sexta-feira, 12 de setembro de 2025

O Movimento das Cruzadas e Seus Objetivos e Consequências

 De Quem Partiu a Iniciativa da Primeira Cruzada? Por Que a Segunda Cruzada Foi Um Fracasso? Por Que Saladino Foi Considerado o Maior Guerreiro Muçulmano? Por Que Jerusalém Era Importante Para o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo?

 


 

As Cruzadas foram expedições militares e religiosas ocorridas na Idade Média – entre os séculos XI e XIII – organizadas pela Igreja Católica, a fim de retomar a Terra Santa (Jerusalém) do domínio muçulmano e proteger os cristãos que a visitavam em peregrinação. Além do fervor religioso, as Cruzadas também tiveram motivações econômicas e militares, como a expansão de territórios e o estabelecimento de novas rotas comerciais, e acabaram influenciando o declínio do feudalismo e o desenvolvimento do comércio na Europa. Os povos europeus estavam organizados em senhores feudais, nobres proprietários de terra, servos e membros da Igreja Católica. Foi o momento da história em que o Ocidente europeu cristão e a Igreja passou a exercer grande influência na vida de todos. Essas expedições militares contra os inimigos da cristandade, legitimadas pela Igreja.  De fato, a iniciativa da Primeira Cruzada partiu do Papa Urbano II em 1095, que conclamou os cristãos a socorrerem seus irmãos de fé no Leste e a libertar Jerusalém das mãos dos infiéis, dos muçulmanos. Nessa época, os muçulmanos, isto é, as pessoas que professavam o Islã, religião difundida pelo Profeta Maomé a partir do século VI, haviam se espalhado e conquistado terras que antes eram cristãs, como o norte da África, a Sicília, a Espanha, a Palestina, a Síria, e ameaçavam Constantinopla, a capital bizantina.

Esse movimento foi a resposta dos cristãos contra a expansão muçulmana. Tanto nobres quanto camponeses se sentiram motivados a participar. As Cruzadas despertaram um imenso entusiasmo popular, levando milhares de pessoas para a Terra Santa.  A palavra Cruzada não era conhecida na época, a princípio.  Os textos medievais falam em peregrinação, guerra santa, expedição da Cruz e passagem. Quando surgiu o termo, no séc. XIII, ele se referia aos soldados marcados pelo sinal da cruz, ou soldados de Cristo. Segundo a tradição, foram nove Cruzadas entre o séc. XI e XIII para a Terra Santa, mas a primeira, a Cruzada Popular, não entra na contagem. Conta-se a partir da Primeira Cruzada dos Nobres.  A Cruzada Popular, conduzida por Pedro, o Eremita, em 1096, foi um total fracasso.  Levou bandos de pobres consigo que cometeram terríveis excessos ao longo do caminho, pilhando aldeias, matando judeus, e acabaram exterminados pelos turcos tão logo chegaram à Ásia.  As Cruzadas dos nobres demoravam mais na viagem, pois eles levavam provisões, armas, equipamentos, cavalos e auxiliares.  Apenas a Primeira Cruzada (a dos nobres) foi bem-sucedida. Tomou as terras do Levante (isto é, a costa Sírio Palestina) das mãos muçulmanas e libertou Jerusalém. Foi   de   1096   a   1099   que   diversas   ordens   religiosas   armadas   se estabeleceram na cidade, formadas por monges cavaleiros, surgidas da necessidade de se proteger, abrigar e alimentar os peregrinos. As mais importantes foram: 

 

·        A Ordem dos Hospitalários de São João de Jerusalém, que cuidava dos peregrinos, dos cruzados e da população doente e machucada.  Tais cavaleiros usavam uma cruz branca nas roupas e protegiam os peregrinos que entravam em Jerusalém;

·        Os Cavaleiros Templários usavam uma cruz vermelha e eram os responsáveis pela defesa de Jerusalém; e

·        Os Cavaleiros Teutônicos, conhecidos como a Irmandade do Hospital da Virgem Maria em Jerusalém.

 

Vale mencionar que hospital, neste contexto, se refere a hospitalidade. Os cavaleiros, todos armados, combatem por Cristo. Essa mentalidade da cavalaria está representada na paz de Deus, nos ritos de iniciação, no sentimento de honra e no respeito à fé estabelecida que essas ordens tinham. Com as vitórias da Primeira Cruzada, foram estabelecidos os quatro Estados Latinos no Oriente:

 

·        O Condado de Edessa, em 1098;

·        O Principado de Antioquia, em 1098;

·        O Reino de Jerusalém, em julho de 1099; e

·        O Condado de Trípoli, em 1109.

