quarta-feira, 17 de julho de 2024

A Argentina no Despertar do Século XX

 

Qual Era a Relação do Número de Imigrantes Com o Desenvolvimento Econômico da Argentina? Por Que Houve Vários Golpes de Estado Nesse País? Como se Formou o Peronismo?

 



 

Desde o fim do século XIX a Argentina vinha sofrendo várias transformações socioeconômicas, pois o número de imigrantes europeus dobrou e se refletiu sobre o desenvolvimento econômico, estimulado pela fundação de inúmeros frigoríficos. As exportações de carnes e cereais ganharam força, ferrovias foram construídas a fim de ligar o interior ao litoral aperfeiçoando os portos – principalmente o de Buenos Aires.

Essas inovações provocaram mudanças sociais elevando as classes médias e o proletariado urbano, os quais se dissociaram das oligarquias rurais e se organizaram na fundação da União Cívica radical e do Partido Socialista.

Aproveitando-se da decretação do voto secreto e obrigatório, a União Cívica Radical chegou ao poder com uma política de nacionalismo econômico e combate às oligarquias. Leis sociais foram aprovadas – visando melhores condições de trabalho e de salários –, a indústria e a agricultura se beneficiaram com a expansão do crédito bancário.

Mas, o paternalismo e o personalismo do presidente Irigoyen descontentaram as classes conservadoras e o Exército, aonde os princípios do fascismo vinham conquistando adeptos. Os efeitos da Grande Depressão afetaram a pecuária e a indústria frigorífica, capitalizando novos opositores ao regime.

Então, um golpe de Estado derrubou o presidente e iniciou a era da República Conservadora (1930/38), onde predominavam os grupos oligarcas, fascistas e favoráveis a concessões ao capital estrangeiro. Nesse período os transportes e a iluminação pública de Buenos Aires foram monopolizados por consórcios ingleses, ao mesmo tempo em que um tratado garantia tratamento preferencial ao capital britânico.

Em 1943, um novo movimento militar pôs fim à República conservadora e projetou o coronel Juan Domingo Perón à presidência. Embora mantivesse as aparências de um regime constitucional Perón governou de forma ditatorial, apoiando-se na Igreja, no Exército, na burguesia industrial e nas organizações operárias. O Peronismo (ou Justicialismo) buscou inspiração nas doutrinas da Igreja e fascistas, tendo fortes características populistas e nacionalistas, procurando estabelecer uma organização sindical rígida através da Confederação Geral do Trabalho.

Perón aumentou os salários dos trabalhadores, concedendo contratos coletivos, férias, habitação, assistência médica e indenizações por quebra de contrato trabalhista. Ele criou um instituto encarregado de comprar a produção de cereais, carnes bovinas e revendê-la no mercado externo, aplicando em obras públicas os capitais apurados.

A crise econômica mundial atingiu duramente a Argentina e a diminuição das receitas levou o governo a cortar os subsídios às indústrias, ao mesmo tempo em que a inflação esvaziou a popularidade de Perón junto à classe média e aos operários.

A legalização do divórcio e a supressão do ensino religioso nas escolas públicas trouxeram a oposição da Igreja Católica e, além disso, os oficiais do Exército se indignaram quando Perón decidiu conceder os campos de petróleo da Patagônia a uma empresa norte-americana a fim de reduzir os custos da importação de petróleo.

Diante disso, em 1995 as Forças Armadas depuseram Perón e instalaram no poder um governo provisório, começando aí a chamada Revolução Libertadora. Apesar do fuzilamento de centenas de peronista, as primeiras eleições tiveram maior número de votos em branco, o que demonstrava a força do Peronismo.

As revoluções realizadas pelas Forças Armadas sucediam-se, assim como as juntas militares ou um general no governo, sem que a estabilidade fosse alcançada. Tentava-se a reconstrução econômica recorrendo-se a vultosos empréstimos, a amplas concessões aos investimentos estrangeiros, às restrições ao crédito interno, aos cortes aos subsídios à importação de bens de consumo, à redução do funcionalismo público e à entrega da exploração do petróleo à empresas internacionais.




