Qual Era a Influência das Estrelas Sobre os Acontecimentos Humanos? Qual Foi o Erro Geográfico Cometido Por Ptolomeu? Que Afirmações de Astrólogos Perturbaram os Profetas do Cristianismo? Por Que Santo Agostinho Lutou Para Rejeitar Adivinhações dos Astrólogos?
A Astrologia fez com as necessidades
humanas um casamento perfeito, o qual foi dissolvido séculos posteriores em um
divórcio entre a ciência e a religião. Mas, a Astrologia teria sido para Roma apenas
um fatalismo supersticioso? Não se pode negar que o temor às estrelas inspirava
o temor dos astrólogos.
Mas, a religião astral não estava
separada da ciência astral e os principais cientistas da época tinham como
certa a influência das estrelas sobre os acontecimentos humanos.
Eles discordavam apenas quanto ao
“como” as estrelas exerciam seus poderes. A grande enciclopédia científica da
época (“História Natural”, de Plínio) propagava os rudimentos da astrologia,
mostrando em tudo a grande influência das estrelas.
O mais influente de todos os
cientistas romanos antigos mostrou ser a autoridade mais duradoura em
astrologia. Cláudio Ptolomeu de Alexandria foi o autor do estudo que daria
respeitabilidade a esta ciência nos 1000 anos seguintes, embora sua reputação
tenha se ressentido do destino de duas (2) de suas teorias errôneas.
A teoria egocêntrica (ou Ptolomaica)
do universo tornou-se um sinônimo de erro geográfico, mas depois dele jamais
alguém forneceu uma visão tão global de todo o conhecimento científico da
época. Em verdade, Ptolomeu dominou a visão popular e literária do universo
durante a Idade Média, pois o mundo descrito na “Divina Comédia” de Dante veio
diretamente do “Almagesto” de Ptolomeu.
Em muitos aspectos falou como um
profeta, alargando o emprego da matemática a serviço da ciência ao mesmo tempo
em que afirmava a necessidade da observação repetida. Ptolomeu foi o precursor
do espírito científico e um pioneiro do método experimental.
Na Trigonometria – por exemplo – o
seu valor tem-se revelado exato até cinco (5) casas decimais e, na Geometria,
ele proporcionou uma solução para os problemas dos Relógios de Sol, os quais
tinham enorme importância naquele tempo.
Em verdade, não houve qualquer ramo
da ciência física que ele não tenha estudado e organizado novas e úteis formas.
A sua Geografia (em Almagesto), que pretendia cartografar todo o mundo
conhecido, foi pioneira na listagem sistemática de lugares por latitude e
longitude.
Os Árabes apreciaram a grandeza da
obra de Ptolomeu, trazendo-a para o Ocidente. Sua Astronomia obteve um nome
árabe (Almagesto) e a sua Geografia foi traduzida para o arábico no início do
século IX. Seus quatro (4) livros sobre astrologia (Tetrabiblos) também
chegaram ao Ocidente através dos Árabes.
Ptolomeu via a influência astral como
puramente física, apenas como uma entre muitas outras forças. Admitia que a
astrologia não era mais exata do que qualquer outra ciência, embora isso não
constituísse razão para que uma observação da correspondência de acontecimentos
terrestres com celestes, não resultassem em algumas previsões úteis – embora
não matematicamente certas.
Com esse espírito prático, Ptolomeu
construiu os alicerces da mais duradoura das ciências ocultas e, dos quatro
livros do seu Tetrabiblos, os dois primeiros sobre geografia astrológica e
previsão do tempo, abrangem as influências dos corpos celestes sobre
acontecimentos físicos terrestres. E os dois últimos cobrem a sua influência
sobre acontecimentos humanos.
A aventura ptolomaica no mundo oculto
da astrologia sobreviveria mesmo às suas obras nos campos mais familiares da
ciência moderna. O livro “De Revolutionibus” (de Copérnico) confirmou
a influência dominante do Almagesto de Ptolomeu. Somente meio século depois,
quando a “Astronomia” (de Brahe) substituiu o catálogo de estrelas de Ptolomeu
por um novo baseado em observações independentes, os dados deste tornaram-se
finalmente obsoletos.
As afirmações de astrólogos pagãos
perturbaram os profetas do Cristianismo. Os padres da Igreja que declararam o
seu próprio poder de prever o destino do homem no outro mundo invejavam os
poderes daqueles que pretendiam saber o destino de cada homem da Terra. Se o
horóscopo dos astrólogos significava o que diziam, onde estaria o espaço para o
livre arbítrio de preferir o bem ao mal ou de trocar César por Jesus Cristo?
A própria luta para se tornar cristão
– abandonar a superstição pagã em favor do livre arbítrio cristão – parecia ser
uma luta contra a astrologia. Santo Agostinho, por exemplo, lutou para rejeitar
“as adivinhações” mentirosas e os devaneios dos astrólogos.
Dois de seus maiores amigos
recordaram-lhe que “não existia tal arte para prever coisas futuras”, mas que
“as conjecturas dos homens eram uma espécie de loteria” e que, das coisas que
eles diziam que aconteceriam, algumas certamente ocorreriam sem nada terem a
ver com os que as tinham dito.
Teólogos cristãos da Idade Média
conseguiram encontrar usos sagrados para a crença nos poderes astrais. São
Tomás de Aquino admitia forte influência das estrelas, mas insistia em que a
liberdade do homem era a sua própria força para resistir a essa influência.
Dizia ele que mesmo que os astrólogos
fizessem predições verdadeiras, estas respeitavam acontecimentos em que estavam
envolvidos grande número de pessoas e, em tais casos, as paixões da maioria
prevaleciam contra a sabedoria da minoria; mas o livre arbítrio do indivíduo
cristão não fora exercido.
Os teólogos medievais aproveitaram a
crença na astrologia para reforçar as verdades do Cristianismo. Eles gostavam
de lembrar a perdição astrológica do nascimento de Jesus Cristo, dado à luz por
uma virgem.
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