Que Sociedade Dominou o Comércio Marítimo no Mar Egeu? Quando Ocorreu o Início da Civilização Minoica? Quando Foi o Surgimento da Civilização Micênica?
No fim do 3º milênio a.C. deu-se
o início da formação de algumas sociedades que foram importantes no
desenvolvimento da cultura grega. Em 1900 um arqueólogo descobriu em Cnossos (na
ilha de Creta) os vestígios do que chamou de palácio do rei Minos – um edifício
com mais de 300 aposentos, com inúmeras passagens, corredores, escadarias,
colunatas, distribuídos em oito pisos. A partir disso, ele batizou a
civilização minoica, associando-a ao mito de Teseu e do Minotauro. Essa
sociedade dominou boa parte do comércio marítimo no mar Egeu, interligando as
ilhas Cíclades, Chipre, Egito e o continente grego. Essa civilização foi marcada
pelos grandes núcleos urbanos e seus palácios, que recentemente se descobriu
serem mais complexos econômicos, administrativos e religiosos do que
residências reais; usavam uma escrita Linear A (ainda não decifrada) e tinham
na imagem do touro um de seus símbolos de culto. Essa civilização parece ter
desaparecido por volta de 1450 a.C., possivelmente devido a guerras internas e
à chegada de outro povo, os micênicos, que dominaram a Ilha. Os micênicos foram
identificados por Heinrich Schliemann, o descobridor de Tróia, a partir de suas
escavações em Micenas, onde encontrou o que pensou ser a máscara mortuária de
ouro de Agamenon, rei de Micenas. Esse povo habitava o continente grego ao
longo do 2º milênio a.C. e mantinha uma organização semelhante à dos minoicos,
com grandes palácios em cidadelas fortificadas, como Micenas e Tirinto, de onde
seus reis controlavam seus domínios e o comércio com outras terras, desde a
Síria até a Península Ibérica. Usavam um sistema de escrita chamado Linear B,
já decifrado e que mostrou existirem nomes e lugares como aqueles citados na
Ilíada e a Odisseia de Homero. Eles governaram boa parte do Egeu e continente
grego até cerca de 1050 a.C. quando houve o colapso dos palácios, possivelmente
devido a invasões e conflitos internos:
·
Cerca de 3100 a.C. (Início da Civilização
Minoica): A Civilização Minoica surge na ilha de Creta, na Grécia, quando
temos os primeiros núcleos urbanos estabelecidos (Cnossos, Festos, Mália,
Gúrnia, Cato Zacros).
·
1900 - 1700 a.C. (Surgimento dos Palácios
Minoicos): Início do período palacial minoico, com o surgimento nas cidades
minoicas de grandes estruturas construídas, com diversos cômodos e pavimentos,
organizados em conjuntos funcionais ao redor de um grande pátio central.
·
A partir de 1700 a.C. (Palácios Minoicos):
Esses palácios concentravam funções políticas e administrativas das cidades,
bem como funções religiosas e também produtivas, além de apresentarem áreas de
habitação e armazenagem.
·
1700 a.C. (Comércio e Escrita Minoicos):
Os minoicos desenvolveram uma rede de comércio marítimo que chegava ao Egito e
ao Oriente Próximo, criaram uma forma de escrita hieroglífica e outra
denominada linear A, puramente administrativas, ainda pouco conhecidas.
·
1700 - 1400 a.C. (Período Neopalacial Minoico):
Os palácios não eram fortificados, apesar de monumentais, e havia poucos sinais
de conflito na sociedade minoica. Tinham alto nível tecnológico e grandes
habilidades artesanais.
·
1600 a.C. (Surgimento da Civilização Micênica):
A Civilização Micênica surge no continente grego, em sítios como Micenas,
Argos, Pilos e Atenas.
·
1600 – 1200 a.C. (Período Micênico na Grécia):
A sociedade micênica é organizada ao redor de cidadelas pequenas e altamente
fortificadas. Tinham grande habilidades artesanais, principalmente metalurgia.
