Quais São os Principais Tipos de Conhecimento? Qual a
Fragilidade do Conhecimento Adquirido Pelo Senso Comum? O Que é Conhecimento
Mitológico? Qual é a Base do Conhecimento Religioso? Como se Caracteriza o Conhecimento
Filosófico? Como se Desenvolveu o Conhecimento Científico?
Existem diversas formas de
conhecer e interpretar o mundo e cada uma delas possui características
específicas que as distinguem das demais. A mitologia, o senso comum, as
religiões, a filosofia e a ciência possuem uma mesma finalidade. Ou seja, organizar
informações que possam explicar ou dar sentido ao mundo e às coisas. Em outras
palavras, essas diferentes áreas são produtoras de conhecimento. Entretanto, a
forma como esse conhecimento é adquirido e transmitido varia em cada um desses
tipos de conhecimento.
1) O Senso Comum
Trata-se de um tipo de
conhecimento que recebe vários nomes, como: bom senso, conhecimento popular,
conhecimento empírico, conhecimento espontâneo e conhecimento vulgar. Você já
deve ter ouvido coisas do tipo: “não passe debaixo da escada porque dá azar” ou
“mulher que teve filho só lava o cabelo depois do resguardo”. Enfim, você pode
ter ouvido essas coisas e muito mais, mas já leu algum estudo científico comprovando
que passar por debaixo da escada dá azar? Ou que lavar o cabelo depois de ter
um bebê pode levar a mãe à morte?
Acredita-se que não, pois esses
conhecimentos não têm fundamentos científicos, são coisas que as pessoas falam.
Porém fique atento, pois, muitas vezes, o senso comum pode estar certo. Certamente,
durante sua infância, alguém avisou você para não colocar o dedo na tomada
elétrica, pois esta dá choque. É muito provável que tenha sido alertado sobre
isso, pois alguém já teve a experiência de levar um choque quando colocou o
dedo ou um objeto na tomada. Daí vem o nome empirismo.
MEZZAROBA e MONTEIRO ([1])
lembram que o senso comum é resultado de informações trocadas entre as pessoas
com o passar do tempo; são conhecimentos que passam por gerações, sendo
adaptados e assimilados pela cultura popular. Esse conhecimento é acessível a
qualquer pessoa, pois o indivíduo não precisa ser especialista no assunto para
repassar esse tipo de conhecimento. No entanto, a fragilidade desse tipo de
conhecimento consiste no fato de ele ser destituído de teor crítico.
Simplesmente é aceito do jeito que é enunciado. Lembre-se de que o conhecimento
desse tipo pode gerar preconceitos ou ser transformado em verdades absolutas.
Essa forma de construção do
conhecimento não é científica, não é filosófica, e tem a particularidade de,
muitas vezes, estar isenta de argumentações. O senso comum atende às
necessidades imediatas da sociedade, e todos nós possuímos conhecimentos de senso
comum. Quais são os seus? É importante destacar que os conhecimentos de senso
comum são usados, também, para resolver problemas do cotidiano. Contudo,
trata-se de um conhecimento limitado, posto que não é sistemático, nem
eficiente e não permite identificar conhecimentos complexos ou relações
abstratas.
Para LAKATOS e MARCONI ([2])
o senso comum não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade,
nem pela natureza do objeto conhecido. O que os diferencia é a forma, o modo ou
o método e os instrumentos do 'conhecer. Todavia, recebe pejorativamente a
denominação de conhecimento vulgar ou popular. Para PETRIN ([3]),
senso comum é aquele tipo de conhecimento que se estende a todos os indivíduos
e vem, inclusive, sem que percebamos, como uma herança genética de geração em
geração. Isso é usado diariamente mesmo que a gente não se dê conta, em
atividades comuns como por exemplo o uso das ervas para confecção de chás e
cura de doenças. Nós simplesmente confiamos, mesmo sem nos perguntar porque
funcionam, apenas acreditando em tudo que ouvimos a respeito, principalmente
dos mais velhos.
O senso comum também é capaz de
produzir aquilo que as ciências chamam de dogmas. Alguns autores definem dogmas
como algo que se aceita como verdade, sem a presença de questionamentos, e
trazem como exemplo de dogma as ações dos terroristas islâmicos, que carregam
bombas e sacrificam sua vida para matar pessoas que não aderem à sua religião. Portanto,
o modo de se combater o dogmatismo é a atitude crítica. Conversar, debater, pesquisar
sobre ideologias e crenças é um modo salutar de combater as intolerâncias que o
dogma pode acarretar.
2) Conhecimento Mitológico
Também é conhecido como
conhecimento mítico, o conhecimento mitológico está relacionado com a palavra
mito. Certamente, você já deve ter ouvido algum mito. As civilizações antigas,
como os egípcios, os gregos e os romanos, utilizavam muito esse recurso. Mesmo
os indígenas têm essa cultura dos mitos. MEZZAROBA e MONTEIRO ([4])
lembram que o conhecimento mítico desempenhava na Antiguidade o mesmo papel da
ciência, da Teologia e da Filosofia, até que essas áreas se estruturaram e se
tornaram campos de estudo. Um exemplo de mito é a explicação do nascimento do
sol. Acreditavam os romanos que, todo dia, o deus Apolo atravessava o céu com o
sol em sua carruagem. Nos dias nublados ou chuvosos, Apolo estava ocupado
fazendo outras coisas.
