Como se Comportou o Setor de Franquias no
Pós-Pandemia? Quais os Impactos da Inflação, do Desemprego e do PIB no Setor de
Franquias? Como Analisar o Comportamental Técnico e a Situação Financeira dos
Franqueados?
A gestão de franquias no
pós-pandemia é debate certo entre os investidores e, entender o potencial
desse investimento e a sua sobrevivência diante dessas circunstâncias, é
fundamental para os empreendedores. Assim, pode-se dizer que o mercado de
franchising saiu fortalecido dos momentos mais críticos da pandemia. De acordo
com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o faturamento das redes no
Brasil avançou 8,8% entre janeiro e março de 2023, em relação ao mesmo período
do ano anterior. Em número de unidades também houve expansão, pois nesse mesmo
período foram inauguradas 2.771 franquias no país – um acréscimo de 4%. Os
maiores aumentos de 2022 foram nas áreas da moda (13,5%), beleza e bem-estar
(13,4%), casa e construção (9,3%) e serviços de alimentação (9,1%). Para André
Friedheim (Presidente da ABF) a retomada do setor passa por resiliência e
inovação, pois “as empresas criaram novos modelos de negócio para se adaptar à
realidade e, o melhor exemplo disso, é o store-in-store
– lojas em metrôs, universidades, estações de trens, aeroportos e hospitais”.
Algumas marcas revisaram suas categorias de produtos e serviços ou trocaram
fornecedores para adequar os custos da operação.
Sendo assim, investir em tecnologia
também tem sido boa forma de avançar, criando laboratórios de inovação em
parceria com startups. Entre o
movimento de diversificação destaca-se as cafeterias que, para viabilizar o delivery, aumentaram o tíquete médio
vendendo itens como bolos inteiros ou embalagens de café por quilo. Como
estratégia de expansão, vários negócios digitais estão montando franquias
físicas em seguimentos como o imobiliário e o de PET’s. O franchising também
tem sido utilizado para que grandes empresas explorem novos nichos, como é o
caso de uma determinada marca de sabão em pó que criou uma rede de lavanderias,
as quais usam o seu próprio produto. Além disso, tem-se observado um aumento do
movimento de fusões e aquisições adotados pelas franqueadoras para conquistar
mais eficiência, escala e poder de negociação.
Em termos de procedimentos,
orienta-se que a estratégia digital das franquias precisam estar muita bem
esclarecidas para o franqueado. Os dados da ABF confirmam a sensação de que o
mercado respira novos ares, pois em 2021 houve um aumento de 9,1% na quantidade
de unidades franqueadas no país, que chegaram a 170.999. Em 2024º setor faturou
R$ 273,083 bilhões e isso representa um crescimento de 13,5% sobre 2023. O
crescimento encontra razões no comportamento dos consumidores e das marcas na
moderna economia. Houve ganho de eficiência com a digitalização e o surgimento
de modelos de negócio home-based e
virtuais, trazendo novos players ao
mercado.
No pós-pandemia, muitas marcas
criaram “comitês de crise” e oportunidades para repensar novas formas de
conduzir ações. Simultaneamente, muitas pessoas que não conseguiam se manter no
emprego de forma remota e também não se recolocaram no mercado, optaram pelo
mercado de franquias, muitas vezes se mudando para o interior de seus estados.
Em 2022 a taxa de mortalidade das franquias aumentou e, dessa forma, adquirir
uma franquia nesse período foi estratégico, embora o empreendedor devesse estar
atento aos passivos existentes em muitas dessas franquias.
A Economia e o
Termômetro do Investidor
Investir em uma franquia não é apenas
fazer uma avaliação criteriosa dos dados do setor em que vai atuar, assim como
os empreendedores também devem avaliar as marcas que irão representar. Mas, de
acordo com a ABF os empreendedores devem observar como está a economia e
entender – através de um eficiente planejamento – como ela se comportará no
futuro. Dessa forma, índices como a inflação, o desemprego e o PIB são aliados
importantes na hora de se decidir por um negócio específico. “A inflação é um
detrator das margens de lucro, pois faz com que os custos como aluguel e folha
de pagamento, cresçam bastante” (Eduardo Terra, da Sociedade Brasileira de
Varejo e Consumo). Para ele, a inflação dá uma ideia da perda do poder de
compra porque corrói a renda das famílias. Os níveis de emprego também são uma
importante orientação para os empreendedores, pois parte significativa das
franquias vai atender a uma classe média baixa, a qual tem sofrido com a perda
da capacidade de consumo.
Já a taxa básica de juros da
economia (SELIC) precisa ser acompanhada pelos empreendedores por conta dos
custos de financiamento e empréstimos. Por outro lado, o PIB nos fornece a
medida do ritmo da recuperação em relação a crises – como a pandemia, por
exemplo. Alguns produtos e serviços sofrem mais em demanda de acordo com a
conjuntura econômica e, dependendo do seguimento, a inflação acaba sendo mais
cruel com os bens de consumo não essenciais. Assim, a dica é, mais do que
seguir o PIB Geral, o empreendedor deve ficar atento ao crescimento por área.
Se ele for investir em uma franquia de educação, alimentação ou outro
seguimento específico é necessário analisar o PIB setorial em questão, além do
PIB Brasil. Geralmente, o recomendado é que os dados da Economia e do mercado
sejam avaliados em conjunto e comparativamente, compondo uma análise integrada
ao cenário. Assim, o empreendedor (e/ou investidor) deve tentar identificar
quais são os motivos que fazem aquele número se comportar daquela forma.