 

A Segunda Cruzada, de 1147 a 1149, foi um total fracasso, sendo conduzida pelos reis Luís VII da França e Conrado III do Sacro Império Romano Germânico, os quais foram vencidos e obrigados a se retirarem. Porém, em 1187, quase noventa anos após a formação do Reino latino de Jerusalém, a cidade foi reconquistada pelos muçulmanos, o que levou a uma nova mobilização dos cristãos europeus para uma nova Cruzada. Os cristãos enfrentavam um adversário decidido, desta vez, Saladino. A Terceira Cruzada, talvez a mais famosa, ocorreu entre 1189 e 1192.  É a Cruzada da qual participou três reis europeus, Felipe Augusto, da França, Frederico Barba Ruiva, do Sacro Império Romano Germânico, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra. Frederico morreu afogado no caminho, Felipe Augusto, após desavenças com Ricardo decide retornar à França, e Ricardo é, portanto, o único rei que continua. Ele se deparou com o maior guerreiro muçulmano, Saladino. Salah ad-Din Yusef ibn Ayyub viveu de 1138 a 1193. Era curdo, muçulmano, foi sultão do Egito e da Síria, e liderou a oposição islâmica aos cruzados. De conduta cavalheiresca, era diplomático e culto, conquistou o respeito de muitos cruzados, incluindo o próprio Ricardo Coração de Leão.  Em 1192, Saladino e Ricardo, após chegarem a um impasse nas disputas, fizeram um acordo pelo qual os Cruzados mantêm os territórios conquistados, mas perdem Jerusalém, que permaneceria em mãos muçulmanas, estando, porém, aberta às peregrinações cristãs. Cabe aqui um aparte.




O filme Cruzada (Kingdom of Heaven), lançado em 2005 e dirigido por Ridley Scott, com Orlando Bloon como o personagem principal, retrata muito bem os eventos relativos à terceira cruzada, com algumas licenças poéticas, digamos, para uma obra de entretenimento. Mas vale assistir. As outras Cruzadas fracassaram ou se desviaram de seu propósito original, como aconteceu com a Quarta Cruzada, chamada de Cruzada Comercial. Liderada pelo   Dodge   de   Veneza, Enrico   Dandolo, levou   os   cristãos   a   saquearem Constantinopla, fundando ali um reino latino.  Foi um ataque à cristandade, pois Constantinopla era também cristã.  E como os Árabes viram a chegada dos Cruzados? Os historiadores e cronistas árabes da época não falam em cruzadas e sim em guerras ou invasões dos francos.  Eles se referem aos invasores ocidentais, mais particularmente os franceses, como franj. Dentre vários relatos, temos o de Abu-Saad al-Harawi, um cádi (isto é, um juiz muçulmano que julga segundo as leis islâmicas) que, partindo de Damasco, na Síria, chega a Bagdá para alertar as autoridades islâmicas da calamidade que se abateu sobre os crentes (isto é, muçulmanos) na Síria e na Palestina. É o ano de 1099. Ele conta: Nunca os muçulmanos foram humilhados desta forma, nunca antes suas terras foram tão agressivamente devastadas. (...) os franjse apossaram da Cidade Santa, após um sítio de quarenta dias. Os exilados ainda tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria como se eles ainda tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que espalham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas.

