quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

A Estrutura Política e a Formação dos Partidos Revolucionário na Rússia Pré-Revolucionária

 

Há pouco tempo – em pleno século XX – o Estado russo ainda era uma monarquia absoluta, onde o czar governava amparado socialmente na nobreza rural e em uma burocracia. E, nesse clima, organizaram-se os partidos políticos de oposição que atuavam na clandestinidade até 1905.




Durante a década de 1840, o desenvolvimento das opiniões tinha originado na Rússia duas atitudes, onde: (1º) os ocidentalistas consideravam a cultura do Ocidente europeu superior, acreditando na ciência, no governo constitucional, nos valores liberais e contra a servidão; e (2º), os eslavófilos, que afirmavam a singularidade do passado russo resistindo à penetração das ideias ocidentais.

Os  eslavófilos eram dotados de fervor místico, ligados à Igreja oficial e acabaram identificando-se com o czarismo e fazendo a propaganda do Pan-Eslavismo que justificava uma política expansionista russa nos Bálcãs.

 

Os Partidos Políticos

 

A oposição ao regime czarista começou a crescer desde fins do século XIX e procurou melhor atuar através da organização de partidos. Em 1898 foi fundado o Partido Operário Social Democrata Russo e, nele, se destacavam Lenine e Júlio Martov.

Embora seguindo as ideias de Marx e Engels, o Partido se dividiu em duas (2) tendências: _ a dos bolchevistas (chefiado por Lenine e defensores de um partido combativo, centralizado e disciplinado) e a outra, que adotava as diretrizes de Pedro Kropotkin, anarquista russo que defendia a não violência a fim de desagregar o czarismo, adotando-se o não pagamento de impostos, a recusa à prestação do serviço militar e o não reconhecimento dos tribunais de Estado.

O Partido Constitucional Democrata reunia elementos da burguesia e de alguns setores da nobreza. Defendia a ideologia liberal e pretendia instaurar na Rússia um sistema de governo semelhante ao da Inglaterra.

 

As Revoluções do “Ensaio Geral” (de 1905 Até a Tomada do Poder em 1917).

 

O governo russo era incapaz de solucionar os problemas socioeconômicos, que tendiam a se agravar quando o Império entrava em guerra e nesse momento as crises se acentuavam, criando conjunturas revolucionárias.

 

A Revolução de 1905: o “Ensaio Geral”

 

Foi desencadeada com as derrotas russas frente ao Japão no auge da grave de depressão econômica, o que aumentou o descontentamento das camadas sociais contra o czarismo. A dispensa de operários motivou manifestações pacíficas e, algumas delas, acabaram sendo dissolvidas à bala. Esses incidentes deram sinal para distúrbios em toda a Rússia.

Trabalhadores entravam em greve, por vários meses houve conflitos e no Mar Negro os marinheiros de um encouraçado russo se rebelaram e, nos campos, os camponeses também se revoltaram. Essas revoltas arrancaram concessões do czar, destacando-se a legalização dos partidos políticos, a ampliação do direito de voto e a convocação de uma Assembleia Legislativa (a Duma). Porém, assim que pôde, o governo tratou de neutralizá-la.

Mas, os efeitos da Revolução foram duradouros, colocando-se em xeque o czarismo e criando-se novas formas de organização: o soviete (comitê ou conselho).

 

As Revoluções de 1917:  a Tomada do Poder Pelos Bolchevistas

 

A entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial precipitou o processo revolucionário, pois acentuou as instalações da sociedade. O país estava despreparado para enfrentar o esforço de guerra e nenhum outro apresentava contrastes sociais. Os soldados, mal armados e mal alimentados foram dizimados e, em dois anos e meio, a Rússia perdeu 4 milhões de homens. Em 1916 a situação era insustentável e a oposição aumentou tanto no seio da nobreza e da burguesia quanto no campesinato e no proletariado.

No plano político, a oposição na Duma cresceu e o czar Nicolau II assumiu o comando do Exército, abandonando o governo ao grupo burocrático que se fechava em torno da czarina. Esta vivia sob a influência de Rasputin, místico e charlatão com enorme poder na corte. A oposição se acentuou com as sucessivas deposições de ministros.

