quinta-feira, 14 de novembro de 2024

O QUE É CIÊNCIA?

 

Quais São Seus Três Componentes? Como Aristóteles Definiu Ciência? Quais São os Três Níveis de Desenvolvimento da Inteligência dos Seres Humanos Desde o Surgimento dos Primeiros Hominídeos?

 



Aristóteles definiu a ciência como sendo o conhecimento das causas pelas causas; ou seja, para ele, a ciência seria “o conhecimento demonstrativo". Então, pode-se dizer que a Ciência é o conhecimento que explica os fenômenos, obedecendo às leis que foram verificadas por métodos experimentais.

A ciência é composta por três (3) componentes: a observação, a experimentação e as leis. Visa a união entre o conhecimento teórico, a prática e a técnica. Não se utiliza de suposições, mas da comprovação após a aplicação do método científico. Foi o próprio Aristóteles quem definiu que as ciências (no plural) estão relacionadas à maneira de realização do ideal de cientificidade de acordo com os fatos investigados e os métodos empregados.

 

A Origem da Palavra “Ciência”

 

Etimologicamente a palavra “ciência” vem do latim scientia, que quer dizer por definição ampla, conhecimento ou reconhecimento. Daí pode-se inferir que ela origina do verbo scire = saber. E, num sentido mais restrito, a palavra ciência nos leva a um modo de adquirir conhecimento baseado no método científico; ou seja, trata-se do esforço que o ser humano faz para descobrir – e aumentar – o seu conhecimento de como funciona a realidade.

Segundo Bello ([1]) a evolução humana corresponde ao desenvolvimento de sua inteligência. Sendo assim são definidos três níveis de desenvolvimento da inteligência dos seres humanos desde o surgimento dos primeiros hominídeos: o medo, o misticismo e a ciência.

 

a) O Medo: os seres humanos pré-históricos não conseguiam entender os fenômenos da natureza. Por este motivo, suas reações eram sempre de medo: tinham medo das tempestades e do desconhecido. Como não conseguiam compreender o que se passava diante deles, não lhes restava alternativa senão o medo e o espanto daquilo que presenciavam.

 

b) O Misticismo: num segundo momento, a inteligência humana evoluiu do medo para a tentativa de explicação dos fenômenos através do pensamento mágico, das crenças e das superstições. Era, sem dúvida, uma evolução já que tentavam explicar o que viam. Assim, as tempestades podiam ser fruto de uma ira divina, a boa colheita da benevolência dos mitos, as desgraças ou as fortunas do casamento do humano com o mágico.

 

c) A Ciência: como as explicações mágicas não bastavam para compreender os fenômenos os seres humanos finalmente evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que pudessem ser comprovados. Desta forma, nasceu a ciência metódica, que procura sempre uma aproximação com a lógica.

 

O ser humano é o único animal na natureza com capacidade de pensar e, esta característica permite que nós, os seres humanos, sejamos capazes de refletir sobre o significado de nossas próprias experiências. Assim sendo, nós somos capazes de novas descobertas e de transmiti-las aos nossos descendentes.

O desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à sua característica de viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido a outro, que, por sua vez, aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a ciência.

 

Definição de Ciência




Uma boa definição está no Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Ferreira (2004) define ciência como um conjunto de conhecimentos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente acumulados, dotados de universalidade e objetividade que permitem sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e linguagens próprias, que visam compreender e orientar a natureza e as atividades humanas. Popularmente é entendida como sabedoria ou habilidade intuitiva.

Lakatos e Marconi ([2]) no clássico livro “Metodologia Científica” levantam várias definições para Ciência, mas no entendimento dessas autoras, todas incompletas. Abaixo estão algumas delas:

 

“Acumulação de conhecimentos sistemáticos”.

“Atividade que se propõe a demonstrar a verdade dos fatos experimentais e suas aplicações práticas”.

“Conhecimento certo do real pelas suas causas”.

“Conjunto de enunciados lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados”.

