quinta-feira, 29 de abril de 2021

Uma Introdução às Teorias Clássica e Keynesiana

 

Qual Era o Verdadeiro Significado da Teoria Keynesiana? Por Que os Economistas Clássicos Pouco Investigaram os Fatores Determinantes do Nível de Equilíbrio da Economia Mundial? Quais os Principais Contrastes Entre a Lei de Say e a Teoria Geral?

 

 


 

Dentre os objetivos econômicos globais, um dos mais significativos parece ser a manutenção do pleno emprego, pois independentemente do seu nível de desenvolvimento, os sistemas econômicos dispõem de um elenco de recursos de produção cujo emprego possibilita o atendimento das necessidades sociais básicas de bens e serviços. Todavia, nem sempre os recursos disponíveis permanecem plenamente empregados, uma vez que uma parte pode ficar à margem das atividades de produção durante rápidos (ou prolongados) períodos de tempo. Os níveis máximos possíveis de produção geralmente ficam abaixo das realizações efetivas do sistema e, quase sempre, há substanciais hiatos entre a produção real da economia e o nível que poderia ser alcançado, caso todos os recursos estivessem plenamente empregados. A análise das causas desses hiatos constitui uma das preocupações centrais da moderna macroeconomia.

 

O Significado da Teoria de Keynes

 

A fonte da moderna macroeconomia é a Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda de John Maynard Keynes e, como se deu com Adam Smith e Karl Marx, Keynes fez parte de meia dúzia de economistas cujo trabalho influenciou outros economistas. Na verdade, também influenciou os atos de muitos estadistas e a vida de inúmeras nações. Vivendo os dramáticos anos da Grande Depressão, o notável economista inglês investigou as causas fundamentais do desajuste econômico em que se encontravam quase todas as nações do mundo ocidental.

 

Até a publicação dessa obra, os economistas pouco haviam investigado os fatores determinantes do nível de equilíbrio geral, pois até então, supunha-se que as grandes crises econômicas – provocadoras de desemprego – jamais ocorreriam se o sistema fosse governado ao sabor do livre jogo das forças de mercado. Assim, desprezando o exame das causas do nível da produção, da renda e do emprego, os economistas acreditavam ser impossível a superprodução e concluíram ser improvável a ocorrência do desemprego em larga escala.

 

Contudo, com a eclosão da crise de 1930, as ideias dos economistas clássicos se revelaram pouco aplicáveis à realidade econômica daquela época e, diante disso, um novo corpo de teorias foi desenvolvido: o desemprego se alastrava de forma incontrolável, o livre jogo das forças do mercado parecia incapaz de reconduzir as economias a uma situação próxima do pleno emprego dos fatores disponíveis, a automacidade dos mecanismos de mercado acusou séria ruptura e parecia irrecuperável o nível a que a atividade dos países atingidos pela crise haviam chegado nos anos de prosperidade.

 

Foi nessa época que Keynes publicou sua “Teoria Geral”, fazendo questão de ressaltar – logo nas primeiras linhas – o contraste entre os seus argumentos e os da teoria clássica, que até então haviam inspirado os dirigentes de todas as nações do Ocidente. Sua obra promoveu uma revolução na análise econômica e, seus postulados, acabaram contrariando muitas das mais importantes conclusões das doutrinas econômicas, as quais vinham conquistando dirigentes de várias gerações há mais de 100 anos. A influência de sua obra foi tão grande que passou a denominar o capítulo da teoria econômica referente ao equilíbrio da atividade de “análise keynesiana”. De outro lado, tornou-se comum a expressão “revolução keynesiana” ao mesmo tempo em que os fundamentos da sua obra passaram a ser aceitos por todos os economistas, sem distinção de escola – incluindo-se autores que não compartilhavam de seus pontos de vista.

