quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Os Movimentos Para a Descolonização da Ásia

 Como Se Caracterizaram os Primeiros Movimentos Para a Descolonização da Ásia? Quais Foram as Influências dos EUA e da URSS Nesse Movimento? Qual Foi a Importância de Gandhi na Independência da Índia?




 

A Descolonização da Ásia pode ser descrita como um processo histórico e político ocorrido após a 2ª Guerra, o qual se traduziu na obtenção da independência das colônias europeias situadas na Ásia e na África. Teve seu ritmo regulado pela política de “concessão” de autonomia, embora ambos os continentes tenham sofrido o impacto do imperialismo sob a forma do colonialismo, nos séculos XIX e XX.

A 1ª Guerra, a Grande Depressão e a 2ª Guerra funcionaram como fatores de desintegração dos impérios coloniais. Devido à crise das metrópoles, as colônias haviam incrementado seu desenvolvimento econômico, o que contribuiu para uma tomada de consciência quanto à independência, tanto mais que os conflitos mundiais destruíram o mito da “superioridade do homem branco”, o principal fundamento ideológico do imperialismo e do colonialismo.

A própria valorização dos movimentos democráticos, liberais e socialistas, fortalecidos na luta contra o fascismo, propagou-se nas colônias, onde muitos nativos desejavam usufruir os mesmos benefícios obtidos pelos vencedores.

Além disso, os EUA e a antiga URSS – interessados em ampliar áreas de influência – incentivaram os movimentos de libertação. A Descolonização apresentou dois aspectos fundamentais:

 

·                     De um lado, os países colonizadores sentiram que estava na hora de adotar novas formas de exploração. Daí progressivas concessões políticas, envolvendo a nomeação de nativos, a realização de eleições, a permissão do autogoverno e a independência política.

·                     De outro lado, os afro-asiáticos lutando por uma independência político-econômica, converteu a luta pela independência em uma luta anti-imperialista; assim, a conquista da independência resultou na organização de uma sociedade socialista como ocorreu no Vietnã e em Angola.

 

Cronologicamente, a luta dos povos asiáticos contra o domínio imperialista antecedeu a Descolonização e, desde a 1ª Guerra, multiplicaram-se movimentos nacionalistas que desenvolveram campanhas de libertação, as quais só atingiram seus objetivos após a Segunda Guerra.

Para isso muito contribuiu o enfraquecimento da França e da Inglaterra, principais metrópoles coloniais que não conseguiram se recuperar dos desastres sofridos diante do Japão.

O desmoronamento do mito da “superioridade do homem branco”, amplamente demonstrado com as derrotas diante dos exércitos nipônicos forneceu estímulo às populações asiáticas.

Além disso, o nacionalismo fora encorajado nas colônias pelos próprios países colonizadores beligerantes, visando enfraquecer seus adversários: _ foi o que ocorreu no Oriente Médio, onde os ingleses estimularam o nacionalismo árabe contra os turcos otomanos que dominavam a região até o final da 1ª Guerra Mundial.

 

A Independência da Índia

  

Terminada a 1ª Guerra Mundial, na Índia, a burguesia hindu desenvolveu – através do líder do Partido Nacional Indiano, Mahatma Gandhi – um forte movimento nacionalista.

O programa partidário defendia a autonomia total, uma confederação democrática, a igualdade política para todas as raças, religiões e classes sociais, as reformas socioeconômicas e administrativas e a modernização do Estado.

Pregando a “Resistência Não Passiva” Gandhi recorreu a jejuns, marchas e à desobediência civil (recusa em pagar impostos e não consumo de produtos ingleses) e se converteu na principal figura da luta indiana. Entretanto, as rivalidades entre hindus e muçulmanos retardaram o processo de independência e assim prolongava-se a presença inglesa, que estimulava essas rivalidades.

Com o início da 2ª Guerra, a notícia de um plano japonês de invadir o país e a recusa dos hindus em colaborar com a Inglaterra levaram o governo inglês a prometer a autonomia. As sublevações populares seguidas de violentas repressões dos ingleses levaram o governo a admitir a independência mediante a divisão da Índia em dois estados: _ a República do Paquistão (Oriental e Ocidental), de população muçulmana; e a República da União Indiana (1947).

A independência e a divisão feita estimularam movimentos separatistas de príncipes e diversas populações da Índia. O governo reagiu com firmeza e, mediante diversos processos, como o pagamento de pensões aos príncipes em troca da renúncia de seus poderes, manteve a unidade da Índia.