 

Para as autoras acima, a melhor definição é de Ander-Egg (1978) apresentada na obra Introducción a las técnicas de investigación social: “A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza”. Fazendo uma decomposição ou análise da definição de Ander-Egg encontramos que:

 

a) conhecimento racional – é aquele que exige um método e está constituído por uma série de elementos básicos, tais como sistema conceitual, hipóteses, definições.

 

b) certo ou provável – já que não se pode atribuir à ciência a certeza indiscutível de todo o saber que a compõe. Ao lado dos conhecimentos certos, é grande a quantidade dos prováveis. Antes de tudo, toda lei indutiva, é meramente provável, por mais elevada que seja sua probabilidade.

 

c) obtidos metodicamente – pois não se adquire ao acaso ou na vida cotidiana, mas mediante regras lógicas e procedimentos técnicos.

d) sistematizadores – isto é, não se trata de conhecimentos dispersos e desconexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de ideias (teoria).

 

e) verificáveis – pelo fato de que as afirmações, que não podem ser comprovadas ou que não passam pelo exame da experiência, não fazem parte do âmbito da ciência, que necessita, para incorporá-las, de afirmações comprovadas pela observação.

 

f) relativos a objetos de uma mesma natureza – ou seja, objetos pertencentes a determinada realidade, que guardam entre si certos caracteres de homogeneidade (LAKATOS; MARCONI, 2004).

 

Finalmente, Cervo, Bervian e Silva ([3]) ressaltam que a ciência é o resultado de descobertas ocasionais, nas primeiras etapas, e de pesquisas cada vez mais metódicas, nas etapas posteriores. “É uma das poucas realidades que podem ser legadas às gerações seguintes. Os homens de cada período histórico assimilam os resultados científicos das gerações anteriores, desenvolvendo e ampliando aspectos novos”.


_______________________________________________


([1]) BELLO, José Luiz de Paiva. Metodologia Científica (2004). Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met01.htm> Acesso em: 05 jun. 2010.

 

        ([2]) LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1983.

 

    ([3]) CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro A; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.



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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A Realidade Subjetiva (Os Filtros de Percepção e os Nossos Mapas Mentais)

 

Nós Temos Capacidade de Captar Toda a Realidade Das Experiências Que Ocorrem ao Nosso Redor? Nossas Ações e Julgamentos Estão Embasados em Conhecimentos Completos dos Fatos Externos? Nós Sabemos Exatamente Tudo o Que Aconteceu em Uma Determinada Experiência?

 

 


 

Fundamentalmente, todos nós temos cinco (5) sistemas sensoriais: - o visual, o auditivo, o olfativo, o cinestésico (tato) e o paladar. Através deles nós tomamos contato com a realidade exterior. A todo instante estamos interagindo com o mundo externo, captando as informações através dos canais sensoriais e, dessa forma, nós as processamos internamente através de nossos canais favoritos (visual, auditivo ou cinestésico) e reagimos através de comunicação por palavras e comportamentos específicos.

Quando uma pessoa tenta se comunicar com outra, na verdade ela está tentando transmitir sua própria “realidade subjetiva”; ou seja, é a sua compreensão de uma situação do mundo exterior. Então, para compreender a essência de uma comunicação a pessoa deve compreender algo sobre a natureza da realidade. O processamento da nossa mente pode até ter um padrão observável, mas os resultados desse processamento são diferentes um do outro e, na verdade, pode-se afirmar que os entendimentos – e significados – são tão diferentes quanto às impressões digitais das pessoas.

Para piorar essa questão, deve-se considerar a linguagem, pois ela modela o nosso pensamento. Nós confundimos esse fato com a realidade e, certamente, isso cria falsas certezas. Com as palavras nós procuramos isolar coisas que somente podem existir com continuidade. Falhamos ao ver o processo, a mudança, o movimento e, se tivermos que experimentar a realidade, devemos conhecer os limites da linguagem.

As diferenças já começam com as características neurológicas que nos identificam como humanos. Nossos canais sensoriais como seres humanos contém limitações, como nossa capacidade visual por exemplo – restrita a um certo espectro de cores, detalhes e brilho.