O Franqueado Deve
Entender os Principais Verbetes Para Falar a Mesma Língua Das Franqueadoras
Geralmente, as franqueadoras
impõem um rigoroso processo de seleção de candidatos a franqueados,
identificando se ele se adequa ao perfil desenhado para atuar no negócio – como
a capacidade técnica, a comportamental e a financeira. Além de comprovações
documentais, algumas ferramentas – como o teste DISC, visitas às unidades e
entrevistas técnicas – pois essas informações deverão constar da “Circular de
Oferta de Franquia”. Além disso, também são avaliados os seguintes aspectos:
·
Capital de Giro: Trata-se de um recurso
extremamente necessário até que a unidade franqueada possa gerar receita
suficiente para cobrir todas as despesas como o aluguel, contas de consumo,
salários pró-labore, matérias primas e taxas. Esse recurso deve ser considerado
quando se calcula o investimento total, uma vez que esse capital precisa ser
suficiente para sustentar a empresa entre o pagamento das despesas e o
recebimento das vendas.
·
Cláusula de Não Concorrência: Como o
know-how da franqueadora é transferido aos franqueados, as redes se resguardam
daqueles que saiam do sistema e utilizem o conhecimento adquirido para abrir
e/ou operar negócios concorrentes. Dessa forma, é comum assinarem um contrato
que ex-franqueados não podem atuar no mesmo seguimento com negócio similar, por
prazo de 2 a 5 anos, em um território específico.
·
A Circular de Oferta de Franquia (COF):
Trata-se de um documento apresentado ao potencial franqueado durante a seleção,
o qual deve ser entregue no mínimo 10 dias antes da assinatura do contrato ou
do pagamento de qualquer taxa, para que ele possa avaliar a rede, antes de
fechar o negócio. Constam da COF uma descrição e o histórico da franquia,
incluindo eventuais pendências judiciais, balanços e demonstrações financeiras
dos últimos 2 anos, investimentos e taxas, a relação completa dos franqueados,
e dos que se desligaram nos últimos 2 anos (com telefones e endereços).
·
Demonstrativo de Resultados do Exercício
(DRE): Nesse documento são listados das descrições das receitas, das despesas,
a lucratividade e o tempo de retorno do investimento. Trata-se de uma boa
prática do mercado que a franqueadora disponibiliza o modelo que deve ser
preenchido todos os meses pelo franqueado, para que ele acompanhe seus
resultados e possa analisar correções.
·
Estoque: Trata-se do planejamento do
estoque de insumos e produtos finais para controle dos custos, evitando
desperdícios com perdas de prazo de validade, ocupação desnecessária dos
espaços e gastos com manutenção. A orientação da franqueadora é para o
abastecimento da loja e, para tal, é preciso saber o volume de investimento em
quanto tempo se prevê o consumo e quando será a 1ª reposição. Deve-se assegurar
que os controles via sistema forneçam o histórico das vendas e a análise dos
itens mais e menos vendidos, com os quais se podem alavancar ações de vendas.
·
Faturamento Médio Mensal: É a média de
quanto cada franqueada fatura por mês. Importante saber que alguns setores –
chocolates, por exemplo – têm sazonalidades e, por isso, é importante entender
os períodos críticos, a fim de se obter faturamento suficiente para o sucesso
do negócio. Para calcular o faturamento médio mensal deve-se obter o número de
compradores de acordo com o fluxo histórico da rede e multiplicá-lo pelo valor
do tíquete médio.
·
Fornecedores: São empresas que vendem
produtos ou prestam serviços ás franquias e, geralmente, são homologadas pelas
franqueadoras nos casos em que é obrigatório o uso de determinado insumo ou
serviço. À franqueadora pode apenas sugerir ou até liberar a compra de qualquer
fornecedor.
·
Investimento Inicial: É o montante
necessário para estruturar o negócio. Devem entrar nesse cálculo a abertura da
empresa, a taxa de franquia, o projeto arquitetônico, a reforma do ponto, o
mobiliário, o capital de giro, o estoque inicial, a implantação do sistema de
gestão, os equipamentos, os utensílios necessários à operação e o marketing de
inauguração.
·
Know-How: É o conhecimento repassado pela
franqueadora, envolvendo os processos e os padrões que devem ser reproduzidos
na operação. Contempla o que pode ser chamado de “fórmula de sucesso do
negócio”.
·
Lucro: É a diferença entre a receita e o
custo, a qual sinaliza quanto o negócio dará de retorno (mensal ou anual). As
redes informam a lucratividade média esperada para uma unidade da marca.
·
Manuais: São os materiais desenvolvidos
pelas franqueadoras com os processos e rotinas para que o franqueado possa
implantar e gerir o seu negócio. São 4 os manuais entregues na assinatura do
contrato: implantação, administração, marketing/vendas e operação.
·
Marketing: Divide-se em dois (2) modelos:
- A) Institucional: Envolve a divulgação da
marca, podendo ser custeado pelo fundo de propaganda (arrecadado mensalmente de
todos os franqueados) ou pela franqueadora (parte da receita dos royalties ou
recursos próprios).
- B) Local: Responsabilidade do franqueado,
tendo a finalidade de divulgar o negócio no seu território a fim de estimular
vendas e atrair consumidores.
Patrícia Trudes da Veiga (Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios (Ed. 2023/24)
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