Pela Constituição de 1950 instituiu-se uma República Federativa e Parlamentar e, após a resolução dos problemas internos, o governo de Jawaharlal Nehru se empenhou em promover o desenvolvimento econômico planejado. O 1º Plano Quinquenal (1951/55) nacionalizou bancos, empresas de seguro e companhias de aviação, mas teve como principal objetivo a agricultura estimulada por técnicas de irrigação e tímidas distribuições de terras.

O 2º Plano Quinquenal (1956/60) colocava metas prioritárias a exploração de matérias primas, o desenvolvimento do ensino e a criação de indústrias com capitais estrangeiros. Apesar dos esforços como a propaganda contra os tabus religiosos (as vacas sagradas), o tradicionalismo (a persistência das castas), os conflitos externos e as catástrofes naturais (enchentes dos rios), as metas não foram atingidas.

O 3º Plano Quinquenal (1961/66) centralizou seus objetivos em dobrar a produção do aço e aumentar a produção agrícola; todavia, a inflação e a crise alimentar comprometeram o seu sucesso. Na política externa, a política de Nehru defendeu uma posição neutra, não se integrando aos blocos liderados pelos EUA e URSS.

No território indiano ainda persistiam enclaves portugueses e franceses. A recusa portuguesa de restituir Goa e Damão levou as tropas indianas a ocupar aqueles territórios em 1961 e, no seguinte, negociações permitiram reintegrar ao Estado hindu as antigas possessões francesas.

Entretanto, entre a Índia e a China as relações diplomáticas tornaram-se tensas, pelas rivalidades decorrentes de disputas pela liderança na Ásia Oriental e por questões de fronteiras. As ligações amistosas com a antiga URSS tornaram mais tensas as rivalidades com a China após a ruptura sino-soviética. Desde 1959 o governo protestou contra a ocupação – pelos chineses – de territórios hindus, resultando choques armados em que a Índia perdeu vastas regiões.

A derrota acentuou as divergências com o Paquistão, que mantinha relações amistosas com a China. O antagonismo se evidenciara com a independência e explodiu a respeito da Caxemira, disputada por paquistaneses e hindus. A tentativa paquistanesa de apoiar um levante interno na Caxemira resultou em conflito, só paralisado pela intervenção da ONU (1965). A Caxemira terminou incorporada à Índia.

A rivalidade entre a Índia e o Paquistão persistiu e nova guerra ocorreu quando a província paquistanesa de Bengala (no Paquistão Oriental) se revoltou e teve a ajuda hindu. Alegando razões humanitárias e a necessidade de impedir a entrada em seus territórios de novos contingentes de famintos, a Índia entrou em vitoriosa guerra com o Paquistão, obrigando-o a reconhecer a independência de Bengala, que se tornou a república de Bangladesh em 1972.

Esses conflitos comprometeram a posição não alinhada da Índia e, as divergências com a China e o Paquistão, acabaram levando o governo de Indira Gandhi (sucessora de Nehru) a assinar um tratado de paz, amizade e cooperação – inclusive militar – com a ex-URSS em 1971. Desse modo, na guerra de 1972, quando a Índia teve a cobertura soviética, o vencido Paquistão foi apoiado pelos EUA e China.

Mas as dificuldades do governo indiano foram grandes, apesar do progresso material na produção de alimentos, no aumento da expectativa de vida e no crescimento dos setores industriais, destacando-se a produção de máquinas, aço, computadores, satélites, foguetes e até a fabricação da bomba atômica. No entanto, persistiam graves problemas na política interna, como foi a continuidade de violentos conflitos étnicos e religiosos.

Um dos mais sérios conflitos envolveu os muçulmanos, cujo santuário principal era o Templo Dourado (no condado do Punjabi). Responsabilizada pela invasão desse santuário, a Primeira Ministra foi assassinada em 1984. Novas eleições levaram Rajiv Gandhi ao poder, mas o aumento da violência entre seguidores de várias religiões e etnias acabou eliminando Rajiv Gandhi.

Em 1993 o governo esboçou reformas para abrir a economia aos investimentos estrangeiros e privatizar empresas estatais. Seguiu-se nova onda de violência entre os separatistas muçulmanos da Caxemira e as forças governamentais. Assim, tudo indica que as divergências religiosas – que no fundo apontam para conflitos de ordem étnica ou de casta – continuarão por algum tempo ainda a agitar a vida política e institucional da Índia.



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