Qual Foi o Impacto da Grande Depressão Nos Alicerces
da Teoria Clássica do Emprego? Quais Foram os Primeiros Passos de Keynes no
Sentido de Aprimorar Essa Teoria? Como Foi a Abordagem Keynesiana ao Consumo, a
Poupança e ao Investimento?
No início do século XX, os alicerces da teoria clássica do emprego pareciam definitivos, mas as crises econômicas que culminaram com a Grande Depressão acabariam ruindo o edifício da doutrina clássica. Os sistemas de libre empresa capitalista não estavam sendo capazes de garantir automaticamente a prosperidade, o pleno emprego dos fatores de produção e o equilíbrio geral da atividade. Foi então que John Maynard Keynes desenvolveu uma nova teoria geral do emprego, a qual rejeitava os argumentos clássicos, embora reconhecesse que eles tivessem sido elaborados com imensa cautela no que se refere à sua coerência lógica.
Um
dos primeiros passos de Keynes foi rejeitar o ajustamento automático entre o
volume da poupança e o valor do investimento. Não se desconheceu que a taxa de
juros pode desempenhar papel na determinação dos volumes da poupança e do
investimento, mas nada garante que ela seja condutora da igualdade entre esses
2 elementos. O PIB pode desempenhar um papel mais importante na determinação do
volume da poupança e do investimento e, ademais, as decisões de poupança não
apresentam vinculação com os investimentos das empresas. Os que poupam e os que
investem são levados por motivos e grupos diferentes.
Keynes
argumentou que o pleno emprego, a estabilidade do sistema e o equilíbrio geral
constituíam uma função do nível da Renda Nacional. Nesse sentido, a moderna
teoria do emprego admitiria que o sistema pode ser controlado pelo Governo e que
as perturbações da atividade econômica poderiam ser atenuadas pela
interferência do estado na economia. Afinal, o principal elemento da moderna
teoria do emprego (a Renda Nacional) é dado pelo montante do consumo, mais o
montante do investimento das empresas e, dessa forma, o equilíbrio pode ser
mantido se o Governo adotar uma política fiscal para suprir deficiências do
investimento e do consumo e elevar para níveis desejados o montante da Renda
Nacional e do emprego, em épocas de recessão.
Por
ora, devemos apenas estar de acordo quanto aos enganos dos economistas
clássicos, quanto à função reguladora das taxas de juros, a flexibilidade dos
preços dos produtos e da remuneração dos fatores de produção. Em função desses
enganos, os mecanismos dos clássicos não foram capazes de manter o emprego e
evitar as crises econômicas. Por isso, a partir de Keynes os contemporâneos
considerariam que as flutuações dos fluxos de produção, de renda e de dispêndio
deveriam ser corrigidas pela interferência governamental compensatória e
corretiva.
A Abordagem Keynesiana ao Consumo, Poupança e
Investimento
Rejeitando
os mecanismos da teoria do emprego desenvolvida pelos liberais dos séculos
XVIII e XIX, os economistas contemporâneos a partir de Keynes, utilizaram novos
instrumentos para a análise do equilíbrio geral da atividade econômica. Tendo
verificado que o nível de emprego é função da Renda Nacional, os teóricos
contemporâneos isolaram os mais importantes componentes desse agregado. Interessando-se
pelos ângulos da renda, da produção e do dispêndio, a moderna teoria do emprego
passou a estudar os fatores que pudessem interferir nas decisões de consumo, de
poupança e de investimentos dos agentes da atividade econômica.
Além
disso, dedicou atenção à análise da renda agregada como o principal fator
determinante da procura agregada e, consequentemente, do nível da atividade e
do volume do emprego. Finalmente, o exame do investimento se incorporou à
moderna análise macroeconômica, tendo em vista sua importante função da determinação
dos níveis da produção, da renda e do próprio dispêndio. Assim, a renda, o
consumo, a poupança e os investimentos se transformaram nos principais
instrumentos da abordagem keynesiana, substituindo a clássica trilogia da
oferta-procura-preço.
Na
concepção clássica, a análise do equilíbrio macroeconômico era conduzida pelo
ajustamento entre a oferta e a demanda, produzidos pelo livre mecanismo dos
preços. Ou seja, o preço não era apenas o regulador do equilíbrio, mas também o
orientador da produção. Mas, após a Grande Depressão, o equilíbrio não poderia
ser conduzido por esse mecanismo e verificou-se que não eram esses os elementos
determinantes do nível geral da a atividade, do emprego e do montante do
Produto e da Renda Nacional. Dessa forma, a clássica trilogia foi substituída
por um conjunto de instrumentos liderados pela renda agregada. Daí
oferta-procura-preço cedeu lugar a renda-consumo-poupança-investimento. Sendo
assim, esses instrumentos da moderna análise macroeconômica constituem as principais
categorias das Contas Nacionais.
Quando
a soma dos fluxos de dispêndios em bens e em investimentos – realizados pelos
consumidores, empresas, governo e setor externo – for igual à soma dos fluxos
de oferta, representados pelo Produto Nacional, a economia não reduzirá os seus
níveis de emprego. O escoamento da produção estará se processando de forma
normal e não haverá razões para que sejam desempregados recursos e reduzidos os
níveis de produção e da renda gerada. Todavia, quaisquer deficiências nos
fluxos de dispêndio – consumo, investimentos, gastos do governo e exportações –
poderão provocar perturbações nos fluxos do sistema. A inexistência de um
volume de demanda, capaz de absorver a produção realizada, conduzirá ao
desemprego e ao inevitável desiquilíbrio do sistema.
Essas
constatações fundamentais constituem o ponto de partida da moderna análise
macroeconômica. Aliás, um dos seus objetivos é conhecer as principais razões
dos desajustamentos entre a oferta e a demanda. Outro objetivo é investigar as
causas que induzem às fases de expansão e de contração da economia, bem como os
fatores determinantes das magnitudes de cada uma das principais categorias da
produção, da renda e do dispêndio. E, finalmente, analisar as relações entre os
níveis de renda e as principais categorias do consumo, da poupança e do investimento.
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