Em outras palavras, há muitas cores, detalhes e intensidade que não conseguimos – ou não suportamos – ver como seres humanos. Nossa capacidade auditiva também é limitada a uma estreita faixa de decibéis e, o mesmo ocorre com nossos canais sensoriais do tato, do olfato e do paladar.

Sendo assim, pode-se afirmar que os seres humanos percebem apenas uma parte do fenômeno físico presente ao nosso redor e essas limitações neurológicas são transmitidas geneticamente. Tais limitações de nossas percepções são reconhecidas pelos cientistas que trabalham como o mundo físico, desenvolvendo aparelhagens que ampliam essas capacidades limitantes. Dessa forma, estabelece-se aqui dois (2) pontos:

 

·                   Existe uma diferença necessária entre o mundo e qualquer modelo – ou representação interna – particular que se faça dele.

·                   Os modelos de mundo criados por cada um de nós são diferentes entre si.

 

Filtros da Percepção

 

Nosso sistema neurológico determina o 1º conjunto de “filtros” que diferenciam o mundo (o território) das representações mentais que fazemos do mesmo (o mapa). Nossa experiência interna difere do mundo externo de uma 2ª maneira: por meio do conjunto de “filtros sociais” que nos caracteriza como seres humanos pertencentes a um determinado grupo sócio racial.

E o filtro social mais comum é o nosso sistema linguístico; isto é, palavras ou frases de uma determinada linguagem possuem significados que não existem em pessoas de outras línguas ou grupos sociais.

Há uma 3ª maneira de influenciar nossa compreensão do mundo exterior, que ocorre por meio de nossas próprias restrições – ou filtros sociais. Isto é, das representações que criamos, baseadas em nossa história pessoal. Cada ser humano tem experiências que constituem sua própria história pessoal e, essa história pessoal, é tão peculiar à pessoa como o são suas digitais. E como cada pessoa tem experiência próprias de crescimento e de vida, a história pessoal de duas vidas jamais será igual.

Os filtros neurológicos são os mesmos para todos nós e os sócio raciais também são os mesmos numa determinada comunidade sociolinguística. Estes são mais facilmente superáveis que os neurológicos, tanto que muitas pessoas podem falar mais de uma língua. Já os filtros pessoais nos identificam como indivíduos e são a base das diferenças entre nós; mas, em compensação, são mais facilmente modificáveis que os filtros sociolinguísticos.




Assim, a experiência que cada um de nós capta do mundo exterior já chega até nós um tanto distorcido, em razão da ação dos filtros neurológicos e sociolinguísticos e, ao passar por nosso filtro pessoal (processamento mental interno), essas informações já alteradas sofrem modificações em virtude de nossa própria personalidade (criadas por nossas experiências passadas) e do nosso sistema de crenças e, o resultado desse processamento, é o nosso MAPA – ou “modelo pessoal representativo do fato ou da experiência do mundo exterior”.

E é dentro deste MAPA que vivemos, criamos os significados, compreensões, emoções e, consequentemente, nossos comportamentos para reagir no mundo exterior. Portanto, a referência que criamos para nos guiar no mundo exterior baseia-se em nossas experiências pessoais, criando assim modelos, mapas ou “realidades subjetivas” diferentes e individualizadas do mundo. E sua principal característica é que “o mapa não é o território que ele representa, mas se estiver correto possui uma estrutura semelhante a do território, o que justifica sua utilização” (A. Korzybski, “Science & Sanity”, 1959).

 

Mapas Como Metáforas

 

A maioria das pessoas tem um conceito limitado de “mapa” como representação de um espaço geográfico específico. Para encontrarmos nosso caminho através da percepção das informações e a consequente comunicação, precisamos de “mapas” que nos digam onde estamos em relação às informações e nos permitam fazer comparações entre as informações arquivadas e as novas.

Os mapas podem ter uma infinidade de formas. Uma tomografia computadorizada – por exemplo – é um mapa do corpo humano e uma lista de compras é o mapa de uma expedição ao supermercado. Um gráfico de produção anual de uma empresa mapeia seu rendimento. Sendo assim, você pode mapear tanto ideias e conceitos quanto locais físicos. Dessa forma, os mapas são informações de referências pelo fato de serem usados para dirigir – ou influenciar – o rumo que seguimos na vida.

