quarta-feira, 3 de novembro de 2021

As Imperfeições da Concorrência e do Sistema de Preços

 

Quais São as Condições Que Definem a Concorrência Perfeita? O Quadro Real é Caracterizado Pelas Mais Diferentes Formas de Imperfeições no Sistema de Preços? Caso Essas Imperfeições Prevaleçam, Como se Determinarão Preços e Quantidades? Como as Atividades Produtivas Serão Orientadas?

 



Uma das estruturas mais simples das estruturas concorrenciais é a de Stakelberg ([1]), cuja simplicidade está no elemento básico que foi adotado para a diferenciação. Trata-se do número dos que intervêm no mercado, tanto do lado da oferta (vendedores), como do lado da procura (compradores). Essa abordagem se tornou clássica e, embora excessivamente simples, por deixar de considerar outros elementos importantes para a diferenciação, ela seria a matriz de desenvolvimentos posteriores.

Segundo sua posição, as estruturas de mercado não se limitam apenas às hipóteses da concorrência perfeita (em que se basearam os economistas liberais dos séculos XVIII e XIX) e do monopólio (que passaria a ser considerado a partir do fim do século XIX). Entre esses dois extremos, há várias situações definidas a partir do número dos que exercem as atividades e oferta e de procura.

Partindo desse elemento diferenciador Stakelberg evidenciou nove (9) diferentes estruturas de mercado possíveis e, de acordo com ele, considerando-se unicamente o número de compradores e vendedores, a concorrência perfeita seria caracterizada pelo grande número de participantes nos dois lados considerados (vide tabela abaixo). Na hipótese de haver um grande número de compradores defrontando-se com apenas um vendedor, estaria caracterizada uma situação típica de monopólio e, invertendo-se as posições, com grande número de vendedores mas com apenas um comprador, estria configurada uma situação de monopsônio.

E, diametralmente oposta à situação de concorrência perfeita, poderia ainda ser caracterizada uma outra situação, a qual é definida pelo monopólio bilateral, em que se defrontam no mercado apenas um vendedor e apenas um comprador. Além dessas, também existiriam as situações definidas por ele como quase-monopólio e quase-monopsônio. Trata-se de situações em que o único vendedor ou o único comprador teriam de se defrontar, com um número pequeno de compradores e de vendedores.

 

OFERTA / PROCURA

Um Só Vendedor

Pequeno Número de Vendedores

Grande Número de Vendedores

Um Só Comprador

Monopólio Bilateral

Quase-Monopsônio

Monopsônio

Pequeno Número de Compradores

Quase-Monopólio

Oligopólio Bilateral

Oligopsônio

Grande Número de Compradores

Monopólio

Oligopólio

Concorrência Perfeita


A partir dessas classificações reunimos elementos para diferenciar quatro (4) estruturas de mercado, as quais têm atraído a atenção dos teóricos contemporâneos e, dentro dessas 4 estruturas, podem ser enquadradas as diferentes situações observadas no mundo econômico real. Essas estruturas podem ser apontadas como reproduções das diferentes classificações existentes. São elas:

 

1. Concorrência Perfeita: Uma estrutura de mercado sob concorrência perfeita deve preencher as seguintes condições: (a) elevado número de produtores e de compradores, agindo independentemente de tal forma que, pela pequena importância de cada um, nenhuma possa reunir condições suficientes para modificar os padrões da oferta e da procura e, consequentemente, o preço de equilíbrio prevalecente; (b) inexistência de quaisquer diferenças entre os produtos ofertados pelas empresas produtoras; o produto da empresa “A” deve ser considerado pelos compradores como substituto dos produtos das empresas “B”,.....”K”,....”N”; (c) perfeita permeabilidade de tal forma que não existam barreiras para o ingresso  de novas empresas, sendo fácil e inconsequente o abandono do mercado por parte de qualquer uma das empresas que dele já participem; (d) devido à padronização dos produtos e ao grande número de vendedores e compradores, não há qualquer possibilidade de que atitudes isoladas passam alterar as condições vigentes; aliás, do ponto de vista de uma empresa isolada, são ineficazes quaisquer tentativas de diferenciação ou de concorrência extra preço.

