quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

A Primeira Guerra Mundial e o Declínio da Europa

 

Que Regimes Políticos Constitucionais Sustentavam a Europa no Início do Século XX? O Que Era a Tríplice Aliança? Quais os Principais Acontecimentos Que Precipitaram a Primeira Guerra?

 

 


 

No final do século XIX, a Europa brilhava sobre o mundo e vivia-se o apogeu da sociedade liberal. Mas, o apogeu sempre traz o germe da mudança e, esse germe, eram as próprias contradições do sistema capitalista: a miséria do proletariado em meio à abundância, as crises de superprodução, a frenética busca de mercados, os problemas sociais e econômicos.

Todos esses problemas geraram a crise do mundo liberal capitalista, e a Primeira Guerra Mundial marcou o início da crise geral. Mesmo às vésperas do conflito, os homens não acreditavam na possibilidade de uma guerra generalizada e, no máximo, uma guerra rápida e localizada como as ocorridas no século XIX.

Mas, o longo período de paz mantida desde o fim das guerras napoleônicas e o equilíbrio europeu terminava. A Europa não brilhava mais sobre o mundo e os problemas sociais e econômicos se agravavam, pois a classe média se pauperizava e a pressão operária aumentava.

Em meio à guerra, a Revolução Socialista explodia na Rússia e representava uma ameaça para a Europa, e, diante do “perigo vermelho”, surge a questão: _ Como reagiriam os industriais e financistas do mundo capitalista?

 

A Hegemonia Europeia em 1914

 

Apesar do desenvolvimento dos EUA e do Japão, em 1914 a Europa ainda exercia grande supremacia econômica e política sobre o resto do planeta. Supremacia econômica porque controlava a maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os preços no mercado mundial. Supremacia política porque na sua expansão o capitalismo europeu levou à necessidade de se controlar os países da Ásia, África, América Latina e Oceania.

Dos 23 Estados europeus, 20 eram monarquias e só a França, a Suíça e Portugal eram Repúblicas. Predominavam regimes políticos constitucionais, mas o parlamentarismo – forma típica do liberalismo político – limitava-se à Grã-Bretanha e à França. Os demais países possuíam formas autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha.

Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza predominava e, na maioria dos Estados da Europa Ocidental, a industrialização colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. A ameaça de uma revolução social parecia remota naquele momento porque a maioria dos partidos socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do liberalismo. As únicas exceções eram algumas facções de esquerda como os bolchevistas russos.

Só os EUA e o Japão se colocavam fora da influência europeia disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”, pois em 1914, os EUA já se apresentavam como uma potência econômica mundial, controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da Europa. E, após sua abertura ao Ocidente, o Japão desenvolveu-se rapidamente passando a integrar-se ao círculo das nações imperialistas e se lançando sobre a China e a Manchúria – na Ásia.

 

Os Choques Internacionais e os Sistemas de Alianças

 

O clima internacional na Europa era carregado de antagonismos que se expressavam na formação de alianças secretas e de sistemas de alianças, tornando a ameaça de uma guerra inevitável. O desenvolvimento desigual dos países capitalistas – a partir de fins do século XIX – levara países que chegaram tarde à competição internacional (como a Alemanha) a reivindicarem uma re-divisão do território econômico mundial.

Cada vez mais aumentou a rivalidade pela luta por mercados consumidores, pela aquisição de matérias-primas fundamentais. Essa rivalidade ocorreu entre as economias das diversas regiões do mundo pela expansão do capitalismo. Daí o caráter mundial do conflito. Havia muitos pontos de atrito entre as potências, tais como:

 

a) O Anglo-Germânico: a Alemanha – unificada tardiamente – já havia desalojado a Inglaterra da sua posição de “oficina do mundo”; entretanto, não possuía colônias, áreas de investimentos e outros mercados correspondentes ao seu poderio econômico, daí a política agressiva expressada também na corrida naval, o que foi considerado uma ameaça à hegemonia marítima inglesa.

b) O Franco-Alemão: Girando em torno da questão da Alsácia / Lorena, territórios franceses anexadas à Alemanha em 1871. Os alemães também se opunham à penetração francesa no Marrocos.

c) O Austro-Russo: Acentuado quando os russos voltaram sua atenção aos Bálcãs; nestes, a política russa foi de apoio à Sérvia, foco de agitação nacionalista anti-austríaca.

d) O Russo-Alemão: Em torno do controle do estreito de Dardanelos, já que a rota do expansionismo russo cortava a do imperialismo alemão (Berlim / Bagdá).

e) O Austro-Sérvio: Nos Bálcãs, a Sérvia fomentava as agitações nacionalistas dentro do Império Austro-Húngaro, sendo constante fonte de atritos; assim aconteceu na crise internacional de 1908, quando a Áustria ocupou a Bósnia-Herzegovina cobiçada pela Sérvia e, em 1912, nova crise quando a Áustria exigiu a independência da Albânia. Foi esse último foco de atrito que provocou o início do conflito em 1914, com o assassinato em Sarajevo.

 

Para sustentar o nacionalismo agressivo e o imperialismo beligerante, os países empreenderam a corrida armamentista, desenvolvendo-se a construção naval e aumentando-se os exércitos; ou seja, criou-se a “Paz Armada”. Essa atmosfera de tensão explica a formação de dois sistemas de alianças. Um, a Tríplice Aliança que agrupava a Alemanha, a Áustria-Hungria e a Itália. O único ponto fraco era a Itália, por ser incerta sua atitude na ocasião de um conflito e também por estar se aproximando das potências da “Entente Cordiale”.

O outro sistema era a Tríplice Entente, formada de uma aliança militar (a franco-russa) e dois acordos (a Entente Cordiale – franco-inglesa – e o Acordo Anglo-Russo). Os vínculos entre tais países eram mais frágeis do que aqueles que entrelaçavam o “sistema alemão”. Tinha contra si a fragilidade social, política e econômica da Rússia, sendo também difícil prever o comportamento da Inglaterra antes de iniciar-se um conflito armado.

O sistema de alianças secretas gerou um mecanismo tal que, bastaria um incidente, para desencadear um conflito generalizado. E foi o que aconteceu em julho de 1914, quando o arquiduque – herdeiro do trono austríaco – Francisco Ferdinando foi assassinado em Sarajevo por um estudante da Bósnia-Herzegovina (província austríaca reivindicada pela Sérvia). E, a partir daí os acontecimentos se precipitaram:

 

·                     A Áustria – apoiada pela Alemanha – enviou um ultimato à Sérvia, o qual não sendo atendido integralmente levou os austríacos a declararem guerra aos sérvios.

·                     A Rússia mobilizou suas tropas em defesa da Sérvia, recebendo um ultimato alemão para se desmobilizar.

·                     Em 1º de agosto a Alemanha declarou guerra à Rússia e, dois dias depois, à França.

·                     A Bélgica foi invadida, ignorando a Alemanha a sua neutralidade, o que levou a Inglaterra a declarar-lhe guerra.

 

Embora pertencesse à Tríplice Aliança, a Itália se omitiu, argumentando que o seu compromisso com a Áustria e com a Alemanha previa sua participação apenas no caso de tais países serem agredidos.



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