sexta-feira, 5 de setembro de 2025

As Fronteiras da Roma Antiga e As Invasões Germânicas

 Qual Era a Estrutura Política e Social de Roma no Século I d.C.? Por Que a Noção de Bárbaro se Modificou ao Longo do Tempo?  Qual Era o Conceito de Europa Nessa Época?

 


 

A presença bárbara já era notada na Roma Antiga desde o século II a.C e, na Gália, já havia alguma interação sociocultural. O processo político e econômico de romanização ocorria desde o século I a.C. As tribos bárbaras – principalmente daquelas há mais tempo em contato com a civilização romana, como os francos – passaram a ter uma aceitação da ordem e riqueza provenientes da dominação romana em detrimento da liberdade e da autonomia política, eles passaram a buscar por isso. Há também a criação de milícias locais (tropas auxiliares) de apoio às legiões, com chefias tribais germânicas.  E, também do lado romano, a noção de bárbaro se modificou, passando a ser o elemento contrário à civilização.

 

·        As Invasões Bárbaras: Invasões talvez não seja o termo mais adequado para descrever os eventos acontecidos a partir do século III na Roma Antiga, pois observou-se inicialmente migrações continentais do Báltico para a Europa Central e depois para Sul e Sudoeste. Existia um movimento de tribos de mesma família linguística: o protogermânico. Tratava-se de grupos culturais similares, mas não idênticos.

·        O Contexto Germânico: A configuração das tribos germânicas em seu contexto original é a de agricultores e pastores sedentários com propriedade comunal – no chamado modo de produção primitivo. As chefias distribuem campos aráveis para clãs, os rebanhos são bens privados (sinal de riqueza) e as chefias tribais são definidas, no contexto da sociedade germânica, pela sociedade que consiste em guerreiros, libertos e escravos, sem grupo intermediário. A assembleia guerreira é seu órgão decisório, e é denominada Ding (ou Thing).

·        A Romanização: No séc. I d.C. a estrutura política e social dessas tribos se alterou, quando foi introduzido o comércio romano e, consequentemente, passou a haver uma divisão social, determinada pela posse privada da terra. Houve migração sazonal, com o cultivo móvel de plantas e o uso rotativo e temporário da terra. A fixação à terra foi um processo inevitável, levando à criação de uma aristocracia guerreira permanente de caráter hereditário. O contato com Roma acelerou o abandono do modo de produção primitivo e, diante disso, percebeu-se um processo de diferenciação social e consolidação de elite dominante associada ao modelo romano, onde a Assembleia dos guerreiros foi substituída pelo Conselho Federado de Nobres, onde a diferenciação social teve papel. As primeiras tribos afetadas foram os Alamanos (Alemanha), os Marcomanos, que tinham um regime monárquico no séc. II, os Quados (Boêmia) e os Visigodos (agricultura mais avançada, artesanato e alfabeto desenvolvidos, intenso comércio com os romanos).

·        Hospitalitas: Hospitalitas é um sistema imperial romano de divisão de território com povos bárbaros, implantado por meio de um tratado, no qual um terço de terra ficava para o antigo proprietário, e dois terços para os bárbaros.  As villae (unidade produtiva agrícola base do Império Romano) eram parte do ager publicus (“terra pública”), mas as terras particulares deviam ser partilhadas apenas com autorização do seu proprietário. Esta prática tem relação estreita com os foederati, a partir do séc. IV, quando estes começam a se fixar em terras fronteiriças do império ao invés de receber subsídios do governo romano.

·        Foederati: Foederati eram as tribos associadas aos romanos por meio de tratados, sem reconhecimento da condição de cidadania ou de colônia, mas obrigadas a fornecer um contingente de soldados que compunham as tropas auxiliares. Mais tarde esse termo definiu as tribos germânicas que guardavam as fronteiras romanas ocidentais, defendendo o império de outros invasores em troca de subsídios ou de terras para fixação.

 

As Invasões do século V

 

 As invasões começam em 406-407, com a chegada de suevos, alanos, e vândalos à Gália e à Península Ibérica. Ela prossegue em 411, quando ocorre o saque de Roma pelos visigodos, liderados por Alarico, que dá início ao processo de ocupação da borda mediterrânica pelas tribos bárbaras. Em 425 os godos fixam-se na Dalmácia (Croácia/Bósnia) e os hunos na Panônia (Hungria/Áustria).  Em 439 os vândalos tomam Cartago, em 441 os anglos e os saxões tomam a Bretanha, que havia sido abandonada pelos romanos em 407, e em 455 os vândalos saqueiam Roma. Finalmente em 476 os hérulos liderados por Odoacro derrubam o imperador Rômulo Augústulo e tomaram a cidade de Roma.

