quarta-feira, 2 de abril de 2025

A República Brasileira Um Começo Difícil

 

Quais Eram as Dificuldades Iniciais do Novo Governo Republicano? Por Que Vários Oficiais Envolvidos na Conspiração Republicana Foram Beneficiados Com Promoções? Por Que o Marechal Deodoro Achava que o Chefe de Governo Deveria Ter a Prerrogativa de Dissolver o Congresso Sempre Que Julgasse Necessário?



 


Nos seus 15 meses de duração o novo governo republicano brasileiro se dedicou a intensa atividade legislativa e, conforme observou Raimundo Magalhães Jr, biógrafo de Deodoro, “cada Ministério era uma fábrica de leis, cada Ministro valia por um Congresso.

Alguns desses decretos e leis eram importantes, como o que determinou a separação entre a Igreja e o Estado e o que estabeleceu o casamento civil. Outros pareciam mesquinhos ou mera retaliação ao regime deposto.

Havia dificuldades de toda sorte, a começar pela falta de quadros republicanos para os postos-chaves da administração e a pouca experiência dos novos governantes. Durante o primeiro ano a rotatividade nos governos estaduais foi altíssima e, somente a província do Rio Grande do Norte, teve dez administrações.

Minas Gerais teve seis, o Paraná também, Pernambuco oito e Sergipe teve sete administrações. Habituado à vida na caserna e desconfiado das intenções dos civis, Deodoro preferiu de início delegar esses cargos aos seus companheiros de armas.

Um mês depois da posse do novo governo foi decretada uma reorganização do Exército, aumentando o número de unidades com o objetivo de liberar vagas para promoções – uma das principais queixas contra as autoridades imperiais.

As promoções foram aceleradas mediante a transferência para a reserva de muito oficiais veteranos. Dessa forma, abria-se caminho para a ascensão dos mais jovens e, dos 28 Generais da ativa em 1890, dez foram promovidos e nove reformados.

Em janeiro de 1890, uma lista de promoções por “serviços relevantes” beneficiou vários oficiais envolvidos na conspiração republicana. Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro e futuro Presidente da República, passou de Capitão a Major e Tenente-Coronel em menos de um ano. Lauro Sodré – que era Tenente e auxiliar de ensino na ESG – terminou o ano como Major e catedrático da instituição.

O aluno José Maria Moreira Guimarães foi promovido a Alferes, 2º Tenente, 1º Tenente, Capitão, Ajudante de Ordens do Governador de Sergipe e, por fim, Professor do Colégio Militar – tudo isso em 2 anos.

Até quem não tinha participado dos eventos de 15 de novembro acabou beneficiado, como foi o caso do Tenente-Coronel Jacques Ourique que acordou tarde e chegou atrasado ao centro do Rio de Janeiro, quando as tropas já se confraternizavam depois da derrubada do Ministério de Ouro Preto.

No dia 25 de maio de 1890, Deodoro conferiu a todos os Ministros a patente de General. A promoção a um dos postos mais altos da hierarquia do Exército incluía os civis como Rui Barbosa, Quintino Bocaiúva e Francisco Glicério, embora jamais tivessem envergado uma farda na vida. Ao tomar conhecimento das novidades, o monarquista Eduardo Prado reagiu com ironia: “O Quinze de Novembro não foi, portanto, um ato heroico; foi um bom negócio”.

Em meio ao bate-cabeça do governo provisório, o esforço de reorganização do Brasil deu um passo importante em 3 de dezembro de 1889 com a nomeação de uma comissão para elaborar uma nova Constituição.

Caberia à futura Assembleia Constituinte aprová-la mais tarde. Ainda em novembro de 1889, o Diário Oficial começou a publicar em capítulos a íntegra da Constituição dos Estados Unidos da América e, desse modo, imaginava-se que os futuros constituintes pudessem se familiarizar com as peculiaridades de cada sistema republicano, de maneira a escolher depois o que julgasse conveniente para o Brasil.

