quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Gestão do Conhecimento

 Qual o Principal Objetivo da Gestão do Conhecimento Organizacional? O Que é Taxonomia? Qual a Diferença Entre Conhecimentos Tácito e Explícito?

 

                                                                                       



Pode-se dizer que Gestão do Conhecimento é um conjunto de processos cuja finalidade é identificar, criar, capturar, armazenar, compartilhar e utilizar o conhecimento e as experiências de uma instituição para melhorar o desempenho, a inovação e o aprendizado contínuo. Ela busca criar uma cultura que incentive a colaboração e a troca de informações, transformando o conhecimento em valor para a organização e não se limita apenas a documentos, mas inclui também as habilidades e as experiências dos colaboradores. Para uma melhor compreensão desse tema, vamos detalhar um pouco mais a compreensão dos termos gestão e conhecimentos. É comum definir gestão como atividade administrativa que visa atingir os objetivos de uma empresa de forma eficaz, valorizando o conhecimento e as habilidades das pessoas. E, diante disso, ressalta-se a importância das pessoas e de seus conhecimentos para as organizações. Entre os elementos que exploraremos neste texto, destaca-se a Gestão do Conhecimento e sua relação direta e indireta com as formas de gestão nas organizações. Nosso desafio é identificar as melhores maneiras e práticas para gerenciar o conhecimento organizacional de modo a favorecer a melhoria contínua dos processos de trabalho, dos resultados entregues e das relações que inspiram confiança e fortalecem o trabalho em equipe, como engajamento e motivação.

E, com o intuito de compreender a importância da gestão para as instituições, é necessário entender um pouco mais sobre esse processo evolutivo. Em primeiro lugar convém lembrarmos que determinadas informações e conhecimentos dizem respeito a conceitos distintos. Segundo Davenport (1998), os dois são transformados em conhecimento quando há reflexão, síntese e contexto. Já o conhecimento é algo intrínseco ao ser humano, sendo papel da gestão do conhecimento torná-lo explícito e acessível. Dessa forma, pode-se afirmar que o conhecimento é transformado pelas pessoas e, para corroborar essa ideia, Davenport e Prusak (1998) listam algumas maneiras por meio das quais acontece essa transformação:

 

·        Comparando: De que forma as informações relativas à situação se comparam a outras situações já conhecidas?

·        Analisando as Consequências: Quais implicações essas informações trazem para as decisões e tomadas de ação? 

·        Entendendo as Conexões Geradas: Quais as relações do novo conhecimento com o conhecimento já acumulado?

·        Realizando a Troca de Experiências: O que as outras pessoas pensam acerca dessa informação?

 

A partir dessas reflexões pode-se entender que, antes de ser transformado, o conhecimento pode ser compreendido como algo que não é fácil de ser estruturado nem transmitido, e que se origina no intelecto humano. Apesar da possibilidade de abstração teórica, o conceito de conhecimento é fácil de ser assimilado pelas pessoas. Contudo, quando se trata da gestão do conhecimento e das múltiplas conexões, surgem muitas dúvidas sobre sua aplicação e, por isso mesmo, esse será o tema no nosso próximo tópico.

 

O Que É Gestão do Conhecimento?

 

Até aqui nosso objetivo foi o de construir uma definição para “Gestão do Conhecimento” e, embora não haja uma definição universal na literatura por causa da complexidade do tema, a Organização Internacional de Padronização (ISO - International Organization for Standardization) aponta alguns direcionamentos relevantes:

 

·        A gestão do conhecimento não apresenta uma única definição aceita, tampouco um padrão global. Trata-se da gestão em relação ao conhecimento.

·        Disciplina focada em maneiras pelas quais as organizações criam e usam o conhecimento.

·        Utiliza uma abordagem sistêmica e holística para melhorar resultados e aprendizado.

·        Inclui otimização da identificação, criação, análise, representação, distribuição e aplicação do conhecimento para criar valor organizacional.

