Qual o Principal Objetivo da Gestão do Conhecimento Organizacional? O Que é Taxonomia? Qual a Diferença Entre Conhecimentos Tácito e Explícito?
Pode-se dizer que Gestão do Conhecimento é um conjunto de processos cuja finalidade é identificar, criar, capturar, armazenar, compartilhar e utilizar o conhecimento e as experiências de uma instituição para melhorar o desempenho, a inovação e o aprendizado contínuo. Ela busca criar uma cultura que incentive a colaboração e a troca de informações, transformando o conhecimento em valor para a organização e não se limita apenas a documentos, mas inclui também as habilidades e as experiências dos colaboradores. Para uma melhor compreensão desse tema, vamos detalhar um pouco mais a compreensão dos termos gestão e conhecimentos. É comum definir gestão como atividade administrativa que visa atingir os objetivos de uma empresa de forma eficaz, valorizando o conhecimento e as habilidades das pessoas. E, diante disso, ressalta-se a importância das pessoas e de seus conhecimentos para as organizações. Entre os elementos que exploraremos neste texto, destaca-se a Gestão do Conhecimento e sua relação direta e indireta com as formas de gestão nas organizações. Nosso desafio é identificar as melhores maneiras e práticas para gerenciar o conhecimento organizacional de modo a favorecer a melhoria contínua dos processos de trabalho, dos resultados entregues e das relações que inspiram confiança e fortalecem o trabalho em equipe, como engajamento e motivação.
E, com o intuito de compreender a
importância da gestão para as instituições, é necessário entender um pouco mais
sobre esse processo evolutivo. Em primeiro lugar convém lembrarmos que determinadas
informações e conhecimentos dizem respeito a conceitos distintos. Segundo
Davenport (1998), os dois são transformados em conhecimento quando há reflexão,
síntese e contexto. Já o conhecimento é algo intrínseco ao ser humano, sendo
papel da gestão do conhecimento torná-lo explícito e acessível. Dessa forma, pode-se
afirmar que o conhecimento é transformado pelas pessoas e, para corroborar essa
ideia, Davenport e Prusak (1998) listam algumas maneiras por meio das quais
acontece essa transformação:
·
Comparando: De que forma as informações
relativas à situação se comparam a outras situações já conhecidas?
·
Analisando as Consequências: Quais
implicações essas informações trazem para as decisões e tomadas de ação?
·
Entendendo as Conexões Geradas: Quais as
relações do novo conhecimento com o conhecimento já acumulado?
·
Realizando a Troca de Experiências: O que
as outras pessoas pensam acerca dessa informação?
A partir dessas reflexões pode-se
entender que, antes de ser transformado, o conhecimento pode ser compreendido
como algo que não é fácil de ser estruturado nem transmitido, e que se origina
no intelecto humano. Apesar da possibilidade de abstração teórica, o conceito
de conhecimento é fácil de ser assimilado pelas pessoas. Contudo, quando se
trata da gestão do conhecimento e das múltiplas conexões, surgem muitas dúvidas
sobre sua aplicação e, por isso mesmo, esse será o tema no nosso próximo tópico.
O Que É Gestão do
Conhecimento?
Até aqui nosso objetivo foi o de
construir uma definição para “Gestão do Conhecimento” e, embora não haja uma definição
universal na literatura por causa da complexidade do tema, a Organização
Internacional de Padronização (ISO - International Organization for
Standardization) aponta alguns direcionamentos relevantes:
·
A gestão do conhecimento não apresenta uma única
definição aceita, tampouco um padrão global. Trata-se da gestão em relação ao
conhecimento.
·
Disciplina focada em maneiras pelas quais as
organizações criam e usam o conhecimento.
·
Utiliza uma abordagem sistêmica e holística para
melhorar resultados e aprendizado.
·
Inclui otimização da identificação, criação,
análise, representação, distribuição e aplicação do conhecimento para criar
valor organizacional.
Essas e outras definições estão
na norma ISO 30.401:2018 – Sistemas de Gestão do Conhecimento. A norma
evidencia a importância do fator humano para que qualquer organização (pública
ou privada) construa uma cultura de Gestão do Conhecimento institucionalizada.
