quinta-feira, 14 de agosto de 2025

O ABC do FRANCHISING

Como se Comportou o Setor de Franquias no Pós-Pandemia? Quais os Impactos da Inflação, do Desemprego e do PIB no Setor de Franquias? Como Analisar o Comportamental Técnico e a Situação Financeira dos Franqueados?

 



 

A gestão de franquias no pós-pandemia é debate certo entre os investidores e, entender o potencial desse investimento e a sua sobrevivência diante dessas circunstâncias, é fundamental para os empreendedores. Assim, pode-se dizer que o mercado de franchising saiu fortalecido dos momentos mais críticos da pandemia. De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), o faturamento das redes no Brasil avançou 8,8% entre janeiro e março de 2023, em relação ao mesmo período do ano anterior. Em número de unidades também houve expansão, pois nesse mesmo período foram inauguradas 2.771 franquias no país – um acréscimo de 4%. Os maiores aumentos de 2022 foram nas áreas da moda (13,5%), beleza e bem-estar (13,4%), casa e construção (9,3%) e serviços de alimentação (9,1%). Para André Friedheim (Presidente da ABF) a retomada do setor passa por resiliência e inovação, pois “as empresas criaram novos modelos de negócio para se adaptar à realidade e, o melhor exemplo disso, é o store-in-store – lojas em metrôs, universidades, estações de trens, aeroportos e hospitais”. Algumas marcas revisaram suas categorias de produtos e serviços ou trocaram fornecedores para adequar os custos da operação.

Sendo assim, investir em tecnologia também tem sido boa forma de avançar, criando laboratórios de inovação em parceria com startups. Entre o movimento de diversificação destaca-se as cafeterias que, para viabilizar o delivery, aumentaram o tíquete médio vendendo itens como bolos inteiros ou embalagens de café por quilo. Como estratégia de expansão, vários negócios digitais estão montando franquias físicas em seguimentos como o imobiliário e o de PET’s. O franchising também tem sido utilizado para que grandes empresas explorem novos nichos, como é o caso de uma determinada marca de sabão em pó que criou uma rede de lavanderias, as quais usam o seu próprio produto. Além disso, tem-se observado um aumento do movimento de fusões e aquisições adotados pelas franqueadoras para conquistar mais eficiência, escala e poder de negociação.

Em termos de procedimentos, orienta-se que a estratégia digital das franquias precisam estar muita bem esclarecidas para o franqueado. Os dados da ABF confirmam a sensação de que o mercado respira novos ares, pois em 2021 houve um aumento de 9,1% na quantidade de unidades franqueadas no país, que chegaram a 170.999. Em 2024º setor faturou R$ 273,083 bilhões e isso representa um crescimento de 13,5% sobre 2023. O crescimento encontra razões no comportamento dos consumidores e das marcas na moderna economia. Houve ganho de eficiência com a digitalização e o surgimento de modelos de negócio home-based e virtuais, trazendo novos players ao mercado.  

No pós-pandemia, muitas marcas criaram “comitês de crise” e oportunidades para repensar novas formas de conduzir ações. Simultaneamente, muitas pessoas que não conseguiam se manter no emprego de forma remota e também não se recolocaram no mercado, optaram pelo mercado de franquias, muitas vezes se mudando para o interior de seus estados. Em 2022 a taxa de mortalidade das franquias aumentou e, dessa forma, adquirir uma franquia nesse período foi estratégico, embora o empreendedor devesse estar atento aos passivos existentes em muitas dessas franquias.

 

A Economia e o Termômetro do Investidor

 

Investir em uma franquia não é apenas fazer uma avaliação criteriosa dos dados do setor em que vai atuar, assim como os empreendedores também devem avaliar as marcas que irão representar. Mas, de acordo com a ABF os empreendedores devem observar como está a economia e entender – através de um eficiente planejamento – como ela se comportará no futuro. Dessa forma, índices como a inflação, o desemprego e o PIB são aliados importantes na hora de se decidir por um negócio específico. “A inflação é um detrator das margens de lucro, pois faz com que os custos como aluguel e folha de pagamento, cresçam bastante” (Eduardo Terra, da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo). Para ele, a inflação dá uma ideia da perda do poder de compra porque corrói a renda das famílias. Os níveis de emprego também são uma importante orientação para os empreendedores, pois parte significativa das franquias vai atender a uma classe média baixa, a qual tem sofrido com a perda da capacidade de consumo.

Já a taxa básica de juros da economia (SELIC) precisa ser acompanhada pelos empreendedores por conta dos custos de financiamento e empréstimos. Por outro lado, o PIB nos fornece a medida do ritmo da recuperação em relação a crises – como a pandemia, por exemplo. Alguns produtos e serviços sofrem mais em demanda de acordo com a conjuntura econômica e, dependendo do seguimento, a inflação acaba sendo mais cruel com os bens de consumo não essenciais. Assim, a dica é, mais do que seguir o PIB Geral, o empreendedor deve ficar atento ao crescimento por área. Se ele for investir em uma franquia de educação, alimentação ou outro seguimento específico é necessário analisar o PIB setorial em questão, além do PIB Brasil. Geralmente, o recomendado é que os dados da Economia e do mercado sejam avaliados em conjunto e comparativamente, compondo uma análise integrada ao cenário. Assim, o empreendedor (e/ou investidor) deve tentar identificar quais são os motivos que fazem aquele número se comportar daquela forma.      