 

Essas e outras definições estão na norma ISO 30.401:2018 – Sistemas de Gestão do Conhecimento. A norma evidencia a importância do fator humano para que qualquer organização (pública ou privada) construa uma cultura de Gestão do Conhecimento institucionalizada. E isso significa que a organização trabalhe uma gestão do conhecimento que flua naturalmente, bem como disponha de infraestrutura adequada para gerir o conhecimento produzido e disseminado pelos colaboradores. Então, pode-se afirmar que a Gestão do Conhecimento nasceu no dado que foi transformado em informação e em conhecimento até ser compartilhado com/utilizado por outras pessoas, além daqueles que o detém. Com esse entendimento agora consolidado, partimos para o cerne da Gestão do Conhecimento, que é: como compartilhar o conhecimento adquirido e produzido durante nossa vida pessoal e profissional? E, para responder a essa pergunta, é preciso saber o que são conhecimentos tácitos e explícitos.

 

Conhecimentos Tácito e Explícito

 

O conhecimento tácito é aquele que não está expresso, pertence ao indivíduo que o acumulou durante a vida pessoal e profissional, não sendo, portanto, de fácil externalização, visto que, não pode ser encontrado em manuais e normas, por exemplo. Já o outro tipo de conhecimento está explícito (como o próprio nome indica), podendo ser consultado e facilmente transmitido para outras pessoas. Segundo Nonaka e Takeuchi (1997), a Gestão do Conhecimento só acontece quando há uma combinação desses conhecimentos. Esses autores criaram o processo de conversão conhecido como “Espiral do Conhecimento”. Nessa espiral existem quatro modos diferentes de converter o conhecimento tácito em explícito: socialização, externalização, combinação e internalização. Para compreender cada um desses modos de conversão, tomaremos como exemplo Marcos, um servidor bem experiente no órgão público em que trabalha:

 

1) Socialização:

- Conceito: Transmitir o conhecimento não formalizado para outra pessoa.

- Exemplo: Marcos dá dicas sobre o trabalho que um novo servidor desempenhará.

- Perceba: Trata-se de uma troca de experiência, não havendo nada formalizado em documentos ou manuais. É uma espécie de bate-papo em ambientação.

2) Externalização:

- Conceito: Transmitir o conhecimento para que ele se torne acessível.

- Exemplo: Marcos estrutura um curso e passa a treinar os novos servidores.

- Perceba: Marcos está transferindo seus conhecimentos e experiências, para um curso que será ofertado a todos os novos servidores.

3) Combinação:

- Conceito: Ocorre quando conhecimentos explícitos são acumulados na organização.

- Exemplo: Marcos poderá enriquecer o curso com o aprendizado de outros colegas.

- Perceba: Nesse momento a experiência de Marcos é complementada por outros servidores que já contam com conhecimentos externalizados.

4) Internalização:

- Conceito: Nesse ponto o conhecimento, antes externalizados, volta a ser tácito.

- Exemplo: Os alunos de Marcos assimilam o conhecimento ministrado no curso e já o aplicam no dia a dia.

- Perceba: Que o conhecimento externalizado ainda existe, mas foi internalizado pelos novos servidores que agregarão suas experiências anteriores ao conhecimento recém adquirido. Ou seja, o conhecimento se tornará tácito e com maior valor agregado.

 

Antes de toda essa espiral começar a girar, é preciso que as organizações tenham consciência do próprio nível de maturidade em termos de gestão do conhecimento. A Gestão do Conhecimento precisa fluir organicamente e, para tanto, é necessário identificar onde e como o conhecimento está disposto na instituição. Isso pode ser feito por meio de diagnósticos, pesquisas e estudos com o suporte do método Janela de Johari, também chamado de Janela do Conhecimento.

 

O Conhecimento Nos Ambientes Organizacionais

 

O conhecimento aparece de forma estruturada em poucas organizações, o que não favorece a sua gestão e compromete os resultados esperados. Assim, surgem problemas comuns como: gargalos em processos de trabalho, falhas de comunicação, atraso na entrega de atividades, dificuldades em atender ao cidadão de modo tempestivo, descontinuidade de atividades, entre outros. Essas situações podem ser evitadas com uma cultura de gestão do conhecimento institucionalizada. E, para que tais exemplos não ocorram, é preciso mapear o conhecimento dentro da organização. Uma das formas de realizar esse mapeamento é ter uma taxonomia do conhecimento e realizar um diagnóstico de Gestão do Conhecimento. E, para facilitar nosso entendimento, vamos trazer o Marcos novamente para o nosso o exemplo:

 

