Há pouco
tempo – em pleno século XX – o Estado russo ainda era uma monarquia absoluta,
onde o czar governava amparado socialmente na nobreza rural e em
uma burocracia. E, nesse clima, organizaram-se os partidos políticos de
oposição que atuavam na clandestinidade até 1905.
Durante a década de 1840, o desenvolvimento das opiniões tinha originado na Rússia duas atitudes, onde: (1º) os ocidentalistas consideravam a cultura do Ocidente europeu superior, acreditando na ciência, no governo constitucional, nos valores liberais e contra a servidão; e (2º), os eslavófilos, que afirmavam a singularidade do passado russo resistindo à penetração das ideias ocidentais.
Os eslavófilos
eram dotados de fervor místico, ligados à Igreja oficial e acabaram
identificando-se com o czarismo e fazendo a propaganda do Pan-Eslavismo que
justificava uma política expansionista russa nos Bálcãs.
Os
Partidos Políticos
A
oposição ao regime czarista começou a crescer desde fins do século XIX e
procurou melhor atuar através da organização de partidos. Em 1898 foi fundado o
Partido Operário Social Democrata Russo e, nele, se destacavam Lenine e Júlio
Martov.
Embora
seguindo as ideias de Marx e Engels, o Partido se dividiu em duas (2)
tendências: _ a dos bolchevistas (chefiado por Lenine e defensores de um
partido combativo, centralizado e disciplinado) e a outra, que adotava as
diretrizes de Pedro Kropotkin, anarquista russo que defendia a não violência a
fim de desagregar o czarismo, adotando-se o não pagamento de impostos, a recusa
à prestação do serviço militar e o não reconhecimento dos tribunais de Estado.
O Partido
Constitucional Democrata reunia elementos da burguesia e de alguns setores da
nobreza. Defendia a ideologia liberal e pretendia instaurar na Rússia um
sistema de governo semelhante ao da Inglaterra.
As
Revoluções do “Ensaio Geral” (de 1905 Até a Tomada do Poder em 1917).
O governo
russo era incapaz de solucionar os problemas socioeconômicos, que tendiam a se
agravar quando o Império entrava em guerra e nesse momento as crises se
acentuavam, criando conjunturas revolucionárias.
A
Revolução de 1905: o “Ensaio Geral”
Foi
desencadeada com as derrotas russas frente ao Japão no auge da grave de
depressão econômica, o que aumentou o descontentamento das camadas sociais
contra o czarismo. A dispensa de operários motivou manifestações pacíficas e,
algumas delas, acabaram sendo dissolvidas à bala. Esses incidentes deram sinal
para distúrbios em toda a Rússia.
Trabalhadores
entravam em greve, por vários meses houve conflitos e no Mar Negro os
marinheiros de um encouraçado russo se rebelaram e, nos campos, os camponeses
também se revoltaram. Essas revoltas arrancaram concessões do czar,
destacando-se a legalização dos partidos políticos, a ampliação do direito de
voto e a convocação de uma Assembleia Legislativa (a Duma). Porém, assim que
pôde, o governo tratou de neutralizá-la.
Mas, os
efeitos da Revolução foram duradouros, colocando-se em xeque o czarismo e
criando-se novas formas de organização: o soviete (comitê ou conselho).
As
Revoluções de 1917: a Tomada do Poder Pelos Bolchevistas
A entrada
da Rússia na Primeira Guerra Mundial precipitou o processo revolucionário, pois
acentuou as instalações da sociedade. O país estava despreparado para enfrentar
o esforço de guerra e nenhum outro apresentava contrastes sociais. Os soldados,
mal armados e mal alimentados foram dizimados e, em dois anos e meio, a Rússia
perdeu 4 milhões de homens. Em 1916 a situação era insustentável e a oposição
aumentou tanto no seio da nobreza e da burguesia quanto no campesinato e no
proletariado.
No plano
político, a oposição na Duma cresceu e o czar Nicolau II assumiu o comando do
Exército, abandonando o governo ao grupo burocrático que se fechava em torno da
czarina. Esta vivia sob a influência de Rasputin, místico e charlatão com
enorme poder na corte. A oposição se acentuou com as sucessivas deposições de
ministros.