Suas muralhas eram enormes e seus palácios eram menores que os minoicos.
·
Cerca de 1450 a.C. (Escrita Micênica e
Comércio): Os micênicos desenvolveram uma escrita própria, o Linear B que,
apesar de derivado do Linear A cretense, teria elementos gregos.
Comercializavam com diversos locais do Mar Mediterrâneo, da Síria à Espanha.
·
1450 a.C. (Micênicos em Creta): Os
micênicos chegam a Creta e acabam por sobrepujar a civilização minoica. O fim
dos minoicos pode ser atribuído a conflitos internos, à invasão micênica ou à
erupção do vulcão de Santorini e do terremoto que se seguiu, ou a tudo isso.
·
1200 a.C. (O Fim da Idade do Bronze): A
civilização micênica teve um fim abrupto, provavelmente por conta das invasões
dórias ou mesmo por revoltas internas, ou ambas. Sua queda marca o fim da Idade
do Bronze na Grécia. 1200 –
·
800 a.C. (Os “Séculos Obscuros”): Este é
o período chamado de Idade do Ferro grega. É marcado por uma diminuição
populacional significativa, por um declínio técnico e artesanal e pela perda da
escrita. Mas é o momento da gênese da pólis, que florescerá nos séculos
seguintes.
A Escravidão no Mundo
Grego e Homero
O objetivo é tentar compreender o
tipo de escravidão que existia na Grécia Antiga a partir da análise de uma
fonte textual de época – A Odisseia, uma poesia épica atribuída a Homero.
Homero foi um poeta grego do século VIII a.C., autor de pelo menos 2 grandes
poemas épicos que chegaram até nós – A Ilíada e a Odisseia, embora os
estudiosos de hoje questionem se ele realmente existiu. Mas de qualquer modo,
essas obras são importantes para entendermos a mentalidade dos gregos e a
história do período, tanto da época retratada nos poemas, isto é, o período
micênico do séc. XII a.C., quanto a época em que as obras foram escritas, o
século VIII a.C. da Grécia Antiga. Essas obras são o resultado de séculos de
tradição oral em que os mitos e estórias de heróis e deuses eram cantados à luz
de fogueiras pelos aedos, os cantores
gregos. O que nos interessa aqui são alguns trechos da Odisseia, que nos
mostram a situação do escravo na Grécia Antiga. E do que trata a Odisseia?
Trata de Odisseu (daí o nome do poema), ou como é mais conhecido, Ulisses,
herói grego da guerra de Troia (que, por sua vez, é retratada no poema A Ilíada).
A Odisseia seria a história de Ulisses no seu retorno à terra natal, a ilha de
Ítaca, após o fim da guerra de Tróia. Essa viagem teria levado dez anos, em que
o herói passa por diversos locais, situações e tormentos, até finalmente chegar
em casa.
Enfim, em Ítaca, Ulisses descobre
que sua casa está cheia de pretendentes que, acreditando em sua morte, desejam
desposar sua mulher, Penélope, e tramam contra a vida de seu filho, Telêmaco.
Penélope, por sua vez, vai adiando sua escolha do pretendente pois, acreditando
que Ulisses vive, se mantém fiel a ele. A deusa Atena, protetora do herói,
disfarça Ulisses em mendigo, a fim de que ele possa se aproximar de casa sem
ser reconhecido, e tentar descobrir quem ainda lhe é fiel como rei de Ítaca.