·        Marcos trabalha analisando processos criminais e utiliza muitas normas e sites de busca diariamente. Entretanto, ele faz isso intuitivamente dada a longa experiência nessa área. Caso chegue um novo servidor no setor, terá de ser treinado e encontrará dificuldades em assimilar as rotinas, bem como poderá cometer algumas falhas por não conhecer o processo de trabalho como um todo. Se a taxonomia do dia a dia de Marcos estiver representada em um mapa, o servidor ou qualquer outra pessoa que precise desempenhar as mesmas atividades não terá dificuldades, tampouco lidará com gargalos e falta de conhecimento para executar os trabalhos. Então, o ideal é ter um mapa das atividades de processos criminais com os quais ele trabalha

 

A taxonomia pode ser feita com setores, órgãos e sistemas. No entanto, para se chegar a esse nível de maturidade é preciso uma consciência organizacional (em níveis amplo ou setorial) e saber em qual janela do conhecimento a organização ou o setor estão inseridos. As janelas do conhecimento são dinâmicas e variam em níveis estratégico, tático e operacional. Elas são utilizadas para uma auto avaliação da organização. Alvarenga Neto (2018), adaptado de Choo (2002), apresenta o modo como essa auto avaliação pode ser realizada com base na identificação dos saberes.

 

·        Sabemos o Que Sabemos: Organizações maduras em ambientes estáveis / A informação é organizada, acessível / O conhecimento é codificável, compartilhável / Provisão de acesso às informações / Facilitação do compartilhamento do conhecimento/ / Intranets, portais, taxonomias, esquemas classificatórios e benchmarking.

·        Sabemos o Que Não Sabemos: Organizações adentrando novos ambientes / As necessidades de informação são claras e bem definidas / Novos conhecimentos a serem criados, descobertos / Busca de informação direcionada / Promoção de criação do conhecimento / Inteligência competitiva, pesquisa e desenvolvimento, pesquisas de mercado.

·        Não Sabemos o Que Sabemos: Organizações maduras em ambientes dinâmicos / A informação está escondida, dispersa / O conhecimento é tácito, não codificável / Auditoria de informações / Mapeamento do conhecimento / Comunidades de prática, redes de conhecimento.

·        Não Sabemos o Que Não Sabemos: Organizações dispostas ou arranjadas em seus próprios modos ou crenças / A informação está sujeita a constrições de seu campo visual, resultando na perda de visão periférica / Existem hiatos ou falhas, mas não reconhecidos / Monitoramento ambiental / Descoberta do conhecimento / Planejamento de cenários, prospecção no futuro, diálogo.

 

As janelas de Johari (ou do conhecimento) têm por objetivo ajudar na compreensão dos relacionamentos interpessoais dentro de uma organização. Após compreender em qual das janelas do conhecimento a sua organização ou o setor se encontra, algumas ações podem ser desenvolvidas para aperfeiçoar a forma como o conhecimento está estruturado internamente. Por exemplo, em alguns casos, as áreas “não sabem o que sabem” justamente por uma gestão do conhecimento deficiente. Assim, o melhor caminho para estruturar qualquer conhecimento é começar pelos conhecimentos críticos, os quais são essenciais para o sucesso de qualquer organização.

 

 

REFERÊNCIAS


 

ALVARENGA NETO; DRUMMOND, Rivadávia Correa. Gestão do conhecimento em organizações: proposta de mapeamento conceitual integrativo. São Paulo: Saraiva, 2008. 

DAMIAN, Ieda; VALENTIM, Marda, SANTOS. A cultura organizacional como fator crítico de sucesso à implantação da gestão do conhecimento em organizações. 2018.

DAVENPORT, Thomas H. Conhecimento empresarial. Rio de Janeiro: Elsevier Brasil, 1998. 

FREITAS, Eliezer da Silva. Gestão do conhecimento na Administração Pública: tendências de aprimoramento dos tribunais de contas. 2016.

ISO 30.401:2018 – Sistemas de gestão do conhecimento. Disponível em <http://lillianalvares.fci.unb.br/phocadownload/Estudos/ISO%2030401.pdf>. Acesso em:  14 nov. 2021.

 Mapeamento do conhecimento crítico. Disponível em <http://www.sbgc.org.br/mapeamento-de-conhecimento-criacutetico.html>. Acesso em:  14 nov. 2021.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Gestão do conhecimento. Brasília, 2020.

NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação do conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica de inovação. 2 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1997.



Nenhum comentário :

Postar um comentário