Quando
e Onde Começou o Debate Sobre a Responsabilidade Social das Empresas? Qual é o
Principal Conceito de RSE? Quais São os Quatro Tipos de Responsabilidade
Social, Identificados Com Base Nas Expectativas da Sociedade?
Com
origem nos EUA, o debate público sobre a Responsabilidade Social das Empresas
(RSE) desenvolveu-se a partir da década de 1950, difundindo-se definitivamente
nos meios acadêmicos, políticos e empresariais de todo mundo. O contraste entre
a pobreza da população e os resultados de algumas grandes corporações
desencadeou um movimento de protesto em relação à atividade empresarial.
Durante
a década de 1970 deu-se o impulso definitivo ao debate sobre RSE, com início
das discussões sobre as alterações climáticas e os perigos da industrialização.
No final dos anos 80, o conceito de desenvolvimento sustentável veio
complementar a finalidade econômica a que se destina a atividade empresarial
com a necessidade de controlar os excessos que comprometem o desenvolvimento
social e o frágil equilíbrio ambiental.
Pode-se
argumentar que a preocupação com o bem-estar ambiental e com a sustentabilidade
ambiental não constitui uma vocação natural das empresas privadas, as quais
aderem a princípios de RSE essencialmente como reação a pressões internas
(trabalhadores), de mercado (clientes e sociedade) e legislativas, buscando
apenas uma legitimação que permita manter e desenvolver sua atividade.
Em
países como o Brasil, o envolvimento das organizações na resolução de problemas
de ordem social constituiu uma reação do meio empresarial às carências das
comunidades vizinhas, cujas necessidades o Estado se revelou incapaz de
satisfazer. Nestes casos, a empresa substitui o poder público no atendimento à
população carente, tornando-se um importante agente de progresso social em
algumas zonas economicamente desfavorecidas.
Atualmente,
o tema se encontra amplamente difundido no Brasil, existindo uma longa história
de debates e iniciativas empresariais relevantes. É por isso especialmente
interessante estudar o pensamento dos gestores brasileiros, herdeiros de uma
experiência consolidada sobre RSE e agentes efetivos de mudança e de reflexão
sobre as práticas empresariais.
Conceito
de RSE
O
conceito de Responsabilidade Social das Empresas (RSE) ainda mantém
divergências e ambiguidades de significado que a popularidade do tema e os
inúmeros teóricos do assunto, ainda não conseguiram clarificar. Parece razoável
aceitar que o quadro de responsabilidades das empresas constitui um conjunto
diverso de obrigações que frequentemente exige soluções de compromisso entre
interesses divergentes. Trata-se da frágil busca desse equilíbrio que define o
desafio central da RSE.
Para
AGUILLAR ([1]), a empresa
socialmente responsável é aquela que conquistou com transparência e seriedade o
respeito e a confiança de seus empregados, clientes, fornecedores e
investidores, estabelecendo um equilíbrio aceitável entre seus interesses
econômicos e os interesses de todos os afetados por suas decisões ou ações.
Segundo
CARROLL ([2]) as empresas estão
vinculadas a quatro tipos de responsabilidade social, identificados com base
nas expectativas da sociedade em relação ao seu desempenho: econômica
(obrigação de gerar riqueza e responder às necessidades de consumo da
sociedade), legal ( obrigação de cumprir o normativo legal), ética (exigência
de adotar uma conduta alinhada com os valores implícitos da sociedade) e
filantrópica (exigência de envolvimento na resolução de carências sociais,
contribuindo com donativos e transferindo recursos para a sociedade).
Esta
formulação apresenta ainda algumas
fragilidades que merecem ser discutidas, a fim de alcançar uma nova
concepção de RSE entendida como síntese dos compromissos sociais que vinculam
as empresas à sociedade.
Essa
proposta estabelece uma rigidez na hierarquia de prioridades com que as
organizações cumprem as quatro responsabilidades, distorcendo os próprios
fundamentos equitativos da responsabilidade social, ao mesmo tempo em que,
aceitando essa hierarquia de responsabilidades, ignora outras formas de
interdependência e de interação entre elas.
A
concepção de Carroll sugere uma confusão entre o plano de princípios e o plano
das ações ao incluir uma responsabilidade filantrópica, pois a filantropia –
tal como entendida atualmente – consiste numa transferência voluntária de
recursos da sociedade civil em benefício de quem tem carências ou em nome de
uma transformação social.
Essa
contribuição da sociedade civil situa-se no plano dos comportamentos,
entendidos como expressão da adesão a determinados princípios, crenças ou valores.
Assim, a responsabilidade ética – animada pelo dever racional e, eventualmente,
pelos sentimentos de amor pela humanidade – pressupõe o compromisso moral que
complementa os restantes (econômico e legal), sendo a filantropia uma das suas
manifestações, entre outras possíveis.
Portanto,
a filantropia não deve ser considerada uma obrigação empresarial em si mesma e,
dessa forma, deve constituir uma das possibilidades de exercício de
responsabilidade ética nas organizações. Assim, propõe-se um entendimento da
RSE como um conjunto de compromissos que vinculam as empresas à sociedade,
consistindo em um conjunto de obrigações sociais que decorrem do compromisso
econômico, legal e ético da empresa perante a sociedade.
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