O Que Levou o Homem a Querer Medir o Tempo? Que Esforços Foram Feitos Para Tentar Dividir o Tempo? Como a Humanidade se Libertou do Sol? Como Surgiram os Relógios de Água? E as Ampulhetas?
Enquanto a humanidade viveu da
agricultura e da pecuária não houve grande necessidade de medir pequenas
porções do tempo, pois o importante eram as estações. Isto é, os homens
precisavam saber quando esperar a chuva, a neve, o sol e o frio. O tempo em que
haveria luz diurna era o mais importante, o único em que os homens podiam
trabalhar e, medir o tempo útil, era então medir as horas de Sol.
Os nossos séculos de luz artificial nos
instigavam a esquecer o significado da noite e, a vida numa cidade moderna, é
sempre tempo de luz e escuridão misturadas. Mas, para a maioria dos séculos da
existência humana a noite sempre foi um sinônimo de escuridão, o qual trazia
consigo toda a ameaça do desconhecido. O 1º passo para tornar a noite mais
semelhante ao dia foi dado antes das pessoas se acostumarem à iluminação
artificial. Ele chegou quando o homem, jogando com o tempo, começou a dividi-lo
em pequenas fatias.
Embora os antigos medissem o ano, o
mês e estabelecessem o padrão para nossa semana, as menores unidades de tempo
permaneceram vagas e desempenharam um papel pouco importante na experiência
humana, até a poucos séculos. Nossa hora exata é uma invenção moderna, o minuto
e o segundo são mais recentes ainda. Naturalmente, quando o dia de trabalho era
o dia de sol, os primeiros esforços para dividir o tempo foram no sentido de
medir a passagem do Sol através do céu e, para alcançar esse objetivo, os
Relógios de Sol foram os primeiros instrumentos de medição.
Durante séculos, a sombra do sol
permaneceu como sendo a medida universal de tempo, pois era simples construir
um Relógio de Sol e não exigia equipamentos especiais. Porém, ele só era útil
onde havia sol em abundância e mesmo assim só servia quando o sol brilhava
realmente e, mesmo quando o sol brilhava, o movimento da sombra era tão lento
que pouco servia para marcar minutos.
Mas, utilizar a sombra do sol em
qualquer lugar para definir a hora conforme o tempo de Greenwich exigia
conhecimentos de astronomia, geografia, matemática e mecânica. Daí, somente por
volta do século XVI os Relógios de Sol puderam ser calibrados com estas horas
verdadeiras. Quando a ciência do quadrante se desenvolveu, tornou-se moda usar
um Relógio de Sol de bolso. Mas, nessa altura, o relógio e o relógio portátil
já existiam e eram mais úteis em todos os sentidos.
Mesmo após o Relógio de Sol ter
sido concebido a fim de dividir o tempo de luz diurna em segmentos iguais, não
tinha grande utilidade quando se tratava de comparar as horas de uma para outra
estação. Os dias de Verão eram compridos e, portanto, compridas eram também as
horas. Os soldados romanos – no tempo do Imperador Valentino – eram instruídos
para marchar “à média de 20 milhas em 5 horas de Verão”. Uma “hora” – um
duodécimo do período de luz diurna – era, em determinado lugar, muito diferente
do que noutro dia e noutro lugar.
Mas então, como a humanidade se
libertou do Sol? Como conquistamos a noite, tornando-a parte do mundo
inteligível? Somente fugindo à tirania do Sol seríamos capazes de aprender a
medir o nosso tempo em porções uniformes. Só então as receitas poderiam atuar
para criar e ser compreendidas em todo lado do mundo. A medida universal
necessária teria de ser algo melhor que a sombra.
A água, esse
maravilhoso meio fluido, possibilitou ao homem os primeiros êxitos na medição
das horas de escuridão. A água, a qual poderia ser aprisionada em qualquer
vasilhame, era mais dócil e manobrável do que a sombra do Sol e, quando a
humanidade começou a utilizar a água como medidor do tempo, ela deu outro passo
à frente para transformar o planeta no seu lar.
Os Egípcios usavam o Relógio de Sol
que satisfaziam razoavelmente as suas necessidades diurnas. Mas, eles
precisavam medir as horas noturnas e, por isso, eles descobriram que podiam
medir a passagem do tempo através da quantidade de água que pingasse de uma
vasilha. O seu deus da noite (Thot), que também era deus da medição, presidia
aos modelos de Relógio de Água (tanto de Defluxo, quanto de Influxo).
O tipo de relógio de Defluxo constava
de um vaso de alabastro com uma escala marcada no interior e um único orifício
perto do fundo, do qual a água pingava. Verificando a descida do nível de água
no interior de uma marca para a marca abaixo, media-se a passagem do tempo. O
tipo posterior (de Influxo), o qual marcava a passagem do tempo pela subida da
água no vaso, era mais complicado, pois exigia uma fonte constante de
abastecimento regulado.
