sexta-feira, 18 de agosto de 2023

A Formação da França e o Poder da Monarquia no Século XVI

 

Quais as Relações Entre o Catolicismo e os Senhores Feudais? Como os Calvinistas se Relacionavam Com a Burguesia Francesa? Qual Era o Poder da Igreja Nessa Época? Que Fatores Ajudaram a Desenvolver o Absolutismo?    



 

No século XI, a França era um reino unido apenas no nome, pois estava dividida em vários condados mais extensos que o domínio real e, praticamente, todos independentes.

Mas, a partir do século XII, a monarquia francesa empreendeu uma política que visava submeter os senhores feudais ampliando os domínios reais e, para isso, aliou-se à Igreja e à burguesia – que enxergavam na realeza uma proteção contra os abusos dos senhores feudais. No começo do século XIV, os Valois ascenderam ao trono e a França já havia praticamente concluído sua formação territorial, onde o poder real era bastante forte.

No entanto, contra a Inglaterra na Guerra dos Cem Anos (1337 / 1453), a monarquia cortou a centralização que estava em curso, embora separasse definitivamente os dois reinos e contribuísse para desenvolver o sentimento nacional francês, identificando a figura do rei com a grandeza nacional.

Além disso, o conflito conduziu-se na organizar de um exército real permanente, o qual era sustentado por impostos diretos – o que deu força e riqueza à realeza, consolidando assim o poder monárquico. Nessa época, Francisco I e Henrique II apresentavam-se com absolutos poderes e, conforme eles próprios, respondiam somente a Deus.

Eles possuíam importantes meios de ação como numerosos exércitos, bons serviços públicos (legislação, justiça e fazenda) e funcionários leais que velavam pela execução das ordens reais.

O poder era tanto que a própria Igreja foi colocada sob as ordens da monarquia – graças a Concordata de Bolonha (1516) – que permitia aos reis disporem dos bens eclesiásticos, convocar concílios, nomear bispos e até usar as rendas dos bispados vagos.

Consolidou-se a tendência ao dirigismo econômico mediante uma política mercantilista, a fim de aumentar a quantidade de metais preciosos, seja impedindo sua saída ou estabelecendo elevados impostos sobre as mercadorias importadas.

Na política externa, as Guerras da Itália (1494 / 1559) representaram o aspecto marcante desses dois reinados. Seja pelo desejo de conquistar ricos territórios, seja pelo interesse da monarquia em utilizar a nobreza em um empreendimento externo – o que permitiria consolidar a autoridade real na França – os soberanos franceses procuraram dominar a Península Italiana.

Mas, na 2ª metade do século XVI a sucessão de monarcas menores (Francisco II, Carlos IX e Henrique III) representou certo recuo do Absolutismo, sobressaindo a figura da regente (e Rainha Mãe) Catarina de Médici que estava envolvida nas rivalidades entre as famílias aristocráticas.

Dentre essas famílias se destacam os Guise e os Bourbon que contestaram a autoridade real e, consequentemente, a Guerra de Religião (1562 / 1598) em que os Guise se apresentavam defensores do catolicismo e os Bourbon lideravam os calvinistas. Sendo assim, podemos dizer que o catolicismo se identificava muito mais com o feudalismo, ao passo que o calvinismo se associava mais aos anseios da burguesia.

As guerras civis acabaram favorecendo o desenvolvimento do Absolutismo que foi reforçado durante o reinado de Henrique IV – o primeiro monarca da dinastia dos Bourbon – o qual, durante seu governo, empreendeu uma eficaz política econômica.

Adotando práticas mercantilistas procuraram recuperar a economia, estimulando a agricultura (mediante a drenagem dos pântanos, incentivando a criação do bicho-da-seda e o cultivo da amoreira), desenvolvendo a criação de manufaturas, favorecendo a exportação, entravando a importação e iniciando a colonização da América, com os primeiros estabelecimentos no Canadá – onde fundou Quebec.

Após o assassinato de Henrique IV, seu filho – Luís XIII – assumiu o poder, convertendo Richelieu em primeiro-ministro que estava empenhado em consolidar o Absolutismo, projetar a França no cenário internacional e aplicar um Mercantilismo comercialista.

Richelieu reprimiu qualquer oposição ao poder real, executou conspiradores da nobreza e retirou privilégios dos calvinistas que os convertiam em verdadeiro Estado dentro do Estado. Manteve a liberdade ao culto religioso e aos direitos civis iguais aos dos católicos, mas suprimiu o direito de os calvinistas possuírem exércitos e assembleias políticas.

O Cardeal Richelieu dedicou especial atenção às atividades comerciais, favoreceu a construção naval, a melhoria dos portos, canais e estradas. Criou companhias comerciais e impulsionou a colonização da Guiana Francesa, do Canadá e Antilhas (São Domingo, Martinica, etc.). Externamente, não vacilou em se aliar a príncipes protestantes alemães e suecos a fim de abater o poderio dos Habsburgo, que reinava na Espanha e no Sacro Império Romano-Germânico.

Mais tarde, sob o reinado de Luís XIV a França se tornou o ponto culminante do Absolutismo monárquico, espalhando sua hegemonia por toda Europa. Mas, devido à minoridade do rei assumiu o primeiro-ministro o Cardeal Mazarino, o qual estava empenhado em concluir a Guerra dos Trinta Anos.

O governo Mazarino realizou uma política fiscal impopular, pois os novos impostos atingiam indivíduos de todas as classes e a nobreza togada procurou readquirir privilégios perdidos ou obter vantagens. Daí veio a rebelião das Frondas (1648 / 1652) se constituiu na última tentativa de resistência da nobreza ao Absolutismo.

Após a morte de Mazarino (1661) Luís XIV passou a exercer o governo, não admitindo qualquer contestação à sua autoridade e, muito menos, a continuação de ministeriados (como ocorria desde Henrique IV). Consciente do ofício de rei, Luís XIV subordinou a Estado à sua vontade e ocupou-se pessoalmente de questões mais importantes. Ele se preocupou com a unidade religiosa do reino e suprimiu aos calvinistas a liberdade de culto.

Medida desastrosa que provocou a emigração de milhares de indivíduos, os quais a fim de manterem suas crenças, buscaram refúgio na Inglaterra, na Holanda e em Brandeburgo. Com isso, a economia francesa foi abalada e os esforços anulados – em parte.

Quanto à política externa, Luís XIV levou a França à inúmeras guerras a fim de ampliar seus territórios até o Reno e fortalecer seu poderio, em detrimento de outros reinos rivais europeus. E, justamente por isso, chocou-se com Viena e Madri cujos domínios limitavam-se com a França.

As desastrosas guerras de Luís XIV e sua malsucedida política religiosa deixaram a França em situação precária. Sob seus sucessores a crise do Antigo Regime tendeu a se aprofundar devido aos conflitos internos, às críticas do Iluminismo, às transformações socioeconômicas – expressas no fortalecimento econômico-cultural da burguesia – e ao agravamento do descontentamento das massas populares urbanas e rurais.

 

 

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