Assim, ele volta para casa, e a primeira pessoa que encontra, e que lhe oferece
comida e abrigo, é seu guardador de porcos, o fiel Eumaio. O guardador diz: Os
deuses já me deram muito motivo de queixa. Choro por um raro e bom amo, e aqui
estou engordando meus porcos para uma corja de estranhos. E talvez meu amo não
tenha o que comer (...). Certamente, os deuses impediram o regresso de meu amo,
do contrário ele teria me dado algo para mim mesmo, como um amo faz quando
estima o seu servo, uma casa e um pedaço de terra e uma esposa que possa ter
seu quinhão, quando um homem trabalha arduamente com a bênção de Deus em seu
trabalho, como o meu trabalho é abençoado. Assim, meu amo me teria feito rico,
se tivesse ficado aqui até envelhecer. (HOMERO, p. 156) Eumaio acredita que seu
amo Ulisses morreu após o fim da guerra de Tróia, no retorno para casa, e
lamenta seu senhor: (...) jamais encontrarei um amo tão bom, seja aonde for que
eu vá, nem mesmo se eu voltar para junto de meu pai e de minha mãe, para a casa
onde nasci e fui criado. Na verdade, não os choro tanto quanto o choro
[Ulisses], embora eu deseje revê-los e rever minha terra natal; mas lamento a
ausência de Ulisses desde que ele partiu. Não gosto de dizer seu nome, embora
ele esteja ausente, pois chamo-o de alteza mesmo quando está longe. (HOMERO, p.
158). O que podemos perceber a respeito da situação desse tipo de escravo e da
sua relação com seu senhor na Grécia? Vejamos:
·
Eumaio não é de Ítaca. Ele foi feito cativo
ainda jovem em alguma guerra, que eram relativamente comuns na época. Apesar de
não ser de Ítaca, Eumaio é grego. Compartilha a língua, a cultura e as crenças
com seus senhores.
·
Há uma ligação afetiva entre Eumaio e seu senhor
Ulisses. Percebe-se isso pela maneira como ele se refere a seu amo, com saudades,
lamentando sua morte e reconhecendo seu valor, a ponto de sobrepujar a ausência
e a saudade que sente dos próprios pais e da própria terra natal.
·
Essa ligação é recíproca: Ulisses confia em
Eumaio, deu-lhe autonomia para cuidar de seu grande rebanho de porcos. E o tem
próximo da casa e da família.
·
Há uma diferença significativa entre a
escravidão na Grécia Antiga e a escravidão que ocorreu no Brasil desde a
colonização, como podemos perceber nesses trechos. Era possível que os escravos
gregos, pelo menos alguns deles, possuíssem um pedaço de terra, uma casa, uma
esposa. Nas palavras de Eumaio, “meu amo me teria feito rico”! Eles eram
reconhecidos como pessoas, seu trabalho era recompensado quando bem feito.
O exemplo que trouxemos está de
acordo com o que sabemos da Grécia do século VIII a.C., a partir principalmente
das pesquisas arqueológicas. Há um declínio da população e de assentamentos no
período que se seguiu às invasões dórias na Grécia, isto é, entre 1150 e 800
a.C. Com o fim da civilização micênica, muitas cidades foram abandonadas, como
é o caso de Pilos e Micenas. Uma nova sociedade se organiza a partir de então,
em unidades sociais menores dominadas por cacicados e líderes de clãs. Ulisses
era um deles. A unidade social do período é conhecida como oikos. Trata-se de
um agregado familiar amplo, no qual se incluem os esposos e seus descendentes e
familiares diretos, os escravos (ou servos), alguns trabalhadores livres
associados, a terra, os animais, as plantações, as casas e construções
vinculadas. Ítaca, retratada na Odisseia, seria um oikos, e Ulisses seu líder,
o rei. Com a análise dessa fonte de época pudemos entender a situação dos
escravos na Grécia Antiga, e compreendermos o oikos como nova organização social
política e econômica após o fim da civilização micênica.
REFERÊNCIAS
BLASCO, Maria de lá Concepcional (1 de setembro de 1993). El Bonce
final (1ª adicione). Madrid: Editorial Sínteses. p. 176. ISBN 84-7738-195-X. BRÉZILLON, Michel (1969). Dictionnaire
de lá Préhistoire (en francés). París: Librairie Larousse. ISBN 2-03- 075437-4.
CLAIRBORNE, Robert (1977). Los primeros americanos. Ciudad de
México: Lito Offset Latina. Libros TIMELIFE.
Clark, John E., ed. (1994). Los olmecas en Mesoamérica. Ciudad de México:
Ediciones del Equilibrista. ISBN 968-7318-22-8.
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