Como se Criam
Condições Para o Funcionamento Regular da Economia Através de Produtos e
Preços? O Que Determina o Valor de Um Produto? De Que Elementos Dependem os
Valores Atribuídos aos Bens Transacionados?
Todavia, existem movimentos de preços que não decorrem de movimentos monetários inadequados, pois eles resultam do livre mecanismo das forças de mercado, via movimentos da oferta e da procura, dirigida aos fatores de produção e aos bens e serviços finais produzidos pela economia. Este tipo de movimento dos preços é vital para a alocação dos recursos no sistema regidos pela livre iniciativa. E, mesmo em sistemas centralizados, os movimentos dos preços em mercados paralelos denunciam imperfeições na alocação dos recursos, erros de planejamento ou insuficiência estruturais da economia. Sendo assim, para entendermos este aspecto da vida econômica, vamos examinar os fundamentos teóricos do valor.
Um Enfoque Teórico
Básico Entre o Valor e o Preço
Os preços dos bens e serviços produzidos
constituem a expressão monetária de seus valores e a moeda interfere como
denominador comum de valores, possibilitando que as transações sejam realizadas
com base nos preços dos bens e serviços envolvidos. Porém, o que determina o
valor de um bem? De que elementos dependem os valores atribuídos aos bens
transacionados?
As respostas a essas perguntas causaram longas controvérsias entre as diferentes escolas do pensamento econômico, pois para David Ricardo – por exemplo – o valor de um bem poderia ser expresso como função do trabalho necessário para adquiri-lo. A exposição do valor-trabalho enfeixou-se no grupo das teorias objetivas, conduzindo a análise do valor para o terreno da oferta e dos custos de produção. As teorias objetivas expostas por Ricardo (e depois pelos Socialistas do século XIX) pretendiam que o trabalho aplicado na obtenção de bens fosse considerado o principal elemento determinante de seu valor.
Se, por exemplo, em todos os estágios de obtenção de 2 diferentes produtos tivessem sido aplicadas, respectivamente, 30 e 60 unidades-tempo de trabalho de igual qualificação, o 2º deveria valer duas vezes o 1º, pois sua obtenção resultou de um esforço duas vezes superior. Dessa forma, um arco teria um valor duas vezes maior que o de uma flecha, se ele exigisse o dobro do trabalho para a sua obtenção. Se com a mesma unidade-tempo de trabalho de igual qualificação pudessem ser produzidas duas flechas ou um arco, o valor deste último resultaria duas vezes maior.
Com o advento das escolas marginalistas – século XIX – a teoria ricardiana do valor-trabalho seria alvo de contestação, pois elas deslocariam as análises do valor para o terreno das teorias subjetivas. Contrariando a abordagem de David Ricardo e dos socialistas, eles considerariam que a escassez relativa dos bens e a sua utilidade, somadas às escalas das preferências individuais, é que seriam os verdadeiros determinantes do valor. O enfoque das teorias subjetivas conduziu a análise do valor para o campo da procura. Seus determinantes não estariam mais no terreno da oferta e dos custos de produção, mas na faixa da utilidade – uma variável da qual resulta o valor que os indivíduos atribuem aos bens disponíveis no mercado.
As controvérsias entre as concepções objetivas e subjetivas conduziram a uma 3ª abordagem, reunindo os dois enfoques. “Para que um bem qualquer tenha algum valor, duas condições devem ser preenchidas. Primeiramente, ele deve corresponder a alguma utilidade, convergir para algum fim e satisfazer a alguma necessidade. Em 2º lugar, para que tenha valor, além de corresponder a uma utilidade, sua obtenção deve ter esbarrado em alguma dificuldade econômica” ([1])
Permanecendo nesse raciocínio, Alfred Marshall daria o golpe fatal às duas concepções tradicionais, pois ele reuniu as teorias vinculadas à oferta e à procura e, com isso, ela não somente se afastou da abordagem clássica do valor-trabalho, como também conteve as exageradas reações de alguns dos marginalistas. Para ele, a procura (baseada na utilidade) e a oferta (baseada nos custos de produção) eram igualmente indispensáveis para a explicação do valor e, portanto, dos preços de mercado.
As Leis da Oferta
e da Procura – Uma Primeira Aproximação
Para definirmos o mecanismo de preços é
necessário assimilar os conceitos de procura e oferta, bem como suas
correspondentes leis. A fim de imprimir métodos a essa discussão, vamos
dividi-la em duas partes. Primeiro abordaremos o lado da procura e depois da
oferta.
A procura dirigida a determinado produto pode ser definida como as várias quantidades que os consumidores estarão dispostos a adquirir, em função dos vários níveis de preços possíveis, em determinado período de tempo. Uma discussão nos leva a admitir que a procura é representada por uma série de possibilidades que sempre correlacionam as diferentes quantidades com os vários níveis de preços apresentados. E, esta série de possibilidades, varia inversamente ao nível de preços.
