezes, requer a ação conjunta dos Estados para ser combatida. O mundo, após a Segunda Guerra Mundial, deu origem a tratados internacionais que tentaram regular, por exemplo, o descarte de lixo e a exploração de petróleo. No entanto, tais iniciativas, muitas vezes, eram relegadas a segundo plano pelas grandes potências, tendo sido assumidas por algumas agências especializadas das Nações Unidas, como a Organização para Alimentação e Agricultura, embora não recebessem a mesma atenção na Assembleia Geral das Nações Unidas.

 

USO DOS RECURSOS NATURAIS:

 

A regulação do uso dos recursos naturais e da vida silvestre é um assunto muito debatido. A segunda metade do século XX testemunhou várias tentativas de regulação do uso do mar para além do mar territorial, ou seja, para além da porção do mar considerada parte do território nacional em questão. Entre essas tentativas, encontram-se:

 

A Convenção Internacional para a Regulação das Baleias (1946) e

A Comissão Internacional sobre as Baleias, uma mudança importante de perspectiva da regulação da indústria de caça às baleias para preservação.

 

Uma dificuldade clara, nesse caso, e que reflete os desafios que o regime internacional de meio ambiente enfrenta, é que, ainda hoje, muitos países ignoram as regulações internacionais de proteção às baleias. Um dos mais desafiadores é o Japão, que protege os seus baleeiros ao redor do mundo.

 

Mudanças nas Questões Ambientais

 

A situação de ignorância nas questões ambientais muda, ligeiramente, no final da década de 1960, quando há uma movimentação na Assembleia Geral para que o assunto tenha maior proeminência. Data dessa época a proposta do que viria a ser a Conferência de 1972 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Conferência da Terra), promovida pelas Nações Unidas, cristalizando o seu papel de liderança no movimento pelo meio ambiente desde a sua criação, com a inauguração do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Para os países do Sul Global, parecia quase impossível separar as questões ligadas ao meio ambiente de demandas por desenvolvimento, ajuda externa e mudança nos termos de troca internacionais. Os países em desenvolvimento afirmavam que não podiam comprometer-se com regulações desenhadas para proteger o meio ambiente, uma vez que essas iriam prejudicar a sua rota de desenvolvimento econômico. A sua principal crítica era direcionada aos países desenvolvidos.

Segundo a crítica, os países desenvolvidos podiam e deviam comprometer-se com a proteção do meio ambiente, já que, para chegar ao status de desenvolvidos, tinham drenado e se servido dos recursos naturais de forma indiscriminada, pelo menos, desde a Revolução Industrial. Pedir que os países em desenvolvimento ameaçassem as suas políticas de desenvolvimento econômico em prol do meio ambiente seria pedir que permanecessem na periferia do sistema internacional indefinidamente.

Esse era o contexto político por trás da formulação do conceito de desenvolvimento sustentável em 1987, quando o meio ambiente voltou à agenda internacional, depois de ser relegado ao último plano durante as crises econômicas da década de 1970.

 

Regularidade das Reuniões

 

O final da Guerra Fria e a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992 (Rio 92), tornaram os temas internacionais ligados ao meio ambiente mais salientes tanto intelectual quanto politicamente. A conferência ainda é considerada um marco na governança global do meio ambiente, tendo testemunhado a conclusão de importantes documentos, tais como a Agenda 21 e as convenções internacionais sobre mudança climática e preservação da biodiversidade. A conferência confirmou a regularidade de reuniões internacionais dedicadas ao tema:

 

Em 2002, dez anos após a Rio 92, foi realizada a Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, indicando assim uma mudança na concepção da relação entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente e

Em 2012, foi realizada a Rio+20, novamente na cidade do Rio de Janeiro, uma Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

 

Os avanços científicos e tecnológicos, ao longo das décadas de 1980 e 1990, contribuíram para mudar o discurso sobre o impacto das ações humanas sobre o meio ambiente. Por mais que ainda não haja consenso total sobre a extensão desse impacto, há evidências de que, por exemplo:

 

A expansão da agropecuária possui relação com o aquecimento global e

A emissão de gás carbônico na atmosfera está ligada à diminuição da camada de ozônio.

 

As mudanças climáticas também têm sido relacionadas à intervenção humana em biomas e biossistemas. Essa conscientização científica tem contribuído para conferir legitimidade aos clamores a que se deve prestar atenção, cooperar e mobilizar recursos para a preservação do meio ambiente, bem como contribuir para angariar apoio da sociedade civil global para esses temas.

A conscientização dos impactos das ações humanas sobre o meio ambiente tem sido aguçada desde finais da década de 1960, com a transmissão e publicitação de importantes acidentes ambientais, como:

 

Envenenamento por mercúrio, em 1959, em Minamata, no Japão;

Derramamento de óleo na Baía de São Francisco após a colisão de dois petroleiros em 1971.

 

Um dos acidentes mais recentes envolveu um grande derramamento de petróleo no Golfo do México (2010) causado pela British Petroleum. O fato de, por muito tempo, esses assuntos terem sido ignorados por líderes e seus governos, abriu espaço para que uma série de ONGs surgisse – como o Greenpeace, a WWF e a Friends of Earth – assim como grupos de pressão, como a US Sierra Club e a Sociedade Real Britânica para a Proteção dos Pássaros. Esses eventos e o aumento da consciência global sobre o tema, bem como o surgimento de grupos dedicados ao combate pela preservação do meio ambiente, levaram a demandas pelo estabelecimento de um sistema de governança do meio ambiente.

