segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Liberalismo – a Economia Como Ciência

 

Quais os Principais Motivos Que Conduziram a Sociedade Mercantilista ao Liberalismo Econômico? Qual Foi o Papel de Adam Smith Nesse Processo? Quais as Diferenças Entre os Fisiocratas e os Liberais?

 


 As reações à política mercantilista instalada entre os séculos XVI e XVII acabaram conduzindo a sociedade ao Liberalismo econômico, o qual era defendido por duas importantes escolas que se desenvolveram na França e na Inglaterra. E, nesse período, iniciou-se a fase científica da Economia, ao mesmo tempo em que as grandes nações passavam por profundas modificações.

Com as descobertas de Kay Lewis a Inglaterra se transformou, uma vez que os novos métodos de produção nos setores têxtil e metalúrgico conduziram a nação à Revolução Industrial. Em consequência dos métodos administrativos e da política tributária de Luís XIV e Luís XV na França, corporificaram-se manifestações em favor de uma reforma radical nas concepções sobre o trabalho, o consumo, a distribuição das propriedades e tributos. A partir dos trabalhos de Locke, Newton e Leibnitz ampliaram-se as perspectivas nos setores das ciências morais, físicas e matemáticas.

Sendo assim, houve progressos intelectuais e as aptidões potenciais dos homens, desenvolvendo-se os ideais racionalistas. Isso influenciou as correntes do pensamento econômico e contribuiu para a formação de um conjunto de teorias que suplantassem as do período pré-científico da Economia. Não se pode negar que o século XVIII foi o palco de inúmeros conflitos de ponto de vista, mas foi exatamente esta diversidade de opiniões – aliada às tentativas racionalistas – que conduziram à revisão das ideias econômicas que predominaram nos séculos anteriores.

A França – berço do Liberalismo – vivia momentos difíceis nas últimas décadas do período mercantilista. Os lavradores e burgueses se levantaram contra a política absolutista da Monarquia decadente, pois os monopólios concedidos pelos reis eram alvo de ferrenhas críticas. Os regulamentos das corporações – que reuniam os artesãos urbanos – não atendiam à mentalidade do capitalismo industrial, impedindo que se expandisse a densidade empresarial. A intranquilidade política e a insolvência internacional foram agravadas pela perda da Índia e do Canadá – dois importantes elementos do império colonial francês. Além disso, a política econômica beneficiava cerca de 600 mil habitantes, em prejuízo de 24 milhões que viviam em deplorável estado de pobreza.

Para agravar ainda mais a situação social, política e econômica, o sistema tributário francês se baseava em pesados encargos sobre os artífices, mercadores e lavradores, a fim de permitir isenção aos nobres e ao clero. Além disso, era enorme a pressão tributária sobre a atividade agrícola e, o resultado da tributação rural, era que “o rei, o padre e o lorde embolsavam 75% das rendas totais do lavrador médio”.

É natural que novos ideais tenham sido gerados por esse anacrônico sistema social, pois já nas primeiras décadas do reinado de Luís XV, foram apontados erros do Mercantilismo pelos percursores de uma nova escola: _ a Fisiocracia. Seu fundador foi François Quesnay, cujas ideias eram diametralmente opostas às práticas absolutistas do Estado monárquico. Ele acreditava que as atividades econômicas não deveriam ser excessivamente regulamentadas e tampouco coordenadas por “forças exteriores antinaturais”. E, como ele, os demais fisiocratas defendiam maior liberdade para as atividades econômicas e a conservação do produto dessas atividades.

O Liberalismo econômico defendido pelos fisiocratas foi a base da Escola Clássica de Economia, desenvolvida na Inglaterra e começou com a publicação da obra de Adam Smith – “A Riqueza das Nações”. Smith se opôs às ideias mercantilistas, considerando que a riqueza e o poder nacionais não deveriam se limitar aos estoques de metais preciosos. Como riqueza das nações, Adam Smith não entendia a mesma coisa que os mercantilistas, pois ele não se interessava em maior poderio militar e nem em manter a nobreza. Em vez disso, ele se preocupava com a elevação do nível de vida de toda a população e, numa época em que a democracia se generalizava, Smith expressou a preocupação pelo bem-estar econômico de todos os membros da sociedade.

Por defender o individualismo e propor o Liberalismo, o pensamento de Adam Smith tem vários pontos convergentes com a teoria dos fisiocratas. Todavia, os analistas não admitem que a obra de Smith tenha sido, em qualquer momento, influenciada pelos fisiocratas. É verdade que, enquanto estava em Paris, Smith manteve contatos com Quesnay, mas o fato é que ele construiu com alicerces próprios seu esquema de análise da realidade econômica. Além disso, a Teoria Clássica não nasceu de pressões geradas por convulsões sociais, mas sim da análise das possibilidades de manutenção da ordem econômica através do Liberalismo e ainda da interpretação das mudanças tecnológicas produzidas no sistema econômico pela Revolução Industrial.

Os seguidores de Quesnay foram economistas preocupados com sistema tributário, social e econômico, enquanto os de Smith foram filósofos que se ocuparam em estabelecer as bases de uma nova Filosofia Moral. O “Tratado Econômico” de Quesnay representa uma tentativa de estabelecer o fluxo da riqueza, através do qual se evidenciaram as arbitrariedades do sistema tributário e o anacronismo da situação social. Já a obra de Smith (“A Riqueza das Nações”) é uma tentativa de construção de uma filosofia social completa, estabelecendo princípios para a análise do valor, da divisão do trabalho, dos lucros, dos juros e das rendas da terra e desenvolve teorias sobre a distribuição, o crescimento econômico, a interferência do Estado, a formação e a aplicação do capital.

Adam Smith foi uma das mais importantes figuras de toda história do pensamento econômico, pois ele empreendeu sua tarefa com um equilíbrio impressionante. Era um homem de uma obra sintética e de uma exposição equilibrada, não o de grandes ideias novas. Acima de tudo, ele se esforçou por se informar cuidadosamente dos elementos à sua disposição, os quais criticou racionalmente. Para alguns estudiosos, Adam Smith formulou julgamentos que coordenavam de forma harmônica, utilizando apenas elementos preexistentes, mas “dotado de um espírito luminosamente esclarecido, elaborando uma obra grandiosa fruto do trabalho de toda sua vida”.


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