Qual Era a Estrutura Política e Social de Roma no Século I d.C.? Por Que a Noção de Bárbaro se Modificou ao Longo do Tempo? Qual Era o Conceito de Europa Nessa Época?
A presença bárbara já era notada na
Roma Antiga desde o século II a.C e, na Gália, já havia alguma interação
sociocultural. O processo político e econômico de romanização ocorria desde o século
I a.C. As tribos bárbaras – principalmente daquelas há mais tempo em contato
com a civilização romana, como os francos – passaram a ter uma aceitação da
ordem e riqueza provenientes da dominação romana em detrimento da liberdade e da
autonomia política, eles passaram a buscar por isso. Há também a criação de
milícias locais (tropas auxiliares) de apoio às legiões, com chefias tribais
germânicas. E, também do lado romano, a noção
de bárbaro se modificou, passando a ser o elemento contrário à civilização.
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As Invasões
Bárbaras: Invasões talvez não seja o termo mais adequado para descrever os
eventos acontecidos a partir do século III na Roma Antiga, pois observou-se inicialmente
migrações continentais do Báltico para a Europa Central e depois para Sul e
Sudoeste. Existia um movimento de tribos de mesma família linguística: o
protogermânico. Tratava-se de grupos culturais similares, mas não idênticos.
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O
Contexto Germânico: A configuração das tribos germânicas em seu contexto original
é a de agricultores e pastores sedentários com propriedade comunal – no chamado
modo de produção primitivo. As chefias distribuem campos aráveis para clãs, os
rebanhos são bens privados (sinal de riqueza) e as chefias tribais são
definidas, no contexto da sociedade germânica, pela sociedade que consiste em
guerreiros, libertos e escravos, sem grupo intermediário. A assembleia
guerreira é seu órgão decisório, e é denominada Ding (ou Thing).
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A Romanização:
No séc. I d.C. a estrutura política e social dessas tribos se alterou,
quando foi introduzido o comércio romano e, consequentemente, passou a haver uma
divisão social, determinada pela posse privada da terra. Houve migração sazonal,
com o cultivo móvel de plantas e o uso rotativo e temporário da terra. A
fixação à terra foi um processo inevitável, levando à criação de uma
aristocracia guerreira permanente de caráter hereditário. O contato com Roma
acelerou o abandono do modo de produção primitivo e, diante disso, percebeu-se um
processo de diferenciação social e consolidação de elite dominante associada ao
modelo romano, onde a Assembleia dos guerreiros foi substituída pelo Conselho Federado
de Nobres, onde a diferenciação social teve papel. As primeiras tribos afetadas
foram os Alamanos (Alemanha), os Marcomanos, que tinham um regime monárquico no
séc. II, os Quados (Boêmia) e os Visigodos (agricultura mais avançada,
artesanato e alfabeto desenvolvidos, intenso comércio com os romanos).
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Hospitalitas:
Hospitalitas é um sistema imperial romano de divisão de território com povos
bárbaros, implantado por meio de um tratado, no qual um terço de terra ficava
para o antigo proprietário, e dois terços para os bárbaros. As villae (unidade produtiva agrícola base do
Império Romano) eram parte do ager publicus (“terra pública”), mas as terras particulares
deviam ser partilhadas apenas com autorização do seu proprietário. Esta prática
tem relação estreita com os foederati, a partir do séc. IV, quando estes
começam a se fixar em terras fronteiriças do império ao invés de receber
subsídios do governo romano.
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Foederati:
Foederati eram as tribos associadas aos romanos por meio de tratados, sem
reconhecimento da condição de cidadania ou de colônia, mas obrigadas a fornecer
um contingente de soldados que compunham as tropas auxiliares. Mais tarde esse
termo definiu as tribos germânicas que guardavam as fronteiras romanas ocidentais,
defendendo o império de outros invasores em troca de subsídios ou de terras
para fixação.