 

Bases de Cooperação

 

O sistema de governança do meio ambiente almeja estabelecer bases para a cooperação entre Estados fundamentalmente, e entre estes e os demais atores não estatais, na busca pela preservação do meio ambiente. O combate à poluição e a preservação dos recursos naturais foram os primeiros temas que receberam regulação internacional como resultado da cooperação entre os Estados. Vejamos exemplos de temas no âmbito dos quais alguns acordos foram alcançados:

 

A regulação do despejo de resíduos químicos e biológicos

As demandas por forma de combate à emissão de poluentes.

A proibição do comércio de animais silvestres e ameaçados de extinção.

 

Desenvolvimento de Leis e Normas

 

O desenvolvimento de leis internacionais e de normas de comportamentos aceitáveis com relação ao meio ambiente tem crescido rapidamente, nos últimos trinta anos. Em especial, vem acompanhando as conferências das Nações Unidas – especificamente, as Conferências da Terra. Veremos abaixo algumas mudanças promovidas por leis e normas.

 

A Conferência de 1972 estabeleceu, por exemplo, a relação do princípio da soberania sobre recursos naturais com a responsabilidade sobre a poluição externa, cristalizada no documento Princípio 21.

Da mesma forma, a Conferência Rio 92 produziu a Agenda 21, que continua sendo um documento-chave no processo de criação de normas de melhores práticas.

Posteriormente, o conceito de desenvolvimento sustentável surgiu, conjugando a necessidade de preservação do meio ambiente com as demandas de países do Sul por condições reais – como transferência de tecnologia e ajuda externa – para consolidar o seu desenvolvimento econômico.

 

Permanece ainda a questão da regulação sobre os comuns, entendidos como recursos e áreas que não estão sob a jurisdição de nenhum Estado, como o mar territorial, os oceanos, a Antártica, o espaço e a atmosfera, por exemplo.

Se esses são espaços que não estão sob a jurisdição de nenhum Estado, quem deve ser responsável por eles? Esse é o grande dilema por trás da tragédia dos comuns. Os recursos comuns têm sido explorados constantemente, sem proteção ou supervisão de algum poder.

 

O que dizer da caça e da extinção de algumas espécies de baleias e tubarões? Ou do acúmulo de lixo espacial de antigos satélites e foguetes?

Ou ainda da preservação da vida animal na Antártica, como de pinguins e ursos polares? Ou da poluição da atmosfera?

Onde há recursos que, a princípio, não são de propriedade de ninguém, como podemos controlar a sua exploração?

 

 

Um excelente exemplo de iniciativa bem-sucedida é o Protocolo de Montreal, de 1987, criado para coordenar ações de combate à degradação da camada de ozônio.

 

Mudança Climática Pelo Aquecimento Global

 

O problema da mudança climática induzida pelo aquecimento global, subproduto da intensificação do efeito estufa, é o problema:

 

Mais urgente que a sociedade internacional enfrenta na área de meio ambiente e

Que arregimenta menos consenso, apresentando maior dificuldade de coordenação entre Estados, e entre estes e atores não estatais.

 

A dificuldade de estabelecer um regime sobre as mudanças climáticas fica clara a partir do fracasso total ou parcial de dois instrumentos que tentaram regular a emissão de gases causadores do efeito estufa:

 

O Protocolo de Kyoto (1997) e 

O documento final da Convenção sobre Mudança Climática das Nações Unidas (1992).

 

Nesse caso, o desafio também é maior, se comparado à questão da camada de ozônio. Combater o aquecimento global requer intervir tanto nos setores da produção agrícola e industrial quanto na área de transporte, pilares fundamentais da vida moderna.

 

Dilema

 

Quem, potencialmente, sofrerá mais com os efeitos do aquecimento global?

 

Alguns especialistas sugerem que serão os países do Sul Global, com menos infraestrutura e com populações concentradas ao nível do mar.

Por outro lado, outros Estados, como a Rússia, imaginam conseguir vantagens do aquecimento, com o temperamento de algumas de suas regiões.

 

Outras questões também contribuem para o dilema fundamental do regime internacional sobre o aquecimento global:

 

Se o aquecimento global afeta populações de maneira diferenciada, como produzir um regime que requer que os países tenham o mesmo nível de comprometimento?

Quais seriam os incentivos para que países do Norte invistam em sustentabilidade, reduzam as suas emissões de gás carbônico e desacelerem o ritmo de produção e consumo?

 

Desenvolvimento Sustentável

 

Se forças estruturais fazem com que a degradação ambiental seja provável, elas, ainda assim, deixam espaço para que a ação humana faça com que essa degradação não seja inevitável. As políticas não podem mudar a capacidade de recursos do meio ambiente, mas podem tentar influenciar as demandas para que estejam de acordo com essas capacidades. Nesse sentido, as regulações intergovernamentais ou a sociedade civil transnacional podem criar constrangimentos e incentivos para induzir o consumo consciente e o desenvolvimento sustentável.

Além disso, tanto o avanço tecnológico quanto a reflexão prática e acadêmica podem remediar problemas que nascem do impacto da ação humana sobre o meio ambiente e ajudar a identificar novas formas de equacionar produção e consumo com sustentabilidade. Ao longo do tempo, grupos e indivíduos também podem transformar, de forma consciente, os valores da sociedade global, de forma refletir as preocupações com a conservação do meio ambiente.

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