segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

ANTROPOLOGIA: Origens, Conceitos e Começo da Disciplina

O Que Move os Homens Quando se Encontram Com Culturas Diferentes? O Que Podemos Aprender ao Estudarmos Antropologia?  Que Lição Importante a Antropologia Pode Nos Ensinar?




Ao longo da história do homem, inúmeros contatos entre povos de culturas distintas ocorreram – seja para o bem ou para o mal – e, nem sempre, esses encontros eram pacíficos e cordiais. Em muitas situações havia conflito, luta, morte e muito sofrimento. Contudo, a despeito de todas as tragédias na história do homem, o encontro entre outros diferentes era uma constante.

O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1975), relata uma história vivida pelos colonizadores e os índios americanos que mostra como ambos os grupos estavam interessados em entender esse outro. No momento da descoberta, a pergunta que os colonizadores e os índios estavam se fazendo era sobre se os outros eram homens. 

Os colonizadores buscavam a resposta a partir da existência da alma nos ditos selvagens; isto é, se têm alma então são homens. E os índios buscavam uma resposta no corpo do outro, afundando os europeus mortos na água para observar se acontecia o mesmo que com os corpos dos índios; se apodrecessem – como eles próprios – podiam concluir que também eram homens. 

O que essa anedota nos mostra é que a curiosidade movia – e ainda move – os homens quando se encontram com aqueles que são diferentes. Quando, no século XV, as fronteiras do mundo se ampliaram radicalmente, esses outros começaram a estar mais presentes. O contato que a cultura europeia estabelecia com a cultura dos outros – índios, por exemplo – fazia necessário que se pensasse sobre como cada um vivia no mundo. Assim, não faltaram pensadores que se puseram a pensar a diferença entre os homens.

Se a Antropologia é a ciência humana e social que busca conhecer a diferença e alteridade, então estudá-la pode nos fazer compreender que, longe de haver somente uma formação cultural que dê sentido às ações dos homens, toda e qualquer cultura é coerente em si mesma quando vista de forma total e a partir de seus próprios pressupostos. Mais ainda, podemos aprender que nossa cultura e sociedade não são as únicas, nem as mais verdadeiras, originais e autênticas.

Não obstante, a Antropologia nos ensina que todo e qualquer esquema cultural e/ou classificatório é mais um dentro dos inúmeros outros, que também coabitam o mundo juntamente conosco. A Antropologia pode nos ensinar uma importante lição: nossa sociedade não é superior a qualquer outra, seja ela uma tribo do Sudão, na África, ou uma tribo indígena no Mato Grosso do Sul, no Brasil. 

Vistos a partir dos quadros centrais de qualquer cultura, os homens se julgam sempre mais humanos do que os outros; mais fortes, inteligentes e sinceros do que os outros, quaisquer que sejam. Enfim, a Antropologia nos ensina a nos descentrarmos de nós mesmos, assim como de nossa própria sociedade e cultura. 

Isso é um exercício fantástico e que nos abre as portas para novos universos, novas possibilidades e alternativas de aprendermos com os outros e de nos vermos através dos outros, conhecendo-nos mais profundamente. Afinal, como disse Sahlins (1979, p.08), “o homem apreende o mundo a partir de esquemas simbólicos que ordenam o mundo, mas que jamais são os únicos possíveis”. Isto quer dizer que outros grupos podem organizar o mundo de forma diferentes da nossa e, nesse sentido, sempre lidamos com diferentes mundos possíveis. 


Os Muitos Começos da Disciplina


Podemos dizer, então, que sempre existiu uma relação com aqueles outros povos, mas não por isso temos que pensar que essa relação teve os mesmos efeitos, ao longo dos tempos. A forma de se relacionar com o outro dependia, em cada época, do conhecimento e dos interesses que cada cultura tinha. Anteriormente, foi dito que sempre existiu o contato entre os homens e, mesmo antes que a cultura ocidental se expandisse pelo mundo, as próprias culturas tradicionais estabeleciam contatos entre elas. 

Então, não é meramente o contato que produz Antropologia, não é a relação com o outro, com a alteridade que gerou o conhecimento antropológico. Para que se começasse a falar em Antropologia, foi necessário que se produzisse uma série de mudanças que levaram ao desenvolvimento de uma disciplina científica.

Num primeiro momento – que poderíamos chamar de Pré-história da Antropologia – nos Séculos XV e XVI, as notícias sobre os povos distantes eram produzidas por viajantes ou missionários. Nesse momento, delinearam-se duas ideologias concorrentes, a primeira se manifestava por uma recusa pelo estranho e a segunda, por uma fascinação. 

A primeira posição se fundamentava na ideia de que os povos primitivos eram selvagens dominados pela natureza, pelo clima e que não tinham história nem hábitos culturais. Eram povos definidos pela falta. Ou seja, eles não tinham tudo o que nós tínhamos. 

Os defensores da segunda posição sublinhavam como esses povos tinham conseguido desenvolver sistemas políticos e econômicos que eram melhores que os nossos; assim como tinham alcançado um grau de harmonia com a natureza que nós não tínhamos. Alguns desses pensadores do Século XVI chegaram a se perguntar se os bárbaros não éramos nós; como diz Françoise Laplantine (2000), eles defendiam e valorizavam a “ingenuidade original” do estado de natureza.

Podemos perceber como por trás dessas duas posições há uma visão sobre o Ocidente; porque aqueles que tinham uma visão negativa, de recusa do estranho, tinham uma visão positiva sobre nós, sobre o nosso modo de vida e, pelo contrário, aqueles que viam as virtudes dos povos tradicionais tinham uma visão negativa do Ocidente. 

No século XVIII, a segunda posição derivou na ideia do bom selvagem; os povos tradicionais representavam os povos da natureza; que viviam livres e felizes gozando da vida. Essa ideologia rousseauniana pode ser encontrada ainda hoje em filmes. Pensem por exemplo no épico “Dança com Lobos” no qual se apresenta uma visão romântica dos povos tradicionais. No filme, é a cultura Ocidental que chega destruindo um modo de vida que estava em harmonia com a natureza.    

Foi no século XVIII que essas viagens de exploradores para conhecer o mundo adquiriram o caráter de pesquisas científicas, mas, como ressalta Paul Mercier (1990): “as explorações desse século e do século XIX, ainda não serão feitas por especialistas”. Somente na metade do século XIX é que o estudo do homem virou o que hoje se conhece como Antropologia e, somente nesse momento, ela tomou a forma de uma disciplina científica. Mas, para isso foi necessário que se produzissem algumas mudanças na forma de coletar os dados. 


https://www.facebook.com/profigestao 


Nenhum comentário :

Postar um comentário