quinta-feira, 2 de setembro de 2021

A Escassez de Recursos e as Ilimitadas Necessidades da Humanidade

 

Conforme vários estudiosos em Economia, a Teoria Econômica se ocupa em estudar a forma pela qual utilizamos os recursos disponíveis e, ainda que, a história econômica se resumiria na luta que as sociedades humanas empreenderam para superar o problema da escassez de recursos produtivos em face os crescentes desejos da coletividade.

 


Superando a clássica trilogia da produção, distribuição e consumo das riquezas, as definições contemporâneas da Economia evidenciam que esta é, em última análise, a “ciência da escassez”. Em todas as sociedades, os recursos patrimoniais são sempre escassos para atender às altas exigências de consumo e bem-estar. Em contrapartida, enquanto a escassez dos recursos produtivos constitui uma limitação à produção de bens e serviços, parece não haver limites para as necessidades e desejos humanos.

Jogando de um lado com a escassez de recursos e, de outro, com a limitação dos desejos humanos, as sociedades têm de optar pela melhor canalização dos recursos para os diversos setores produtivos e ainda decidir sobre como deverá ser organizada a atividade econômica. Essa é a natureza dos problemas econômicos e, para compreendê-la melhor, vamos analisar o estudo da escassez dos recursos e ao estudo das ilimitadas necessidades humanas.

 

A Escassez de Recursos

 

Em seu livro “Elementos da Moderna Economia”, Albert L. Meyers parte de uma interessante observação para explicar a lei da escassez, acentuando que, se fosse possível dar a cada indivíduo uma lâmpada de Aladim, todos os problemas dos economistas seriam imediatamente solucionados. De posse das lâmpadas, todos teriam os bens desejados, não haveria necessidade de coordenação, divisão ou procura de maior eficiência para o trabalho humano.

Os problemas decorrentes da produção em massa, da expansão tecnológica e da crescente penetração da ciência nas atividades produtivas deixariam de existir. As pesquisas para aumento da produtividade agropecuária não teriam mais sentido e, as lutas de classe, os conflitos entre grupos sociais, as rivalidades comerciais, os problemas de repartição de renda, as disputas ideológicas e os graves problemas do ajustamento da oferta e demanda também não fariam mais sentido.

Todavia a realidade é outra e, nas modernas sociedades, até a água se transformou em um bem econômico, pois a sua obtenção e distribuição requerem trabalho. As sociedades sempre se defrontam com a necessidade de trabalhar para atender às suas necessidades fundamentais. Se uma infinita quantidade de cada um dos bens desejados pela sociedade pudesse ser obtida, satisfazendo plenamente as necessidades da coletividade, estaria eliminado o problema da escassez. Mas, excetuando-se o ar, os demais bens são e talvez jamais se tornarão livres. Nenhum sistema econômico conseguiu até hoje satisfazer a todas as necessidades da coletividade. Dessa forma, pode-se afirmar que a escassez é a mais severa das leis milenares. 

 

As Necessidades Ilimitadas

 

Um observador pouco atento poderia inclinar-se a considerar que nas modernas economias – com a incorporação da ciência e da tecnologia ao aparelhamento produtivo – a lei da escassez já estaria superada. É provável que o suprimento de bens destinados a atender às necessidades bio-fisiológicas dos habitantes das economias seja um problema solucionado. Entretanto, não se deve perder de vista dois fatos. O primeiro se resume em que as necessidades primárias se renovam dia a dia e exigem contínuo suprimento dos bens destinados a atende-las. Mesmo que o suprimento desses bens possa ser providenciado por pequena parcela da população, o problema de sua produção é perpetuado pela sua contínua necessidade.

O segundo fato se resume em observação simples. Trata-se de que, nas modernas economias de tecnologia avançada, caracterizadas por produção em massa, embora as necessidades primárias se encontrem atendidas, o problema da escassez se torna mais grave que nas economias primitivas. A razão desse paradoxo se encontra na constante criação de novos desejos e necessidades, motivados pela perspectiva que se abre a todos os povos de sempre aumentarem o seu padrão de vida e o seu bem-estar material.

 

Recursos Versus Necessidades

 

Verifica-se então que, enquanto os desejos materiais do homem parecem insaciáveis, os recursos para atendê-los permanecem escassos. E é exatamente aí que está a essência dos problemas econômicos. Como os recursos são escassos, seu emprego deve ser racional e as sociedades enfrentam o problema de administrá-los bem. Dessa forma, os recursos sendo limitados, as economias devem procurar utilizá-los plenamente, não se justificando o desemprego de qualquer parcela da população produtiva ou a existência de ociosidade na utilização dos equipamentos de produção.

Portanto, é eliminando a ociosidade, incorporando aos fluxos de produção os contingentes de desempregados e promovendo a ótima combinação dos recursos disponíveis que as economias se tornam capazes de atender com maior eficiência às necessidades da coletividade, sejam eles vitais ou artificialmente criados. Não é, pois, sem razão que os economistas preferem definir a Economia como “a ciência da escassez; ou, mais claramente, a ciência que deve cuidar da eficiente administração dos escassos recursos disponíveis, tendo em vista a satisfação dos ilimitados desejos da sociedade” ([1])

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([1]) ROSSETTI, José Paschoal. “Introdução a Economia”. 16ª ed. São Paulo. Atlas, 1994.


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