Qual Era
a Relação do Número de Imigrantes Com o Desenvolvimento Econômico da Argentina?
Por Que Houve Vários Golpes de Estado Nesse País? Como se Formou o Peronismo?
Desde o fim do século XIX a Argentina vinha sofrendo várias transformações socioeconômicas, pois o número de imigrantes europeus dobrou e se refletiu sobre o desenvolvimento econômico, estimulado pela fundação de inúmeros frigoríficos. As exportações de carnes e cereais ganharam força, ferrovias foram construídas a fim de ligar o interior ao litoral aperfeiçoando os portos – principalmente o de Buenos Aires.
Essas inovações provocaram mudanças
sociais elevando as classes médias e o proletariado urbano, os quais se
dissociaram das oligarquias rurais e se organizaram na fundação da União Cívica
radical e do Partido Socialista.
Aproveitando-se da decretação do voto
secreto e obrigatório, a União Cívica Radical chegou ao poder com uma política
de nacionalismo econômico e combate às oligarquias. Leis sociais foram
aprovadas – visando melhores condições de trabalho e de salários –, a indústria
e a agricultura se beneficiaram com a expansão do crédito bancário.
Mas, o paternalismo e o personalismo
do presidente Irigoyen descontentaram as classes conservadoras e o Exército,
aonde os princípios do fascismo vinham conquistando adeptos. Os efeitos da
Grande Depressão afetaram a pecuária e a indústria frigorífica, capitalizando
novos opositores ao regime.
Então, um golpe de Estado derrubou o
presidente e iniciou a era da República Conservadora (1930/38), onde
predominavam os grupos oligarcas, fascistas e favoráveis a concessões ao
capital estrangeiro. Nesse período os transportes e a iluminação pública de
Buenos Aires foram monopolizados por consórcios ingleses, ao mesmo tempo em que
um tratado garantia tratamento preferencial ao capital britânico.
Em 1943, um novo movimento militar
pôs fim à República conservadora e projetou o coronel Juan Domingo Perón à
presidência. Embora mantivesse as aparências de um regime constitucional Perón
governou de forma ditatorial, apoiando-se na Igreja, no Exército, na burguesia
industrial e nas organizações operárias. O Peronismo (ou Justicialismo) buscou
inspiração nas doutrinas da Igreja e fascistas, tendo fortes características
populistas e nacionalistas, procurando estabelecer uma organização sindical
rígida através da Confederação Geral do Trabalho.
Perón aumentou os salários dos trabalhadores,
concedendo contratos coletivos, férias, habitação, assistência médica e
indenizações por quebra de contrato trabalhista. Ele criou um instituto
encarregado de comprar a produção de cereais, carnes bovinas e revendê-la no
mercado externo, aplicando em obras públicas os capitais apurados.
A crise econômica mundial atingiu
duramente a Argentina e a diminuição das receitas levou o governo a cortar os
subsídios às indústrias, ao mesmo tempo em que a inflação esvaziou a
popularidade de Perón junto à classe média e aos operários.
A legalização do divórcio e a
supressão do ensino religioso nas escolas públicas trouxeram a oposição da
Igreja Católica e, além disso, os oficiais do Exército se indignaram quando
Perón decidiu conceder os campos de petróleo da Patagônia a uma empresa
norte-americana a fim de reduzir os custos da importação de petróleo.
Diante disso, em 1995 as Forças
Armadas depuseram Perón e instalaram no poder um governo provisório, começando
aí a chamada Revolução Libertadora. Apesar do fuzilamento de centenas de
peronista, as primeiras eleições tiveram maior número de votos em branco, o que
demonstrava a força do Peronismo.
As revoluções realizadas pelas Forças
Armadas sucediam-se, assim como as juntas militares ou um general no governo,
sem que a estabilidade fosse alcançada. Tentava-se a reconstrução econômica
recorrendo-se a vultosos empréstimos, a amplas concessões aos investimentos
estrangeiros, às restrições
ao crédito interno, aos cortes aos subsídios à importação de bens de
consumo, à redução do funcionalismo público e à entrega da exploração do
petróleo à empresas internacionais.
