Que Regimes
Políticos Constitucionais Sustentavam a Europa no Início do Século XX? O Que
Era a Tríplice Aliança? Quais os Principais Acontecimentos Que Precipitaram a
Primeira Guerra?
No final do século XIX, a Europa brilhava sobre o
mundo e vivia-se o apogeu da sociedade liberal. Mas, o apogeu sempre traz o
germe da mudança e, esse germe, eram as próprias contradições do sistema
capitalista: a miséria do proletariado em meio à abundância, as crises de
superprodução, a frenética busca de mercados, os problemas sociais e
econômicos.
Todos esses problemas geraram a crise do mundo
liberal capitalista, e a Primeira Guerra Mundial marcou o início da crise
geral. Mesmo às vésperas do conflito, os homens não acreditavam na
possibilidade de uma guerra generalizada e, no máximo, uma guerra rápida e
localizada como as ocorridas no século XIX.
Mas, o longo período de paz mantida desde o fim das
guerras napoleônicas e o equilíbrio europeu terminava. A Europa não brilhava
mais sobre o mundo e os problemas sociais e econômicos se agravavam, pois a
classe média se pauperizava e a pressão operária aumentava.
Em meio à guerra, a Revolução Socialista explodia
na Rússia e representava uma ameaça para a Europa, e, diante do “perigo
vermelho”, surge a questão: _ Como reagiriam os industriais e financistas do
mundo capitalista?
A
Hegemonia Europeia em 1914
Apesar do desenvolvimento dos EUA e do Japão, em
1914 a Europa ainda exercia grande supremacia econômica e política sobre o
resto do planeta. Supremacia econômica porque controlava a
maior parcela da produção mundial, 62% das exportações de produtos fabris e
mais de 80% dos investimentos de capitais no exterior, dominando e ditando os
preços no mercado mundial. Supremacia política porque na sua
expansão o capitalismo europeu levou à necessidade de se controlar os países da
Ásia, África, América Latina e Oceania.
Dos 23 Estados europeus, 20 eram monarquias e só a
França, a Suíça e Portugal eram Repúblicas. Predominavam regimes políticos
constitucionais, mas o parlamentarismo – forma típica do liberalismo político –
limitava-se à Grã-Bretanha e à França. Os demais países possuíam formas
autoritárias de governo, como a Áustria-Hungria e a Alemanha.
Nos países da Europa Centro-Oriental a nobreza
predominava e, na maioria dos Estados da Europa Ocidental, a industrialização
colocara frente a frente a burguesia e a classe operária. A ameaça de uma
revolução social parecia remota naquele momento porque a maioria dos partidos
socialistas tendia à moderação, aderindo ao jogo político do liberalismo. As
únicas exceções eram algumas facções de esquerda como os bolchevistas russos.
Só os EUA e o Japão se colocavam fora da influência
europeia disputando com o capitalismo europeu “áreas de influência”, pois em
1914, os EUA já se apresentavam como uma potência econômica mundial,
controlando pequena parcela do mercado mundial e recebendo investimentos da
Europa. E, após sua abertura ao Ocidente, o Japão desenvolveu-se rapidamente passando
a integrar-se ao círculo das nações imperialistas e se lançando sobre a China e
a Manchúria – na Ásia.
Os
Choques Internacionais e os Sistemas de Alianças
O clima internacional na Europa era carregado de
antagonismos que se expressavam na formação de alianças secretas e de sistemas
de alianças, tornando a ameaça de uma guerra inevitável. O desenvolvimento
desigual dos países capitalistas – a partir de fins do século XIX – levara
países que chegaram tarde à competição internacional (como a Alemanha) a
reivindicarem uma re-divisão do território econômico mundial.