As Invasões do século
V
Os Bárbaros e o Cristianismo
As tribos germânicas viviam em cabanas retangulares e compridas com animais numa ponta e eles na outra, para guardar o calor. Os homens eram altos e magros, com cabelos loiros e olhos azuis. Eram bravos guerreiros, excelentes artesãos dos metais – como se pode comprovar arqueologicamente pelos achados de joias e armas finamente trabalhadas. Usavam um tipo de calça, para proteger as pernas do frio intenso. Se organizavam politicamente ao redor da assembleia de guerreiros e seus rebanhos eram sinal de riqueza.
O Conceito de Europa
Ouvimos falar primeiro de Europa na mitologia grega, pois ela seria uma princesa fenícia, filha do rei Agenor, que teria sido raptada por Zeus na forma de um touro e levada para a ilha de Creta. O famoso rei Minos – o do labirinto – seria filho deles. Mas a Europa que discutiremos aqui é a Europa continente, conectada à Ásia por terra (podemos dizer Eurásia, já que se trata de um único e imenso continente), e pela História. Então, qual seriam os limites da Europa a leste? Onde acaba a Europa e começa a Ásia? Essa oposição entre esses dois continentes, Europa e Ásia, e seus habitantes, é bem antiga e remonta ao início da História. Alguns autores gregos antigos já mencionavam as diferenças entre os povos europeus e asiáticos, diferenças de comportamentos, de disposição e de interesses. O Império Romano parece fugir um pouco dessa ideia de Europa. Isso acontece principalmente porque ele se centra no mar Mediterrâneo e não no continente. Abrange regiões as mais diversas, da Bretanha ao norte da África, da Palestina ao Danúbio, e o que as conecta é o Mediterrâneo e a civilização romana.
O Império Romano difundiu pela
Europa hábitos que são ainda encontrados até hoje, como uma cultura baseada na
escrita, no livro e na escola, práticas cotidianas como beber o vinho, usar
pedra e tijolo nas construções, e se dedicar à palavra falada, com oradores e
pela retórica. Outra coisa que o Império Romano fez foi deixar clara a divisão entre
o Ocidente latino e o Oriente grego. O Império Romano do Ocidente sofreu a
invasão dos povos germânicos e não se manteve, se desestruturando, o que não acontece
no Oriente. Mas é aqui, no século IV, que entra um novo elemento ideológico
religioso na Europa Ocidental, o cristianismo. Logo ele também se distinguirá entre
um cristianismo latino a oeste e um cristianismo grego a leste, que se
afastarão cada vez mais culminando com o que é conhecido como a grande cisma do
Oriente, em 1054, que tira a igreja grega do poder do papa. Essa ruptura vai ser percebida tanto de um lado
quanto de outro no que se refere ao poder.
No Leste, no mundo bizantino
ortodoxo, o poder está nas mãos do rei, Basileus, que acumula o poder imperial
e o poder pontifício, isto é, religioso. No Oeste, da cristandade latina, temos
um mundo dividido, barbarizado e de certa maneira unificado por duas cabeças, o
imperador e o Papa. Essa cristandade é a
Europa. Temos, então, um primeiro esboço de Europa, definida sobre duas bases
importantes: a componente comunitária da
cristandade, pela religião e cultura, e a componente multicultural dos diversos
reinos que vão se definir pela união de novas tradições étnicas (os povos germânicos
recém-chegados) a tradições multiculturais mais antigas (formadas pelas
populações locais associadas à cultura romana). Essa é a Europa das nações, a
unidade da diversidade de nações. Temos na Europa medieval dois (2) fenômenos
que vão acontecer:
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A Europa vai recusar um poder teocrático como
aconteceu com Bizâncio. Na Europa, o poder político é do rei, o poder religioso
é do Papa
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A grande mistura étnica que vai ocorrer levando à
criação da própria cristandade e dos reinos cristãos. Imigrações, diversidade cultural
e mestiçagem trarão dinamismo à Europa
A Europa ganha forma na Idade Média,
mas curiosamente é o momento em que a palavra Europa não é usada. Os termos
mais utilizados para se referir a ela são cristandade e Ocidente. Ela vai se
esboçando assim, política e culturalmente na Idade Média, pelo seu
desenvolvimento interno e também no contato com adversários (como o Islã) e
concorrentes (como Bizâncio). A Idade Média vai equipar a Europa. Ao contrário da crença geral de que a Idade
Média é um período de trevas, temos diversas inovações inclusive tecnológicas que
irão proporcionar os avanços no desenvolvimento europeu posterior.