A Revolução de Março foi o resultado de uma série de greves e os soldados russos se recusaram a atacar as multidões de manifestantes, mas houve violentos choques ente polícia e povo. Uma parte do exército se reuniu aos manifestantes e os edifícios públicos foram ocupados, os ministros e generais detidos.

Constituiu-se um Governo Provisório integrado por elementos liberais da Duma; porém, o poder de fato estava com os sovietes. O período de março a novembro de 1917 caracterizou-se pela dualidade de poderes entre o Governo Provisório e o soviete dos operários, soldados e camponeses. Três (3) correntes políticas se defrontavam:

 

·                     O Partido Constitucional Democrata – da burguesia e da nobreza liberal, reduto do conservadorismo, favorável à continuação da guerra e adiando quaisquer modificações sociais e econômicas.

·                     Os Bolchevistas – defendiam o confisco das grandes propriedades, o controle operário da indústria e a paz imediata com a Alemanha.

·                     Os Menchevistas e Socialistas Revolucionários – embora contrários à guerra, não admitiam a derrota da Rússia.

 

De minoritários, os bolchevistas passaram a majoritários, passando a controlar os principais sovietes a partir de agosto. O Governo Provisório foi deposto e os bolchevistas assumiram o poder, embora para se manter na direção da República Socialista Soviética, eles tenham enfrentado inúmeros problemas.

 

Da Rússia à URSS – Crise e Estabilização (1918 / 1928)

 

O período de 1918 até 1928 pode ser dividido em três (3) etapas:

1.                 A) A Época do Comunismo de Guerra (1918 / 1921)

O novo poder se organizou com a criação do Exército Vermelho, da polícia política (Tcheca), pela separação entre a Igreja e o Estado, a abolição dos empréstimos contraídos durante o período czarista, a nacionalização dos bancos, das estradas de ferro e do comércio exterior.

A efetivação dessas medidas dependia da força do novo governo, o qual se apoiava no operariado das grandes cidades e no campesinato. Isto explica a urgência de se fazer a paz com a Alemanha.

A paz, assinada em 1918 caracterizou-se pela dureza das condições para os soviéticos, bem como pela controvérsia entre os bolchevistas. Uma corrente (Lenine) advogava a paz a qualquer preço e a outra (Trotsky) pretendia continuar a guerra dando-lhe conteúdo revolucionário.

A oposição ao novo regime gerou sublevações lideradas por antigos oficiais czaristas. Os países europeus – cujas tropas eram influenciadas pelas ideias bolchevistas – viam a Revolução como uma ameaça a seus regimes.

Daí seu apoio às tropas dos russo-brancos (antibolchevistas), bem como a invasão de exércitos estrangeiros ao território soviético. Contou também com o apoio dos camponeses, que temiam que suas terras fossem confiscadas pelos russo-brancos e devolvidas à aristocracia. As tropas invasoras se desorganizaram.

Entretanto, a vitória bolchevista só foi possível em função de inúmeras medidas radicais conhecidas como “Comunismo de Guerra”, cujo objetivo era a regulação do consumo e da produção.

Portanto, há a expropriação das grandes indústrias – e da maior parte das pequenas empresas – com a gestão operária criando o monopólio dos cereais pelo Estado e pelos “comitês dos pobres camponeses”, encarregados de combater a influência política dos cultivadores abastados, bem como confiscar estoques dos camponeses ricos. E, finalmente, começam a organizar-se propriedades agrícolas de produção e consumo coletivizadas.

 

A Marcha Para a Estabilização do Regime Soviético (NEP)

 

Ao final da guerra civil e da invasão estrangeira a vitória da Revolução estava consolidada, mas as precárias condições econômicas aumentaram a insatisfação e vieram levantes. O poder bolchevista enfrentava sua primeira grande crise com as próprias forças que o apoiavam.

Mas, como conciliar o caráter socialista da Revolução com as exigências camponesas? Como manter-se no poder sem o apoio do campesinato majoritário, no momento em que grande parte do operariado das cidades tinha desaparecido?

A resposta a essas perguntas foi a “Nova Política Econômica” (NPE) defendida por Lenine.

Vigorando de 1921 até 1927, a NEP era uma economia mista de socialismo e capitalismo: permitiu a liberdade do comércio interno e o funcionamento de pequenas indústrias. Concessões foram feitas a empresas capitalistas inglesas, americanas, francesas e alemãs.

