Quais as Consequências das Mudanças Demográficas nos Países Desenvolvidos? O Que Já Aconteceu Que Definirá o Futuro? Que Impactos a Informática Causou ao Mundo dos Negócios?
Este artigo pretende apresentar algumas observações de Peter Drucker sobre o que ele identificou como a “próxima sociedade”, assunto discutido em um dos seus últimos livros – “Sociedade Pós-Capitalista” – onde teceu comentários a respeito das certezas que podem servir de base para a estratégia, as quais correspondem às questões que serão abordadas nesse texto.
Dessa forma, seria útil descrever alguns fatores que levaram Peter Drucker a categorizar a próxima sociedade, pois na década de 60 ele comentou que havia se conscientizado de que a sociedade havia mudado. Então, quais as observações que o levaram a descrever a próxima sociedade? É o que pretendo examinar a seguir.
1) A Quarta Revolução da Informação
Para quem nunca leu livros de Peter Drucker, vale lembrar que ele costumava incluir uma longa discussão sobre história para chegar ao ponto crucial. Sua 1ª observação sobre a Revolução da Informação – iniciada na década de 50 – foi sobre a invenção da escrita na Mesopotâmia, há cerca de 5 mil anos. Para ele, a segunda (2ª) “revolução” ocorreu entre 1.300 e 500 a.C. com a invenção do livro na China e, 800 anos depois, na Grécia.
A terceira (3ª) revolução da informação ocorreu entre 1450 e 1455 com a invenção do tipo móvel por Gutemberg e, embora nós possamos concluir que a quarta (4ª) revolução começou com os computadores e microchips, a opinião de Drucker era de que a Internet e o comércio eletrônico foram os principais impactos dessa revolução.
O resultado dessa 4ª revolução é que as distâncias foram eliminadas e uma das principais consequências é que, hoje, todas as empresas precisam se tornar competitivas globalmente, mesmo que fabriquem – ou vendam – seus produtos apenas no mercado local ou regional. Portanto, “a competição não é mais local e desconhece fronteiras” (1)
2) Mudanças Demográficas – a Diminuição da Taxa de Natalidade e o Envelhecimento da População
Para Drucker, o maior impacto sobre a sociedade vem das mudanças demográficas dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento – China e Índia –, tanto em termos do envelhecimento da população quanto da redução das taxas de natalidade, o que faz com que haja um número cada vez menor de jovens na população. Essas mudanças proporcionarão várias oportunidades de negócios, mas também resultarão em enormes problemas sociais.
2.1 O Envelhecimento da População
Conforme Drucker, até 2013, 50% das populações de Japão e Alemanha tenham mais de 65 anos. Em 2005, o Japão relatou que a taxa de pessoas com mais de 65 anos correspondia a 21%, acima da Itália, com 20%. Ao mesmo tempo, o percentual da população com menos de 15 anos era o mais baixo do mundo (13,6%), seguido pela (13,8%).
A população japonesa hoje (127 milhões) declinou em 2006 pela primeira vez desde 1945 e o governo declarou que, se nenhuma medida fosse tomada para reverter a queda de natalidade, a população japonesa seria reduzida pela metade em menos de um século (2). As mesmas tendências estão ocorrendo na China e, calcula-se que até 2020, 248 milhões de chineses estarão com mais de 60 anos.
2.2 O Declínio da Taxa de Natalidade
Uma taxa de natalidade de 2,1 crianças por mulher é considerada ótima para substituir uma força de trabalho envelhecendo. As taxas de fertilidade estão em declínio nos países industrializados há décadas e agora estão se tornando um problema econômico sério. No Japão, a taxa de fertilidade caiu para 1,25 em 2005 e, os Estados Unidos, é um dos poucos países onde a taxa de fertilidade é de 2 filhos por mulher.
Drucker também observou que as taxas de natalidade nos países desenvolvidos não são suficientes para repor suas populações. Ele previu que em 2020 a população da Alemanha diminuirá dos atuais 82 milhões para 70 milhões de habitantes e, a população do Japão, diminuirá dos atuais 127 milhões para 95 milhões. As mesmas tendências são encontradas na Itália, na França, Espanha, em Portugal, na Holanda e na Suécia (3).
3) O Declínio Contínuo da Indústria
Drucker observou as importantes mudanças nos setores industriais dos países desenvolvidos. Em primeiro lugar, os custos de mão-de-obra como percentual dos custos totais da indústria caíram de 30% para 12%, nos últimos 40 anos. Isso significa que os países em desenvolvimento não serão mais capazes de competir apenas com base nos baixos custos de mão-de-obra. Isso complicará a estratégia da China de criação de mais indústrias que façam uso intensivo de mão-de-obra para lidar com o enorme problema de desemprego.
Em segundo lugar, a produção industrial dobrará nos países desenvolvidos em 2020, mas ao mesmo tempo, devido à tecnologia da informação, os empregos na indústria diminuirão. A mesma tendência de emprego decrescente na indústria pode ser observada em países em desenvolvimento na Europa e na China. Drucker concluiu que o setor industrial seria um produtor de riqueza em declínio, em termos do percentual do PIB de um país. Junto com isso estará o crescente protecionismo, à medida que os países tentarão proteger seus setores industriais e os empregos dos trabalhadores.
4) A Transformação da Força de Trabalho
Como resultado das mudanças demográficas, a força de trabalho será formada por trabalhadores jovens e idosos. As pessoas continuarão a trabalhar além da idade de aposentadoria, em função de melhores planos de saúde - pelo lado positivo – e de benefícios de aposentadorias reduzidos – pelo lado negativo. Os países já estão pensando em elevar a idade de aposentadoria, uma vez que a quantidade de trabalhadores que contribuem para planos de aposentadorias públicas está diminuindo, enquanto a quantidade de aposentados está aumentando.
O mix de funcionários das organizações mudará, passando a ser composto por uma combinação de funcionários em tempo integral e terceirizados, que pertencerão a uma empresa de RH ou que poderão ser contratados independentemente. Também serão trabalhadores do conhecimento, e essa força de trabalho imporá desafios aos departamentos de RH, já que as políticas atuais não consideram a transformação da força de trabalho descrita por Drucker.
Dessa forma, para ele, administrar e liderar não-funcionários exigirá uma liderança criativa a fim de garantir a retenção desses grupos, além de sua motivação, seu comprometimento e seu desempenho. Completou afirmando que será preciso tratá-los como “parceiros” e não como funcionários e, o pior é que, poucos gerentes sabem como fazer isso hoje em dia.
5) A Instabilidade Política e Social do Século 21
Desde a última década do século XX, estamos assistindo a reafirmação de um Estado forte, compensatório, regulatório e diretivo em relação à evolução social. Nesse sentido, passa para o primeiro plano a política – tanto em termos de afirmação das instituições políticas quanto no que se refere à participação cidadã – como o elemento fundamental para a realização de transformações em todos os âmbitos da sociedade. Peter Drucker previu que as primeiras décadas do século XXI seriam marcadas por instabilidades políticas e revoluções sociais e, para podermos entender melhor dos impactos que se refletirão no mundo dos negócios, basta-nos dar uma boa olhada no mundo atual.
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