terça-feira, 11 de maio de 2021

Um Breve Panorama Sobre a Teoria Clássica do Emprego

 

Em Que Alicerces se Baseava a Teoria Clássica do Emprego? E a Lei de Say? Como Raciocinavam os Teóricos Clássicos Sobre a Produção Global?

 

 


 

A teoria clássica sobre o equilíbrio da atividade econômica (ou teoria clássica do emprego) fundamentava-se em argumentos derivados da confiança que os economistas liberais dos séculos anteriores depositavam no livre jogo das forças de mercado, como elemento condutor do equilíbrio geral. A lei de Say – que resumia com precisão toda argumentação clássica – se baseava na simultaneidade dos fluxos da produção e da renda.

 

O próprio modelo dos fluxos fundamentais dos sistemas econômicos sugere que toda produção gera um correspondente fluxo de rendimento suficiente para a aquisição de todos os bens produzidos. Assim, raciocinavam os clássicos, desde que a produção global atendesse às necessidades da coletividade, não haveria motivo para que certa parcela dos bens elaborados pelo sistema deixasse de ser adquirida. Consequentemente, nada indicava que o desemprego pudesse ocorrer, pois desde que o poder de compra nas mãos da coletividade fosse empregado na aquisição dos bens, nenhum setor produtivo registraria insuficiente escoamento de sua produção, capaz de conduzir à paralização de suas atividades. Afinal, a geração simultânea da produção e da renda coloca nas mãos da coletividade um potencial de compra suficiente para que todos os bens e serviços produzidos pelo sistema possam ser consumidos.

 

Embora tudo indicasse que a oferta criaria sua própria procura, um importante elemento – a poupança – poderia interromper esse mecanismo. Se a sociedade destinasse ao consumo todo o rendimento gerado pelo processamento da produção, não haveria motivos para a superprodução, o desemprego e o desequilíbrio da atividade econômica. Todavia, na realidade, a coletividade somente destina ao consumo uma parcela dos rendimentos percebidos e outra parcela é destinada à poupança. Contudo, a ortodoxia clássica não acreditava que a poupança pudesse interromper o funcionamento dos fluxos da produção, da renda e do dispêndio.

 

Aliás, a doutrina clássica reconhecia que nem toda renda gerada deveria ser consumida pela coletividade, mesmo porque uma parte da produção se destina ao investimento. Assim, bastaria que a poupança se igualasse ao investimento para que o equilíbrio geral fosse mantido. Colocada a questão nesse termos, os clássicos continuariam confiando na automaticidade do equilíbrio geral, pois segundo acreditavam, a taxa de juros garantiria que o volume da poupança sempre resultasse igual ao volume de investimentos. Como a poupança representa uma renúncia ao consumo, eles argumentavam que a coletividade somente estaria disposta a poupar se houvesse compensação econômica para esse renúncia.

 

Ora, como a compensação econômica da poupança é a taxa de juros, quanto mais alta esta se encontrasse, maior deveria ser o volume que a coletividade estaria disposta a poupar e, inversamente, quanto mais baixa a taxa de juros, menor o volume da poupança coletiva. De outro lado, como o investimento implica levantamento de recursos financeiros, os investidores só estariam dispostos a investir quando o custo dos recursos fosse compensador; isto é, quando a taxa de juros fosse baixa e, inversamente, as altas taxas de juros desencorajariam os investidores: eles só estariam dispostos a ampliar suas instalações, adquirir equipamentos ou construir novas unidades de produção quando a taxa de juros fosse compensatória.

 

Ora, uma vez que a poupança é estimulada pelas altas taxas de juros e o investimento é encorajado pelas baixas taxas de juros, as curvas da poupança e do investimento caminham em direções inversas, devendo interceptar-se em determinado ponto de equilíbrio. Todavia, mesmo não funcionando esse mecanismo, o equilíbrio do sistema não estaria ameaçado. Na opinião dos economistas clássicos, além das variações da taxa de juros, o nível geral de preços também deveria exercer importante papel no equilíbrio geral.

 

Quando o nível da atividade apresentasse alguma redução, os preços dos produtos tenderiam a baixar, em razão da competição entre as unidades de produção. Caindo os preços, o volume da procura global deveria expandir-se, em função do que se recuperaria facilmente o nível da atividade. Finalmente, para o perfeito funcionamento desse 2º mecanismo, a diminuição da procura também deveria provocar certa redução no volume do emprego, cuja consequência seria a diminuição da procura de mão de obra e dos demais fatores de produção.

 

Em outras palavras: as flutuações da taxa de juros e a flexibilidade dos preços dos produtos e das remunerações dos fatores, sempre garantiriam a manutenção da atividade em regime de pleno emprego. As oscilações seriam automaticamente corrigidas e a economia de livre-empresa seria auto ajustável, capaz de se governar a si própria.


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