Que Fatores
Levaram os EUA a Intervir na Nicarágua? Quais os Principais Motivos Que Levaram
Somoza ao Golpe de Estado? Quem Eram os Contrarrevolucionários?
Desde a metade do século XIX os Estados
Unidos pretendiam abrir um canal através da América Central ligando o oceano
Atlântico ao Pacífico e, conforme muitos cientistas, essa foi uma das razões
que levaram os governantes americanos a intervir na Nicarágua. A partir desse
momento, os EUA estabeleceram um protetorado sobre o país assegurando-lhe o
direito perpétuo de construir um canal e uma base naval em território
nicaraguense (1916).
Embora a construção nunca fosse
realizada, a ocupação militar (1912/25) facilitou a penetração dos capitais
americanos no país, controlando ferrovias, mineração de ouro, bancos e parte da
produção de café e da criação de gado. A retirada dos marines não
trouxe estabilidade desejada, pois o país mergulhou na guerra civil em que se
defrontaram liberais e conservadores, o que provocou a volta dos marines ocupando
a Nicarágua (1926/33).
Foi então que se projetou no cenário
nicaraguense um camponês – Augusto Cesar Sandino – que, convertido em líder da
resistência popular contra a dominação estrangeira, organizou o Exército
Defensor da Soberania Nacional, adotou a guerrilha como tática de luta e forçou
os invasores a abandonarem o país. O fim da ocupação militar coincidiu com o
início da “Política de Boa Vizinhança”, empreendida por F. Roosevelt (recém
empossado presidente dos EUA).
Contudo, os americanos haviam
estruturado a Guarda Nacional, a qual era encarregada de garantir a
continuidade da aliança das oligarquias nicaraguenses e o seu comandante
(Anastácio Somoza) iniciou uma das mais longas, corruptas e sangrentas
ditaduras da América Latina. Pois, atraído para um encontro com os governantes
nicaraguenses, Sandino foi preso e fuzilado por ordem de Somoza que também
massacrou 300 sandinistas.
Apoiado pela Guarda Nacional,
Anastácio Somoza deu um golpe de Estado, instalando um governo consolidado como
um modelo capitalista agrário exportador. Nesse período, a repressão manteve a
oposição sufocada, ao mesmo tempo em que a família Somoza enriqueceu usando o
exemplo do confisco de bens dos alemães durante a 2ª Guerra.
Na década de 50 a economia
nicaraguense teve o domínio do algodão, cuja exportação enriqueceu a família
Somoza e setores da oligarquia agrária. A conjuntura internacional – marcada
pela Guerra Fria – reforçava o governo Somoza, cujo anticomunismo assegurava
apoio incondicional dos EUA. Mas, após ser baleado por um poeta que pretendia
acabar com a tirania no país, Anastácio Somoza acabou morrendo.
A continuação do regime foi
assegurada pela designação de um dos seus filhos para ocupar a presidência,
cujo governo manteve a violência contra a oposição, embora a vitória da
Revolução Cubana tenha estimulado a formação da Frente Sandinista de Libertação
Nacional (FSLN). Tomando como princípio a luta anti-imperialista, a destruição
do Somozismo e a adoção da guerrilha como forma de luta, a FSLN ampliou suas
bases junto ao proletariado e ao campesinato.
A concentração de riquezas pela
família Somoza intensificou-se a partir de 1972, quando não hesitou em se
apoderar dos recursos internacionais enviados para ajudar as vítimas do
terremoto que arrasara Manágua. Além disso, a repressão contra opositores não
poupava até os setores mais moderados da Igreja e da burguesia, como foi o caso
do assassinato de Chamorro – proprietário do jornal da família mais importante
da Nicarágua.
Criando um comando nacional conjunto
– onde se destacava Daniel Ortega – a FSLN intensificou a insurreição contra a
Guarda Nacional que, além disso, se fortaleceu com o apoio da Igreja e da
burguesia que consideravam a ação armada como única forma de acabar com o
Somozismo. Em julho de 1979 a FSLN tomou Manágua, Somoza fugiu para os EUA e terminava
a 1ª etapa da Revolução Sandinista.
Imediatamente o governo sandinista
desapropriou os bens da família Somoza, dissolveu a Guarda Nacional, criou o
Exército Popular sandinista, nacionalizou bancos, empresas de seguro e de
minas. Realizou reformas estruturais, reduzindo o analfabetismo, reformas
agrárias estabelecendo três tipos de propriedades rurais: _ as fazendas
estatais, as cooperativas particulares e as propriedades privadas. Melhorou a
assistência médica, combatendo as endemias, diminuiu a mortalidade infantil e
elevou a expectativa de vida de 35 para 57 anos.
Mas, a reconstrução da Nicarágua foi
dificultada pela agressão americana do governo Reagan que realizou manobras
militares e navais junto às fronteiras nicaraguenses, colocando minas nos portos,
financiando atos de sabotagem e atentados terroristas a fim de desestabilizar a
sociedade sandinista. Além disso, os EUA treinaram os grupos
contrarrevolucionários – “os Contras”.
Reunindo dissidentes exilados e
antigos membros da Guarda nacional, os contras receberam milhões de dólares dos
EUA e atacaram a Nicarágua, partindo de Honduras. E, embora não tivessem o
apoio da população, os contras provocaram a morte de 12 mil nicaraguenses,
causaram enormes prejuízos materiais e protestos internacionais.
A pressão americana acabou
comprometendo a frágil economia nicaraguense, pois a inflação disparou, os
produtos de consumo escassearam e a população descontente escolheu Violeta
Chamorro para presidente em 1990, com o apoio americano e os partidos de oposição.
O novo governo recebeu a ajuda de 300 milhões de dólares dos EUA, que também
suspenderam o embargo econômico e outras medidas que atentavam contra a
soberania nicaraguense.
Contudo tiveram que enfrentar a
ameaça de guerra civil devido às contradições e às hostilidades entre antigos
contras e o controle que os sandinistas exerciam sobre as Forças Armadas. O
enfraquecimento do governo ficou claro quando a Assembleia Nacional reformou a
Constituição que passou a proibir a reeleição e reduziu o mandato do presidente
de 6 para 5 anos.
As crises se sucederam com a anulação
da reforma agrária, com a destituição de Daniel Ortega do comando do Exército
Popular Sandinista, com a falta de alimentos, com a inflação e com as pressões
nacionais. Buscando uma saída, Violeta Chamorro privatizou estatais, indenizou
ex-proprietários pelo confisco de suas terras e reconheceu os títulos de
propriedade que beneficiavam 200 mil famílias.
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