quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Os Tipos de Conhecimento e Suas Características

 

Quais São os Principais Tipos de Conhecimento? Qual a Fragilidade do Conhecimento Adquirido Pelo Senso Comum? O Que é Conhecimento Mitológico? Qual é a Base do Conhecimento Religioso? Como se Caracteriza o Conhecimento Filosófico? Como se Desenvolveu o Conhecimento Científico?

 



 

Existem diversas formas de conhecer e interpretar o mundo e cada uma delas possui características específicas que as distinguem das demais. A mitologia, o senso comum, as religiões, a filosofia e a ciência possuem uma mesma finalidade. Ou seja, organizar informações que possam explicar ou dar sentido ao mundo e às coisas. Em outras palavras, essas diferentes áreas são produtoras de conhecimento. Entretanto, a forma como esse conhecimento é adquirido e transmitido varia em cada um desses tipos de conhecimento.

 

1) O Senso Comum

 

Trata-se de um tipo de conhecimento que recebe vários nomes, como: bom senso, conhecimento popular, conhecimento empírico, conhecimento espontâneo e conhecimento vulgar. Você já deve ter ouvido coisas do tipo: “não passe debaixo da escada porque dá azar” ou “mulher que teve filho só lava o cabelo depois do resguardo”. Enfim, você pode ter ouvido essas coisas e muito mais, mas já leu algum estudo científico comprovando que passar por debaixo da escada dá azar? Ou que lavar o cabelo depois de ter um bebê pode levar a mãe à morte?

Acredita-se que não, pois esses conhecimentos não têm fundamentos científicos, são coisas que as pessoas falam. Porém fique atento, pois, muitas vezes, o senso comum pode estar certo. Certamente, durante sua infância, alguém avisou você para não colocar o dedo na tomada elétrica, pois esta dá choque. É muito provável que tenha sido alertado sobre isso, pois alguém já teve a experiência de levar um choque quando colocou o dedo ou um objeto na tomada. Daí vem o nome empirismo.

MEZZAROBA e MONTEIRO ([1]) lembram que o senso comum é resultado de informações trocadas entre as pessoas com o passar do tempo; são conhecimentos que passam por gerações, sendo adaptados e assimilados pela cultura popular. Esse conhecimento é acessível a qualquer pessoa, pois o indivíduo não precisa ser especialista no assunto para repassar esse tipo de conhecimento. No entanto, a fragilidade desse tipo de conhecimento consiste no fato de ele ser destituído de teor crítico. Simplesmente é aceito do jeito que é enunciado. Lembre-se de que o conhecimento desse tipo pode gerar preconceitos ou ser transformado em verdades absolutas.

Essa forma de construção do conhecimento não é científica, não é filosófica, e tem a particularidade de, muitas vezes, estar isenta de argumentações. O senso comum atende às necessidades imediatas da sociedade, e todos nós possuímos conhecimentos de senso comum. Quais são os seus? É importante destacar que os conhecimentos de senso comum são usados, também, para resolver problemas do cotidiano. Contudo, trata-se de um conhecimento limitado, posto que não é sistemático, nem eficiente e não permite identificar conhecimentos complexos ou relações abstratas.

Para LAKATOS e MARCONI ([2]) o senso comum não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade, nem pela natureza do objeto conhecido. O que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do 'conhecer. Todavia, recebe pejorativamente a denominação de conhecimento vulgar ou popular. Para PETRIN ([3]), senso comum é aquele tipo de conhecimento que se estende a todos os indivíduos e vem, inclusive, sem que percebamos, como uma herança genética de geração em geração. Isso é usado diariamente mesmo que a gente não se dê conta, em atividades comuns como por exemplo o uso das ervas para confecção de chás e cura de doenças. Nós simplesmente confiamos, mesmo sem nos perguntar porque funcionam, apenas acreditando em tudo que ouvimos a respeito, principalmente dos mais velhos.

O senso comum também é capaz de produzir aquilo que as ciências chamam de dogmas. Alguns autores definem dogmas como algo que se aceita como verdade, sem a presença de questionamentos, e trazem como exemplo de dogma as ações dos terroristas islâmicos, que carregam bombas e sacrificam sua vida para matar pessoas que não aderem à sua religião. Portanto, o modo de se combater o dogmatismo é a atitude crítica. Conversar, debater, pesquisar sobre ideologias e crenças é um modo salutar de combater as intolerâncias que o dogma pode acarretar.

 

2) Conhecimento Mitológico

 

Também é conhecido como conhecimento mítico, o conhecimento mitológico está relacionado com a palavra mito. Certamente, você já deve ter ouvido algum mito. As civilizações antigas, como os egípcios, os gregos e os romanos, utilizavam muito esse recurso. Mesmo os indígenas têm essa cultura dos mitos. MEZZAROBA e MONTEIRO ([4]) lembram que o conhecimento mítico desempenhava na Antiguidade o mesmo papel da ciência, da Teologia e da Filosofia, até que essas áreas se estruturaram e se tornaram campos de estudo. Um exemplo de mito é a explicação do nascimento do sol. Acreditavam os romanos que, todo dia, o deus Apolo atravessava o céu com o sol em sua carruagem. Nos dias nublados ou chuvosos, Apolo estava ocupado fazendo outras coisas.