Podemos citar o moinho de água
como fonte de energia, logo seguido do moinho de vento no século X. As estradas
serão aperfeiçoadas, serão construídas pontes e as carroças serão maiores e
mais sólidas, para garantir a segurança dos mercadores e das cargas. Houve
muitos progressos no domínio marítimo, maiores navios, maiores velas, uso de
instrumentos de navegação como a bússola e o astrolábio, e a confecção de mapas
mais precisos. Na agricultura também tivemos progressos: o uso do ferro nas ferramentas,
como o arado, e a rotação de culturas. No
artesanato há inovação na produção de tecidos, com o tear vertical e a roda de
fiar. Podemos mencionar quatro aspectos gerais
da sociedade e da civilização medieval que marcaram fortemente a Europa e que
perduram até hoje:
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A tradição rural. A base fundamental da economia, do poder e do
prestígio na Idade Média é a terra. Há um
poder simbólico atrelado a ela. Outro elemento
essencial do sistema feudal para as mentalidades e os comportamentos europeus é
a fidelidade, as relações entre os homens.
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Com a segunda onda de cristianização ocorrida na
Idade Média, a partir do séc. X (a primeira foi a dos povos germânicos no
início do período medieval), temos a entrada de dois novos grandes grupos de europeus,
os Escandinavos e os Eslavos. Serão nações periféricas originais e importantes
na Europa de hoje.
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A Europa medieval apresenta diversidade política.
Ao lado dos Estados centralizados, Inglaterra, França e Espanha sendo os melhores
exemplos, temos também na Alemanha e na Itália as cidades-estados independentes
(como Hamburgo, Nuremberg, Gênova
e Veneza) que são
modelos de comunidades
políticas, econômicas e culturais.
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A Europa medieval inventa novos modelos
culturais, diferentes do herói guerreiro e do orador da Antiguidade:
- Temos o modelo
do santo, ligado ao cristianismo, ideia de perfeição humana;
- Temos o modelo
da cortesia. O homem cortês é o homem
bem-educado, é galante com as mulheres e tem comportamentos refinados da corte.
Junto da urbanidade, que são os bons costumes aprendidos na cidade, a cortesia
constitui um código de valores sociais e comportamentos até hoje.
A Idade Média também proporcionou
o desenvolvimento intelectual e artístico da Europa. As escolas medievais de
origem religiosa, asseguraram a alfabetização a partir do século XII, em três
disciplinas fundamentais: ler, escrever e contar. É na Idade Média que surge um
tipo de instituição nova, constituída em corporações de mestres e estudantes: as universidades. Bolonha, Paris e Oxford foram as primeiras. Centros de saber e de promoção social, que vão
elaborar um método científico racional, a escolástica. A Europa cristã, que
acolheu desde a origem, as imagens, permitirá um grande desenvolvimento da
arte, fazendo dela uma das grandes expressões do humanismo.
Por fim, podemos dizer que o Cristianismo
medieval se adaptou numa evolução da religião, ao valorizar o trabalho, até
então desprezado como uma consequência do pecado original e ligado à servidão.
A ideia é de que o homem no trabalho pode ser um colaborador da criação, e que
o trabalho ocupa a mente para coisas boas. Vimos aqui, portanto, como a ideia de
Europa como conhecemos hoje, está direta e intimamente ligada à Idade Média,
como foi nesse período que ela de fato se originou.
REFERÊNCIAS
BLASCO, Maria de lá Concepcional (1 de setembro de 1993). El Bonce final (1ª adicione). Madrid: Editorial Sínteses. p. 176. ISBN 84-7738-195-X. BRÉZILLON, Michel (1969). Dictionnaire de lá Préhistoire (en francés). París: Librairie Larousse. ISBN 2-03- 075437-4.
CLAIRBORNE, Robert (1977). Los primeros americanos. Ciudad de México:
Lito Offset Latina. Libros TIMELIFE.
Clark, John E., ed. (1994). Los olmecas en Mesoamérica. Ciudad de México:
Ediciones del Equilibrista. ISBN 968-7318-22-8.
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