Portanto, os mapas são meios metafóricos que nos permitem entender e agir sobre a informação e os dados percebidos de fontes exteriores. Dessa forma, o mapa deve cumprir seu objetivo e possuir a maior quantidade possível de informações e de melhor qualidade possível (de fontes exteriores) para que se possa chegar a decisões de qualidades e eficiência e agir sobre o mundo exterior da forma mais segura e eficaz.



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quarta-feira, 30 de outubro de 2024

A Independência da Indonésia e da Indochina no Movimento de Descolonização da Ásia

 

Como Ocorreu a Independência da Indonésia? Que Países Colonizavam a Indochina? Qual Era a Situação Política e Econômica do Camboja, do Vietnã e do Laos Antes da Descolonização?

 



 

A Indonésia é um arquipélago habitado por populações malaias, que permaneceu como colônia holandesa até 1941 e, no ano seguinte, os japoneses ocuparam a região a fim de consolidar sua posição, aproximando-se do Partido Nacional Indonésio. Com a derrota japonesa proclamou-se a independência, a qual não foi reconhecida pelos holandeses.

O retorno das tropas holandesas abriu um período de lutas até que a mediação da ONU e a pressão dos EUA (interessados em substituir a presença holandesa) levaram à solução conciliatória. Ou seja, a Holanda reconheceu a independência da República dos Estados Unidos da Indonésia, compreendendo todas as antigas Índias Orientais Holandesas, à exceção da Nova Guiné Ocidental.

O presidente desenvolveu uma política externa baseada na neutralidade agressiva e reuniu uma importante conferência de países afro-asiáticos, os quais formularam os princípios da Coexistência Pacífica e do Neutralismo (1995). Dez anos depois, um golpe de estado tomou o poder para anular a nacionalização do petróleo então estabelecida.

Seguiu-se violento massacre de elementos acusados de serem comunistas e, desde então, a Indonésia abandonou suas posições neutralistas e suas ligações com a China, assumindo uma política ocidentalista e pró-americana.

Mas, uma crise financeira abalou a Indonésia em 1998 e provocou reações desesperadas da população. Os indonésios correram aos bancos para comprar dólares e aos supermercados, a fim de estocarem alimentos. Apesar do acordo assinado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o potencial de alta da inflação e a instabilidade política explodiram em violentos conflitos de rua, quando Suharto renunciou em 1998. Outro problema não solucionado relacionou-se com o movimento de libertação do Timor Leste (antiga colônia portuguesa) que se tornou independente em 1975.

 

A Independência da Indochina

 

A Península Indochinesa foi conquistada no século XIX pela França, a qual estabeleceu protetorados sobre o Anã, o Camboja, a Cochinchina e o Laos. E, durante a 2ª Guerra, o Japão obteve permissão do governo de Vichy para ocupar a região. No Tonquim se organizou a Liga Revolucionária liderada por Ho-Chi Minh que empreendeu luta contra os nipônicos (1941/45).

Com a derrota do Japão, Ho-Chi Minh proclamou a independência da República Democrática do Vietnã (restrita à parte norte), não reconhecida pelos franceses. Estes voltaram a ocupar o Laos, o Camboja e o Vietnã do Sul (compreendendo a Cochinchina e o Anã).

A França colocou no Vietnã do Sul um governante fantoche e tentou a reconquista do Vietnã do Norte e, uma nova luta contra o colonialismo francês, acabou durando oito anos (1946/54). Na Conferência de Genebra (1954) a França retirou suas tropas e reconheceu a independência do Laos, do Camboja e do Vietnã.

Entretanto, a conjuntura internacional sofrera alterações e, no contexto da Guerra Fria, a vitória de Mao Tsé-tung na China e a Guerra da Coréia levaram os EUA a ajudar o Vietnã do Sul, contrabalançando a ajuda sino-soviética a Ho Chi Minh. A ascensão de Ngo Dinh Dien no Vietnã do Sul evidenciou a preocupação americana com o Sudeste Asiático.