 

Os Bárbaros e o Cristianismo

 

As tribos germânicas viviam em cabanas retangulares e compridas com animais numa ponta e eles na outra, para guardar o calor. Os homens eram altos e magros, com cabelos loiros e olhos azuis. Eram bravos guerreiros, excelentes artesãos dos metais – como se pode comprovar arqueologicamente pelos achados de joias e armas finamente trabalhadas.  Usavam um tipo de calça, para proteger as pernas do frio intenso. Se organizavam politicamente ao redor da assembleia de guerreiros e seus rebanhos eram sinal de riqueza.

 

O Conceito de Europa

 

Ouvimos falar primeiro de Europa na mitologia grega, pois ela seria uma princesa fenícia, filha do rei Agenor, que teria sido raptada por Zeus na forma de um touro e levada para a ilha de Creta. O famoso rei Minos – o do labirinto – seria filho deles. Mas a Europa que discutiremos aqui é a Europa continente, conectada à Ásia por terra (podemos dizer Eurásia, já que se trata de um único e imenso continente), e pela História. Então, qual seriam os limites da Europa a leste? Onde acaba a Europa e começa a Ásia? Essa oposição entre esses dois continentes, Europa e Ásia, e seus habitantes, é bem antiga e remonta ao início da História.  Alguns autores gregos antigos já mencionavam as diferenças entre os povos europeus e asiáticos, diferenças de comportamentos, de disposição e de interesses. O Império Romano parece fugir um pouco dessa ideia de Europa. Isso acontece principalmente porque ele se centra no mar Mediterrâneo e não no continente. Abrange regiões as mais diversas, da Bretanha ao norte da África, da Palestina ao Danúbio, e o que as conecta é o Mediterrâneo e a civilização romana.

O Império Romano difundiu pela Europa hábitos que são ainda encontrados até hoje, como uma cultura baseada na escrita, no livro e na escola, práticas cotidianas como beber o vinho, usar pedra e tijolo nas construções, e se dedicar à palavra falada, com oradores e pela retórica. Outra coisa que o Império Romano fez foi deixar clara a divisão entre o Ocidente latino e o Oriente grego. O Império Romano do Ocidente sofreu a invasão dos povos germânicos e não se manteve, se desestruturando, o que não acontece no Oriente. Mas é aqui, no século IV, que entra um novo elemento ideológico religioso na Europa Ocidental, o cristianismo. Logo ele também se distinguirá entre um cristianismo latino a oeste e um cristianismo grego a leste, que se afastarão cada vez mais culminando com o que é conhecido como a grande cisma do Oriente, em 1054, que tira a igreja grega do poder do papa.  Essa ruptura vai ser percebida tanto de um lado quanto de outro no que se refere ao poder.

No Leste, no mundo bizantino ortodoxo, o poder está nas mãos do rei, Basileus, que acumula o poder imperial e o poder pontifício, isto é, religioso. No Oeste, da cristandade latina, temos um mundo dividido, barbarizado e de certa maneira unificado por duas cabeças, o imperador e o Papa.  Essa cristandade é a Europa. Temos, então, um primeiro esboço de Europa, definida sobre duas bases importantes:  a componente comunitária da cristandade, pela religião e cultura, e a componente multicultural dos diversos reinos que vão se definir pela união de novas tradições étnicas (os povos germânicos recém-chegados) a tradições multiculturais mais antigas (formadas pelas populações locais associadas à cultura romana). Essa é a Europa das nações, a unidade da diversidade de nações. Temos na Europa medieval dois (2) fenômenos que vão acontecer:

 

·        A Europa vai recusar um poder teocrático como aconteceu com Bizâncio. Na Europa, o poder político é do rei, o poder religioso é do Papa

·        A grande mistura étnica que vai ocorrer levando à criação da própria cristandade e dos reinos cristãos. Imigrações, diversidade cultural e mestiçagem trarão dinamismo à Europa

 

A Europa ganha forma na Idade Média, mas curiosamente é o momento em que a palavra Europa não é usada. Os termos mais utilizados para se referir a ela são cristandade e Ocidente. Ela vai se esboçando assim, política e culturalmente na Idade Média, pelo seu desenvolvimento interno e também no contato com adversários (como o Islã) e concorrentes (como Bizâncio). A Idade Média vai equipar a Europa.  Ao contrário da crença geral de que a Idade Média é um período de trevas, temos diversas inovações inclusive tecnológicas que irão proporcionar os avanços no desenvolvimento europeu posterior. 