A
Revolução de Março foi o resultado de uma série de greves e os soldados russos
se recusaram a atacar as multidões de manifestantes, mas houve violentos
choques ente polícia e povo. Uma parte do exército se reuniu aos manifestantes
e os edifícios públicos foram ocupados, os ministros e generais detidos.
Constituiu-se
um Governo Provisório integrado por elementos liberais da Duma; porém, o poder
de fato estava com os sovietes. O período de março a novembro de 1917
caracterizou-se pela dualidade de poderes entre o Governo Provisório e o soviete
dos operários, soldados e camponeses. Três (3) correntes políticas se
defrontavam:
·
O Partido Constitucional Democrata – da burguesia e
da nobreza liberal, reduto do conservadorismo, favorável à continuação da
guerra e adiando quaisquer modificações sociais e econômicas.
·
Os Bolchevistas – defendiam o confisco das grandes
propriedades, o controle operário da indústria e a paz imediata com a Alemanha.
·
Os Menchevistas e Socialistas Revolucionários –
embora contrários à guerra, não admitiam a derrota da Rússia.
De
minoritários, os bolchevistas passaram a majoritários, passando a controlar os
principais sovietes a partir de agosto. O Governo Provisório foi deposto
e os bolchevistas assumiram o poder, embora para se manter na direção da
República Socialista Soviética, eles tenham enfrentado inúmeros problemas.
Da Rússia
à URSS – Crise e Estabilização (1918 / 1928)
O período
de 1918 até 1928 pode ser dividido em três (3) etapas:
1.
A) A Época do Comunismo de Guerra (1918 / 1921)
O novo
poder se organizou com a criação do Exército Vermelho, da polícia política
(Tcheca), pela separação entre a Igreja e o Estado, a abolição dos empréstimos
contraídos durante o período czarista, a nacionalização dos bancos, das
estradas de ferro e do comércio exterior.
A
efetivação dessas medidas dependia da força do novo governo, o qual se apoiava
no operariado das grandes cidades e no campesinato. Isto explica a urgência de
se fazer a paz com a Alemanha.
A paz,
assinada em 1918 caracterizou-se pela dureza das condições para os soviéticos,
bem como pela controvérsia entre os bolchevistas. Uma corrente (Lenine)
advogava a paz a qualquer preço e a outra (Trotsky) pretendia continuar a
guerra dando-lhe conteúdo revolucionário.
A
oposição ao novo regime gerou sublevações lideradas por antigos oficiais
czaristas. Os países europeus – cujas tropas eram influenciadas pelas ideias
bolchevistas – viam a Revolução como uma ameaça a seus regimes.
Daí seu
apoio às tropas dos russo-brancos (antibolchevistas), bem como a invasão de
exércitos estrangeiros ao território soviético. Contou também com o apoio dos
camponeses, que temiam que suas terras fossem confiscadas pelos russo-brancos e
devolvidas à aristocracia. As tropas invasoras se desorganizaram.
Entretanto,
a vitória bolchevista só foi possível em função de inúmeras medidas radicais
conhecidas como “Comunismo de Guerra”, cujo objetivo era a regulação do consumo
e da produção.
Portanto,
há a expropriação das grandes indústrias – e da maior parte das pequenas
empresas – com a gestão operária criando o monopólio dos cereais pelo Estado e
pelos “comitês dos pobres camponeses”, encarregados de combater a influência
política dos cultivadores abastados, bem como confiscar estoques dos camponeses
ricos. E, finalmente, começam a organizar-se propriedades agrícolas de produção
e consumo coletivizadas.
A Marcha
Para a Estabilização do Regime Soviético (NEP)
Ao final
da guerra civil e da invasão estrangeira a vitória da Revolução estava
consolidada, mas as precárias condições econômicas aumentaram a insatisfação e
vieram levantes. O poder bolchevista enfrentava sua primeira grande crise com
as próprias forças que o apoiavam.
Mas, como
conciliar o caráter socialista da Revolução com as exigências camponesas? Como
manter-se no poder sem o apoio do campesinato majoritário, no momento em que
grande parte do operariado das cidades tinha desaparecido?
A
resposta a essas perguntas foi a “Nova Política Econômica” (NPE) defendida por
Lenine.
Vigorando
de 1921 até 1927, a NEP era uma economia mista de socialismo e capitalismo:
permitiu a liberdade do comércio interno e o funcionamento de pequenas
indústrias. Concessões foram feitas a empresas capitalistas inglesas,
americanas, francesas e alemãs.