A intervenção militar americana, iniciada em 1961, ampliou-se com o tempo: _ ataque ao Vietnã do Norte (1965), a invasão do Camboja (1970) e a intervenção no Laos (1971). Entretanto, as enormes perdas materiais e humanas, a impossibilidade de vencer a resistência dos vietnamitas obrigaram os EUA a se retirar do Vietnã (Acordo de Paris, de 1973). No entanto, a guerra continuou no Sudeste Asiático.

Em 1975 o Khmer Vermelho (reunindo partidários do príncipe, os antigos combatentes e comunistas) tomou Phnom Penh, libertando o Camboja dos dirigentes corruptos. Pouco depois foi a vez de Saigon (capital do Vietnã do Sul) ser conquistada pelos vietcongues, com isso encerrando vitoriosamente um conflito que durava mais de 30 anos.

Entretanto, a situação no Sudeste Asiático permanecia conflituosa e, em 1980, o Laos se envolveu em uma guerra com a Tailândia, enquanto o Vietnã invadiu o Camboja, sendo por sua vez invadido pela China. Tais conflitos refletiram o confronto entre a China (aliada dos EUA) e a antiga URSS, que tinham no Vietnã um dos pontos de apoio para a hegemonia soviética no Sudeste Asiático.

No final de 1980 sob o efeito da desintegração do Socialismo no mundo, o Laos promoveu uma abertura econômica, privatizando empresas estatais, embora mantivesse o sistema de partido único. No Camboja, a China e a antiga URSS apoiaram (1990) a formação de um governo de coalizão após a retirada das tropas vietnamitas que haviam invadido o país em 1979.

A situação do Vietnã unificado foi abalada, na década de 1980 por séria crise econômica, a qual foi agravada pelo embargo imposto pelos EUA e, a partir de 1986, o governo comunista produziu reformas liberalizantes e promoveu uma abertura política limitada. Assim, em 1994, os EUA suspenderam o embargo econômico ao Vietnã – que já durava 30 anos – e, no ano seguinte, reataram relações diplomáticas com o país.



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quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A Expansão das Colônias na Ásia no Final do Século XIX

 Como Ocorreu a Expansão Colonialista Portuguesa na Índia? Que Tipos de Colônias se Espalharam Pela China? Qual o Papel do Japão na Expansão Colonialista Europeia?

 




A Índia era uma sociedade tradicionalista e estruturada em castas hereditárias, implicando uma função social e um gênero de vida que era regulamentado rigorosamente. A economia era essencialmente agrícola e a continuidade das instituições era reforçada pelo hinduísmo, cujas normas impunham o conformismo. O islamismo – dominante nas regiões setentrionais – igualmente não comportava estímulos a transformações.

A Índia se dividia politicamente em vários Estados cujos governantes subordinavam-se ao imperador mongol de Nova Deli. Mas, desde o século XVI os portugueses estabeleceram feitorias e, a ação inglesa, só se fez presente a partir do século XVII através da Companhia das Índias Orientais – que, obtendo o monopólio do comércio indiano, fundou entrepostos comerciais.

Até inícios do século XIX o desenvolvimento do capitalismo inglês importou novas diretrizes de consequências desastrosas para a Índia. Interessados em ampliar a produção de matérias primas, os ingleses confiscaram propriedades rurais, suprimiram a servidão camponesa e estimularam a produção de algodão, cânhamo e juta.

Foi estabelecido o pagamento de um imposto individual, o que forçava os nativos a buscar um trabalho assalariado, assim ampliando a oferta de mão de obra e o mercado consumidor da produção fabril inglesa. A reação indiana foi a Revolta dos Sipaios (1859) empreendida pelas tropas nativas e, apesar do sentido anti-inglês, o movimento nacionalista não teve caráter nacional e foi duramente combatido pelos britânicos.

Após a submissão a administração foi reorganizada, suprimiu-se a Companhia das Índias Orientais, confiou-se a autoridade a um vice-rei nomeado pelo Parlamento, admitiu-se a participação de indianos na administração, permitiu-se o funcionamento de partidos políticos e se estabeleceu eleições para escolha de membros do Parlamento indiano.

