Em Que Alicerces se Baseava a Teoria Clássica do
Emprego? E a Lei de Say? Como Raciocinavam os Teóricos Clássicos Sobre a
Produção Global?
A teoria clássica sobre o
equilíbrio da atividade econômica (ou teoria clássica do emprego)
fundamentava-se em argumentos derivados da confiança que os economistas
liberais dos séculos anteriores depositavam no livre jogo das forças de
mercado, como elemento condutor do equilíbrio geral. A lei de Say – que resumia
com precisão toda argumentação clássica – se baseava na simultaneidade dos
fluxos da produção e da renda.
O próprio modelo dos fluxos
fundamentais dos sistemas econômicos sugere que toda produção gera um
correspondente fluxo de rendimento suficiente para a aquisição de todos os bens
produzidos. Assim, raciocinavam os clássicos, desde que a produção global
atendesse às necessidades da coletividade, não haveria motivo para que certa
parcela dos bens elaborados pelo sistema deixasse de ser adquirida. Consequentemente,
nada indicava que o desemprego pudesse ocorrer, pois desde que o poder de
compra nas mãos da coletividade fosse empregado na aquisição dos bens, nenhum
setor produtivo registraria insuficiente escoamento de sua produção, capaz de
conduzir à paralização de suas atividades. Afinal, a geração simultânea da
produção e da renda coloca nas mãos da coletividade um potencial de compra
suficiente para que todos os bens e serviços produzidos pelo sistema possam ser
consumidos.
Embora tudo indicasse que a
oferta criaria sua própria procura, um importante elemento – a poupança –
poderia interromper esse mecanismo. Se a sociedade destinasse ao consumo todo o
rendimento gerado pelo processamento da produção, não haveria motivos para a
superprodução, o desemprego e o desequilíbrio da atividade econômica. Todavia,
na realidade, a coletividade somente destina ao consumo uma parcela dos
rendimentos percebidos e outra parcela é destinada à poupança. Contudo, a
ortodoxia clássica não acreditava que a poupança pudesse interromper o
funcionamento dos fluxos da produção, da renda e do dispêndio.
Aliás, a doutrina clássica
reconhecia que nem toda renda gerada deveria ser consumida pela coletividade,
mesmo porque uma parte da produção se destina ao investimento. Assim, bastaria
que a poupança se igualasse ao investimento para que o equilíbrio geral fosse
mantido. Colocada a questão nesse termos, os clássicos continuariam confiando
na automaticidade do equilíbrio geral, pois segundo acreditavam, a taxa de
juros garantiria que o volume da poupança sempre resultasse igual ao volume de
investimentos. Como a poupança representa uma renúncia ao consumo, eles
argumentavam que a coletividade somente estaria disposta a poupar se houvesse
compensação econômica para esse renúncia.
Ora, como a compensação econômica
da poupança é a taxa de juros, quanto mais alta esta se encontrasse, maior
deveria ser o volume que a coletividade estaria disposta a poupar e,
inversamente, quanto mais baixa a taxa de juros, menor o volume da poupança
coletiva. De outro lado, como o investimento implica levantamento de recursos
financeiros, os investidores só estariam dispostos a investir quando o custo
dos recursos fosse compensador; isto é, quando a taxa de juros fosse baixa e,
inversamente, as altas taxas de juros desencorajariam os investidores: eles só
estariam dispostos a ampliar suas instalações, adquirir equipamentos ou
construir novas unidades de produção quando a taxa de juros fosse compensatória.
Ora, uma vez que a poupança é
estimulada pelas altas taxas de juros e o investimento é encorajado pelas
baixas taxas de juros, as curvas da poupança e do investimento caminham em
direções inversas, devendo interceptar-se em determinado ponto de equilíbrio.
Todavia, mesmo não funcionando esse mecanismo, o equilíbrio do sistema não
estaria ameaçado. Na opinião dos economistas clássicos, além das variações da
taxa de juros, o nível geral de preços também deveria exercer importante papel
no equilíbrio geral.
Quando o nível da atividade
apresentasse alguma redução, os preços dos produtos tenderiam a baixar, em
razão da competição entre as unidades de produção. Caindo os preços, o volume
da procura global deveria expandir-se, em função do que se recuperaria
facilmente o nível da atividade. Finalmente, para o perfeito funcionamento
desse 2º mecanismo, a diminuição da procura também deveria provocar certa
redução no volume do emprego, cuja consequência seria a diminuição da procura
de mão de obra e dos demais fatores de produção.
Em outras palavras: as flutuações
da taxa de juros e a flexibilidade dos preços dos produtos e das remunerações
dos fatores, sempre garantiriam a manutenção da atividade em regime de pleno
emprego. As oscilações seriam automaticamente corrigidas e a economia de
livre-empresa seria auto ajustável, capaz de se governar a si própria.
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