No entanto, esses dispositivos
tinham seus problemas e nos climas frios a viscosidade variável da água
dificultava as coisas. E, para manter o relógio a uma velocidade constante em
qualquer clima, era necessário que o orifício através do qual a água passava
não entupisse (ou alargasse) pelo desgaste. Já os Relógios de Defluxo
apresentavam problemas porque a velocidade do fluxo dependia da pressão da
água, a qual variava conforme ela ia ficando no vaso.
Os Romanos utilizavam o Relógio de
Sol para calibrar e acertar os Relógios de Água, que se tinham tornado o
medidor de tempo comum na Roma Imperial. Os Relógios de Água ainda davam apenas
as horas “temporárias” com medidas de luz diurna e da escuridão para todos os
dias de um mês, embora na realidade variassem de dia para dia.
Como ninguém em Roma podia saber as
horas exatas, a pontualidade era uma virtude incerta e não louvada. Alguns dos
Relógios de Água romanos eram munidos de boias que anunciavam a “hora” atirando
ovos ao ar, ou tocando um apito. O Relógio de Água, como o piano nos lares
europeus da classe média do século XIX, tornou-se um símbolo de posição social.
Em séculos posteriores, povos de todos os lados descobriram – à sua maneira – modos de utilizar a água para assinalar a passagem do tempo. Os Saxões, no século IX, utilizavam uma taça de rústica elegância, a qual com um pequeno orifício era posta a flutuar em água e afundava à medida que se enchia, consumindo sempre o mesmo espaço de tempo.
Quando regressavam à pátria, os
Chineses contavam histórias espantosas sobre um Relógio de Água gigantesco que
ornamentava a porta oriental da Grande Mesquita de Damasco. A cada “hora” do
dia ou da noite, dois pesos de latão reluzente caíam do bico de dois falcões de
bronze para taças de bronze, perfuradas para permitir que as bolas regressassem
ao seu lugar. Por cima dos falcões várias portas eram abertas – para cada hora
do dia – e por cima de cada uma delas, uma lanterna apagada. A cada hora do
dia, quando as bolas caiam, tocava um sino e a porta da hora completada se
fechava.
O aperfeiçoamento do Relógio de Água
foi demorado e difícil, pois na medida em que se conseguiu aperfeiçoar esse
dispositivo e torná-lo instrumento de precisão, ele já se tornara ultrapassado
por algo mais conveniente. No entanto, durante a maior parte da história, a
água forneceu a medida do tempo quando o Sol não brilhava e, até o
aperfeiçoamento do Relógio de Pêndulo (em 1.700), o medidor de tempo mais exato
foi provavelmente o Relógio de Água.
Porém, não foram as águas fluentes do
tempo, mas sim as areias, que forneceram aos poetas a sua
metáfora preferida para descrever a passagem das horas. Na Inglaterra, por
exemplo, colocavam-se ampulhetas nos caixões como símbolo de que o tempo da
vida se esgotara.
Mas, a Ampulheta –
medidora do tempo pelo correr da areia – chegou tarde à nossa História. A areia
era menos fluida do que a água e menos apropriada para a calibração exigida
pelas “horas” variáveis do dia e da noite em tempos antigos. E não é possível
colocar um indicador flutuante em uma ampulheta, embora a areia flua em climas
onde a água gelaria. Além disso, uma ampulheta prática e precisa exigia o
domínio da arte de fabricar vidros.
As Ampulhetas se adaptavam mal à
medição do tempo de um dia inteiro, pois elas tinham de ser demasiado grandes
(para facilitar as coisas) ou, se pequenas, tinham de ser viradas
frequentemente e no momento em que o último grão de areia caísse. Apesar de
tudo, a Ampulheta servia melhor do que o Relógio de Água para medir os menores
intervalos, quando ainda não se conhecia nenhum outro dispositivo para esse
fim.
Nos seus navios, Cristóvão Colombo
anotava a passagem do tempo com uma Ampulheta de meia hora, a qual era voltada
quando se esvaziava para assinalar as 7 horas “canônicas”. No século XVI, a
Ampulheta já era utilizada para medir curtos intervalos de tempo na cozinha ou
para ajudar um pregador religioso a regular o tamanho do seu sermão.
A Câmara dos Comuns da Inglaterra
tinha uma Ampulheta de 2 minutos para regular o toque das campainhas que
anunciavam os períodos de votação. Muitos pedreiros a utilizavam para contar
suas horas de trabalho e, professores, levavam suas Ampulhetas para medirem a
duração de suas lições.
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