A consolidação do domínio inglês na Índia deu à Inglaterra importante ponto de apoio para a sua luta política imperialista no Extremo Oriente, possibilitando ainda o controle de uma sociedade que viria a fornecer excelentes soldados para os exércitos ingleses em suas campanhas de conquista.


A Abertura da China


O Império Chinês era o mais vasto e o mais povoado dos Estados asiáticos, compreendendo, além da China, a Mongólia, a Manchúria, o Tibete e partes da Coréia e Anã. Sua economia era baseada na agricultura, exigindo-se o cultivo coletivo dos campos e o pagamento de tributos ao Estado.

O Estado empreendia as obras hidráulicas necessárias às atividades agrícolas, o artesanato era bem ativo e nas oficinas produziam-se sedas, lacas, objetos de porcelana e outros produtos de luxo.

Desde o século XVIII, comerciantes ingleses procuravam ampliar suas atividades na China (restritas ao porto de Cantão), através do qual adquiriam produtos chineses e vendiam – principalmente – ópio. O fracasso das negociações levou o governo inglês a buscar um pretexto para intervir na China e, após a destruição de um carregamento inglês de ópio, uma expedição naval bombardeou Nanquim e impôs o primeiro “Tratado dos Desiguais”.

Através dele, a Inglaterra obteve a Ilha de Hong-kong, a abertura de cinco portos, uma indenização de guerra e o fim do monopólio do Co-Hong e, desse modo, o capitalismo inglês garantia a venda de seus produtos fabris.

Pouco depois, a França e os EUA obtiveram vantagens semelhantes em novos tratados desiguais, os quais resultaram no Tratado de Pequim (1860) que abriu ao Ocidente outros onze portos, obrigando a pesada indenização, concedendo a extraterritorialidade (os estrangeiros não se submetiam às leis chinesas) e a livre circulação de missionários e comerciantes em território chinês.

As concessões aos ocidentais acarretaram crescente dependência governamental e, paralelamente, havia intensificação da xenofobia popular – cada vez mais violenta – embora condenada ao fracasso, porque os chineses se apegavam às suas tradições e se recusavam a assimilar as técnicas ocidentais, o que implicaria um desrespeito aos seus ancestrais.

Nas últimas décadas do século XIX os ocidentais lançaram uma política de investimentos de capitais (aplicados em ferrovias, serviços urbanos, minas, etc.) e de conquista de Estados (a França ocupou o Anã, a Inglaterra apoderou-se do Tibete) e, tudo isso, culminou com a Guerra Sino-Japonesa que conduziu à partilha do país em áreas de influência submetidas ao controle de potências estrangeiras, mediante arrendamento de longo prazo.

A Guerra Sino-Japonesa além de evidenciar a modernização do Japão (que ambicionava a Coreia) enfraqueceu a dinastia Tsing e, através de um tratado, a China reconheceu a independência da Coreia e cedeu ao Japão a Ilha de Formosa, a Ilha dos Pescadores e a península de Liao-Tung. Novo tratado desigual arrendou à Inglaterra (por 99 anos) Hong-kong e os “Novos Territórios”.




A impotência da dinastia diante dos estrangeiros provocou nova manifestação do nacionalismo xenófobo chinês: _ a Revolução dos Boxers (1901) que se expressou através da destruição de ferrovias, missões religiosas e legações diplomáticas. Atemorizadas, as potências imperialistas se limitaram a mandar um exército internacional que submeteu os revoltosos.

Porém, um movimento revolucionário mais bem organizado começou a crescer e organizou-se a Liga Revolucionária da China, a qual uniu várias sociedades secretas em torno dos “Três Princípios do Povo”: independência, soberania popular e bem-estar. Esse movimento ganhou apoio da burguesia, de intelectuais e das massas populares e a sua vitória marcou  - em 1911 – a proclamação da República.


A Abertura do Japão


Assim como a China, o Japão apresentava-se fechado a contatos com o exterior e possuía estruturas arcaicas, no século XIX. O regime feudal fazia do imperador uma figura decorativa em face do poderio dos daimios (aristocracia senhorial, cujos feudos eram trabalhados por camponeses em condições servis). Esses tinham a seu serviço os samurais que, em troca de sustento, deviam obrigações militares.