O conhecimento mitológico
aproxima-se muito do conhecimento teológico e, além disso, alguns autores não
os separam, pois tratam os mitos e religiões como se tivessem a mesma origem. O
mito também está relacionado com os personagens de histórias, que salvam a humanidade
de algum mal. Os autores acima citados alertam que um mito pode ser criado.
Veja, por exemplo, o que Hitler significou para a história da Alemanha: o “salvador”
daquela pátria. Quem estudou o mínimo de História sabe o que essa figura causou
de males para a Europa na Segunda Guerra Mundial. Por esse motivo, é preciso estar
atento, mesmo hoje em dia, para que os mitos criados pela mídia não confundam nosso
senso crítico. Perceba também a distância que existe entre o conhecimento
mítico e o conhecimento científico, afinal, o segundo é racional e trabalha com
aquilo que pode ser experimentado, discutido e comprovado.
3) Conhecimento Teológico
Tem como fundamento a religião e
a fé. O princípio que orienta esse conhecimento é o de que não é necessário ver
para crer. MEZZAROBA e MONTEIRO (2017) lembram que esse conhecimento pressupõe
a existência de forças que estão além da capacidade de explicação do homem, são
instâncias divinas e criadoras de tudo o que existe. O conhecimento religioso –
ou teológico – parte do princípio de que as verdades tratadas são infalíveis e
indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural. Ademais,
o conhecimento religioso apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas
e pode ser visto como:
·
Valorativo:
atribui o conceito de certo e de errado;
·
Inspiracional:
dadas pela divindade, e, por esse motivo, tais verdades são consideradas
indiscutíveis;
·
Infalível
e Exato: por ter origem divina;
·
Não
Verificado: não pode ser comprovado e depende da aceitação de uma atitude
de fé perante um conhecimento revelado.
4) Conhecimento Filosófico
Um dos grandes patrimônios da
Filosofia é a sua própria história, que teve início na Grécia Antiga. É a
partir da Filosofia que nasce a própria ciência, logo, os dois níveis de
conhecimento – filosófico e científico – relacionam-se pelo rigor, que se
traduz pela presença do método e pela busca da verdade.
Entretanto, a Filosofia encontra-se
sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma
concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às
grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais universais que
englobem e harmonizem as conclusões da ciência. O conhecimento filosófico pode
ser caracterizado como:
·
Valorativo:
seu ponto de partida consiste em hipóteses filosóficas que se baseiam na
experiência, e não na experimentação;
·
Não
Verificável: os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados
nem refutados, eles são longamente discutidos;
·
Racional:
consiste em um conjunto de enunciados logicamente correlacionados;
·
Sistemático:
suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada,
em uma tentativa de compreendê-la em sua totalidade;
·
Infalível
e Exato: suas hipóteses e postulados não são submetidos a experimentações.
5) Conhecimento Científico
Talvez os maiores pontos de
convergência entre o conhecimento filosófico e o científico é a presença do
método e a racionalidade, fato que a ciência herdou da Filosofia, visto que a
primeira é posterior à segunda. O desenvolvimento da ciência a partir do século
XVI foi tão expressivo que o homem começou a estudar e entender profundamente
os objetos, fatos e coisas existentes no mundo, de modo que ele se tornou capaz
de prever acontecimentos e melhorar a vida da sociedade em diversos setores,
tais como saúde, transporte e educação.
Importante compreender que o
conhecimento sobre determinado assunto sempre pode ser revisitado, pois a
tecnologia permite que novos fatos sejam descobertos. Na Biologia, por exemplo,
os primeiros estudos sobre as células não apontaram a existência de organelas
celulares. Com o advento de microscópios mais modernos, descobriu-se a
existência das organelas celulares e a intrincada arquitetura dessas minúsculas
estruturas. Podemos elencar algumas características do conhecimento científico:
·
Factual:
estuda ocorrências, fatos e tudo aquilo que é real;
·
Sistemático: seu conjunto de saberes é
organizado sistematicamente, formando um sistema de ideias (teoria), e não
conhecimentos dispersos e desconexos;
·
Verificável: as hipóteses que explicam os
fenômenos podem ou não ser comprovadas;
·
Falível:
em virtude de não ser definitivo e estar em constante redescoberta.
O conhecimento científico é
largamente utilizado na faculdade, pois tudo que é apresentado para o estudante
deve vir de fontes confiáveis. O conhecimento científico, portanto, pauta-se na
reflexão crítica sobre determinado objeto, e suas conclusões são resultados de
um processo que envolve: exploração e descoberta, hipóteses (ideias
explicativas), análise pelos pares (outros pesquisadores) e conclusões
(benefícios e resultados).
([1]) MEZZAROBA,
O.; MONTEIRO, C. S. Manual de
metodologia da pesquisa em direito. São Paulo: Saraiva, 2017.
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