Podemos citar o moinho de água como fonte de energia, logo seguido do moinho de vento no século X. As estradas serão aperfeiçoadas, serão construídas pontes e as carroças serão maiores e mais sólidas, para garantir a segurança dos mercadores e das cargas. Houve muitos progressos no domínio marítimo, maiores navios, maiores velas, uso de instrumentos de navegação como a bússola e o astrolábio, e a confecção de mapas mais precisos. Na agricultura também tivemos progressos: o uso do ferro nas ferramentas, como o arado, e a rotação de culturas.  No artesanato há inovação na produção de tecidos, com o tear vertical e a roda de fiar.  Podemos mencionar quatro aspectos gerais da sociedade e da civilização medieval que marcaram fortemente a Europa e que perduram até hoje:

 

·        A tradição rural.  A base fundamental da economia, do poder e do prestígio na Idade Média é a terra.  Há um poder simbólico atrelado a ela.  Outro elemento essencial do sistema feudal para as mentalidades e os comportamentos europeus é a fidelidade, as relações entre os homens.

·        Com a segunda onda de cristianização ocorrida na Idade Média, a partir do séc. X (a primeira foi a dos povos germânicos no início do período medieval), temos a entrada de dois novos grandes grupos de europeus, os Escandinavos e os Eslavos. Serão nações periféricas originais e importantes na Europa de hoje.

·        A Europa medieval apresenta diversidade política. Ao lado dos Estados centralizados, Inglaterra, França e Espanha sendo os melhores exemplos, temos também na Alemanha e na Itália as cidades-estados independentes (como Hamburgo, Nuremberg, Gênova   e   Veneza) que   são   modelos   de   comunidades   políticas, econômicas e culturais.

·        A Europa medieval inventa novos modelos culturais, diferentes do herói guerreiro e do orador da Antiguidade:

- Temos o modelo do santo, ligado ao cristianismo, ideia de perfeição humana;

- Temos o modelo da cortesia.  O homem cortês é o homem bem-educado, é galante com as mulheres e tem comportamentos refinados da corte. Junto da urbanidade, que são os bons costumes aprendidos na cidade, a cortesia constitui um código de valores sociais e comportamentos até hoje.

 

A Idade Média também proporcionou o desenvolvimento intelectual e artístico da Europa. As escolas medievais de origem religiosa, asseguraram a alfabetização a partir do século XII, em três disciplinas fundamentais: ler, escrever e contar. É na Idade Média que surge um tipo de instituição nova, constituída em corporações de mestres e estudantes:  as universidades.  Bolonha, Paris e Oxford foram as primeiras.  Centros de saber e de promoção social, que vão elaborar um método científico racional, a escolástica. A Europa cristã, que acolheu desde a origem, as imagens, permitirá um grande desenvolvimento da arte, fazendo dela uma das grandes expressões do humanismo.

Por fim, podemos dizer que o Cristianismo medieval se adaptou numa evolução da religião, ao valorizar o trabalho, até então desprezado como uma consequência do pecado original e ligado à servidão. A ideia é de que o homem no trabalho pode ser um colaborador da criação, e que o trabalho ocupa a mente para coisas boas. Vimos aqui, portanto, como a ideia de Europa como conhecemos hoje, está direta e intimamente ligada à Idade Média, como foi nesse período que ela de fato se originou.

  

 

REFERÊNCIAS

 

BLASCO, Maria de lá Concepcional (1 de setembro de 1993). El Bonce final (1ª adicione). Madrid: Editorial Sínteses. p. 176. ISBN 84-7738-195-X. BRÉZILLON, Michel (1969). Dictionnaire de lá Préhistoire (en francés). París: Librairie Larousse. ISBN 2-03- 075437-4.

CLAIRBORNE, Robert (1977). Los primeros americanos. Ciudad de México: Lito Offset Latina. Libros TIMELIFE. Clark, John E., ed. (1994). Los olmecas en Mesoamérica. Ciudad de México: Ediciones del Equilibrista. ISBN 968-7318-22-8.

CONRAD, Geoffrey W. (1984). «Los incas». Historia de las Civilizaciones antiguas (II): Europa, América, China, India. Arthur Cotterell, ed. Barcelona: Editorial Crítica. ISBN 84-7423-252-X

Nenhum comentário :

Postar um comentário