Mas, simultaneamente o Estado conservava seu direito de propriedade sobre a terra – e todos os meios de produção – controlando os transportes, os bancos, a grande indústria e o comércio externo. Havia então um setor privado e um setor público em concorrência. Do ponto de vista econômico, a NEP teve balanço positivo, pois a produção industrial ultrapassou o nível anterior à guerra.

Paralelamente à NEP, observava-se grandes transformações no plano político e institucional, pois a Constituição de 1918 ainda não fora posta em prática. Surgiu outra Constituição que, em 1922, deu origem à União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – federação cuja república mais importante era a Rússia, reunido também a Ucrânia, a Bielorússia e as repúblicas da Ásia Central.

O sistema eleitoral favorecia os operários em detrimento dos camponeses. O poder supremo – Congresso dos Sovietes da União – reunia-se periodicamente, designando um Comitê Central Executivo para dirigir o país nos intervalos dos congressos.

O Comitê Central tinha um Presidente e nomeava o Conselho de Comissários do Povo (espécies de ministros de Estado). A autoridade central tinha muito poder, restando aos Estados Federados certa autonomia em questões como instrução, desenvolvimento da cultura local, etc. A fonte de todo o poder era o Partido Comunista.

 Após a morte de Lenine cresceu a controvérsia entre a facção estalinista e os partidários de Trotsky. Para este, a Revolução não triunfaria na Rússia se não fosse acompanhada de movimentos idênticos em países “mais adiantados”. O fracasso das tentativas revolucionárias, após a Primeira Guerra, deixou os soviéticos isolados e, para Stalin, o isolamento não deveria impedir a construção do socialismo.

 

A Era Estalinista: Planificação e Coletivização (1928 / 1939)

 

A NEP recuperara a agricultura, mas a industrialização exigia capitais, técnica e equipamentos que a URSS não possuía e, por isso mesmo, em 1921 fundou-se a Comissão do Conselho do Trabalho e da Defesa – GOSPLAN), encarregado dos estudos para a planificação que elaborou um plano quinquenal, posto em prática em 1928. Antes da Segunda Guerra Mundial aplicaram-se integralmente dois planos:

 

·                     O Primeiro Plano (1928 / 1932) concentrou esforços na supressão da propriedade individual e no aumento da produção de bens de consumo. No setor agrícola a coletivização foi mais difícil, formando-se dois tipos de unidades agrárias: as fazendas estatais em que os camponeses se tornavam assalariados do Estado e as cooperativas de produção, onde os camponeses recebiam pequena parcela de terras que exploravam para si.

·                     O Segundo Plano caracterizou-se por uma planificação mais homogênea dos vários setores da economia. Sua aplicação foi facilitada pela existência de maiores investimentos, pela produção de técnicas de competição, de estímulos materiais (prêmios) e pelo aprimoramento da divisão do trabalho.

 

No plano político ocorreu um enrijecimento do Partido e o fortalecimento do grupo liderado por Stalin, que o controlava. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial a situação da URSS tinha melhorado em relação a 1920. Externamente a URSS foi reconhecida por vários países e participou de algumas organizações internacionais, o que explica o abrandamento da “exportação da Revolução”.

Entretanto, os anos de 1931 a 1933 assistiram a uma virada diplomática mundial que afetou sua posição: no Oriente, o Japão avançou sobre a China, na Alemanha os nazistas subiram ao poder e, em 1936, formou-se o Pacto Anti-Comitê (Japão, Alemanha e Itália).

Do ponto de vista econômico, a industrialização colocou a URSS entre as potências mundiais, embora os padrões de vida fossem inferiores aos dos países capitalistas desenvolvidos. Mas, a maior novidade estava na intervenção do Estado na economia, predominantemente estatizada. Além disso, a Revolução:

 

·                     Valorizou direitos sociais como saúde, educação e pleno emprego.

·                     Estimulou projetos de desenvolvimento econômico, fundamentado em planificações econômicas.

·                     Contribuiu para a concorrência de movimentos de libertação do colonialismo.



https://www.facebook.com/juliocesar.s.santos

Nenhum comentário :

Postar um comentário