Presidida por Joaquim Saldanha Marinho – considerado o Patriarca da República – a comissão de juristas elaborou três pareceres que, depois de editados por Rui Barbosa, resultaram no projeto submetido à Constituinte. Deodoro fez questão de dar diversos palpites e também achou estranho a proposta do artigo 20, na qual os parlamentares teriam imunidade jurídica, não podendo ser presos ou processados no exercício do mandato.

Ele relutou em aceitar esse artigo e também o princípio da independência entre o Executivo e o Legislativo. Fiel à tradição Imperial na qual foi educado, Deodoro achava que o chefe de governo deveria ter a prerrogativa de dissolver o Congresso sempre que julgasse necessário.

Composta de 295 membros – dos quais, 40 militares – a Constituinte reuniu-se no edifício do Cassino Fluminense na Rua do Passeio, e depois se transferiu para o antigo Palácio Imperial da Boa Vista, em São Cristóvão. Os trabalhos eram dirigidos por Prudente de Moraes e, 4 anos depois, esse líder republicano paulista se tornaria o primeiro Presidente civil da República.

Em 24 de fevereiro de 1891, o país finalmente adotava sua nova Constituição republicana cujas principais novidades eram:

 

·                     O Brasil se converteria em uma República Federativa com 20 estados autônomos e um distrito federal. Além disso, a cidade do Rio de Janeiro continuaria sendo a capital da República até que se construísse uma nova capital no planalto central.

·                     A União compunha-se de três poderes independentes entre si – o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

·                     Chefe do Executivo, o Presidente da República seria eleito a cada 4 anos, sem direito à reeleição. Todos os brasileiros natos, homens e maiores de 35 anos, poderiam concorrer ao posto.

·                     O Vice-Presidente da República, igualmente eleito por 4 anos, exerceria simultaneamente a Presidência do Senado, cabendo a ele substituir o Presidente sempre que necessário, mas se a vacância ocorresse antes de completados 2 anos do exercício do mandato seria realizada nova eleição (esse item seria motivo de crise do governo Floriano Peixoto, após a renúncia e morte de Deodoro).

·                     O Poder Legislativo seria exercido em 2 instâncias: _ o Senado Federal, composto de 3 Senadores para cada Estado, e a Câmara dos Deputados com representantes eleitos de forma proporcional ao total de habitantes.

·                     À Câmara competiria a iniciativa de propor leis, criar impostos, fixar os quadros das Forças Armadas e discutir projetos apresentados pelo Executivo. O Senado funcionaria como uma instância revisora dos projetos da Câmara, tendo a prerrogativa de aprovar as nomeações dos Juízes do Supremo Tribunal Federal e do Prefeito do Distrito Federal.

·                     O Poder Judiciário compunha-se de 2 jurisdições: _ a primeira seria a da Justiça Federal, a cargo da União e exercida por um STF composto de 15 juízes nomeados pelo Presidente da República, aprovados pelo Senado e pelos juízes federais de 1ª instância.

 

A organização dos Estados espelhava a estrutura dos 3 poderes. Eleitos pelo voto direto, governadores e deputados estaduais teriam a competência de tomar decisões e legislar sobre vários temas, incluindo a definição do orçamento regional, a cobrança de impostos e a criação de políticas locais.

A Constituição assegurava a todos os residentes no país – brasileiros ou estrangeiros – os direitos relativos à liberdade, à segurança individual e à propriedade. Igualmente garantidos estavam os direitos à associação, de representação aos poderes públicos, de locomoção, de inviolabilidade do domicílio, de liberdade de imprensa e de tribuna.

As eleições seriam feitas por sufrágio universal e secreto, do qual tomariam parte todos os homens maiores de 21 anos, com exceção dos mendigos, analfabetos, soldados e religiosos.

Durante as discussões, um Deputado chegou a propor o direito de voto às mulheres, mas seus colegas reagiram escandalizados, pois o voto feminino seria transformado em lei somente 4 décadas depois – em 1932.



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