Como Se Caracterizaram os Primeiros Movimentos Para a Descolonização da Ásia? Quais Foram as Influências dos EUA e da URSS Nesse Movimento? Qual Foi a Importância de Gandhi na Independência da Índia?
A Descolonização
da Ásia pode ser descrita como um processo histórico e político ocorrido após a
2ª Guerra, o qual se traduziu na obtenção da independência das colônias
europeias situadas na Ásia e na África. Teve seu ritmo regulado pela política
de “concessão” de
autonomia, embora ambos os continentes tenham sofrido o impacto do imperialismo
sob a forma do colonialismo, nos séculos XIX e XX.
A 1ª
Guerra, a Grande Depressão e a 2ª Guerra funcionaram como fatores de
desintegração dos impérios coloniais. Devido à crise das metrópoles, as
colônias haviam incrementado seu desenvolvimento econômico, o que contribuiu
para uma tomada de consciência quanto à independência, tanto mais que os
conflitos mundiais destruíram o mito da “superioridade do homem branco”,
o principal fundamento ideológico do imperialismo e do colonialismo.
A própria
valorização dos movimentos democráticos, liberais e socialistas, fortalecidos
na luta contra o fascismo, propagou-se nas colônias, onde muitos nativos
desejavam usufruir os mesmos benefícios obtidos pelos vencedores.
Além
disso, os EUA e a antiga URSS – interessados em ampliar áreas de influência –
incentivaram os movimentos de libertação. A Descolonização apresentou dois
aspectos fundamentais:
·
De um
lado, os países colonizadores sentiram que estava na hora de adotar novas
formas de exploração. Daí progressivas concessões políticas, envolvendo a
nomeação de nativos, a realização de eleições, a permissão do autogoverno e a
independência política.
·
De outro
lado, os afro-asiáticos lutando por uma independência político-econômica,
converteu a luta pela independência em uma luta anti-imperialista; assim, a
conquista da independência resultou na organização de uma sociedade socialista
como ocorreu no Vietnã e em Angola.
Cronologicamente,
a luta dos povos asiáticos contra o domínio imperialista antecedeu a
Descolonização e, desde a 1ª Guerra, multiplicaram-se movimentos nacionalistas
que desenvolveram campanhas de
libertação, as quais só atingiram seus objetivos após a Segunda Guerra.
Para isso
muito contribuiu o enfraquecimento da França e da Inglaterra, principais
metrópoles coloniais que não conseguiram se recuperar dos desastres sofridos
diante do Japão.
O
desmoronamento do mito da “superioridade do homem branco”,
amplamente demonstrado com as derrotas diante dos exércitos nipônicos forneceu
estímulo às populações asiáticas.
Além
disso, o nacionalismo fora encorajado nas colônias pelos próprios países
colonizadores beligerantes, visando enfraquecer seus adversários: _ foi o que
ocorreu no Oriente Médio, onde os ingleses estimularam o nacionalismo árabe
contra os turcos otomanos que dominavam a região até o final da 1ª Guerra
Mundial.
A Independência da Índia
Terminada
a 1ª Guerra Mundial, na Índia, a burguesia hindu desenvolveu – através do líder
do Partido Nacional Indiano, Mahatma Gandhi – um forte movimento nacionalista.
O
programa partidário defendia a autonomia
total, uma confederação democrática, a igualdade política para todas as raças,
religiões e classes sociais, as reformas socioeconômicas e administrativas e a
modernização do Estado.
Pregando
a “Resistência Não Passiva” Gandhi recorreu a jejuns, marchas e à desobediência
civil (recusa em pagar impostos e não consumo de produtos ingleses) e se
converteu na principal figura da luta indiana. Entretanto, as rivalidades entre
hindus e muçulmanos retardaram o processo de independência e assim
prolongava-se a presença inglesa, que estimulava essas rivalidades.
Com o
início da 2ª Guerra, a notícia de um plano japonês de invadir o país e a recusa
dos hindus em colaborar com a Inglaterra levaram o governo inglês a prometer a
autonomia. As sublevações populares seguidas de violentas repressões dos
ingleses levaram o governo a admitir a independência mediante a divisão da
Índia em dois estados: _ a República do Paquistão (Oriental e Ocidental), de
população muçulmana; e a República da União Indiana (1947).
