De Quem Partiu a Iniciativa da Primeira Cruzada? Por Que a Segunda Cruzada Foi Um Fracasso? Por Que Saladino Foi Considerado o Maior Guerreiro Muçulmano? Por Que Jerusalém Era Importante Para o Judaísmo, Cristianismo e Islamismo?
As Cruzadas foram expedições
militares e religiosas ocorridas na Idade Média – entre os séculos XI e XIII –
organizadas pela Igreja Católica, a fim de retomar a Terra Santa (Jerusalém) do
domínio muçulmano e proteger os cristãos que a visitavam em
peregrinação. Além do fervor religioso, as Cruzadas também tiveram
motivações econômicas e militares, como a expansão de territórios e o
estabelecimento de novas rotas comerciais, e acabaram influenciando o declínio
do feudalismo e o desenvolvimento do comércio na Europa. Os povos europeus
estavam organizados em senhores feudais, nobres proprietários de terra, servos
e membros da Igreja Católica. Foi o momento da história em que o Ocidente
europeu cristão e a Igreja passou a exercer grande influência na vida de todos.
Essas expedições militares contra os inimigos da cristandade, legitimadas pela
Igreja. De fato, a iniciativa da
Primeira Cruzada partiu do Papa Urbano II em 1095, que conclamou os cristãos a
socorrerem seus irmãos de fé no Leste e a libertar Jerusalém das mãos dos
infiéis, dos muçulmanos. Nessa época, os muçulmanos, isto é, as pessoas que
professavam o Islã, religião difundida pelo Profeta Maomé a partir do século
VI, haviam se espalhado e conquistado terras que antes eram cristãs, como o
norte da África, a Sicília, a Espanha, a Palestina, a Síria, e ameaçavam
Constantinopla, a capital bizantina.
Esse movimento foi a resposta dos
cristãos contra a expansão muçulmana. Tanto nobres quanto camponeses se
sentiram motivados a participar. As Cruzadas despertaram um imenso entusiasmo
popular, levando milhares de pessoas para a Terra Santa. A palavra Cruzada não era conhecida na época,
a princípio. Os textos medievais falam
em peregrinação, guerra santa, expedição da Cruz e passagem. Quando surgiu o
termo, no séc. XIII, ele se referia aos soldados marcados pelo sinal da cruz,
ou soldados de Cristo. Segundo a tradição, foram nove Cruzadas entre o séc. XI
e XIII para a Terra Santa, mas a primeira, a Cruzada Popular, não entra na
contagem. Conta-se a partir da Primeira Cruzada dos Nobres. A Cruzada Popular, conduzida por Pedro, o
Eremita, em 1096, foi um total fracasso.
Levou bandos de pobres consigo que cometeram terríveis excessos ao longo
do caminho, pilhando aldeias, matando judeus, e acabaram exterminados pelos
turcos tão logo chegaram à Ásia. As
Cruzadas dos nobres demoravam mais na viagem, pois eles levavam provisões,
armas, equipamentos, cavalos e auxiliares.
Apenas a Primeira Cruzada (a dos nobres) foi bem-sucedida. Tomou as
terras do Levante (isto é, a costa Sírio Palestina) das mãos muçulmanas e
libertou Jerusalém. Foi de 1096
a 1099 que
diversas ordens religiosas
armadas se estabeleceram na
cidade, formadas por monges cavaleiros, surgidas da necessidade de se proteger,
abrigar e alimentar os peregrinos. As mais importantes foram:
·
A Ordem dos Hospitalários de São João de
Jerusalém, que cuidava dos peregrinos, dos cruzados e da população doente e
machucada. Tais cavaleiros usavam uma
cruz branca nas roupas e protegiam os peregrinos que entravam em Jerusalém;
·
Os Cavaleiros Templários usavam uma cruz
vermelha e eram os responsáveis pela defesa de Jerusalém; e
·
Os Cavaleiros Teutônicos, conhecidos como a
Irmandade do Hospital da Virgem Maria em Jerusalém.
Vale mencionar que hospital,
neste contexto, se refere a hospitalidade. Os cavaleiros, todos armados,
combatem por Cristo. Essa mentalidade da cavalaria está representada na paz de
Deus, nos ritos de iniciação, no sentimento de honra e no respeito à fé
estabelecida que essas ordens tinham. Com as vitórias da Primeira Cruzada,
foram estabelecidos os quatro Estados Latinos no Oriente:
·
O Condado de Edessa, em 1098;
·
O Principado de Antioquia, em 1098;
·
O Reino de Jerusalém, em julho de 1099; e
·
O Condado de Trípoli, em 1109.
