No Bilionário Mercado de Desmonte de Plataformas, Vale a Pena Afundá-las no Mar ou Transformá-las em Recifes de Corais?
Uma
plataforma de petróleo pode pesar 20 mil TON. (Mais ou menos o peso de 200 mil
baleias) e, com esse porte descomunal, aposentá-las é tão complicado quanto
tentar ser discreto usando uma melancia na cabeça.
Mais
de 40 anos após o início da exploração de petróleo em Campos (RJ), a indústria
de óleo e gás começa a pensar no que fazer com as embarcações próximas da
aposentadoria, pois 67 delas (42% do total) vão chegar ao fim do “prazo de
validade”.
O
desmonte de plataformas é um negócio bilionário que movimentou quase U$ 6
bilhões em 2017 e, enquanto essas embarcações envelhecem, essa atividade ganha
fôlego. “É um mercado que está em ebulição”, afirmou Maurício Almeida –
especialista do setor naval da Sigma Consultoria – acrescentando ainda que essa
atividade já é conhecida no Mar do Norte e no Golfo do México, mas ainda está
em estágio inicial no Brasil.
Como
quase tudo que envolve essa indústria, a aposentadoria das embarcações é
envolta em polêmicas e alvo das críticas de ambientalistas. No exterior, o
desmonte já significa tampar poços, vender partes, peças e afundar a plataforma
no mar. A opção de transformar as estruturas em recifes artificiais é uma
alternativa vista com ceticismo pelos defensores do meio ambiente.
O
Greenpeace é contra e, em 1995, eles ocuparam a plataforma de Brent Spar por três
(3) semanas para protestar contra os planos de que a estrutura de 15 mil TON
fosse enterrada no Oceano Atlântico. A estratégia deu certo, pois a embarcação foi desmontada e parte da estrutura foi usada para fazer um novo cais na
Noruega. Após esse evento, a Convenção para a Proteção do Ambiente Marinho no
Atlântico Norte recomendou a remoção de plataformas.
Na
aposentadoria de plataformas é importante contar com um centro integrado em
condições de receber em terra materiais que serão desmontados, descontaminados
ou triturados. Marcelo Igor Souza – professor da Coppe / UFRJ – observou que a
hipótese de transformar uma plataforma num recife artificial requer muito
estudo, a fim de evitar os efeitos do inimigo de alto potencial destrutivo – o
coral-sol.
Essa
espécie teria chegado ao Brasil nos anos 80, incrustada em cascos de navios e
plataformas de petróleo. O risco é levar o coral-sol para perto da superfície. De
acordo com o IBAMA uma das preocupações é garantir que as pessoas afetadas pelo
projeto sejam respeitadas e que suas opiniões sejam ouvidas.
Já
existe uma instrução do órgão que trata do licenciamento ambiental de recifes
artificiais e, exercer essa alternativa, requer um estudo para determinar o
local apropriado e verificar se a área é usada pata turismo ou desenvolvimento
da vida marinha. Além de evitar a propagação do coral-sol, a empresa deve ficar
responsável pela instalação e manutenção do recife artificial.
O
processo para encerrar as atividades de uma plataforma inclui desligar e tampar
os poços, retirar todos os materiais e equipamentos localizados na parte
superior da embarcação e remover os equipamentos da parte submersa, quando
então serão levados para uma área em terra. Outra alternativa seria reutilizar
a própria unidade, sendo possível usar a parte fixa como base para
mergulhadores ou trabalhadores de outras plataformas.
É
possível ainda usar a estrutura para a geração de energia solar ou eólica. A
Agência Nacional de Petróleo (ANP) está reformulando a regulamentação sobre o
desmonte de plataformas, num trabalho com a participação da Marinha e do IBAMA.
A
Petrobrás já se desfez de 5 plataformas e, como eram estruturas flutuantes,
elas foram rebocadas. Algumas foram convertidas para ter outras finalidades
como sondas de perfuração de poços, mas até agora a estatal optou por vender –
ou reaproveitar – as estruturas usadas. Porém, ela não descarta transformar
alguma das futuras embarcações – que serão aposentadas – num recife artificial
no fundo do oceano.
A
petroleira brasileira tem planos de aposentar mais cinco (5) embarcações até 2020. Por
ora, a ideia é reutilizar equipamentos em novos projetos de desenvolvimento, ou
vendê-los. O custo de desmontar uma plataforma é de U$ 600 milhões para uma
embarcação de 10 mil TON.
Um
dos entraves para o cálculo exato de quantas embarcações serão desmontadas, é o
fato de existirem iniciativas para aumentar a vida útil dessas plataformas.
Após 25 anos de operação, a empresa precisa decidir se vai tentar dar uma
sobrevida ao projeto ou desmontá-lo.
A
Noruega tem unidades que produzem petróleo há mais de 45 anos e o Brasil tem
plataformas em funcionamento há 35 anos. A ANP diz que trabalha para que o
desmonte seja postergado ao máximo. Ela antecipou os pontos que serão exigidos
na nova regulamentação. A ideia é mostra que o desmonte é a última opção tanto
para os equipamentos quanto para a situação dos reservatórios.
Outra
estratégia para aumentar a vida útil dos equipamentos é elevar o chamado fator
de recuperação que, na prática, é a quantidade de petróleo que se consegue
extrair de um reservatório. Esse será o principal fator da nova regulamentação,
além da caracterização ambiental da área onde estão as instalações.
Revista Época (06/08/2018)
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