Dois dias depois de cessada a chacina não havia mais um só muçulmano do lado de dentro das cidades. Alguns fugiram, outros jaziam, aos milhares, em poças de sangue na soleira de suas casas ou nas proximidades das mesquitas. Entre eles, um grande número de imãs, ulemás e ascetas sufis que haviam deixado sua terra para viver um retiro piedoso, nesses santos lugares.  (...).  Os sobreviventes por sua vez deveriam proteger-se para não serem massacrados ou vendidos como escravos. (...) O destino dos judeus de Jerusalém foi igualmente atroz. Durante as primeiras horas da batalha, vários deles participaram da defesa de seu bairro, a Judiaria, situada ao norte da cidade. Mas quando a parte da muralha que delimitava suas casas desmoronou, os judeus se apavoravam, vendo que os louros cavaleiros começavam a invadir as ruas da cidade. A comunidade inteira, reproduzindo um gesto ancestral, reuniu-se na sinagoga principal para rezar.  Os franj então bloquearam todos os acessos. Depois, empilhando feixes de lenha em torno, atearam fogo. Os que tentavam sair eram mortos nos becos vizinhos, os outros, queimados vivos. Amin Maalouf nos conta, em sua obra As Cruzadas Vistas pelos Árabes, que Abu-Saad al-Harawi, como grande cádi de Damasco, acolheu os refugiados com benevolência. Esse magistrado de origem afegã era a personalidade mais respeitada da cidade, conselheiro e consolador dos palestinos. Segundo ele, um muçulmano não deveria se envergonhar de ter tido que fugir de sua casa. O primeiro refugiado do Islã não fora o próprio profeta Maomé, que tivera que deixar sua cidade natal, Meca, cuja população lhe era hostil, buscando refúgio em Medina, onde a nova religião era mais aceita?  E não fora a partir de seu exílio que lançara a Guerra Santa, o jihad, para libertar a pátria da idolatria? Os refugiados devem considerar-se os combatentes da Guerra Santa, os mujabidins, por excelência, tão honrados no Islã que a emigração do Profeta, a Hégira, foi escolhida como ponto de partida da era muçulmana. O ano 1. (p. 9-12). Portanto, quem eram os bárbaros, afinal? Se olharmos para as Cruzadas apenas com o olhar do cruzado europeu cristão, veremos um propósito justo, válido e honrado em resgatar a Terra Santa das mãos dos bárbaros infiéis. Mas se virmos pela ótica das populações muçulmanas que viviam na região por mais de 400 anos, são invasões brutais, gratuitas, sanguinolentas e desonradas. E, por fim, por que Jerusalém era tão importante? Jerusalém é considerada o umbigo do mundo. É um dos lugares mais sagrados do mundo, o centro espiritual das três principais religiões monoteístas: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.

 

·        Para o Judaísmo: lar espiritual dos judeus, sede do Templo, local onde o Rei Salomão depositou a Arca da Aliança com as Tábuas dos 10 Mandamentos. Hoje, resta apenas um trecho da Muralha Oeste da plataforma do templo reconstruído por Herodes.

·        Para o Cristianismo: local de pregação de Jesus, local do seu suplício, crucificação, morte e ressurreição.

·        Para o Islamismo: local do Domo da Rocha de onde Maomé ascendeu aos céus. É a 2ª cidade mais importante, atrás apenas de Meca, para o Islã.

 

Salomão construiu o Templo de Jerusalém em cerca de 950 a.C.  Na então capital do reino unificado de Israel. O Segundo Templo foi construído em 516 a.C., quando do retorno dos judeus do cativeiro na Babilônia, sob o domínio do rei persa Ciro, o Grande. Ele foi construído sobre as ruínas do Primeiro Templo, que havia sido destruído em 586 a.C. no início do cativeiro, tendo permanecido em pé por 420 anos.  Alexandre, o Grande, rei macedônico, conquistou a Judeia no séc. IV a.C. e, após sua morte, Jerusalém passou a fazer parte do Império Selêucida da Síria. A Judeia é conquistada por Roma em 63 a.C. e anexada ao território romano.  Herodes, o Grande, o reconstruiu completamente em 19 a.C., ficando então conhecido como o Templo de Herodes. No séc. IV d.C. passa a fazer parte do Império Bizantino. E em 637 d.C. sofreu invasões dos árabes sarracenos que conquistam toda a Palestina e, essa dominação, acabou por provocar as Cruzadas, séculos depois. Essa região do mundo até hoje não encontrou a paz merecida para um lugar tão sagrado.

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

BLASCO, Maria de lá Concepcional (1 de setembro de 1993). El Bonce final (1ª adicione). Madrid: Editorial Sínteses. p. 176. ISBN 84-7738-195-X. BRÉZILLON, Michel (1969). Dictionnaire de lá Préhistoire (en francés). París: Librairie Larousse. ISBN 2-03- 075437-4.

CLAIRBORNE, Robert (1977). Los primeros americanos. Ciudad de México: Lito Offset Latina. Libros TIMELIFE. Clark, John E., ed. (1994). Los olmecas en Mesoamérica. Ciudad de México: Ediciones del Equilibrista. ISBN 968-7318-22-8.

CONRAD, Geoffrey W. (1984). «Los incas». Historia de las Civilizaciones antiguas (II): Europa, América, China, India. Arthur Cotterell, ed. Barcelona: Editorial Crítica. ISBN 84-7423-252-X

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