sexta-feira, 12 de julho de 2024

Os Fenômenos Que Afetaram o Caráter dos Conflitos Mundiais


Que Fenômenos Afetaram o Caráter das Guerras Nas Últimas Décadas? Por Que as Guerras Modernas Têm Sido Afetada Pela Globalização? Qual é o Principal Perigo da Banalização das Guerras na Sociedade Contemporânea? 





Muitos analistas afirmam que, apesar de a natureza da guerra continuar a mesma, mudanças recentes ocorridas nas últimas décadas, têm contribuído para alterar o seu caráter. Alguns estudiosos afirmam que as estruturas que produzem a riqueza de uma sociedade também produzem a sua guerra. Isso significa que as tecnologias empregadas para produzir riqueza provavelmente também serão empregadas na área militar. Vejamos algumas observações com relação às guerras:


Têm diminuído em frequência e severidade nas décadas que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial;

Têm-se deslocado da Europa para outras regiões

Têm aumentado no que se refere a conflitos intraestatais.



Os Fenômenos Que Afetaram o Caráter das Guerras Nas Últimas Décadas



1º) Avanço Tecnológico: Um dos fenômenos que têm alterado o caráter da guerra é o incrível avanço tecnológico no setor militar. Alguns proponentes da chamada Revolução em Assuntos Militares (RAM) afirmam que recentes e futuros avanços tecnológicos significam que as operações militares serão conduzidas com tal grau de velocidade, precisão e destruição seletiva que o caráter da guerra será transformado em definitivo.

Apesar de ser verdade que as mudanças tecnológicas têm transformado o caráter da guerra, não podemos reduzir a guerra a tecnologias e táticas. Em outras palavras, não podemos simplificar um fenômeno que também é composto de fatores não tecnológicos.


2º) Banalização: Uma mudança importante apontada por analistas é o perigo da banalização da guerra na sociedade contemporânea. Apesar da diminuição da recorrência de guerras desde meados do século XX, a transmissão e a veiculação de imagens relacionadas a conflitos armados podem ter, atualmente, um efeito inverso ao que tiveram durante a década de 1970.

Ao final da 2ª Guerra Mundial, as consequências em mortes e destruição foram tão intensas que provocaram uma aversão à guerra por parte das gerações seguintes. Isso foi intensificado pelas primeiras transmissões de conflitos realizadas pela TV, que divulgou imagens quase simultâneas da Guerra no Vietnã. No entanto, esse mesmo fenômeno pode estar causando uma banalização da violência atualmente. Podemo-nos questionar:


É possível afirmar que a constante transmissão de imagens de guerras e conflitos armados tem contribuído para banalizar o fenômeno da guerra?

As pessoas estão se acostumando com a presença da guerra e acreditando que ela é um fenômeno integral, ou mesmo inexorável, da vida internacional?


3º) Privatização: Em algumas partes do mundo, o Estado não é mais o principal agente condutor da guerra porque: (a) transferiu, conscientemente, funções militares para autoridades privadas ou corporações; (b) teve suas funções militares tomadas por outros atores políticos.

Esses fenômenos refletem uma tendência mais geral: a de privatização dos bens públicos. Existe uma indústria militar que vem se desenvolvendo com base na premissa de que oferece serviços relacionados à guerra para os Estados – especialmente, nas áreas de segurança e logística – mais que no combate direto, produzindo uma terceirização da guerra. Esses serviços estão mais relacionados com as áreas de segurança e logística, e menos com o combate direto.

Centenas de empresas militares privatizadas (EMP) têm operado em mais de cinquenta países desde o fim da Guerra Fria. Por meio do fornecimento de treinamento e equipamento, as EMPs têm influenciado o resultado de várias guerras recentes, incluindo as guerras em Angola, na Croácia, na Etiópia e em Serra Leoa, além de terem tido um papel predominante na invasão do Iraque em 2003.


4º) Guerras Virtuais: As chamadas "guerras virtuais" prometiam guerras livres de mortes nos anos 1990. Nas últimas décadas, as democracias têm demonstrado uma forte recusa em tolerar conflitos com alto número de mortes ou conflitos prolongados, fatores que podem desfazer o apoio público doméstico em prol dos esforços de guerra.

Nas democracias, a relação entre a elite política e a sociedade geral é mais complexa, já que os políticos querem ser reeleitos pelas suas constituintes. Isso significa que uma decisão política vista como errada ou fortemente impopular pode ameaçar a continuidade de um político ou mesmo de um partido no poder. Esse foi o caso das guerras no Iraque e no Afeganistão para com a administração de Bush nos Estados Unidos.

Uma característica da guerra moderna está no que Raymond Aron chamou de guerra hiperbólica, em que as crescentes escaladas da guerra são alimentadas pelas pressões dos avanços tecnológicos e industriais. O advento da Revolução Industrial e das democracias populares produziu a nacionalização da guerra, em que os esforços de guerra passam a envolver a totalidade da sociedade. Esse é o advento da “guerra total”, em que, cada vez menos, distingue-se entre os esforços militares e os esforços civis, produzindo eventos como:


O bombardeio de Hiroshima e Nagasaki

A destruição das cidades de Dresden, Londres e Hamburgo

O genocídio de judeus e minorias


A barbaridade das guerras não é um fenômeno exclusivamente contemporâneo. Muitas guerras não são mais orientadas pelos princípios do Direito Internacional, e sim por princípios locais, de costume ou de religião. Além disso, muitas vezes, o que pode ser visto como violência sem sentido tem sido, de fato, utilizado para ganhar vantagem militar, mais do que pelo simples motivo de infligir sofrimento à população ou auferir ganhos econômicos.



Globalização da Guerra Moderna



A guerra moderna também tem sido afetada pelo processo de globalização e, apesar de serem mais localizadas, as guerras contemporâneas envolvem uma ampla gama de redes internacionais de atores, tais como:


As organizações não governamentais, como a Oxfam, a Human Rights Watch, a Cruz Vermelha Internacional e a Médecinssans Frontières.

A mídia, com o seu exército informal de repórteres, que, cada vez mais, passam de observadores a partes integrais do conflito

As forças militares estrangeiras.

Os representantes de instituições internacionais, como a Unicef, o Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas, a Organização para Unidade Africana e a Organização para Segurança e Cooperação na Europa.




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