Qual Era a Taxa Anual de Crescimento da População na
Era Cristã? Qual Foi a Consequência da
Queda da Taxa de Mortalidade no Alvorecer do Século XX? Até Que Ponto o
Crescimento de Recursos Humanos Pode Ser Considerado Como Efetivo das
Possibilidades Mundiais de Produção?
Durante milhares de anos, a população mundial permaneceu praticamente estacionária, pois a epopeia do homem na conquista do meio que lhe era hostil foi inicialmente lenta. Durante milênios, o objetivo da atividade humana era a simples sobrevivência, pois a fome, as enfermidades, os animais selvagens, as intempéries, as guerras, as pestes e toda sorte de inimigos forçavam o homem a lutar constantemente pela autopreservação. A descoberta do fogo, da agricultura, a domesticação de animais, a invenção da roda e outros conhecimentos foram tornando menos árduas as condições da vida humana. Mesmo assim, para assegurar a permanência da espécie humana, a natureza dotou-a de alta capacidade reprodutiva, como resposta à elevada mortalidade.
Em decorrência das condições hostis até o início da Era Cristã, o crescimento populacional foi bastante lento, além do que ocorreram grandes baixas populacionais devidas às guerras e as pestes. Durante 600 mil anos transcorridos antes da Era Cristã, a taxa anual de crescimento da população mundial teria sido de 0, 002% e, por essa taxa, a população só conseguiria duplicar de 300 em 300 anos. A partir da Era Cristã, a aceleração acentuou-se e o resultado pode ser avaliado pelos seguintes números: - em 17 séculos a população mundial teria dobrado e, em 1650, o mundo contava com cerca de 540 milhões de habitantes, enquanto a taxa de crescimento anual já estaria próxima de 0,3%.
Todavia, no século XVIII o quadro se alterou completamente, pois as populações começaram a crescer vertiginosamente, rompendo-se o equilíbrio entre as taxas de natalidade e mortalidade. Na Europa Ocidental, o crescimento se aproximava de 0,8% anual, superior ao conjunto mundial que era de 0,5%. Em 1750, a população superava 700 milhões e, ao alvorecer do século XIX, rompeu-se a barreira dos 900 milhões. Em 1840, alcançou-se o primeiro bilhão e, por volta de 1930, a população mundial já somava 2 bilhões. Na década de 1950 o mundo já contava com 2,5 bilhões e, 10 anos depois, superou os 3 bilhões e alcançou 4 bilhões em 1976.
A rápida alteração do quadro foi devida à queda da taxa de mortalidade, como consequência do avanço da Medicina e do progresso verificado a partir do século XVIII na administração da Saúde Pública. Hoje, o crescimento da população mundial se processa a uma taxa de 2%; ou seja, mil vezes superior à da era pré-histórica. Se essa taxa fosse mantida, em meados do século XXI a terra somaria 8 bilhões de habitantes e, antes do final do século, seria alcançado o inacreditável – e possivelmente insuportável – total de 25 bilhões de habitantes. Ocorre que, a partir da década de 80, em muitas nações do Terceiro Mundo, as taxas começaram a diminuir e o banco Mundial revelou que o tamanho hipotético da população estacionária, de 10,18 bilhões seria atingida na 3ª década do século XXI. As perguntas são:
·
Esse vertiginoso
crescimento populacional seria benéfico?
·
Conseguiriam as
economias evitar a ocorrência da lei dos rendimentos decrescentes, dotando a
população de novos bens de capital a um ritmo igual ou superior ao da atual
expansão demográfica?
·
Até que ponto o
espantoso crescimento de recursos humanos pode ser considerado como efetivo das
possibilidades mundiais de produção?
·
As conquistas da
medicina e da saúde pública não estariam anulando os benefícios da moderna
tecnologia de produção?
·
Como caracterizar
o expansionismo demográfico do ponto de vista econômico? Um bem ou um mal?
As
opiniões nesse campo se dividem, pois, existem sólidos argumentos que
caracterizam a explosão demográfica como um mal que as modernas economias
deverão procurar corrigir e, por outro lado, também existem argumentos
plausíveis que procuram demonstrar não haver razões tão fortes para temer o vertiginoso crescimento da população mundial. É bem verdade que nenhuma
economia pode prescindir de estoques satisfatórios de recursos humanos, pois na
base de qualquer fluxo de produção deve, necessariamente, existir certo
contingente de população economicamente mobilizável.
