quarta-feira, 16 de outubro de 2024

O Lixo ao Mar

 

No Bilionário Mercado de Desmonte de Plataformas, Vale a Pena Afundá-las no Mar ou Transformá-las em Recifes de Corais?

 

 


 

Uma plataforma de petróleo pode pesar 20 mil TON. (Mais ou menos o peso de 200 mil baleias) e, com esse porte descomunal, aposentá-las é tão complicado quanto tentar ser discreto usando uma melancia na cabeça.

Mais de 40 anos após o início da exploração de petróleo em Campos (RJ), a indústria de óleo e gás começa a pensar no que fazer com as embarcações próximas da aposentadoria, pois 67 delas (42% do total) vão chegar ao fim do “prazo de validade”.

O desmonte de plataformas é um negócio bilionário que movimentou quase U$ 6 bilhões em 2017 e, enquanto essas embarcações envelhecem, essa atividade ganha fôlego. “É um mercado que está em ebulição”, afirmou Maurício Almeida – especialista do setor naval da Sigma Consultoria – acrescentando ainda que essa atividade já é conhecida no Mar do Norte e no Golfo do México, mas ainda está em estágio inicial no Brasil.

Como quase tudo que envolve essa indústria, a aposentadoria das embarcações é envolta em polêmicas e alvo das críticas de ambientalistas. No exterior, o desmonte já significa tampar poços, vender partes, peças e afundar a plataforma no mar. A opção de transformar as estruturas em recifes artificiais é uma alternativa vista com ceticismo pelos defensores do meio ambiente.

O Greenpeace é contra e, em 1995, eles ocuparam a plataforma de Brent Spar por três (3) semanas para protestar contra os planos de que a estrutura de 15 mil TON fosse enterrada no Oceano Atlântico. A estratégia deu certo, pois a embarcação foi desmontada e parte da estrutura foi usada para fazer um novo cais na Noruega. Após esse evento, a Convenção para a Proteção do Ambiente Marinho no Atlântico Norte recomendou a remoção de plataformas.

Na aposentadoria de plataformas é importante contar com um centro integrado em condições de receber em terra materiais que serão desmontados, descontaminados ou triturados. Marcelo Igor Souza – professor da Coppe / UFRJ – observou que a hipótese de transformar uma plataforma num recife artificial requer muito estudo, a fim de evitar os efeitos do inimigo de alto potencial destrutivo – o coral-sol.

Essa espécie teria chegado ao Brasil nos anos 80, incrustada em cascos de navios e plataformas de petróleo. O risco é levar o coral-sol para perto da superfície. De acordo com o IBAMA uma das preocupações é garantir que as pessoas afetadas pelo projeto sejam respeitadas e que suas opiniões sejam ouvidas.

Já existe uma instrução do órgão que trata do licenciamento ambiental de recifes artificiais e, exercer essa alternativa, requer um estudo para determinar o local apropriado e verificar se a área é usada pata turismo ou desenvolvimento da vida marinha. Além de evitar a propagação do coral-sol, a empresa deve ficar responsável pela instalação e manutenção do recife artificial.

O processo para encerrar as atividades de uma plataforma inclui desligar e tampar os poços, retirar todos os materiais e equipamentos localizados na parte superior da embarcação e remover os equipamentos da parte submersa, quando então serão levados para uma área em terra. Outra alternativa seria reutilizar a própria unidade, sendo possível usar a parte fixa como base para mergulhadores ou trabalhadores de outras plataformas.

É possível ainda usar a estrutura para a geração de energia solar ou eólica. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) está reformulando a regulamentação sobre o desmonte de plataformas, num trabalho com a participação da Marinha e do IBAMA.

A Petrobrás já se desfez de 5 plataformas e, como eram estruturas flutuantes, elas foram rebocadas. Algumas foram convertidas para ter outras finalidades como sondas de perfuração de poços, mas até agora a estatal optou por vender – ou reaproveitar – as estruturas usadas. Porém, ela não descarta transformar alguma das futuras embarcações – que serão aposentadas – num recife artificial no fundo do oceano.




A petroleira brasileira tem planos de aposentar mais cinco (5) embarcações até 2020. Por ora, a ideia é reutilizar equipamentos em novos projetos de desenvolvimento, ou vendê-los. O custo de desmontar uma plataforma é de U$ 600 milhões para uma embarcação de 10 mil TON.

Um dos entraves para o cálculo exato de quantas embarcações serão desmontadas, é o fato de existirem iniciativas para aumentar a vida útil dessas plataformas. Após 25 anos de operação, a empresa precisa decidir se vai tentar dar uma sobrevida ao projeto ou desmontá-lo.

A Noruega tem unidades que produzem petróleo há mais de 45 anos e o Brasil tem plataformas em funcionamento há 35 anos. A ANP diz que trabalha para que o desmonte seja postergado ao máximo. Ela antecipou os pontos que serão exigidos na nova regulamentação. A ideia é mostra que o desmonte é a última opção tanto para os equipamentos quanto para a situação dos reservatórios.

Outra estratégia para aumentar a vida útil dos equipamentos é elevar o chamado fator de recuperação que, na prática, é a quantidade de petróleo que se consegue extrair de um reservatório. Esse será o principal fator da nova regulamentação, além da caracterização ambiental da área onde estão as instalações.

 

 

Revista Época (06/08/2018)

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