 

2. Monopólio: As condições que caracterizam o monopólio são opostas às da concorrência perfeita: _ (a) existência de apenas uma empresa dominando a oferta e, dessa forma, no regime de monopólio, o ramo industrial e a firma são expressões sinônimas, pois a indústria monopolista é constituída por uma única firma; (b) inexistência no mercado de produtos capazes de substituir aquele que é produzido pela empresa monopolista; assim, não há alternativas para os compradores. Ou seja, eles comprarão do único produtor ou deixarão de consumir o produto; (c) inexistência de competidores imediatos, devido às barreiras para o ingresso de outras empresas no setor; como o surgimento de outra implica o desaparecimento do monopólio, a manutenção das barreiras constitui condição sine qua non para a permanência da dominação; as barreiras podem ser econômicas, técnicas ou legais  que são impostas para resguardar determinados monopólios que são exemplos alguns serviços de utilidade pública (água, telefonia, etc.) ou algumas áreas de levado interesse nacional (o petróleo no Brasil, por exemplo); (d) considerável poder de influência sobre os preços e o regime de abastecimento do mercado, em decorrência do qual o monopolista pode controlar os níveis de produção e da oferta; este poder é tanto maior quanto menores forem as intervenções aplicadas pelo governo; (e) devido à plena dominação do mercado, os monopolistas dificilmente recorrem à publicidade; os consumidores que necessitam de água, energia elétrica ou telefone só terão um fornecedor a quem recorrer.

 

3. Oligopólio: Estas não são perfeitamente definidas como as da concorrência perfeita ou do monopólio. Dois setores de produção dominados por oligopólios podem não reunir características semelhantes e, de forma geral, as condições que regem o oligopólio são as seguintes: (a) um pequeno número de empresas dominando o mercado de tal forma que 80 ou 90% da oferta sejam realizadas por um grupo reduzido de produtores; (b) as indústrias oligopolistas podem estar produzindo bens padronizados; a atividade de um setor sob oligopólio tanto pode ser a mineração, em que os produtos são padronizados, como os setores automobilísticos, de eletrodomésticos ou cosméticos em que os produtos são promovidos no mercado através de diferenciação; (c) devido ao pequeno número de empresas, o controle sobre os preços pode ser amplo, dando lugar a acordos, conluios e a práticas conspirativas; (d) a concorrência extra-preço é considerada como vital; como a “guerra de preços” pode prejudicar todas as grandes empresas do setor, estas recorrem a outros expedientes concorrenciais; (e) o ingresso de novas empresas geralmente é difícil; há consideráveis obstáculos, devido à dominação exercida pelas gigantescas empresas que detêm parcelas substanciais do mercado.

 

4. Concorrência Monopolística: Essa expressão foi cunhada por Chamberlein ([1]), identificando elevado número de situações de mercado verificadas na realidade e situadas entre os extremos da concorrência perfeita e do monopólio, mas sem as características resultantes do pequeno oligopólio. Trata-se de estruturas de mercado em que há grande número de empresas concorrentes e em que as condições de ingresso são fáceis. Mas, cada uma das concorrentes possui suas patentes ou então é capaz de diferenciar o seu próprio produto de tal forma que passa a criar um segmento próprio de mercado, que dominará e procurará manter. Todavia, o consumidor encontrará outros substitutos e, dessa forma, não ocorrerá o monopólio puro. Determinada patente ou elemento de diferenciação pode significar uma espécie de monopolização, mas havendo outros concorrentes, também haverá concorrência. Em resumo, suas características são: (a) existência de um grande número de empresas relativamente iguais em poder concorrencial; esse número se situa numa posição intermediária entre a concorrência perfeita e o oligopólio; (b) acentuada diferenciação dos produtos; o bem de cada empresa apresenta particularidades capazes de distingui-lo dos demais e de criar um mercado próprio; (c) apreciável mas não muito ampla capacidade de controle dos preços; isso dependerá do grau de diferenciação do produto, da proximidade dos concorrentes, de seu número e de seu esforço mercadológico; (d) facilidade para ingresso de novas empresas no mercado. Essa facilidade é bem maior do que nas estruturas dominadas por oligopólios, mas algumas barreiras tornarão o ingresso sempre mais difícil do que no caso da concorrência pura; essas barreiras são decorrentes das dificuldades existentes para conquistar fatias significativas de mercado e para diferenciar o novo produto a ser introduzido.

  


([1]) CHAMBERLEIN Edward H. “The Teory of Monopolistic Competition”. 7 ed. Cambrigde, Mass,  Harvard University Press. 1956. 




Nenhum comentário :

Postar um comentário