Qual Era o Verdadeiro Significado da Teoria
Keynesiana? Por Que os Economistas Clássicos Pouco Investigaram os Fatores
Determinantes do Nível de Equilíbrio da Economia Mundial? Quais os Principais Contrastes
Entre a Lei de Say e a Teoria Geral?
Dentre os objetivos econômicos
globais, um dos mais significativos parece ser a manutenção do pleno emprego,
pois independentemente do seu nível de desenvolvimento, os sistemas econômicos
dispõem de um elenco de recursos de produção cujo emprego possibilita o
atendimento das necessidades sociais básicas de bens e serviços. Todavia, nem
sempre os recursos disponíveis permanecem plenamente empregados, uma vez que
uma parte pode ficar à margem das atividades de produção durante rápidos (ou
prolongados) períodos de tempo. Os níveis máximos possíveis de produção
geralmente ficam abaixo das realizações efetivas do sistema e, quase sempre, há
substanciais hiatos entre a produção real da economia e o nível que poderia ser
alcançado, caso todos os recursos estivessem plenamente empregados. A análise
das causas desses hiatos constitui uma das preocupações centrais da moderna
macroeconomia.
O Significado da Teoria de Keynes
A fonte da moderna macroeconomia é a Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda de John Maynard Keynes e, como se deu com Adam Smith e Karl Marx, Keynes fez parte de meia dúzia de economistas cujo trabalho influenciou outros economistas. Na verdade, também influenciou os atos de muitos estadistas e a vida de inúmeras nações. Vivendo os dramáticos anos da Grande Depressão, o notável economista inglês investigou as causas fundamentais do desajuste econômico em que se encontravam quase todas as nações do mundo ocidental.
Até a publicação dessa obra, os
economistas pouco haviam investigado os fatores determinantes do nível de
equilíbrio geral, pois até então, supunha-se que as grandes crises econômicas –
provocadoras de desemprego – jamais ocorreriam se o sistema fosse governado ao
sabor do livre jogo das forças de mercado. Assim, desprezando o exame das
causas do nível da produção, da renda e do emprego, os economistas acreditavam
ser impossível a superprodução e concluíram ser improvável a ocorrência do
desemprego em larga escala.
Contudo, com a eclosão da crise
de 1930, as ideias dos economistas clássicos se revelaram pouco aplicáveis à
realidade econômica daquela época e, diante disso, um novo corpo de teorias foi
desenvolvido: o desemprego se alastrava de forma incontrolável, o livre jogo
das forças do mercado parecia incapaz de reconduzir as economias a uma situação
próxima do pleno emprego dos fatores disponíveis, a automacidade dos mecanismos
de mercado acusou séria ruptura e parecia irrecuperável o nível a que a
atividade dos países atingidos pela crise haviam chegado nos anos de
prosperidade.
Foi nessa época que Keynes
publicou sua “Teoria Geral”, fazendo questão de ressaltar – logo nas primeiras
linhas – o contraste entre os seus argumentos e os da teoria clássica, que até
então haviam inspirado os dirigentes de todas as nações do Ocidente. Sua obra
promoveu uma revolução na análise econômica e, seus postulados, acabaram
contrariando muitas das mais importantes conclusões das doutrinas econômicas,
as quais vinham conquistando dirigentes de várias gerações há mais de 100 anos.
A influência de sua obra foi tão grande que passou a denominar o capítulo da
teoria econômica referente ao equilíbrio da atividade de “análise keynesiana”.
De outro lado, tornou-se comum a expressão “revolução keynesiana” ao mesmo
tempo em que os fundamentos da sua obra passaram a ser aceitos por todos os
economistas, sem distinção de escola – incluindo-se autores que não
compartilhavam de seus pontos de vista.