A
independência e a divisão feita estimularam movimentos separatistas de
príncipes e diversas populações da Índia. O governo reagiu com firmeza e,
mediante diversos processos, como o pagamento de pensões aos príncipes em troca
da renúncia de seus poderes, manteve a unidade da Índia.
Pela
Constituição de 1950 instituiu-se uma República Federativa e Parlamentar e,
após a resolução dos problemas internos, o governo de Jawaharlal Nehru se
empenhou em promover o desenvolvimento econômico
planejado. O 1º Plano Quinquenal (1951/55) nacionalizou bancos, empresas de
seguro e companhias de aviação, mas teve como principal objetivo a agricultura
estimulada por técnicas de irrigação e tímidas distribuições de terras.
O 2º
Plano Quinquenal (1956/60) colocava metas prioritárias a exploração de matérias
primas, o desenvolvimento do ensino e a criação de indústrias com capitais
estrangeiros. Apesar dos esforços como a propaganda contra os tabus religiosos
(as vacas sagradas), o tradicionalismo (a persistência das castas), os
conflitos externos e as catástrofes naturais (enchentes dos rios), as metas não
foram atingidas.
O 3º
Plano Quinquenal (1961/66) centralizou seus objetivos em dobrar a produção do
aço e aumentar a produção agrícola; todavia, a inflação e a crise alimentar
comprometeram o seu sucesso. Na política externa, a política de Nehru defendeu
uma posição neutra, não se integrando aos blocos liderados pelos EUA e URSS.
No
território indiano ainda persistiam enclaves portugueses e franceses. A recusa
portuguesa de restituir Goa e Damão levou as tropas indianas a ocupar aqueles
territórios em 1961 e, no seguinte, negociações permitiram reintegrar ao Estado
hindu as antigas possessões francesas.
Entretanto,
entre a Índia e a China as relações diplomáticas tornaram-se tensas, pelas
rivalidades decorrentes de disputas pela liderança na Ásia Oriental e por
questões de fronteiras. As ligações amistosas com a antiga URSS tornaram mais
tensas as rivalidades com a China após a ruptura sino-soviética. Desde 1959 o
governo protestou contra a ocupação – pelos chineses – de territórios hindus,
resultando choques armados em que a Índia perdeu vastas regiões.
A derrota
acentuou as divergências com o Paquistão, que mantinha relações amistosas com a
China. O antagonismo se evidenciara com a independência e explodiu a respeito
da Caxemira, disputada por paquistaneses e hindus. A tentativa paquistanesa de
apoiar um levante interno na Caxemira resultou em conflito, só paralisado pela
intervenção da ONU (1965). A Caxemira terminou incorporada à Índia.
A
rivalidade entre a Índia e o Paquistão persistiu e nova guerra ocorreu quando a
província paquistanesa de Bengala (no Paquistão Oriental) se revoltou e teve a
ajuda hindu. Alegando razões humanitárias e a necessidade de impedir a entrada
em seus territórios de novos contingentes de famintos, a Índia entrou em
vitoriosa guerra com o Paquistão, obrigando-o a reconhecer a independência de
Bengala, que se tornou a república de Bangladesh em 1972.
Esses
conflitos comprometeram a posição não alinhada da Índia e, as divergências com
a China e o Paquistão, acabaram levando o governo de Indira Gandhi (sucessora
de Nehru) a assinar um tratado de paz, amizade e cooperação – inclusive militar
– com a ex-URSS em 1971. Desse modo, na guerra de 1972, quando a Índia teve a
cobertura soviética, o vencido Paquistão foi apoiado pelos EUA e China.
Mas as
dificuldades do governo indiano foram grandes, apesar do progresso material na produção de
alimentos, no aumento da expectativa de vida e no crescimento dos setores
industriais, destacando-se a produção de máquinas, aço, computadores,
satélites, foguetes e até a fabricação da bomba atômica. No entanto, persistiam
graves problemas na política interna, como foi a continuidade de violentos
conflitos étnicos e religiosos.
Um dos
mais sérios conflitos envolveu os muçulmanos, cujo santuário principal era o
Templo Dourado (no condado do Punjabi). Responsabilizada pela invasão desse
santuário, a Primeira Ministra foi assassinada em 1984. Novas eleições levaram
Rajiv Gandhi ao poder, mas o aumento da violência entre seguidores de várias
religiões e etnias acabou eliminando Rajiv Gandhi.
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