O conhecimento mitológico aproxima-se muito do conhecimento teológico e, além disso, alguns autores não os separam, pois tratam os mitos e religiões como se tivessem a mesma origem. O mito também está relacionado com os personagens de histórias, que salvam a humanidade de algum mal. Os autores acima citados alertam que um mito pode ser criado. Veja, por exemplo, o que Hitler significou para a história da Alemanha: o “salvador” daquela pátria. Quem estudou o mínimo de História sabe o que essa figura causou de males para a Europa na Segunda Guerra Mundial. Por esse motivo, é preciso estar atento, mesmo hoje em dia, para que os mitos criados pela mídia não confundam nosso senso crítico. Perceba também a distância que existe entre o conhecimento mítico e o conhecimento científico, afinal, o segundo é racional e trabalha com aquilo que pode ser experimentado, discutido e comprovado.

 

3) Conhecimento Teológico

 

Tem como fundamento a religião e a fé. O princípio que orienta esse conhecimento é o de que não é necessário ver para crer. MEZZAROBA e MONTEIRO (2017) lembram que esse conhecimento pressupõe a existência de forças que estão além da capacidade de explicação do homem, são instâncias divinas e criadoras de tudo o que existe. O conhecimento religioso – ou teológico – parte do princípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural. Ademais, o conhecimento religioso apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas e pode ser visto como:

 

·        Valorativo: atribui o conceito de certo e de errado;

·        Inspiracional: dadas pela divindade, e, por esse motivo, tais verdades são consideradas indiscutíveis;

·        Infalível e Exato: por ter origem divina;

·        Não Verificado: não pode ser comprovado e depende da aceitação de uma atitude de fé perante um conhecimento revelado.

 

4) Conhecimento Filosófico

 

Um dos grandes patrimônios da Filosofia é a sua própria história, que teve início na Grécia Antiga. É a partir da Filosofia que nasce a própria ciência, logo, os dois níveis de conhecimento – filosófico e científico – relacionam-se pelo rigor, que se traduz pela presença do método e pela busca da verdade.

Entretanto, a Filosofia encontra-se sempre à procura do que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano, buscando até leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência. O conhecimento filosófico pode ser caracterizado como:

 

·        Valorativo: seu ponto de partida consiste em hipóteses filosóficas que se baseiam na experiência, e não na experimentação;

·        Não Verificável: os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem refutados, eles são longamente discutidos;

·        Racional: consiste em um conjunto de enunciados logicamente correlacionados;

·        Sistemático: suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da realidade estudada, em uma tentativa de compreendê-la em sua totalidade;

·        Infalível e Exato: suas hipóteses e postulados não são submetidos a experimentações.

 

5) Conhecimento Científico

 

Talvez os maiores pontos de convergência entre o conhecimento filosófico e o científico é a presença do método e a racionalidade, fato que a ciência herdou da Filosofia, visto que a primeira é posterior à segunda. O desenvolvimento da ciência a partir do século XVI foi tão expressivo que o homem começou a estudar e entender profundamente os objetos, fatos e coisas existentes no mundo, de modo que ele se tornou capaz de prever acontecimentos e melhorar a vida da sociedade em diversos setores, tais como saúde, transporte e educação.

Importante compreender que o conhecimento sobre determinado assunto sempre pode ser revisitado, pois a tecnologia permite que novos fatos sejam descobertos. Na Biologia, por exemplo, os primeiros estudos sobre as células não apontaram a existência de organelas celulares. Com o advento de microscópios mais modernos, descobriu-se a existência das organelas celulares e a intrincada arquitetura dessas minúsculas estruturas. Podemos elencar algumas características do conhecimento científico:

 

·        Factual: estuda ocorrências, fatos e tudo aquilo que é real;

·        Sistemático: seu conjunto de saberes é organizado sistematicamente, formando um sistema de ideias (teoria), e não conhecimentos dispersos e desconexos;

·        Verificável: as hipóteses que explicam os fenômenos podem ou não ser comprovadas;

·        Falível: em virtude de não ser definitivo e estar em constante redescoberta.

 

O conhecimento científico é largamente utilizado na faculdade, pois tudo que é apresentado para o estudante deve vir de fontes confiáveis. O conhecimento científico, portanto, pauta-se na reflexão crítica sobre determinado objeto, e suas conclusões são resultados de um processo que envolve: exploração e descoberta, hipóteses (ideias explicativas), análise pelos pares (outros pesquisadores) e conclusões (benefícios e resultados).





([1])  MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de metodologia da pesquisa em direito. São Paulo: Saraiva, 2017.

  ([2])  LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia do trabalho científico. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p. 18.

([3])  PETRIN, N. Conhecimento científico. São Paulo: Estudo Prático, 2014.

  ([4])  MEZZAROBA, O.; MONTEIRO, C. S. Manual de metodologia da pesquisa em direito. São Paulo: Saraiva, 2017.

 


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