A Segunda Cruzada, de 1147 a
1149, foi um total fracasso, sendo conduzida pelos reis Luís VII da França e
Conrado III do Sacro Império Romano Germânico, os quais foram vencidos e
obrigados a se retirarem. Porém, em 1187, quase noventa anos após a formação do
Reino latino de Jerusalém, a cidade foi reconquistada pelos muçulmanos, o que
levou a uma nova mobilização dos cristãos europeus para uma nova Cruzada. Os
cristãos enfrentavam um adversário decidido, desta vez, Saladino. A Terceira
Cruzada, talvez a mais famosa, ocorreu entre 1189 e 1192. É a Cruzada da qual participou três reis
europeus, Felipe Augusto, da França, Frederico Barba Ruiva, do Sacro Império
Romano Germânico, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra. Frederico morreu
afogado no caminho, Felipe Augusto, após desavenças com Ricardo decide retornar
à França, e Ricardo é, portanto, o único rei que continua. Ele se deparou com o
maior guerreiro muçulmano, Saladino. Salah ad-Din Yusef ibn Ayyub viveu de 1138
a 1193. Era curdo, muçulmano, foi sultão do Egito e da Síria, e liderou a
oposição islâmica aos cruzados. De conduta cavalheiresca, era diplomático e
culto, conquistou o respeito de muitos cruzados, incluindo o próprio Ricardo
Coração de Leão. Em 1192, Saladino e
Ricardo, após chegarem a um impasse nas disputas, fizeram um acordo pelo qual
os Cruzados mantêm os territórios conquistados, mas perdem Jerusalém, que
permaneceria em mãos muçulmanas, estando, porém, aberta às peregrinações
cristãs. Cabe aqui um aparte.
O filme Cruzada (Kingdom of
Heaven), lançado em 2005 e dirigido por Ridley Scott, com Orlando Bloon como o
personagem principal, retrata muito bem os eventos relativos à terceira cruzada,
com algumas licenças poéticas, digamos, para uma obra de entretenimento. Mas
vale assistir. As outras Cruzadas fracassaram ou se desviaram de seu propósito
original, como aconteceu com a Quarta Cruzada, chamada de Cruzada Comercial.
Liderada pelo Dodge
de Veneza, Enrico Dandolo, levou os
cristãos a saquearem Constantinopla, fundando ali um
reino latino. Foi um ataque à
cristandade, pois Constantinopla era também cristã. E como os Árabes viram a chegada dos
Cruzados? Os historiadores e cronistas árabes da época não falam em cruzadas e
sim em guerras ou invasões dos francos. Eles
se referem aos invasores ocidentais, mais particularmente os franceses, como
franj. Dentre vários relatos, temos o de Abu-Saad al-Harawi, um cádi (isto é, um
juiz muçulmano que julga segundo as leis islâmicas) que, partindo de Damasco,
na Síria, chega a Bagdá para alertar as autoridades islâmicas da calamidade que
se abateu sobre os crentes (isto é, muçulmanos) na Síria e na Palestina. É o
ano de 1099. Ele conta: Nunca os muçulmanos foram humilhados desta forma, nunca
antes suas terras foram tão agressivamente devastadas. (...) os franjse
apossaram da Cidade Santa, após um sítio de quarenta dias. Os exilados ainda
tremem cada vez que falam nisso, seu olhar se esfria como se eles ainda
tivessem diante dos olhos aqueles guerreiros louros, protegidos de armaduras, que
espalham pelas ruas o sabre cortante, desembainhado, degolando homens, mulheres
e crianças, pilhando as casas, saqueando as mesquitas.
Dois dias depois de cessada a
chacina não havia mais um só muçulmano do lado de dentro das cidades. Alguns
fugiram, outros jaziam, aos milhares, em poças de sangue na soleira de suas
casas ou nas proximidades das mesquitas. Entre eles, um grande número de imãs,
ulemás e ascetas sufis que haviam deixado sua terra para viver um retiro
piedoso, nesses santos lugares.
(...). Os sobreviventes por sua
vez deveriam proteger-se para não serem massacrados ou vendidos como escravos.
