Por Que o
Pensamento Evolucionista Passou a se Chamar “Darwinismo”? Quem Foi Coautor da
Ideia da Seleção Natural? Qual Foi a Importância de Alfred Russel Wallace Para
o Darwinismo?
Quando o jovem Darwin
iniciou em Dezembro de 1831 a viagem de cinco anos no Beagle, levou consigo o
recém-publicado “Princípios da Geologia”. O livro de Charles Lyell forneceu a
base para todo o pensamento de Darwin a respeito dos processos da Natureza e,
dessa forma, tornaria possível que o pensamento evolucionista moderno se
chamasse “darwinismo”.
A intuição de Lyell,
documentada no seu livro, levava-o a afirmar que a Terra foi moldada desde o
princípio por forças uniformes ainda ativas – erosão por água corrente,
acumulação de sedimento, sismos e vulcões. Como, ao longo dos milênios, essas
forças tinham feito da Terra o que ela era, não havia necessidade de imaginar
catástrofes e, sendo assim, essa doutrina se tornou conhecida como “uniformitarismo”.
Lyell tentou evitar as
escolhas da teologia e da cosmologia recusando-se a discutir as origens da
Terra e, além disso, ele dizia que teorias especulativas de uma criação eram
desnecessárias e não eram científicas. As implicações no que se referem a
plantas e animais eram óbvias e se a atividade presente no vulcão Vesúvio
explicava mudanças na superfície da Terra, não poderiam outras forças
igualmente visíveis mostrar-nos como as espécies e as variedades de plantas e
animais tinham surgido? O professor de Botânica de Cambridge que deu a Darwin o
livro de Lyell avisou-o de que não deveria acreditar em tudo quanto nele se
dizia.
Na história de mistério
de como Darwin chegou aos seus conceitos de evolução, a viagem do Beagle foi um
episódio crucial. Elo essencial na cadeia de pessoas e ideias foi John Stevens
Henslow, o professor que primeiro inspirou Darwin a estudar a Natureza. A
realização histórica de Henslow constituiu em transformar Darwin – o playboy de
Cambridge – de um indiferente estudante de Teologia em um Naturalista
apaixonado.
Em 1831, quando o
almirantado pediu a Henslow que lhe recomendasse um naturalista para servir no
Beagle, a fim de mapear as costas da Patagônia, da Terra do Fogo, do Chile e do
Peru, ele recomendou o seu aluno favorito. Charles estava ansioso por aceitar, mas
seu pai, irritado com o seu falso começo do estudo de Medicina, opunha-se a
mais aventuras do gênero. Estava decidido a manter o errante Charles no caminho
do clero e, o filho obediente, não aceitaria o lugar no Beagle sem a
autorização do pai. Felizmente o professor Henslow convenceu o pai a deixá-lo
ir.
Henslow manteve contato
com o aluno durante a viagem, encarregando-se dos espécimes que Darwin mandava
para Londres. Quando o Beagle chegou a Montevidéu, aguardava-o um exemplar do
segundo volume de Lyell e em Valparaíso Darwin recebeu o 3º volume, acabado de
sair do prelo. Durante toda a viagem, Darwin aplicou os princípios de Lyell.
O 2º volume de Lyell ia
além da Geologia Física e, ao longo do tempo geológico, tinham emergido novas
espécies e sido extintas outras. A sobrevivência de uma espécie dependia de
certas condições de seu ambiente e, o êxito de uma espécie próspera, poderia
acarretar a extinção de outras. O estudo de Lyell da distribuição geográfica de
plantas e animais indicava que cada espécie surgira num centro, concluindo que
ambiente e espécies fluíam juntos.
O impressionável Darwin
sentia-se fascinado com as sugestões de Lyell e, por toda a parte da América do
Sul, encontrou plantas e animais que nunca vira antes. Nas Galápagos, foi
atraído pelas variadas espécies de aves em ilhas separadas umas das outras, mas
na mesma latitude. Entretanto, Henslow se sentiu tão impressionado com as
cartas de Darwin que mandou imprimir diversas para distribuí-las. Quando o
Beagle regressou (em 1836), Henslow colaborou com Lyell a fim de conseguirem
uma bolsa de mil libras para ajudar Darwin a compilar seu relatório e, depois
disso, conseguiram que ele fosse eleito secretário do Geological Society de
Londres.
