terça-feira, 14 de setembro de 2021

Todos Podemos Ser Projetistas

 

Por Que no Final dos Anos 70 a Arte de Fazer as Coisas Com as Mãos Começou a Desvanecer-se? O Que os Currículos Escolares Passaram a Enfatizar a Partir Dessa Época? Por Que é Hora de Reintroduzir “Fazer Coisas” Nos Currículos do Ensino Médio?

 

 


No final da década de 1960 eu cursava o ensino médio em um colégio público, onde – para nossa curiosidade – tínhamos aula de trabalhos manuais na matéria “Artes Industriais”. Os alunos não sabiam muito bem por que esses créditos eram obrigatórios, mas aprender a usar ferramentas manuais para parte da nossa educação – gostássemos ou não - fazia parte do currículo.

Nessas aulas, os alunos considerados “mau caráter” faziam estrelas pontiagudas (e afiadas), com as quais ameaçavam seus desafetos; já os “desajustados” fabricavam tubos para serem usados como “piteiras” em seus cigarros de maconha e, os considerados CDF’s (mais ou menos como os NERD’s, atualmente), faziam produtos de utilidade doméstica.

Enquanto isso, as meninas se dedicavam à aula de “Economia Doméstica”, onde aprendiam a cozinhar, costurar e a plantar – o que era, sob certos aspectos, uma forma de artesanato indispensável na formação FVM (Faça Você Mesmo).

Porém, no final dos anos 70 – e início dos anos 80 – o romance de fazer coisas com as mãos começou a desvanecer-se, pois os empregos nas indústrias já não eram uma forma segura de ingressar no mercado de trabalho e a oficina perdeu seu apelo vocacional, à medida que encolhia o número de trabalhadores industriais na lista de atividades.

Como substitutos, entraram em cena os teclados e as telas. Os PCs eram os novos protagonistas, pois eram indispensáveis aos bons empregos e os currículos passaram a enfatizar o treinamento dos alunos como “analistas simbólicos” – novo termo das ciências sociais utilizado para referir-se a funcionários que trabalham com informações. Dessa forma, os cursos de computação substituíram os cursos de “Artes Industriais”.

Os produtos eletrônicos ficaram melhores e mais baratos e, além disso, a mudança da tecnologia tornou inútil algumas habilidades manuais – como fazer soldas, por exemplo. A eletrônica converteu-se em caixas descartáveis; ou seja, quebrou, joga fora. Não adianta abrir e tentar consertar.

Os automóveis também evoluíram, pois os carburadores e distribuidores – que se podiam desmontar, limpar e consertar – foram substituídos pela injeção eletrônica, inacessível a amadores. Os chips entraram no lugar das partes mecânicas. Os novos carros não precisam de tanta manutenção e, mesmo quem gostava de mexer no motor, já não tem muito o que consertar. Tudo passou a ser trancado e selado, preço que pagamos de bom grado pela confiabilidade e pela pouca necessidade de manutenção.

Da mesma maneira como os cursos de trabalhos manuais desapareceram, a melhoria das oportunidades para as mulheres e a redução das desigualdades entre gêneros extinguiu as aulas de Economia Doméstica. As crianças cresceram em meio a computadores, em vez de entre alicates e serras. As melhores mentes de uma geração foram seduzidas pelo software e pela infinitude do mundo online. E construíram a era digital em que todos vivemos hoje.

Foi assim que o mundo evoluiu dos átomos para os bits e essa transformação se estendeu por 35 anos – uma geração inteira – e é difícil contestá-la. Porém, agora, depois de “Artes Industrias” ter sido retirada do currículo escolar, há pelo menos uma razão para voltar a sujar as mãos. À medida que as ferramentas de fabricação desktop se converteram em tendência, é hora de reintroduzir “fazer coisas” nos currículos das escolas de ensino médio, não como as velhas aulas de Artes Industrias, mas na forma de cursos de “Desenho Industrial”.

Hoje, as crianças aprendem a usar Power Point e Excel como parte dos cursos de computação e desenvolvem noções de pintura e escultura nos cursos de arte. Mas, pense como seria melhor se tivessem uma 3ª opção – Desenho Industrial. Imagine um curso em que as crianças aprendessem a usar ferramentas de 3-D CAD, como Sketchup ou Autodesk 123D? Algumas dessas crianças poderiam projetar edifícios ou estruturas complexas da mesma forma como já os esboçam nos cadernos. E, outras, desenvolveriam games, com paisagens e veículos ou ainda poderiam inventar máquinas.

Imagine se essas oficinas de desenho industrial tivessem algumas impressoras 3-D ou cortadoras a laser? Todas essas ferramentas de design desktop têm um item de menu denominado “Make”, onde as crianças poderiam realmente fazer o que desenharem na tela. É assim que se formaria a nova onda de empreendedores fabricantes.


Nenhum comentário :

Postar um comentário