E isso significa que a organização trabalhe uma gestão do conhecimento que flua
naturalmente, bem como disponha de infraestrutura adequada para gerir o
conhecimento produzido e disseminado pelos colaboradores. Então, pode-se
afirmar que a Gestão do Conhecimento nasceu no dado que foi transformado
em informação e em conhecimento até ser compartilhado com/utilizado por outras
pessoas, além daqueles que o detém. Com esse entendimento agora consolidado,
partimos para o cerne da Gestão do Conhecimento, que é: como compartilhar o
conhecimento adquirido e produzido durante nossa vida pessoal e profissional? E,
para responder a essa pergunta, é preciso saber o que são conhecimentos tácitos
e explícitos.
Conhecimentos Tácito
e Explícito
O conhecimento tácito é aquele
que não está expresso, pertence ao indivíduo que o acumulou durante a vida
pessoal e profissional, não sendo, portanto, de fácil externalização, visto
que, não pode ser encontrado em manuais e normas, por exemplo. Já o outro tipo
de conhecimento está explícito (como o próprio nome indica), podendo ser
consultado e facilmente transmitido para outras pessoas. Segundo Nonaka e
Takeuchi (1997), a Gestão do Conhecimento só acontece quando há uma combinação
desses conhecimentos. Esses autores criaram o processo de conversão conhecido
como “Espiral do Conhecimento”. Nessa espiral existem quatro modos diferentes
de converter o conhecimento tácito em explícito: socialização, externalização,
combinação e internalização. Para compreender cada um desses modos de
conversão, tomaremos como exemplo Marcos, um servidor bem experiente no órgão público
em que trabalha:
1) Socialização:
- Conceito: Transmitir o
conhecimento não formalizado para outra pessoa.
- Exemplo: Marcos dá dicas sobre
o trabalho que um novo servidor desempenhará.
- Perceba: Trata-se de uma troca
de experiência, não havendo nada formalizado em documentos ou manuais. É uma
espécie de bate-papo em ambientação.
2) Externalização:
- Conceito: Transmitir o
conhecimento para que ele se torne acessível.
- Exemplo: Marcos estrutura um
curso e passa a treinar os novos servidores.
- Perceba: Marcos está
transferindo seus conhecimentos e experiências, para um curso que será ofertado
a todos os novos servidores.
3) Combinação:
- Conceito: Ocorre quando conhecimentos
explícitos são acumulados na organização.
- Exemplo: Marcos poderá
enriquecer o curso com o aprendizado de outros colegas.
- Perceba: Nesse momento a
experiência de Marcos é complementada por outros servidores que já contam com
conhecimentos externalizados.
4) Internalização:
- Conceito: Nesse ponto o
conhecimento, antes externalizados, volta a ser tácito.
- Exemplo: Os alunos de Marcos
assimilam o conhecimento ministrado no curso e já o aplicam no dia a dia.
- Perceba: Que o conhecimento externalizado
ainda existe, mas foi internalizado pelos novos servidores que agregarão suas
experiências anteriores ao conhecimento recém adquirido. Ou seja, o
conhecimento se tornará tácito e com maior valor agregado.
Antes de toda essa espiral
começar a girar, é preciso que as organizações tenham consciência do próprio
nível de maturidade em termos de gestão do conhecimento. A Gestão do Conhecimento
precisa fluir organicamente e, para tanto, é necessário identificar onde e como
o conhecimento está disposto na instituição. Isso pode ser feito por meio de
diagnósticos, pesquisas e estudos com o suporte do método Janela de Johari,
também chamado de Janela do Conhecimento.
