Qual Foi o
Principal Motivo da Partilha do Continente Africano? Como Ocorreu a Divisão da
África do Sul e do Norte?
Até o início do século XIX o
continente africano era encarado como uma área que fornecia produtos exóticos
(pimenta, marfim e outros) e principalmente escravos. Nos primórdios do século
XIX – quando a Revolução Industrial se expandiu e o Mercantilismo foi
substituído pelo livre-cambismo – os países industrializados passaram a encarar
a África como mercado abastecedor de matérias-primas e consumidor de produtos
industriais. Mas, as barreiras naturais (desertos, florestas densas, etc.) e as
doenças tropicais dificultavam a penetração europeia.
Um marco importante na partilha da
África foi a Conferência de Berlim, onde o primeiro-ministro alemão procurava
salvaguardar o Império que havia unificado em 1871 e tentava manter boas
relações com todas as potências, instigando as rivalidades que poderiam opô-las
entre si. A principal resolução da Conferência foi a definição de normas que
deveriam ser seguidas pelas potências colonialistas.
Decidiu-se reconhecer a existência do
Estado Livre do Congo, considerado propriedade pessoal de Leopoldo II da
Bélgica. Aprovou-se também a liberdade de navegação nos rios Níger e Congo e
determinou-se que os territórios banhados por eles não poderiam ser utilizados
para tráfico negreiro, nem servir como mercados fornecedores de escravos.
A África do Sul
Partindo das colônias do Cabo e
de Natal, os ingleses venceram as populações negras (os zulus) e começaram a se
interessar pela República do Transvaal e do Orange – fundadas pelos bôeres
(africanos brancos de origem holandesa).
A política anti-inglesa do Transvaal
– aproximando-se da Alemanha e negando aos estrangeiros direitos políticos e
permissão para explorar minas – precipitou a Guerra dos Bôeres (1899 / 1902).
Vencedora, a Inglaterra anexou as duas repúblicas, às quais concedeu autonomia
limitada e, posteriormente, formou a União Sul-Africana, reunindo Transvaal,
Orange, Cabo e Natal (1910).
A África do Norte
Nessa região as populações eram
fortemente islamizadas e integradas ao Império Otomano, ao qual se
subordinariam as dinastias do Marrocos, da Tunísia, Argélia e Egito. A penetração
europeia foi iniciada pela França, que começou a conquista da Argélia (em
1830), embora tenha entrado em choque com os ingleses no Egito, com os
italianos na Tunísia e com os alemães no próprio Marrocos.
No Egito, os franceses investiram
capitais na política de modernização do país culminada com a construção do
Canal de Suez (1869) e, impossibilitado de pagar essa dívida, o vice-rei Ismail
vendeu a maioria das ações da Companhia do Canal para a Inglaterra.
Mas, nem assim o país se salvou da bancarrota,
criando-se uma Caixa da Dívida Pública administrada por agentes ingleses e
franceses. A crescente dependência aos estrangeiros provocou a explosão do
nacionalismo egípcio e, antecipando-se à França, os ingleses invadiram o país,
esmagaram os revoltosos e estabeleceram um regime de protetorado (1882). Em
consequência. A França foi afastada do Egito, em troca do apoio inglês à
política francesa de conquista do Marrocos.
Na Tunísia, a má situação financeira
dos governadores deu aos franceses a oportunidade de proclamar um protetorado
sobre o país. A Itália – que investira capitais na Tunísia – protestou, mas a
ocupação francesa foi mantida. Dominada por forte ressentimento contra os
franceses, a Itália aproximou-se da Alemanha e da Áustria-Hungria formando com
elas a Tríplice Aliança (1882).
A conquista do Marrocos pela França foi bastante difícil não só pela resistência das populações, mas pelas ambições alemãs. O choque dos imperialismos francês e alemão no Marrocos gerou graves crises internacionais que contribuíram para provocar a Primeira Guerra Mundial.
A África Intertropical
Essa região constituía um mundo
heterogêneo, habitado por grandes populações negras com culturas diversas,
evolvendo instituições primitivas – tribos de caçadores, pescadores e
coletores. Muitos grupos haviam sido islamizados, sem esquecer os
cristianizados etíopes e prevaleciam sistemas coletivistas, predominando como
unidade econômica a aldeia.
Na África Oriental, pouco
conhecida até 1870, os ingleses projetavam construir uma ferrovia do Cabo ao
Cairo e garantir o domínio do Mar Vermelho; em sua expansão pela região,
apoderaram-se de Uganda, Quênia, Zanzibar, Somália Britânica e Sudão. Na
conquista do Sudão os ingleses enfrentaram feroz resistência liderada por chefes
muçulmanos. Houve também incidentes com a França e a Itália teve que reconhecer
a independência da Etiópia após fragorosa derrota.
Por sua vez, a Alemanha assegurou-se
da África Oriental Alemã (Tanganica e Ruanda-Burundi) frustrando o projeto
ferroviário inglês do Cabo ao Cairo. Na África Ocidental, a França ocupou
vastos territórios agrupados sob a denominação de África Ocidental Francesa
(Guiné, Senegal, Níger, Costa do Marfim e Mali) e África Equatorial Francesa
(Gabão, Congo, Chade e República Centro-Africana), além de impedir a penetração
de rivais para o interior.
Assim, na África Ocidental, os
ingleses se estabeleceram em Gâmbia, Serra Leoa, Costa do Ouro e Nigéria,
enquanto a Alemanha – retardada pela tardia unificação e pela recusa inicial de
Bismarck em se envolver na Partilha da África – ocupou o Togo e o Sudeste
Africano Alemão (atual Namíbia).
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