Como os Egípcios Enxergavam a Forma Terrestre? Onde Surgiu a Crença de Uma Terra Esférica? Quem Sugeriu a Ideia dos Meridianos Terrestres? Por Que a Imagem de Ptolomeu Foi Identificada Com Uma Astronomia Obsoleta?
Mais atraente do que o conhecimento
humano é a impressão de conhecer e, por isso mesmo, não surpreende que a imaginação
dos homens tenha dado à Terra as formas simétricas mais simples. Uma das formas
mais atraentes foi a do ovo, pois os Egípcios viam a Terra como um ovo guardado
à noite pela Lua e os cristãos gnósticos também viam o Céu e a Terra como um
ovo e, envolvendo esse ovo, encontrava-se uma serpente gigantesca.
Já a literatura grega descreve uma
procura pela simetria, pois antes de os Gregos acreditarem que a Terra era uma
esfera, discutiam que outra forma simples ela poderia ter. Heródoto
ridicularizou o conceito de a Terra ser um disco circular rodeado pelo rio.
Parecia-lhe óbvio que a Terra devia ser rodeada por um grande deserto.
A crença na existência de uma espécie
qualquer de “equador” surgiu antes da convicção de que o planeta era uma
esfera. O Nilo e o Danúbio, segundo Heródoto, encontravam-se simetricamente à
volta de uma linha mediana que atravessava os mapas gregos.
Uma Terra quadrada também atraía
muita gente e, os Peruanos, por exemplo, imaginavam um mundo no feitio de uma
caixa, com um telhado onde vivia o grande Deus. Já os Astecas projetavam seu
universo em cinco quadrados, onde cada um continha um dos quatro pontos
cardeais, que se projetava do Lugar Médio – a morada do deus do Fogo.
Outros povos viam o universo como uma
roda ou até como um tetraedro e, uma figura hindu, mostrava a Terra hemisférica
sustentada pelas costas de quatro elefantes de pé na carapaça hemisférica de
uma tartaruga gigantesca, a qual flutuava nas águas do Mundo.
Por volta do século V a. C. alguns
sábios gregos compreenderam que a Terra era um globo e o primeiro testemunho é
encontrado em Platão. Nessa altura, pensadores gregos deixaram de imaginar a
Terra como um disco plano flutuando nas águas. Platão e os pitagóricos
basearam-se em fundamentos estéticos. Como uma esfera é a forma matemática perfeita,
claro que a Terra tinha que ter essa forma e, discordar disso, seria negar a
ordem da Criação.
Enquanto Aristóteles viveu a
Geografia matemática fez grande progresso entre os Gregos que, embora ainda não
tivessem pormenores sobre a superfície da Terra para desenhar um Mapa do Mundo,
mas usando matemática e astronomia, chegaram a cálculos extraordinariamente
exatos. Escritores clássicos (Plínio e Ptolomeu) e enciclopedistas populares
aceitaram a esfericidade da Terra e sobre ela escreveram. Esta descoberta viria
a ser um dos mais importantes legados do saber clássico ao mundo moderno.
Uma Terra esférica oferecia uma
grande oportunidade na imaginação,
pois ela poderia ser simetricamente dividida de várias formas. A primeira
tentação foi vê-la cercada por linhas paralelas. Mas, e se elas fossem
separadas – de algum modo –, os espaços entre elas poderiam ter algum
significado especial?
Os Gregos achavam que sim, pois eles
desenharam essas linhas ao redor da Terra, dividindo-a em subdivisões paralelas
que eles chamaram de “Climata”. A duração do dia mais longo era mais ou menos a
mesma para todos os lugares no interior de uma zona. Na zona próxima ao Polo, o
dia mais longo do ano durava mais de 20 horas, enquanto perto do equador a luz
do dia jamais durava além de 12 horas. No meio havia zonas onde o dia mais
longo durava todos os vários diferenciais.
Em longo prazo essas linhas tinham um
grande significado para compreensão da superfície do planeta. Estrabão, por
exemplo, insistia que as “Climatas” de ambos os lados do equador tinham uma
flora e fauna características. Ele disse que os solos arenosos só produziam
alguns frutos acres, pois essas regiões não tinham montanhas capazes de quebrar
as nuvens a fim de produzir chuvas, e por isso mesmo, “as pessoas tinham pelo
lanoso, beiços protuberantes e narizes achatados”. Daí, a tez escura dos
Etíopes era atribuída ao sol escaldante das “Climatas” tropicais e, o tipo louro
dos habitantes do extremo norte, era atribuído a frigidez das “Climatas”
árticas.
Júlio Cesar confiou na Geografia do maior dos geógrafos (Erastóstenes), o qual criou uma técnica para medir a circunferência da Terra que ainda se utiliza. Ele soube por viajantes que ao meio-dia de 21 de junho o Sol não projetava nenhuma sombra em um poço da cidade de Siene, o que significava que se encontrava diretamente acima.
Ele sabia que o Sol sempre projetava
uma sombra em Alexandria e, mediante seus conhecimentos, considerou que Siene
deveria ficar ao sul de Alexandria. Teve a ideia de que, se conseguisse medir o
comprimento da sombra do Sol em Alexandria na hora em que não havia nenhuma
sombra em Siene, ele poderia calcular a circunferência da Terra.