Quando se reduzem os estoques de recursos humanos, as economias podem sofrer um processo de enfraquecimento econômico, como ocorreu na Espanha no fim do século XVII, na Irlanda e na França a partir da 2ª metade do século XIX, pela vertiginosa queda da natalidade do contingente populacional. Evidentemente, nenhum país se desenvolveu com uma população estacionária ou declinante. De acordo com MADISON ([1]), “nos períodos de crescimento mais rápido dos países hoje desenvolvidos constatou-se um aumento populacional, às vezes suplementado por fortes contingentes humanos emigrados de outros países”.
Ele acrescenta que elevadas taxas de crescimento populacional coincidiram com as épocas de maior expansão das suas economias, constituindo-se numa das causas do crescimento econômico acelerado. Nos EUA – por exemplo – por ser um país de dimensões continentais e bem-dotado de recursos naturais e de outras condições favoráveis ao desenvolvimento, verificou-se um crescimento demográfico de 1,7% ao ano no período entre 1870 e 1965, no qual se inclui forte migração europeia. O crescimento médio da população de 15 países desenvolvidos naquele período de quase um século foi de 2,7% ao ano, enquanto a população aumentou ao ritmo anual de 1%, daí resultando um crescimento anual per capita da produção de 1,7%.
Todavia, há diferenças entre a expansão populacional dos séculos XVIII e XIX e a “explosão demográfica” do pós-guerra. Nos países hoje industrializados, os progressos da Medicina e da Saúde Pública reduziram aos poucos as causas da mortalidade, promovendo crescimento da população. Paralelamente, as taxas de natalidade declinaram, enfraquecendo a onda de crescimento da população, ao mesmo tempo em que o padrão de vida acusava persistente expansão. Já nas economias subdesenvolvidas, a drástica redução das taxas de mortalidade (entre a 1ª e a 2ª Guerra) não seria compensada por uma redução da taxa de natalidade nem pela expansão dos padrões de vida.
Nessas nações, as influências religiosas, as condições de inferioridade, a falta de instrução e a ociosidade das mulheres, a idade precoce do casamento e outras causas estimularam a natalidade, ao mesmo tempo em que a esperança de vida seria prolongada pela penetração de técnicas sanitárias das nações já então desenvolvidas. Entretanto, os baixos padrões de vida não seriam modificados de forma substancial e, a partir de certo momento, a própria “explosão demográfica” se encarregaria de diluir os esforços de crescimento da produção per capita.
A Dramaticidade Econômica das Perspectivas
Demográficas
A dramaticidade da aceleração do crescimento demográfico do pós-guerra decorre das perspectivas com que se defrontam as economias dos países subdesenvolvidos, localizados na Ásia, África e América Latina. Nelas, subsistem baixos padrões de vida, existindo enormes parcelas da população atingidas por precárias condições de saúde, habitação e de formação profissional para o trabalho produtivo. A capacidade de formação de capital é insuficiente para modificar os padrões da instrumentação do trabalho. São elevadas as taxas de desemprego, identificando-se em todos os setores as mais diferentes formas de subemprego.
E, para agravar ainda mais esse quadro, é exatamente nessas economias que ainda se verifica o fenômeno da “explosão demográfica”, embora a taxas inferiores às das décadas de 50 e 80. A aceleração do crescimento demográfico no pós-guerra atingiu as áreas subdesenvolvidas da Ásia, da África e da América Latina e, em 1950, a população mundial totalizava quase 2,5 bilhões de habitantes. Dez anos depois, aproximava-se dos 3 bilhões e, desses 500 milhões adicionais, cerca de 400 milhões (80%) decorreram da expansão nas áreas subdesenvolvidas. Na década de 60 o fenômeno se repetiria, pois dos 650 milhões de habitantes adicionais (150 a mais do que na década anterior), 555 resultaram da “explosão demográfica” das nações economicamente atrasadas. Não foram diferentes os resultados de 1970/90, pois o crescimento demográfico mundial concentrou-se de novo nas áreas mais pobres do Hemisfério Sul, observando-se a alta participação da Ásia.
A acentuada discrepância do crescimento populacional entre os povos mais desenvolvidos e os subdesenvolvidos significa que a pressão sobre os recursos naturais exercida pelos novos contingentes populacionais, passará a ser muito mais intensa nas áreas economicamente deprimidas do que nas que já alcançaram satisfatórios estágios de progresso econômico. A mais ampla dimensão e a maior densidade da população nas áreas subdesenvolvidas poderão ultrapassar a faixa do “ótimo populacional”, se é que em algumas das nações de baixa renda ela já não tenha sido superada pelo crescimento dos recursos humanos a taxas proporcionais às da expansão dos estoques dos demais recursos.
Nenhum comentário :
Postar um comentário