A violência para conter o Peronismo acabou projetando uma nova realidade e, desde 1969, grupos clandestinos (Montoneros, Forças Armadas Peronistas e Forças Armadas Revolucionárias), integrados por jovens da classe média, recorreram ao ataque contra unidades militares e bancos, realizando sequestros e ocupações de vilas e cidades.

Novo golpe militar levou ao poder o general Lanusse que permitiu a realização de eleições, a livre participação dos peronistas e o retorno de Perón à Argentina. Daí formou-se a Frente Justicialista de Libertação que lançou a candidatura de Hector Cámpora que, ao final de 49 dias de governo, acabou renunciando numa manobra política evidente a fim de abrir o caminho para a eleição de Perón em 1973.

As Forças Armadas tiveram que aceitar a vitória de Perón nas urnas que, aos 77 anos, logo se viu às voltas com o pluralismo do Peronismo, pois os setores mais jovens viam nesse movimento “uma Argentina para o Socialismo” e os setores tradicionais apresentavam tendências conservadoras. Ao morrer, em 1974, as contradições haviam se radicalizado de tal forma que as Forças Armadas retornaram ao cenário político e, em 1976, depuseram a vice-presidente (Isabelita Perón) e entregaram o poder ao general Jorge Videla – dirigente supremo da Junta Militar.

Sendo assim, o Congresso foi fechado, governadores e ministros do Supremo Tribunal foram afastados, os partidos políticos e os sindicatos foram suspensos, aboliram-se inúmeras conquistas trabalhistas e uma guerra sem quartel foi movida aos Montoneros.

A deterioração econômica se acentuou com o fracasso das medidas postas em prática, os gastos militares para sustentar a disputa do Canal de Beagle com o Chile aumentaram e a desastrosa guerra contra a Inglaterra (por causa das Ilhas Malvinas) aprofundou a crise econômica.

A inflação, o desemprego e o caráter repressivo do regime, responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas, acentuaram o colapso da ditadura militar. E, além disso, os partidos de oposição, os sindicatos, os comitês de anistia, as associações de classe e as “Mães da Praça de Maio” (entidade que reunia mães, esposas, filhas e avós dos desaparecidos políticos) exigiram o fim da ditadura militar e o retorno à democracia.

O resultado disso tudo foi a vitória de Raul Alfonsín, candidato da União Cívica Radical (1983), cujo governo empreendeu a recuperação econômica e a redemocratização do país. Sobressaiu a condenação de chefes militares que foram responsáveis pela violenta repressão na década de 70 e pela desastrosa Guerra das Malvinas e, a ameaça de insurreição militar, levou o Congresso a aprovar uma lei pondo fim a tais julgamentos.

Na economia aplicou-se o Plano Austral (1985), congelando salários e preços das mercadorias. O Plano resultou em novos acordos com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para o pagamento da dívida externa e permitiu a obtenção de empréstimos nos bancos estrangeiros. Apesar do sucesso inicial, o Plano Austral mostrou-se ineficiente para acabar com a inflação e a recessão econômica.

Nas relações internacionais destacaram-se os tratados feitos com o Brasil e se resolveu a questão das ilhas do Canal de Beagle e, em 1989, os peronistas voltaram ao poder ao elegerem Carlos Menem à presidência da República. Ele assumiu suas funções em meio a violenta crise e, no campo político, teve de enfrentar a oposição armada de militares da direita (os “Caras Pintadas”) que se opunham ao indulto dos ex-guerrilheiros.

Embora seu discurso fosse populista, no campo econômico Menem adotou práticas neoliberais e, sob a orientação de Domingo Cavallo, dolarizou a economia, privatizou empresas estatais e estabeleceu que o dólar valeria dez mil austrais a partir daquele momento. Mas, para Menem – que assinou o Tratado de Assunção criando o MERCOSUL – tornou-se difícil prosseguir com suas diretrizes neoliberais, o que explica a vitória da oposição nas eleições de 1999.



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