A violência para conter o Peronismo acabou projetando uma nova realidade e, desde 1969, grupos clandestinos (Montoneros, Forças Armadas Peronistas e Forças Armadas Revolucionárias), integrados por jovens da classe média, recorreram ao ataque contra unidades militares e bancos, realizando sequestros e ocupações de vilas e cidades.
Novo golpe militar levou ao poder o
general Lanusse que permitiu a realização de eleições, a livre participação dos
peronistas e o retorno de Perón à Argentina. Daí formou-se a Frente
Justicialista de Libertação que lançou a candidatura de Hector Cámpora que, ao
final de 49 dias de governo, acabou renunciando numa manobra política evidente
a fim de abrir o caminho para a eleição de Perón em 1973.
As Forças Armadas tiveram que aceitar
a vitória de Perón nas urnas que, aos 77 anos, logo se viu às voltas com o
pluralismo do Peronismo, pois os setores mais jovens viam nesse movimento “uma
Argentina para o Socialismo” e os setores tradicionais apresentavam tendências
conservadoras. Ao morrer, em 1974, as contradições haviam se radicalizado de
tal forma que as Forças Armadas retornaram ao cenário político e, em 1976,
depuseram a vice-presidente (Isabelita Perón) e entregaram o poder
ao general Jorge Videla – dirigente supremo da Junta Militar.
Sendo assim, o Congresso foi fechado,
governadores e ministros do Supremo Tribunal foram afastados, os partidos
políticos e os sindicatos foram suspensos, aboliram-se inúmeras conquistas
trabalhistas e uma guerra sem quartel foi movida aos Montoneros.
A deterioração econômica se acentuou
com o fracasso das medidas postas em prática, os gastos militares para
sustentar a disputa do Canal de Beagle com o Chile aumentaram e a desastrosa
guerra contra a Inglaterra (por causa das Ilhas Malvinas) aprofundou a crise
econômica.
A inflação, o desemprego e o caráter
repressivo do regime, responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas,
acentuaram o colapso da ditadura militar. E, além disso, os partidos de
oposição, os sindicatos, os comitês de anistia, as associações de classe e as
“Mães da Praça de Maio” (entidade que reunia mães, esposas, filhas e avós dos
desaparecidos políticos) exigiram o fim da ditadura militar e o retorno à
democracia.
O resultado disso tudo foi a vitória
de Raul Alfonsín, candidato da União Cívica Radical (1983), cujo governo
empreendeu a recuperação econômica e a redemocratização do país. Sobressaiu a
condenação de chefes militares que foram responsáveis pela violenta repressão
na década de 70 e pela desastrosa Guerra das Malvinas e, a ameaça de
insurreição militar, levou o Congresso a aprovar uma lei pondo fim a tais julgamentos.
Na economia aplicou-se o Plano
Austral (1985), congelando salários e preços das mercadorias. O Plano resultou
em novos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o pagamento da
dívida externa e permitiu a obtenção de empréstimos nos bancos estrangeiros.
Apesar do sucesso inicial, o Plano Austral mostrou-se ineficiente para acabar
com a inflação e a recessão econômica.
Nas relações internacionais
destacaram-se os tratados feitos com o Brasil e se resolveu a questão das ilhas
do Canal de Beagle e, em 1989, os peronistas voltaram ao poder ao elegerem
Carlos Menem à presidência da República. Ele assumiu suas funções em meio a
violenta crise e, no campo político, teve de enfrentar a oposição armada de
militares da direita (os “Caras Pintadas”) que se opunham ao indulto dos
ex-guerrilheiros.
Embora seu discurso fosse populista,
no campo econômico Menem adotou práticas neoliberais e, sob a orientação de
Domingo Cavallo, dolarizou a economia, privatizou empresas estatais e
estabeleceu que o dólar valeria dez mil austrais a partir daquele momento. Mas,
para Menem – que assinou o Tratado de Assunção criando o MERCOSUL – tornou-se
difícil prosseguir com suas diretrizes neoliberais, o que explica a vitória da
oposição nas eleições de 1999.
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