sábado, 25 de janeiro de 2020

A Responsabilidade Social das Organizações Como Síntese de Compromissos Sociais



Quando e Onde Começou o Debate Sobre a Responsabilidade Social das Empresas? Qual é o Principal Conceito de RSE? Quais São os Quatro Tipos de Responsabilidade Social, Identificados Com Base Nas Expectativas da Sociedade?



Com origem nos EUA, o debate público sobre a Responsabilidade Social das Empresas (RSE) desenvolveu-se a partir da década de 1950, difundindo-se definitivamente nos meios acadêmicos, políticos e empresariais de todo mundo. O contraste entre a pobreza da população e os resultados de algumas grandes corporações desencadeou um movimento de protesto em relação à atividade empresarial.


Durante a década de 1970 deu-se o impulso definitivo ao debate sobre RSE, com início das discussões sobre as alterações climáticas e os perigos da industrialização. No final dos anos 80, o conceito de desenvolvimento sustentável veio complementar a finalidade econômica a que se destina a atividade empresarial com a necessidade de controlar os excessos que comprometem o desenvolvimento social e o frágil equilíbrio ambiental.

Pode-se argumentar que a preocupação com o bem-estar ambiental e com a sustentabilidade ambiental não constitui uma vocação natural das empresas privadas, as quais aderem a princípios de RSE essencialmente como reação a pressões internas (trabalhadores), de mercado (clientes e sociedade) e legislativas, buscando apenas uma legitimação que permita manter e desenvolver sua atividade.

Em países como o Brasil, o envolvimento das organizações na resolução de problemas de ordem social constituiu uma reação do meio empresarial às carências das comunidades vizinhas, cujas necessidades o Estado se revelou incapaz de satisfazer. Nestes casos, a empresa substitui o poder público no atendimento à população carente, tornando-se um importante agente de progresso social em algumas zonas economicamente desfavorecidas.

Atualmente, o tema se encontra amplamente difundido no Brasil, existindo uma longa história de debates e iniciativas empresariais relevantes. É por isso especialmente interessante estudar o pensamento dos gestores brasileiros, herdeiros de uma experiência consolidada sobre RSE e agentes efetivos de mudança e de reflexão sobre as práticas empresariais.


Conceito de RSE


O conceito de Responsabilidade Social das Empresas (RSE) ainda mantém divergências e ambiguidades de significado que a popularidade do tema e os inúmeros teóricos do assunto, ainda não conseguiram clarificar. Parece razoável aceitar que o quadro de responsabilidades das empresas constitui um conjunto diverso de obrigações que frequentemente exige soluções de compromisso entre interesses divergentes. Trata-se da frágil busca desse equilíbrio que define o desafio central da RSE.

Para AGUILLAR ([1]), a empresa socialmente responsável é aquela que conquistou com transparência e seriedade o respeito e a confiança de seus empregados, clientes, fornecedores e investidores, estabelecendo um equilíbrio aceitável entre seus interesses econômicos e os interesses de todos os afetados por suas decisões ou ações.

Segundo CARROLL ([2]) as empresas estão vinculadas a quatro tipos de responsabilidade social, identificados com base nas expectativas da sociedade em relação ao seu desempenho: econômica (obrigação de gerar riqueza e responder às necessidades de consumo da sociedade), legal ( obrigação de cumprir o normativo legal), ética (exigência de adotar uma conduta alinhada com os valores implícitos da sociedade) e filantrópica (exigência de envolvimento na resolução de carências sociais, contribuindo com donativos e transferindo recursos para a sociedade). 

Esta formulação apresenta ainda algumas  fragilidades que merecem ser discutidas, a fim de alcançar uma nova concepção de RSE entendida como síntese dos compromissos sociais que vinculam as empresas à sociedade.

Essa proposta estabelece uma rigidez na hierarquia de prioridades com que as organizações cumprem as quatro responsabilidades, distorcendo os próprios fundamentos equitativos da responsabilidade social, ao mesmo tempo em que, aceitando essa hierarquia de responsabilidades, ignora outras formas de interdependência e de interação entre elas.

A concepção de Carroll sugere uma confusão entre o plano de princípios e o plano das ações ao incluir uma responsabilidade filantrópica, pois a filantropia – tal como entendida atualmente – consiste numa transferência voluntária de recursos da sociedade civil em benefício de quem tem carências ou em nome de uma transformação social.

Essa contribuição da sociedade civil situa-se no plano dos comportamentos, entendidos como expressão da adesão a determinados princípios, crenças ou valores. Assim, a responsabilidade ética – animada pelo dever racional e, eventualmente, pelos sentimentos de amor pela humanidade – pressupõe o compromisso moral que complementa os restantes (econômico e legal), sendo a filantropia uma das suas manifestações, entre outras possíveis.

Portanto, a filantropia não deve ser considerada uma obrigação empresarial em si mesma e, dessa forma, deve constituir uma das possibilidades de exercício de responsabilidade ética nas organizações. Assim, propõe-se um entendimento da RSE como um conjunto de compromissos que vinculam as empresas à sociedade, consistindo em um conjunto de obrigações sociais que decorrem do compromisso econômico, legal e ético da empresa perante a sociedade.





([1])  AGUILLAR, F. “A Ética nas Empresas: Maximizando Resultados Através de Uma Conduta Ética nos Negócios”. Tradução de Ruy Jungmann, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1996
([2]) CARROL, A. “Three-dimensional Conceptual Modelo f Corporate Social Performance”. Academy of Management Review, New York, v. 4, p. 497

Nenhum comentário :

Postar um comentário