Quais Foram as Consequências do Surgimento das Línguas Latinas na Europa? Que Línguas se Originaram das Línguas Germânicas? Qual Foi a Influência do Francês na Formação da Língua Sheakesperiana?
À medida que o livro impresso foi
prosperando durante a Idade Média, acarretou o trinfo das línguas do povo que
se tornaram as línguas do saber na Europa. As literaturas impressas moldaram o
pensamento de duas formas: _ democratizaram, mas também o tornaram provinciano.
Quando apareceram obras científicas em inglês, francês, italiano, espanhol,
alemão e holandês novas comunidades tiveram acesso ao mundo da ciência, que se
tornou pública como jamais foram antes.
Mas, quando o latim foi
destronado por línguas nacionais ou regionais, o saber também se tornou
nacional ou regional. O saber acumulado de todos os tempos anteriores passou a
estar acondicionado em embalagens que só podiam ser abertas pelas pessoas de um
determinado lugar. À medida que a palavra escrita – agora impressa – se tornou
mais popular, a literatura adquiriu os ingredientes de distração, fantasia e
aventura. Então, o entretenimento passou a ser respeitado.
É difícil dizer quantas línguas
existiam na Europa antes da imprensa, pois alguns estudiosos identificaram
cerca de três mil não contando os dialetos. No século XII quando um estudante
da Normandia ia para uma universidade em Paris, não entendia a fala dos
estudantes de Marselha, pois ainda não havia um francês padrão. Problemas
similares atormentavam estudantes de Bolonha, Heidelberg ou de Oxford, pois
ainda não havia um italiano, um alemão ou um inglês padrão.
Com poucas exceções, as línguas
faladas na Europa pertencem à família indo-europeia e derivam de uma língua
falada na Europa setentrional em tempos pré-históricos. No fim da Idade Média,
a maioria das línguas falada na Europa pertencia a um de dois grupos:
·
As
línguas “Românicas” (faladas dentro das fronteiras do Império
Romano; isto é, do Canal da Inglaterra para o sul até o Mediterrâneo e dos
Alpes e do Mar Adriático para ocidente, até o Atlântico) derivam do latim e
viriam a se tornar o francês, o italiano, espanhol e o português.
·
As
línguas “Germânicas” (faladas no Norte e no Leste do Império
Romano, a partir do Atlântico até o Báltico e do Reno e dos Alpes na direção do
mar do Norte e do oceano Ártico), as quais deram origem ao islandês, inglês,
flamenco, holandês, alemão, dinamarquês, sueco e norueguês.
Embora a Igreja e as
universidades ainda mantivessem o latim, a fala do dia-a-dia enveredou por
caminhos caprichosos. Carlos Magno reconheceu isso quando ordenou que os
sermões fossem pregados na língua “Românica” rústica. O desmembramento de seu
império elevou os vernáculos a uma categoria oficial. O 1º escrito numa língua
francesa foi o Juramento de Estrasburgo de 842, quando os juramentos de aliança
do neto de Carlos Magno (Carlos, o Calvo) com o exército de seu irmão (Luis, o
Germano) foram feitos nos seus próprios vernáculos.
Na França, os dois dialetos mais
falados foram a língua de “oil” da Ilha de França e Paris e a
língua de “oc” da Provença, no Sul. Essas designações deviam-se
às palavras diferentes para dizer “sim” nas duas regiões, mas ambas as línguas
produziam uma literatura rica e principalmente oral. O dialeto usado em Paris –
conhecido por “francien” – estava destinado a prevalecer, o que
significou que a língua de Paris veio a ser a língua da França e, em 1539, o
rei Francisco I tornou-a a língua oficial do país.
O aliado mais forte de Francisco
I foi a imprensa e 1 século depois de Gutenberg a edição de livros era um
negócio florescente. Em 40 cidades tinham tipografias e onde quer que existisse
uma universidade, um tribunal ou um parlamento havia um mercado para livros
impressos. À medida que os livros se multiplicavam, o alfabetismo aumentava e a
literatura do vernáculo era enriquecida.