(...) O destino dos judeus de Jerusalém foi igualmente atroz. Durante as
primeiras horas da batalha, vários deles participaram da defesa de seu bairro,
a Judiaria, situada ao norte da cidade. Mas quando a parte da muralha que
delimitava suas casas desmoronou, os judeus se apavoravam, vendo que os louros
cavaleiros começavam a invadir as ruas da cidade. A comunidade inteira,
reproduzindo um gesto ancestral, reuniu-se na sinagoga principal para
rezar. Os franj então bloquearam todos
os acessos. Depois, empilhando feixes de lenha em torno, atearam fogo. Os que
tentavam sair eram mortos nos becos vizinhos, os outros, queimados vivos. Amin
Maalouf nos conta, em sua obra As Cruzadas Vistas pelos Árabes, que Abu-Saad
al-Harawi, como grande cádi de Damasco, acolheu os refugiados com benevolência.
Esse magistrado de origem afegã era a personalidade mais respeitada da cidade,
conselheiro e consolador dos palestinos. Segundo ele, um muçulmano não deveria
se envergonhar de ter tido que fugir de sua casa. O primeiro refugiado do Islã
não fora o próprio profeta Maomé, que tivera que deixar sua cidade natal, Meca,
cuja população lhe era hostil, buscando refúgio em Medina, onde a nova religião
era mais aceita? E não fora a partir de
seu exílio que lançara a Guerra Santa, o jihad, para libertar a pátria da
idolatria? Os refugiados devem considerar-se os combatentes da Guerra Santa, os
mujabidins, por excelência, tão honrados no Islã que a emigração do Profeta, a
Hégira, foi escolhida como ponto de partida da era muçulmana. O ano 1. (p.
9-12). Portanto, quem eram os bárbaros, afinal? Se olharmos para as Cruzadas
apenas com o olhar do cruzado europeu cristão, veremos um propósito justo,
válido e honrado em resgatar a Terra Santa das mãos dos bárbaros infiéis. Mas
se virmos pela ótica das populações muçulmanas que viviam na região por mais de
400 anos, são invasões brutais, gratuitas, sanguinolentas e desonradas. E, por fim, por que Jerusalém era tão
importante? Jerusalém é considerada o umbigo do mundo. É um dos lugares mais
sagrados do mundo, o centro espiritual das três principais religiões
monoteístas: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
·
Para o Judaísmo: lar espiritual dos
judeus, sede do Templo, local onde o Rei Salomão depositou a Arca da Aliança
com as Tábuas dos 10 Mandamentos. Hoje, resta apenas um trecho da Muralha Oeste
da plataforma do templo reconstruído por Herodes.
·
Para o Cristianismo: local de pregação de
Jesus, local do seu suplício, crucificação, morte e ressurreição.
·
Para o Islamismo: local do Domo da Rocha
de onde Maomé ascendeu aos céus. É a 2ª cidade mais importante, atrás apenas de
Meca, para o Islã.
Salomão construiu o Templo de
Jerusalém em cerca de 950 a.C. Na então
capital do reino unificado de Israel. O Segundo Templo foi construído em 516
a.C., quando do retorno dos judeus do cativeiro na Babilônia, sob o domínio do
rei persa Ciro, o Grande. Ele foi construído sobre as ruínas do Primeiro
Templo, que havia sido destruído em 586 a.C. no início do cativeiro, tendo
permanecido em pé por 420 anos. Alexandre,
o Grande, rei macedônico, conquistou a Judeia no séc. IV a.C. e, após sua
morte, Jerusalém passou a fazer parte do Império Selêucida da Síria. A Judeia é
conquistada por Roma em 63 a.C. e anexada ao território romano. Herodes, o Grande, o reconstruiu
completamente em 19 a.C., ficando então conhecido como o Templo de Herodes. No
séc. IV d.C. passa a fazer parte do Império Bizantino. E em 637 d.C. sofreu
invasões dos árabes sarracenos que conquistam toda a Palestina e, essa
dominação, acabou por provocar as Cruzadas, séculos depois. Essa região do
mundo até hoje não encontrou a paz merecida para um lugar tão sagrado.
REFERÊNCIAS
BLASCO, Maria de lá Concepcional (1 de setembro de 1993). El Bonce
final (1ª adicione). Madrid: Editorial Sínteses. p. 176. ISBN 84-7738-195-X. BRÉZILLON, Michel (1969). Dictionnaire
de lá Préhistoire (en francés). París: Librairie Larousse. ISBN 2-03- 075437-4.
CLAIRBORNE, Robert (1977). Los primeros americanos. Ciudad de
México: Lito Offset Latina. Libros TIMELIFE.
Clark, John E., ed. (1994). Los olmecas en Mesoamérica. Ciudad de México:
Ediciones del Equilibrista. ISBN 968-7318-22-8.
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