Por Que no Final
dos Anos 70 a Arte de Fazer as Coisas Com as Mãos Começou a Desvanecer-se? O
Que os Currículos Escolares Passaram a Enfatizar a Partir Dessa Época? Por Que
é Hora de Reintroduzir “Fazer Coisas” Nos Currículos do Ensino Médio?
No final da década de 1960 eu cursava o ensino médio em um colégio público, onde – para nossa curiosidade – tínhamos aula de trabalhos manuais na matéria “Artes Industriais”. Os alunos não sabiam muito bem por que esses créditos eram obrigatórios, mas aprender a usar ferramentas manuais para parte da nossa educação – gostássemos ou não - fazia parte do currículo.
Nessas aulas, os alunos considerados “mau caráter” faziam estrelas pontiagudas
(e afiadas), com as quais ameaçavam seus desafetos; já os “desajustados” fabricavam tubos para serem usados como “piteiras” em
seus cigarros de maconha e, os considerados CDF’s
(mais ou menos como os NERD’s, atualmente), faziam produtos de utilidade
doméstica.
Enquanto isso, as meninas se dedicavam à
aula de “Economia Doméstica”, onde aprendiam a cozinhar, costurar e a plantar –
o que era, sob certos aspectos, uma forma de artesanato indispensável na
formação FVM (Faça Você Mesmo).
Porém, no final dos anos 70 – e início dos
anos 80 – o romance de fazer coisas com as mãos começou a desvanecer-se, pois
os empregos nas indústrias já não eram uma forma segura de ingressar no mercado
de trabalho e a oficina perdeu seu apelo vocacional, à medida que encolhia o
número de trabalhadores industriais na lista de atividades.
Como substitutos, entraram em cena os
teclados e as telas. Os PCs eram os novos protagonistas, pois eram
indispensáveis aos bons empregos e os currículos passaram a enfatizar o
treinamento dos alunos como “analistas simbólicos” – novo termo das ciências sociais
utilizado para referir-se a funcionários que trabalham com informações. Dessa
forma, os cursos de computação substituíram os cursos de “Artes Industriais”.
Os produtos eletrônicos ficaram melhores e
mais baratos e, além disso, a mudança da tecnologia tornou inútil algumas
habilidades manuais – como fazer soldas, por exemplo. A eletrônica converteu-se
em caixas descartáveis; ou seja, quebrou, joga fora. Não adianta abrir e tentar
consertar.
Os automóveis também evoluíram, pois os
carburadores e distribuidores – que se podiam desmontar, limpar e consertar –
foram substituídos pela injeção eletrônica, inacessível a amadores. Os chips
entraram no lugar das partes mecânicas. Os novos carros não precisam de tanta
manutenção e, mesmo quem gostava de mexer no motor, já não tem muito o que
consertar. Tudo passou a ser trancado e selado, preço que pagamos de bom grado
pela confiabilidade e pela pouca necessidade de manutenção.
Da mesma maneira como os cursos de
trabalhos manuais desapareceram, a melhoria das oportunidades para as mulheres
e a redução das desigualdades entre gêneros extinguiu as aulas de Economia
Doméstica. As crianças cresceram em meio a computadores, em vez de entre
alicates e serras. As melhores mentes de uma geração foram seduzidas pelo software
e pela infinitude do mundo online. E construíram a era digital em que todos
vivemos hoje.
Foi assim que o mundo evoluiu dos átomos
para os bits e essa transformação se
estendeu por 35 anos – uma geração inteira – e é difícil contestá-la. Porém,
agora, depois de “Artes Industrias” ter sido retirada do currículo escolar, há
pelo menos uma razão para voltar a sujar as mãos. À medida que as ferramentas
de fabricação desktop se converteram
em tendência, é hora de reintroduzir “fazer
coisas” nos currículos das escolas de ensino médio, não como as velhas
aulas de Artes Industrias, mas na forma de cursos de “Desenho Industrial”.
Hoje, as crianças aprendem a usar Power
Point e Excel como parte dos cursos de computação e desenvolvem noções de
pintura e escultura nos cursos de arte. Mas, pense como seria melhor se
tivessem uma 3ª opção – Desenho Industrial. Imagine um curso em que as crianças
aprendessem a usar ferramentas de 3-D CAD, como Sketchup ou Autodesk 123D?
Algumas dessas crianças poderiam projetar edifícios ou estruturas complexas da
mesma forma como já os esboçam nos cadernos. E, outras, desenvolveriam games,
com paisagens e veículos ou ainda poderiam inventar máquinas.
Imagine se essas oficinas de desenho
industrial tivessem algumas impressoras 3-D ou cortadoras a laser? Todas essas
ferramentas de design desktop têm um item de menu denominado “Make”, onde as
crianças poderiam realmente fazer o que desenharem na tela. É assim que se
formaria a nova onda de empreendedores fabricantes.
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