quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A Expansão das Colônias na Ásia no Final do Século XIX

 Como Ocorreu a Expansão Colonialista Portuguesa na Índia? Que Tipos de Colônias se Espalharam Pela China? Qual o Papel do Japão na Expansão Colonialista Europeia?

 




A Índia era uma sociedade tradicionalista e estruturada em castas hereditárias, implicando uma função social e um gênero de vida que era regulamentado rigorosamente. A economia era essencialmente agrícola e a continuidade das instituições era reforçada pelo hinduísmo, cujas normas impunham o conformismo. O islamismo – dominante nas regiões setentrionais – igualmente não comportava estímulos a transformações.

A Índia se dividia politicamente em vários Estados cujos governantes subordinavam-se ao imperador mongol de Nova Deli. Mas, desde o século XVI os portugueses estabeleceram feitorias e, a ação inglesa, só se fez presente a partir do século XVII através da Companhia das Índias Orientais – que, obtendo o monopólio do comércio indiano, fundou entrepostos comerciais.

Até inícios do século XIX o desenvolvimento do capitalismo inglês importou novas diretrizes de consequências desastrosas para a Índia. Interessados em ampliar a produção de matérias primas, os ingleses confiscaram propriedades rurais, suprimiram a servidão camponesa e estimularam a produção de algodão, cânhamo e juta.

Foi estabelecido o pagamento de um imposto individual, o que forçava os nativos a buscar um trabalho assalariado, assim ampliando a oferta de mão de obra e o mercado consumidor da produção fabril inglesa. A reação indiana foi a Revolta dos Sipaios (1859) empreendida pelas tropas nativas e, apesar do sentido anti-inglês, o movimento nacionalista não teve caráter nacional e foi duramente combatido pelos britânicos.

Após a submissão a administração foi reorganizada, suprimiu-se a Companhia das Índias Orientais, confiou-se a autoridade a um vice-rei nomeado pelo Parlamento, admitiu-se a participação de indianos na administração, permitiu-se o funcionamento de partidos políticos e se estabeleceu eleições para escolha de membros do Parlamento indiano.

A consolidação do domínio inglês na Índia deu à Inglaterra importante ponto de apoio para a sua luta política imperialista no Extremo Oriente, possibilitando ainda o controle de uma sociedade que viria a fornecer excelentes soldados para os exércitos ingleses em suas campanhas de conquista.


A Abertura da China


O Império Chinês era o mais vasto e o mais povoado dos Estados asiáticos, compreendendo, além da China, a Mongólia, a Manchúria, o Tibete e partes da Coréia e Anã. Sua economia era baseada na agricultura, exigindo-se o cultivo coletivo dos campos e o pagamento de tributos ao Estado.

O Estado empreendia as obras hidráulicas necessárias às atividades agrícolas, o artesanato era bem ativo e nas oficinas produziam-se sedas, lacas, objetos de porcelana e outros produtos de luxo.

Desde o século XVIII, comerciantes ingleses procuravam ampliar suas atividades na China (restritas ao porto de Cantão), através do qual adquiriam produtos chineses e vendiam – principalmente – ópio. O fracasso das negociações levou o governo inglês a buscar um pretexto para intervir na China e, após a destruição de um carregamento inglês de ópio, uma expedição naval bombardeou Nanquim e impôs o primeiro “Tratado dos Desiguais”.

Através dele, a Inglaterra obteve a Ilha de Hong-kong, a abertura de cinco portos, uma indenização de guerra e o fim do monopólio do Co-Hong e, desse modo, o capitalismo inglês garantia a venda de seus produtos fabris.

Pouco depois, a França e os EUA obtiveram vantagens semelhantes em novos tratados desiguais, os quais resultaram no Tratado de Pequim (1860) que abriu ao Ocidente outros onze portos, obrigando a pesada indenização, concedendo a extraterritorialidade (os estrangeiros não se submetiam às leis chinesas) e a livre circulação de missionários e comerciantes em território chinês.

As concessões aos ocidentais acarretaram crescente dependência governamental e, paralelamente, havia intensificação da xenofobia popular – cada vez mais violenta – embora condenada ao fracasso, porque os chineses se apegavam às suas tradições e se recusavam a assimilar as técnicas ocidentais, o que implicaria um desrespeito aos seus ancestrais.

Nas últimas décadas do século XIX os ocidentais lançaram uma política de investimentos de capitais (aplicados em ferrovias, serviços urbanos, minas, etc.) e de conquista de Estados (a França ocupou o Anã, a Inglaterra apoderou-se do Tibete) e, tudo isso, culminou com a Guerra Sino-Japonesa que conduziu à partilha do país em áreas de influência submetidas ao controle de potências estrangeiras, mediante arrendamento de longo prazo.