Mas,
simultaneamente o Estado conservava seu direito de propriedade sobre a terra –
e todos os meios de produção – controlando os transportes, os bancos, a grande
indústria e o comércio externo. Havia então um setor privado e um setor público
em concorrência. Do ponto de vista econômico, a NEP teve balanço positivo, pois
a produção industrial ultrapassou o nível anterior à guerra.
Paralelamente
à NEP, observava-se grandes transformações no plano político e institucional,
pois a Constituição de 1918 ainda não fora posta em prática. Surgiu outra
Constituição que, em 1922, deu origem à União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) – federação cuja república mais importante era a Rússia,
reunido também a Ucrânia, a Bielorússia e as repúblicas da Ásia Central.
O sistema
eleitoral favorecia os operários em detrimento dos camponeses. O poder supremo
– Congresso dos Sovietes da União – reunia-se periodicamente, designando um
Comitê Central Executivo para dirigir o país nos intervalos dos congressos.
O Comitê
Central tinha um Presidente e nomeava o Conselho de Comissários do Povo
(espécies de ministros de Estado). A autoridade central tinha muito poder,
restando aos Estados Federados certa autonomia em questões como instrução,
desenvolvimento da cultura local, etc. A fonte de todo o poder era o Partido
Comunista.
Após
a morte de Lenine cresceu a controvérsia entre a facção estalinista e os
partidários de Trotsky. Para este, a Revolução não triunfaria na Rússia se não fosse
acompanhada de movimentos idênticos em países “mais adiantados”. O fracasso das
tentativas revolucionárias, após a Primeira Guerra, deixou os soviéticos
isolados e, para Stalin, o isolamento não deveria impedir a construção do
socialismo.
A Era
Estalinista: Planificação e Coletivização (1928 / 1939)
A NEP
recuperara a agricultura, mas a industrialização exigia capitais, técnica e
equipamentos que a URSS não possuía e, por isso mesmo, em 1921 fundou-se a
Comissão do Conselho do Trabalho e da Defesa – GOSPLAN), encarregado dos
estudos para a planificação que elaborou um plano quinquenal, posto em prática
em 1928. Antes da Segunda Guerra Mundial aplicaram-se integralmente dois
planos:
·
O Primeiro Plano (1928 / 1932) concentrou esforços
na supressão da propriedade individual e no aumento da produção de bens de
consumo. No setor agrícola a coletivização foi mais difícil, formando-se dois
tipos de unidades agrárias: as fazendas estatais em que os camponeses se
tornavam assalariados do Estado e as cooperativas de produção, onde os
camponeses recebiam pequena parcela de terras que exploravam para si.
·
O Segundo Plano caracterizou-se por uma
planificação mais homogênea dos vários setores da economia. Sua aplicação foi
facilitada pela existência de maiores investimentos, pela produção de técnicas
de competição, de estímulos materiais (prêmios) e pelo aprimoramento da divisão
do trabalho.
No plano
político ocorreu um enrijecimento do Partido e o fortalecimento do grupo
liderado por Stalin, que o controlava. Às vésperas da Segunda Guerra Mundial a
situação da URSS tinha melhorado em relação a 1920. Externamente a URSS foi
reconhecida por vários países e participou de algumas organizações
internacionais, o que explica o abrandamento da “exportação da Revolução”.
Entretanto,
os anos de 1931 a 1933 assistiram a uma virada diplomática mundial que afetou
sua posição: no Oriente, o Japão avançou sobre a China, na Alemanha os nazistas
subiram ao poder e, em 1936, formou-se o Pacto Anti-Comitê (Japão, Alemanha e
Itália).
Do ponto
de vista econômico, a industrialização colocou a URSS entre as potências
mundiais, embora os padrões de vida fossem inferiores aos dos países
capitalistas desenvolvidos. Mas, a maior novidade estava na intervenção do
Estado na economia, predominantemente estatizada. Além disso, a Revolução:
·
Valorizou direitos sociais como saúde, educação e
pleno emprego.
·
Estimulou projetos de desenvolvimento econômico,
fundamentado em planificações econômicas.
·
Contribuiu para a concorrência de movimentos de
libertação do colonialismo.
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