O Contraste Entre a Lei de Say e a Teoria Geral
Todo o desenvolvimento clássico sobre o equilíbrio da atividade econômica foi resumido pelo teórico Jean Baptiste Say em 1803. Fiel à doutrina liberal dos clássicos ingleses, Say demonstrou que o equilíbrio econômico seria sempre conservado se as forças de mercado pudessem agir livremente, pois as demoradas perturbações seriam improváveis e as eventuais anomalias temporárias seriam corrigidas pelos mecanismos do sistema de preços. Seu argumento conduziu-o à conclusão de que a produção é que cria mercados para os produtos ou – como se diz atualmente – a oferta cria sua própria procura.
Essa otimista conclusão foi
defendida por todos os economistas liberai dos séculos XVIII e XIX, perdurando
até a eclosão da “Grande Depressão” e um de seus principais defensores era A.
C. Pigou. Ele sustentava que, como a oferta cria sua própria procura, não
poderia haver superprodução, afastando-se a possibilidade de ocorrência do
desemprego geral. A produção global sempre criara mercado para seu escoamento,
pois numa economia baseada nas trocas e na divisão do trabalho, o ato de
produzir representa um futuro ato de procura: o fato de a coletividade estar
produzindo, significa simplesmente que ela está se preparando para consumir. A
lei de Say pode ser compreendida em 2 sentidos:
·
Pode-se compreendê-la no sentido de que a fonte
de onde provém a procura é o rendimento obtido pelos que participaram do
processo produtivo e da formação de oferta. Mas, depois de Say, a economia
ortodoxa deu a essa lei um 2º significado, segundo o qual seja qual for o nível
da produção, o valor da procura não poderá ser inferior – nem superior – ao
valor dos bens produzidos; isto é, da oferta. A ortodoxia clássica apenas
admitia que, em certas ocasiões, a composição da oferta poderia não
corresponder à composição das preferências dos consumidores, verificando-se
fenômenos de superprodução parcial; estes, porém, seriam automaticamente
corrigidos pelos movimentos indicativos do sistema de preços.
·
Stuart-Mill ([1]),
defensor dos postulados clássicos escreveu que “o que constitui os meios de
pagamento das mercadorias são as próprias mercadorias. Os meios que cada pessoa
dispõe para adquirir a produção de outras pessoas consistem nos bens que ela
própria produzir. Todos os vendedores são compradores e, se pudéssemos duplicar
repentinamente as forças de produção de um país e dobrar a oferta de
mercadorias em todos os mercados, duplicaríamos ao mesmo tempo o poder
aquisitivo da coletividade. Cada qual poderia comprar o dobro, pois teria duas
vezes mais para oferecer em troca”. Ele acreditava que o livre jogo dos
mecanismos do mercado, garantiria também o equilíbrio entre a poupança e o
investimento, de tal forma que, se o nível da produção de bens de consumo
caísse por força de um alto nível de poupança, o nível da produção de bens de
capital se expandiria por força do crescimento do nível dos investimentos,
possibilitado pela abstenção de consumo praticada pela coletividade.
Todas essas suposições dos
economistas clássicos foram desmentidas pelas graves perturbações da Grande
Depressão e, consequentemente, a queda da procura de bens de consumo, não foi
compensada por uma correspondente expansão da oferta de bens de capital.
Desarticularam-se os níveis da produção e da oferta. O desemprego começou a
propagar-se em cadeia, pois a oferta exercida pelos poucos setores não
imediatamente atingidos pela crise, revelou-se incapaz de criar um nível de procura
correspondente e a lei de Say tornou-se indefensável. Não havia mecanismo que
conduzisse à igualação automática entre a oferta e a procura e menos ainda
entre a poupança praticada pela coletividade e o investimento decidido pelos
empresários.
Todavia, não bastava os
desmentidos dos fatos e era preciso descer os alicérceres da doutrina clássica,
a fim de demonstrar a falácia de sua teoria geral do equilíbrio econômico. O
edifício ruíra, mas muitos ainda acreditavam poder econstruí-lo. A esses é que
John Maynard Keynes dirigiu sua obra e o ponto de apoio da “Revolução
Keynesiana” foi o bombardeio com qu ela atingiu os alicérceres da tradição
clássica.
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