A distância de Siene a Alexandria foi
calculada em 50 “Estádios” (50 X 100) e, depois, Erastóstenes calculou que a
circunferência da terra era de 250 mil “Estádios” (50 X 5000). Não existe
certeza quanto à conversão dos “Estádios” (primitivamente 600 pés gregos) em
medidas modernas, mas alguns cálculos situam um “Estádio” grego em cerca de 607
pés ingleses. Através desses cálculos para a circunferência da Terra,
Erastóstenes chegou ao número aproximado de 46.200 km – o que erra por excesso
em cerca de 15%.
A exatidão do número de Erastóstenes
para a circunferência da Terra só seria igualada nos tempos modernos, pois a
sua combinação da teoria astronômica e da geometria forneceu-lhe um modelo que
ficou esquecido durante demasiado tempo depois dele. Mais importante ainda do que
seus cálculos finais foi a sua técnica
para cartografar a superfície terrestre. Sabemos disso através dos ataques
feitos por Hiparco (da Niceia), o qual descobriu a precessão ([1])
dos equinócios, catalogou cerca de mil estrelas e inventou a Trigonometria.
Mas, ele nutria uma antipatia pessoal
por Erastóstenes, o qual morrera 30 anos antes de ele nascer. Na verdade,
Erastóstenes subdividira a Terra por linhas paralelas leste-oeste e norte-sul
(meridianos). Ele separou o mundo numa divisão setentrional e meridional por
uma linha leste-oeste paralela ao equador e, depois disso, acrescentou uma
linha norte-sul em ângulo reto, passando por Alexandria.
Já Hiparco deu o seguinte passo: _
Por que não assinalar todas as linhas de “Climata” à volta da esfera, todas
paralelas à linha equinocial e a intervalos iguais do equador para os polos? E,
por que não assinalar também outras linhas em ângulo reto com as igualmente
espaçadas no equador?
Assim, as linhas de Climatas poderiam
servir para mais do que descrever regiões da Terra que recebiam a luz solar em
ângulos similares. Pois, se elas fossem numeradas proporcionariam um conjunto
de coordenadas para situar todos os lugares da Terra. Então, como seria fácil
dizer a alguém onde poderia encontrar qualquer cidade, rio ou montanha do
planeta.
Hiparco repartiu a superfície da
Terra em 360 partes (os “graus”, dos modernos geógrafos) e situou as suas
linhas meridianas no equador (longitude), com intervalos de cerca de 112 km
(mais ou menos a dimensão de um grau).
Daí, combinando as Climatas
tradicionais com elas, concebeu um mapa do Mundo baseado em observações
astronômicas de latitude e de longitude. Dessa forma, a Latitude e a Longitude
foram para a medição do espaço o que o Relógio mecânico foi para a medição do
tempo.
É uma pena que Ptolomeu ficasse
identificado com uma Astronomia obsoleta e, uma das razões para ele ocupar
espaço tão apagado na história, deve-se ao fato de sabermos tão pouco sobre sua
vida. Egípcio grego ele usava um nome comum no Egito alexandrino e, por acaso,
o de um dos companheiros mais íntimos de Alexandre, o Grande. Outro Ptolomeu se
tornou governador do Egito após a morte de Alexandre e depois se proclamou rei.
Mas esse Ptolomeu foi apenas rei, enquanto nosso Ptolomeu foi um homem da
ciência.
Ptolomeu teve um grande talento para
aperfeiçoar os trabalhos dos outros. Seu Almagesto sobre Astronomia, sua
Geografia e seus trabalhos sobre Astrologia constituíram uma síntese do melhor
pensamento do seu tempo e, para “Geografia” – por exemplo – ele usou os
conhecimentos de Erastóstenes e de Hiparco e indicou as Latitudes e as
Longitudes de 800 lugares na Terra.
Ptolomeu teve a coragem de enfrentar
as consequências cartográficas da forma esférica da Terra. Elaborou uma tabela
de cordas baseada na Trigonometria de Hiparco a fim de definir a distância
entre lugares e, além disso, concebeu uma maneira de projetar a Terra esférica
numa superfície plana.
A sua fraqueza foi a sua desesperada
carência de dados, pois em longo prazo, as matérias primas para um Atlas
satisfatório do Mundo teriam de vir de observadores qualificados do todo o
mundo. Sendo assim, não é de admirar que, com os seus dados limitados, Ptolomeu
tivesse cometido alguns erros cruciais.
Um deles foi o que mais influenciou a
História, pois ao calcular a circunferência da Terra ele rejeitou o cálculo
exato de Erastóstenes. Assim, Ptolomeu calculou que cada grau da Terra mediria
apenas 90 e não 112 km e, depois disso, ele declarou que a Terra tinha 28.960
km de circunferência. Além disso, ele cometeu o erro de prolongar a Ásia para
leste – muito além de suas verdadeiras dimensões – numa extensão de 180º em vez
dos reais 130º.
Para os Árabes – e outros que nele
também depositaram sua fé – Ptolomeu continuou a ser a fonte e o soberano da
Geografia do Mundo. Se, no milênio pós-Ptolomeu, os navegadores tivessem
prosseguido livremente de onde ele parou, certamente a história do Velho e do
Novo Mundo teria sido diferente.
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