Se considerarmos a procura de um produto qualquer verificamos que as quantidades procuradas dependem dos diferentes níveis de preços de mercado, gerando um comportamento, segundo o qual quanto mais baixos se apresentam os preços, mais altas serão as quantidades procuradas. Como as quantidades procuradas (QP) dependem do nível de preços (P), podemos dizer que há uma relação de dependência entre as variáveis QP e P. E, essa relação, pode ser expressa matematicamente pela função elementar: QP = f(P)
Para nos familiarizarmos com esse princípio, vamos considerar a escala de procura de determinado produto, representada na tabela abaixo. Segundo os dados, variando os preços de R$ 100 para R$ 1000, as quantidades procuradas variarão, inversamente de 12.000 para 2.000 unidades-ano e, entre esses dois limites, inscrevem-se outros preços e outros níveis de quantidades procuradas. Todavia, a escala final definida coaduna-se com o conceito já considerado: _ à medida que o preço aumenta, as quantidades procuradas se tornam menos expressivas.
PREÇOS (R$) |
Quantidades
Procuradas (Unidades-Ano) |
100 |
12.000 |
200 |
9.900 |
300 |
7.800 |
400 |
6.400 |
500 |
5.000 |
600 |
4.000 |
700 |
3.300 |
800 |
2.800 |
900 |
2.200 |
1.000 |
2.000 |
A reação dos consumidores aos níveis dos
preços pode ser explicada por três (3) razões. A primeira é que os preços
constituem um obstáculo aos consumidores e, quanto mais altos, menor será o
número de consumidores dispostos a consumi-los. Quando os preços são mais
baixos, o obstáculo pode ser transposto por um número maior de consumidores, o
que leva o número teórico das quantidades procuradas.
A segunda explicação é dada pelo efeito substituição. Ou seja, quando o preço de determinado produto aumenta, permanecendo invariáveis os preços, os consumidores tendem a substituí-los, ocasionando uma redução nas quantidades procuradas. Isto significa que, a possibilidade de deslocamento do potencial de procura para os produtos substitutivos, atuam para reduzir o nível das quantidades procuradas, como uma reação imediata aos acréscimos dos preços.
A terceira explicação representa um dos aspectos analisados pelos estudiosos dom século XIX, os quais contrariam os enfoques desenvolvidos pelas escolas clássica e socialista. Segundo essa explicação, quanto maiores forem as quantidades disponíveis de um produto, menores serão os graus de sua utilidade marginal. Em outras palavras: _ quando um consumidor possui apenas uma unidade de um produto qualquer, é elevado o correspondente grau de utilidade atribuído. Todavia, à medida que ele passa a dispor de mais unidades desse mesmo produto, a utilidade de cada unidade adicional irá decrescer, podendo chegar até a graus negativos. Isso fará com que o consumidor só adquira unidades adicionais se os preços registrarem baixas e, caso contrário, ele não estará disposto a ingressar no mercado e a voltar a adquiri-lo.
A Lei da Oferta
A oferta de determinado produto pode ser definida como as várias quantidades que os produtores estarão dispostos a oferecer, em função dos vários níveis de preços possíveis, em determinado período de tempo. Analisando esta definição percebe-se que a oferta é representada por uma série de possibilidades que sempre correlacionam as diferentes quantidades ofertadas com os vários níveis de preços definidos pelas estruturas de custos dos produtos.
Essa série de possibilidades altera-se na razão direta da variação dos preços e, se analisarmos a oferta de um produto qualquer, verificaremos que as quantidades ofertadas dependem dos diferentes níveis de preços, gerando uma escala-padrão que nos indica aumentos nas quantidades ofertadas em função de acréscimos sucessivos nos níveis dos preços. Baseados nesse conceito e concordando com que as quantidades ofertadas (QO) dependem do nível dos preços (P), podemos dizer que existe uma relação de dependência entre as variáveis QO e P. Essa relação também pode ser expressa por uma função elementar: QO = f(P)
E, para nos familiarizarmos com esses conceitos, vamos considerar a escala da oferta de determinado produto representada na tabela abaixo. De acordo com os dados dessa escala, quando os preços se apresentam no nível de R$ 100, registram-se apenas 1.000 unidades-ano ofertadas. E, elevando-se os preços par R$ 200, o estímulo aos produtores vai elevar as quantidades-ano para 3.300, até chegar a 12.000; já então correspondente ao limite máximo de preço ali considerado; ou seja: R$ 1.000
PREÇOS (R$) |
Quantidades
Ofertadas (Unidades-Ano) |
100 |
1.000 |
200 |
3.300 |
300 |
5.000 |
400 |
6.400 |
500 |
7.800 |
600 |
9.000 |
700 |
10.000 |
800 |
10.800 |
900 |
11.500 |
1.000 |
12.000 |
Esses fundamentos, resultantes do comportamento dos produtores, conduzem ao princípio de que, mantidas inalteradas todas as demais condições, quanto mais se elevam os preços de um produto, maiores serão as quantidades – por período de tempo – que os produtores estarão dispostos, embora nem sempre aptos no curto prazo a produzir.
Nenhum comentário :
Postar um comentário