Nas províncias, a palavra falada
continuava a prevalecer. Os serões das aldeias abrilhantavam o Inverno com
pessoas letradas, contadores de histórias e professores que liam alto histórias
conhecidas. Nas cidades, as próprias oficinas tipográficas criavam novos
leitores e escritores. Artesãos, boticários, cirurgiões e metalúrgicos
dependiam de manuais escritos para que alguém lesse em voz alta enquanto
trabalhavam. Esses grupos de leitura se tornaram protótipos das reuniões
secretas das quais resultou a Reforma Protestante.
A língua nacional da França
encontrou um eloquente defensor em Joachim du Bellay que, aos 27 anos, escreveu
o manifesto do círculo literário. E, quando ele conheceu Pierre Ronsard,
sentiram-se irmanados pelo seu amor ao francês e pelo fato de serem ambos
surdos. Eles dedicaram seus talentos a cultivar a palavra escrita. Bellay
escreveu os primeiros sonetos de amor em francês e o seu êxito inspirou poetas
ingleses a fazer o mesmo.
Enquanto o francês tinha resíduos
de um império desintegrado (o Romano), a ascendência da língua alemã moderna
era muito diferente. Os vernáculos românicos (francês, espanhol,
português e italiano) competiam com o vernáculo do Império Romano e a riqueza
da literatura latina. Os vernáculos germânicos – que não eram
resíduos de um império em declínio, mas sementes de uma civilização em ascensão
– tinham o terreno para si próprios.
No século VIII, quando surgiram
as primeiras versões escritas de algo semelhante à língua alemã, os dialetos
locais ainda prevaleciam entre o povo e não havia nenhuma língua padrão nas
áreas da Alemanha moderna. Quando Martinho Lutero empreendeu a tradução da
Bíblia escolheu o dialeto alto alemão usado pelos ducados da Saxônia e, dessa
forma, ele criou a norma para o alemão moderno.
Deu dignidade ao vernáculo e
estabeleceu uma língua nacional. A Inglaterra foi igualmente uma terra de
muitas línguas e, enquanto Gutenberg imprimia sua Bíblia, os documentos
oficiais do governo inglês ainda eram escritos em francês jurídico. Um século
depois de o inglês ter se tornado língua oficial, Shakespeare escreveu as suas
peças.
William Caxton fez tanto como
qualquer outro homem antes de Shakespeare para popularizar a língua inglesa.
Aos 16 anos tornou-se aprendiz de mercador de têxteis que se tornou lorde e, quando este morreu, Caxton
se mudou para Bruges que era um centro de comércio e cultura. Durante os vinte
anos seguintes, ele enriqueceu no seguimento têxtil e foi escolhido presidente
de uma poderosa associação mercantil.
Aos 50 anos era conselheiro
financeiro da irmã de Eduardo IV – Margarida, duquesa de Borgonha. Descontente
com os negócios dedicou-se à literatura e, em 1470, a duquesa incentivou-o a
traduzir para o inglês as histórias de Troia. Em princípio a obra circulou sob
a forma de manuscrito, mas a procura era tanta que os escribas não conseguiram
produzir cópias suficientes.
Caxton foi a Colônia aprender a
nova arte de imprimir e regressou a Bruges, onde instalou sua própria imprensa.
Ao longo dos 15 anos seguintes publicou 100 títulos, os quais contribuíram
muito para popularizar a língua literária – e, com o tempo, a falada – e transformá-la
na língua da Inglaterra.
Caxton começou a publicar tantos
dialetos quantos condados existentes na Inglaterra, pois a linguagem era muito
variada e os dialetos não eram muito inteligíveis. Para uma dona de casa, o
inglês falado por um mercador de Londres parecia francês. Para os livros que
imprimiu,
Caxton escolheu a língua de
Londres e da corte, mas publicou pelo menos 20 livros com traduções suas do
francês, latim ou holandês. Sua lista não incluía apenas obras religiosas, mas
quase todo gênero de livro conhecido no seu tempo. Caxton foi o parteiro de uma
literatura inglesa florescente, publicando poemas, poesias, a versão da lenda
de Cícero e as fábulas de Esopo.
Antes dele o futuro era incerto e
também era concebível que a língua literária das Ilhas britânicas pudesse vir a
ser uma versão do francês. Os invasores germânicos no século V tinham levado
consigo a língua germânica ocidental, a qual se tornou o inglês antigo. Mas
depois da conquista normanda, o francês passou a ser a língua oficial da corte
e, só gradualmente, o inglês destronou o francês.
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