  

O Contraste Entre a Lei de Say e a Teoria Geral

 

Todo o desenvolvimento clássico sobre o equilíbrio da atividade econômica foi resumido pelo teórico Jean Baptiste Say em 1803. Fiel à doutrina liberal dos clássicos ingleses, Say demonstrou que o equilíbrio econômico seria sempre conservado se as forças de mercado pudessem agir livremente, pois as demoradas perturbações seriam improváveis e as eventuais anomalias temporárias seriam corrigidas pelos mecanismos do sistema de preços. Seu argumento conduziu-o à conclusão de que a produção é que cria mercados para os produtos ou – como se diz atualmente – a oferta cria sua própria procura.

 

Essa otimista conclusão foi defendida por todos os economistas liberai dos séculos XVIII e XIX, perdurando até a eclosão da “Grande Depressão” e um de seus principais defensores era A. C. Pigou. Ele sustentava que, como a oferta cria sua própria procura, não poderia haver superprodução, afastando-se a possibilidade de ocorrência do desemprego geral. A produção global sempre criara mercado para seu escoamento, pois numa economia baseada nas trocas e na divisão do trabalho, o ato de produzir representa um futuro ato de procura: o fato de a coletividade estar produzindo, significa simplesmente que ela está se preparando para consumir. A lei de Say pode ser compreendida em 2 sentidos:

 

·        Pode-se compreendê-la no sentido de que a fonte de onde provém a procura é o rendimento obtido pelos que participaram do processo produtivo e da formação de oferta. Mas, depois de Say, a economia ortodoxa deu a essa lei um 2º significado, segundo o qual seja qual for o nível da produção, o valor da procura não poderá ser inferior – nem superior – ao valor dos bens produzidos; isto é, da oferta. A ortodoxia clássica apenas admitia que, em certas ocasiões, a composição da oferta poderia não corresponder à composição das preferências dos consumidores, verificando-se fenômenos de superprodução parcial; estes, porém, seriam automaticamente corrigidos pelos movimentos indicativos do sistema de preços.

·        Stuart-Mill ([1]), defensor dos postulados clássicos escreveu que “o que constitui os meios de pagamento das mercadorias são as próprias mercadorias. Os meios que cada pessoa dispõe para adquirir a produção de outras pessoas consistem nos bens que ela própria produzir. Todos os vendedores são compradores e, se pudéssemos duplicar repentinamente as forças de produção de um país e dobrar a oferta de mercadorias em todos os mercados, duplicaríamos ao mesmo tempo o poder aquisitivo da coletividade. Cada qual poderia comprar o dobro, pois teria duas vezes mais para oferecer em troca”. Ele acreditava que o livre jogo dos mecanismos do mercado, garantiria também o equilíbrio entre a poupança e o investimento, de tal forma que, se o nível da produção de bens de consumo caísse por força de um alto nível de poupança, o nível da produção de bens de capital se expandiria por força do crescimento do nível dos investimentos, possibilitado pela abstenção de consumo praticada pela coletividade.

 

Todas essas suposições dos economistas clássicos foram desmentidas pelas graves perturbações da Grande Depressão e, consequentemente, a queda da procura de bens de consumo, não foi compensada por uma correspondente expansão da oferta de bens de capital. Desarticularam-se os níveis da produção e da oferta. O desemprego começou a propagar-se em cadeia, pois a oferta exercida pelos poucos setores não imediatamente atingidos pela crise, revelou-se incapaz de criar um nível de procura correspondente e a lei de Say tornou-se indefensável. Não havia mecanismo que conduzisse à igualação automática entre a oferta e a procura e menos ainda entre a poupança praticada pela coletividade e o investimento decidido pelos empresários.

 

Todavia, não bastava os desmentidos dos fatos e era preciso descer os alicérceres da doutrina clássica, a fim de demonstrar a falácia de sua teoria geral do equilíbrio econômico. O edifício ruíra, mas muitos ainda acreditavam poder econstruí-lo. A esses é que John Maynard Keynes dirigiu sua obra e o ponto de apoio da “Revolução Keynesiana” foi o bombardeio com qu ela atingiu os alicérceres da tradição clássica.

 

                                   


([1]) MILL, John Stuart. “Princípios de Economia Política”. México, Fondo de Cultura Económica, 1943.


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