 

O Franqueado Deve Entender os Principais Verbetes Para Falar a Mesma Língua Das Franqueadoras

 

 

Geralmente, as franqueadoras impõem um rigoroso processo de seleção de candidatos a franqueados, identificando se ele se adequa ao perfil desenhado para atuar no negócio – como a capacidade técnica, a comportamental e a financeira. Além de comprovações documentais, algumas ferramentas – como o teste DISC, visitas às unidades e entrevistas técnicas – pois essas informações deverão constar da “Circular de Oferta de Franquia”. Além disso, também são avaliados os seguintes aspectos:

 

·        Capital de Giro: Trata-se de um recurso extremamente necessário até que a unidade franqueada possa gerar receita suficiente para cobrir todas as despesas como o aluguel, contas de consumo, salários pró-labore, matérias primas e taxas. Esse recurso deve ser considerado quando se calcula o investimento total, uma vez que esse capital precisa ser suficiente para sustentar a empresa entre o pagamento das despesas e o recebimento das vendas.

·        Cláusula de Não Concorrência: Como o know-how da franqueadora é transferido aos franqueados, as redes se resguardam daqueles que saiam do sistema e utilizem o conhecimento adquirido para abrir e/ou operar negócios concorrentes. Dessa forma, é comum assinarem um contrato que ex-franqueados não podem atuar no mesmo seguimento com negócio similar, por prazo de 2 a 5 anos, em um território específico.

·        A Circular de Oferta de Franquia (COF): Trata-se de um documento apresentado ao potencial franqueado durante a seleção, o qual deve ser entregue no mínimo 10 dias antes da assinatura do contrato ou do pagamento de qualquer taxa, para que ele possa avaliar a rede, antes de fechar o negócio. Constam da COF uma descrição e o histórico da franquia, incluindo eventuais pendências judiciais, balanços e demonstrações financeiras dos últimos 2 anos, investimentos e taxas, a relação completa dos franqueados, e dos que se desligaram nos últimos 2 anos (com telefones e endereços).

·        Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE): Nesse documento são listados das descrições das receitas, das despesas, a lucratividade e o tempo de retorno do investimento. Trata-se de uma boa prática do mercado que a franqueadora disponibiliza o modelo que deve ser preenchido todos os meses pelo franqueado, para que ele acompanhe seus resultados e possa analisar correções.

·        Estoque: Trata-se do planejamento do estoque de insumos e produtos finais para controle dos custos, evitando desperdícios com perdas de prazo de validade, ocupação desnecessária dos espaços e gastos com manutenção. A orientação da franqueadora é para o abastecimento da loja e, para tal, é preciso saber o volume de investimento em quanto tempo se prevê o consumo e quando será a 1ª reposição. Deve-se assegurar que os controles via sistema forneçam o histórico das vendas e a análise dos itens mais e menos vendidos, com os quais se podem alavancar ações de vendas.

·        Faturamento Médio Mensal: É a média de quanto cada franqueada fatura por mês. Importante saber que alguns setores – chocolates, por exemplo – têm sazonalidades e, por isso, é importante entender os períodos críticos, a fim de se obter faturamento suficiente para o sucesso do negócio. Para calcular o faturamento médio mensal deve-se obter o número de compradores de acordo com o fluxo histórico da rede e multiplicá-lo pelo valor do tíquete médio.

·        Fornecedores: São empresas que vendem produtos ou prestam serviços ás franquias e, geralmente, são homologadas pelas franqueadoras nos casos em que é obrigatório o uso de determinado insumo ou serviço. À franqueadora pode apenas sugerir ou até liberar a compra de qualquer fornecedor.

·        Investimento Inicial: É o montante necessário para estruturar o negócio. Devem entrar nesse cálculo a abertura da empresa, a taxa de franquia, o projeto arquitetônico, a reforma do ponto, o mobiliário, o capital de giro, o estoque inicial, a implantação do sistema de gestão, os equipamentos, os utensílios necessários à operação e o marketing de inauguração.

·        Know-How: É o conhecimento repassado pela franqueadora, envolvendo os processos e os padrões que devem ser reproduzidos na operação. Contempla o que pode ser chamado de “fórmula de sucesso do negócio”.

·        Lucro: É a diferença entre a receita e o custo, a qual sinaliza quanto o negócio dará de retorno (mensal ou anual). As redes informam a lucratividade média esperada para uma unidade da marca.

·        Manuais: São os materiais desenvolvidos pelas franqueadoras com os processos e rotinas para que o franqueado possa implantar e gerir o seu negócio. São 4 os manuais entregues na assinatura do contrato: implantação, administração, marketing/vendas e operação.

·        Marketing: Divide-se em dois (2) modelos:

- A) Institucional: Envolve a divulgação da marca, podendo ser custeado pelo fundo de propaganda (arrecadado mensalmente de todos os franqueados) ou pela franqueadora (parte da receita dos royalties ou recursos próprios).

- B) Local: Responsabilidade do franqueado, tendo a finalidade de divulgar o negócio no seu território a fim de estimular vendas e atrair consumidores.          

 

 

Patrícia Trudes da Veiga (Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios (Ed. 2023/24) 


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