O Conhecimento Nos
Ambientes Organizacionais
O conhecimento aparece de forma
estruturada em poucas organizações, o que não favorece a sua gestão e
compromete os resultados esperados. Assim, surgem problemas comuns como:
gargalos em processos de trabalho, falhas de comunicação, atraso na entrega de
atividades, dificuldades em atender ao cidadão de modo tempestivo,
descontinuidade de atividades, entre outros. Essas situações podem ser evitadas
com uma cultura de gestão do conhecimento institucionalizada. E, para que
tais exemplos não ocorram, é preciso mapear o conhecimento dentro da
organização. Uma das formas de realizar esse mapeamento é ter uma taxonomia do
conhecimento e realizar um diagnóstico de Gestão do Conhecimento. E, para facilitar
nosso entendimento, vamos trazer o Marcos novamente para o nosso o exemplo:
·
Marcos trabalha analisando processos criminais e
utiliza muitas normas e sites de busca diariamente. Entretanto, ele faz isso
intuitivamente dada a longa experiência nessa área. Caso chegue um novo
servidor no setor, terá de ser treinado e encontrará dificuldades em assimilar
as rotinas, bem como poderá cometer algumas falhas por não conhecer o processo
de trabalho como um todo. Se a taxonomia do dia a dia de Marcos estiver representada
em um mapa, o servidor ou qualquer outra pessoa que precise desempenhar as
mesmas atividades não terá dificuldades, tampouco lidará com gargalos e falta
de conhecimento para executar os trabalhos. Então, o ideal é ter
um mapa das atividades de processos criminais com os quais ele
trabalha
A taxonomia pode ser feita com
setores, órgãos e sistemas. No entanto, para se chegar a esse nível de
maturidade é preciso uma consciência organizacional (em níveis amplo ou
setorial) e saber em qual janela do conhecimento a organização ou o setor estão
inseridos. As janelas do conhecimento são dinâmicas e variam em níveis
estratégico, tático e operacional. Elas são utilizadas para uma auto avaliação
da organização. Alvarenga Neto (2018), adaptado de Choo (2002), apresenta o
modo como essa auto avaliação pode ser realizada com base na identificação dos
saberes.
·
Sabemos o Que Sabemos: Organizações
maduras em ambientes estáveis / A informação é organizada, acessível / O
conhecimento é codificável, compartilhável / Provisão de acesso às informações
/ Facilitação do compartilhamento do conhecimento/ / Intranets, portais,
taxonomias, esquemas classificatórios e benchmarking.
·
Sabemos o Que Não Sabemos: Organizações
adentrando novos ambientes / As necessidades de informação são claras e bem
definidas / Novos conhecimentos a serem criados, descobertos / Busca de
informação direcionada / Promoção de criação do conhecimento / Inteligência
competitiva, pesquisa e desenvolvimento, pesquisas de mercado.
·
Não Sabemos o Que Sabemos: Organizações maduras
em ambientes dinâmicos / A informação está escondida, dispersa / O conhecimento
é tácito, não codificável / Auditoria de informações / Mapeamento do
conhecimento / Comunidades de prática, redes de conhecimento.
·
Não Sabemos o Que Não Sabemos: Organizações
dispostas ou arranjadas em seus próprios modos ou crenças / A informação está
sujeita a constrições de seu campo visual, resultando na perda de visão
periférica / Existem hiatos ou falhas, mas não reconhecidos / Monitoramento ambiental
/ Descoberta do conhecimento / Planejamento de cenários, prospecção no futuro,
diálogo.
As janelas de Johari (ou do
conhecimento) têm por objetivo ajudar na compreensão dos relacionamentos
interpessoais dentro de uma organização. Após compreender em qual das janelas
do conhecimento a sua organização ou o setor se encontra, algumas ações podem
ser desenvolvidas para aperfeiçoar a forma como o conhecimento está estruturado
internamente. Por exemplo, em alguns casos, as áreas “não sabem o que sabem”
justamente por uma gestão do conhecimento deficiente. Assim, o melhor
caminho para estruturar qualquer conhecimento é começar pelos conhecimentos
críticos, os quais são essenciais para o sucesso de qualquer organização.
REFERÊNCIAS
ALVARENGA NETO; DRUMMOND,
Rivadávia Correa. Gestão do conhecimento em organizações: proposta de
mapeamento conceitual integrativo. São Paulo: Saraiva, 2008.
DAMIAN, Ieda; VALENTIM,
Marda, SANTOS. A cultura
organizacional como fator crítico de sucesso à implantação da gestão do
conhecimento em organizações. 2018.
DAVENPORT, Thomas H. Conhecimento empresarial. Rio de Janeiro:
Elsevier Brasil, 1998.
FREITAS, Eliezer da Silva. Gestão do conhecimento na Administração Pública:
tendências de aprimoramento dos tribunais de contas. 2016.
ISO 30.401:2018 – Sistemas de gestão do conhecimento. Disponível em
<http://lillianalvares.fci.unb.br/phocadownload/Estudos/ISO%2030401.pdf>.
Acesso em: 14 nov. 2021.
Mapeamento do conhecimento
crítico. Disponível em <http://www.sbgc.org.br/mapeamento-de-conhecimento-criacutetico.html>.
Acesso em: 14 nov. 2021.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Gestão do conhecimento. Brasília, 2020.

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