Cada vez mais aumentou a rivalidade pela luta por
mercados consumidores, pela aquisição de matérias-primas fundamentais. Essa
rivalidade ocorreu entre as economias das diversas regiões do mundo pela
expansão do capitalismo. Daí o caráter mundial do conflito. Havia muitos pontos
de atrito entre as potências, tais como:
a) O Anglo-Germânico: a Alemanha – unificada
tardiamente – já havia desalojado a Inglaterra da sua posição de “oficina do
mundo”; entretanto, não possuía colônias, áreas de investimentos e outros
mercados correspondentes ao seu poderio econômico, daí a política agressiva
expressada também na corrida naval, o que foi considerado uma ameaça à
hegemonia marítima inglesa.
b) O Franco-Alemão: Girando em torno da questão da
Alsácia / Lorena, territórios franceses anexadas à Alemanha em 1871. Os alemães
também se opunham à penetração francesa no Marrocos.
c) O Austro-Russo: Acentuado quando os russos
voltaram sua atenção aos Bálcãs; nestes, a política russa foi de apoio à
Sérvia, foco de agitação nacionalista anti-austríaca.
d) O Russo-Alemão: Em torno do controle do estreito
de Dardanelos, já que a rota do expansionismo russo cortava a do imperialismo
alemão (Berlim / Bagdá).
e) O Austro-Sérvio: Nos Bálcãs, a Sérvia fomentava
as agitações nacionalistas dentro do Império Austro-Húngaro, sendo constante
fonte de atritos; assim aconteceu na crise internacional de 1908, quando a
Áustria ocupou a Bósnia-Herzegovina cobiçada pela Sérvia e, em 1912, nova crise
quando a Áustria exigiu a independência da Albânia. Foi esse último foco de
atrito que provocou o início do conflito em 1914, com o assassinato em
Sarajevo.
Para sustentar o nacionalismo agressivo e o
imperialismo beligerante, os países empreenderam a corrida armamentista,
desenvolvendo-se a construção naval e aumentando-se os exércitos; ou seja,
criou-se a “Paz Armada”. Essa atmosfera de tensão explica a formação de dois
sistemas de alianças. Um, a Tríplice Aliança que agrupava a Alemanha, a
Áustria-Hungria e a Itália. O único ponto fraco era a Itália, por ser incerta
sua atitude na ocasião de um conflito e também por estar se aproximando das
potências da “Entente Cordiale”.
O outro sistema era a Tríplice Entente,
formada de uma aliança militar (a franco-russa) e dois acordos (a Entente
Cordiale – franco-inglesa – e o Acordo Anglo-Russo). Os vínculos entre tais
países eram mais frágeis do que aqueles que entrelaçavam o “sistema alemão”.
Tinha contra si a fragilidade social, política e econômica da Rússia, sendo
também difícil prever o comportamento da Inglaterra antes de iniciar-se um
conflito armado.
O sistema de alianças secretas gerou um mecanismo
tal que, bastaria um incidente, para desencadear um conflito generalizado. E
foi o que aconteceu em julho de 1914, quando o arquiduque – herdeiro do trono
austríaco – Francisco Ferdinando foi assassinado em Sarajevo por um estudante
da Bósnia-Herzegovina (província austríaca reivindicada pela Sérvia). E, a
partir daí os acontecimentos se precipitaram:
·
A Áustria – apoiada pela Alemanha – enviou um
ultimato à Sérvia, o qual não sendo atendido integralmente levou os austríacos
a declararem guerra aos sérvios.
·
A Rússia mobilizou suas tropas em defesa da Sérvia,
recebendo um ultimato alemão para se desmobilizar.
·
Em 1º de agosto a Alemanha declarou guerra à Rússia
e, dois dias depois, à França.
·
A Bélgica foi invadida, ignorando a Alemanha a sua
neutralidade, o que levou a Inglaterra a declarar-lhe guerra.
Embora pertencesse à Tríplice Aliança, a Itália se
omitiu, argumentando que o seu compromisso com a Áustria e com a Alemanha
previa sua participação apenas no caso de tais países serem agredidos.
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