A Guerra Sino-Japonesa além de evidenciar a modernização do Japão (que ambicionava a Coreia) enfraqueceu a dinastia Tsing e, através de um tratado, a China reconheceu a independência da Coreia e cedeu ao Japão a Ilha de Formosa, a Ilha dos Pescadores e a península de Liao-Tung. Novo tratado desigual arrendou à Inglaterra (por 99 anos) Hong-kong e os “Novos Territórios”.




A impotência da dinastia diante dos estrangeiros provocou nova manifestação do nacionalismo xenófobo chinês: _ a Revolução dos Boxers (1901) que se expressou através da destruição de ferrovias, missões religiosas e legações diplomáticas. Atemorizadas, as potências imperialistas se limitaram a mandar um exército internacional que submeteu os revoltosos.

Porém, um movimento revolucionário mais bem organizado começou a crescer e organizou-se a Liga Revolucionária da China, a qual uniu várias sociedades secretas em torno dos “Três Princípios do Povo”: independência, soberania popular e bem-estar. Esse movimento ganhou apoio da burguesia, de intelectuais e das massas populares e a sua vitória marcou  - em 1911 – a proclamação da República.


A Abertura do Japão


Assim como a China, o Japão apresentava-se fechado a contatos com o exterior e possuía estruturas arcaicas, no século XIX. O regime feudal fazia do imperador uma figura decorativa em face do poderio dos daimios (aristocracia senhorial, cujos feudos eram trabalhados por camponeses em condições servis). Esses tinham a seu serviço os samurais que, em troca de sustento, deviam obrigações militares.

Os Tokugawa – poderosa família de daimios – ocupavam o cargo de xogum (generalíssimo) e, contra essa situação cresciam forças de oposição, expressadas em diversas subelevações camponesas, descontentamento dos pobres samurais, nas ambições dos comerciantes e no desejo do imperador em recuperar sua autoridade. Essas forças foram liberadas com a penetração ocidental.

A abertura do Japão ao imperialismo ocidental foi realizada pelos EUA, pois uma esquadra americana obrigou o xogum a conceder aos americanos o direito de comerciar. Tratados desiguais foram impostos pela França, Inglaterra e Rússia ao xogum – incapaz de resistir ao poderio dos estrangeiros.

Tais concessões alimentaram a xenofobia japonesa. A reação ao impacto da penetração ocidental foi diferente da chinesa: _ o Japão se modernizou adotando técnicas ocidentais, sem abdicar de seus costumes orientais. O regime feudal foi abolido (provocando, em poucos anos, enorme revolução social), a distinção das castas foi suprimida, os daimios perderam seus privilégios e suas terras foram distribuídas aos camponeses.

Deixando de receber pensões dos daimios os samurais forneceram quadros aos exércitos, à administração e à polícia. O Estado impulsionou as transformações econômicas, subvencionando a criação de usinas e, uma rede ferroviária e telegráfica, também foram construídas.

A Revolução Industrial processou-se – inicialmente – no setor têxtil e, apesar da falta de ferro, desenvolveu-se a construção naval e inúmeras indústrias de transformação. Concentrada em imensos trustes, a indústria japonesa atendia às necessidades do país e começou a exportar tecidos.

Organizou-se poderoso e disciplinado exército, construiu-se moderna e eficiente esquadra de guerra, convertendo o Japão em uma potência cujo poderio logo se evidenciou ao se lançar à corrida imperialista.

As transformações se processaram com o apoio da Inglaterra e tal apoio se explica pela rivalidade anglo-russa, no século XIX. A expansão russa constituía uma ameaça aos interesses ingleses na China, no Tibete em outras regiões asiáticas. Daí o auxílio inglês ao Japão, visando a transformá-lo em um aliado capaz de conter o poderio russo na Ásia Oriental.

A entrada do Japão na corrida imperialista foi espetacular, pois após vencer a China o Japão esmagou os russos em rápidas vitórias. A Guerra Russo-Japonesa (1904 / 1905) decorreu das ambições russas e japonesas sobre a Coreia e a Manchúria. Inquietos com os progressos nipônicos os americanos ofereceram sua mediação para a conclusão de um tratado, entregando ao Japão a Ilha Sacalina, o Porto Artur e concessões ferroviárias na Manchúria, além de reconhecer o protetorado sobre a Coreia – pouco depois anexada pelos japoneses.

Dessa forma, a vitória japonesa teve grande repercussão, pois pela primeira vez uma potência europeia era derrotada por um Estado asiático, uma vez que a derrota russa evidenciou a fraqueza do regime czarista e levou os russos a se voltarem para uma política europeia – cujo desenvolvimento nos Bálcãs contribuiu para gerar crises que levaram à Primeira Guerra Mundial.


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