Alfred Russel Wallace,
que a história reconheceria como coautor da ideia da seleção natural,
contrastava com Darwin. Oriundo de uma família empobrecida, frequentou um liceu
durante alguns anos e aos 14 instruiu-se pela leitura. Ele frequentou um clube
de trabalhadores para professores progressistas, onde se converteu ao
socialismo. Mantinha-se trabalhando como aprendiz de agrimensor com o irmão e
depois leu, sozinho, o suficiente para se qualificar como professor.
Leitor voraz, o jovem
Wallace descobriu um inspirador conjunto de livros sobre ciência, história
natural, viagens e o dicionário de Darwin no Beagle. Uma das obras que mais o
impressionou foi um livro sobre a evolução de outro naturalista – Robert
Chambers.
A narrativa pessoal de
Alexander von Humboldt das suas viagens ao México e a América do Sul encorajou
Wallace a convencer Bates a participarem de uma expedição a fim de reunir
espécimes ao longo do Amazonas. Quatro anos depois, isso proporcionou ao jovem
Wallace a reputação de “naturalista de campo”. Ao regressar à Inglaterra, o seu
navio afundou com seus espécimes, embora isso não o tivesse desanimado a
continuar recolhendo outros. Sendo assim, ele partiu imediatamente para o
arquipélago Malaio e, nas Molucas, passou oito anos explorando e reunindo novos
espécimes, quando formulou a teoria da seleção natural no ensaio que Darwin
recebeu em princípios de 1858.
Dessa forma, se um
dramaturgo grego tivesse inventado duas personagens para demonstrar como o
destino poderia conduzir homens por caminhos opostos ao mesmo destino,
dificilmente teria feito melhor do que inventar Darwin e Wallace. Durante o ano
de 1860 as noções elementares da evolução foram publicamente testadas e Wallace
dispersou-as pelas mais diversas causas. Ele se converteu ao espiritualismo e,
fiel ao seu interesse pelo socialismo, acabou sendo eleito presidente da Land
Nationalization Society e foi um defensor dos direitos das mulheres.
Curiosamente, a sua paixão pela polêmica arrastou-o para o movimento contra a
vacinação antivariólica.
Wallace também estendeu
seus interesses ao espaço exterior. O eminente astrônomo Percival Lowell
argumentava que deviam ter existido habitantes inteligentes em Marte, os quais
tinham feito os canais agora visíveis, construindo um sistema de irrigação que
criava faixas de vegetação cultivada. Apesar de não ser astrônomo e já contar
com 84 anos, Wallace entrou na disputa e, no seu livro de 1907 (“Marte é
Habitado?”), insistiu que não poderia existir vida em nenhum outro lugar do
Universo. E as provas obtidas no século XX demonstraram que o especialista
Lowell estava provavelmente mais longe da verdade do que o amador Wallace.
Os fatos da distribuição
geográfica que provocaram interrogações no cauteloso Darwin forneceram
respostas ao impetuoso Wallace. Ver a seleção natural afastou Darwin da fé
religiosa e, no fim da vida, disse que a grandiosidade da floresta brasileira
reforçou sua “firme convicção da existência de Deus e na imortalidade da
alma. Mas agora os grandiosos cenários não dariam origem a tais convicções e
parece não haver mais propósito na variabilidade dos seres orgânicos e na ação
da seleção natural do que na direção em que o vento sopra”.
Mas, a paixão de Wallace
pela evolução conduziu-o cada vez mais no sentido de uma crença numa “Inteligência
Superior”. Precisava de um deus que explicasse o que via na Natureza.
Darwin disse a Wallace quando a crítica deste livro aos livros de Lyell, em
1869, pôs a nu a sua fé em Deus, “Espero que não tenha assassinado
completamente o seu próprio e o meu filho”.
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