Os Tokugawa – poderosa família de daimios – ocupavam o cargo de xogum (generalíssimo) e, contra essa situação cresciam forças de oposição, expressadas em diversas subelevações camponesas, descontentamento dos pobres samurais, nas ambições dos comerciantes e no desejo do imperador em recuperar sua autoridade. Essas forças foram liberadas com a penetração ocidental.

A abertura do Japão ao imperialismo ocidental foi realizada pelos EUA, pois uma esquadra americana obrigou o xogum a conceder aos americanos o direito de comerciar. Tratados desiguais foram impostos pela França, Inglaterra e Rússia ao xogum – incapaz de resistir ao poderio dos estrangeiros.

Tais concessões alimentaram a xenofobia japonesa. A reação ao impacto da penetração ocidental foi diferente da chinesa: _ o Japão se modernizou adotando técnicas ocidentais, sem abdicar de seus costumes orientais. O regime feudal foi abolido (provocando, em poucos anos, enorme revolução social), a distinção das castas foi suprimida, os daimios perderam seus privilégios e suas terras foram distribuídas aos camponeses.

Deixando de receber pensões dos daimios os samurais forneceram quadros aos exércitos, à administração e à polícia. O Estado impulsionou as transformações econômicas, subvencionando a criação de usinas e, uma rede ferroviária e telegráfica, também foram construídas.

A Revolução Industrial processou-se – inicialmente – no setor têxtil e, apesar da falta de ferro, desenvolveu-se a construção naval e inúmeras indústrias de transformação. Concentrada em imensos trustes, a indústria japonesa atendia às necessidades do país e começou a exportar tecidos.

Organizou-se poderoso e disciplinado exército, construiu-se moderna e eficiente esquadra de guerra, convertendo o Japão em uma potência cujo poderio logo se evidenciou ao se lançar à corrida imperialista.

As transformações se processaram com o apoio da Inglaterra e tal apoio se explica pela rivalidade anglo-russa, no século XIX. A expansão russa constituía uma ameaça aos interesses ingleses na China, no Tibete em outras regiões asiáticas. Daí o auxílio inglês ao Japão, visando a transformá-lo em um aliado capaz de conter o poderio russo na Ásia Oriental.

A entrada do Japão na corrida imperialista foi espetacular, pois após vencer a China o Japão esmagou os russos em rápidas vitórias. A Guerra Russo-Japonesa (1904 / 1905) decorreu das ambições russas e japonesas sobre a Coreia e a Manchúria. Inquietos com os progressos nipônicos os americanos ofereceram sua mediação para a conclusão de um tratado, entregando ao Japão a Ilha Sacalina, o Porto Artur e concessões ferroviárias na Manchúria, além de reconhecer o protetorado sobre a Coreia – pouco depois anexada pelos japoneses.

Dessa forma, a vitória japonesa teve grande repercussão, pois pela primeira vez uma potência europeia era derrotada por um Estado asiático, uma vez que a derrota russa evidenciou a fraqueza do regime czarista e levou os russos a se voltarem para uma política europeia – cujo desenvolvimento nos Bálcãs contribuiu para gerar crises que levaram à Primeira Guerra Mundial.


quarta-feira, 16 de outubro de 2024

O Lixo ao Mar

 

No Bilionário Mercado de Desmonte de Plataformas, Vale a Pena Afundá-las no Mar ou Transformá-las em Recifes de Corais?

 

 


 

Uma plataforma de petróleo pode pesar 20 mil TON. (Mais ou menos o peso de 200 mil baleias) e, com esse porte descomunal, aposentá-las é tão complicado quanto tentar ser discreto usando uma melancia na cabeça.

Mais de 40 anos após o início da exploração de petróleo em Campos (RJ), a indústria de óleo e gás começa a pensar no que fazer com as embarcações próximas da aposentadoria, pois 67 delas (42% do total) vão chegar ao fim do “prazo de validade”.

O desmonte de plataformas é um negócio bilionário que movimentou quase U$ 6 bilhões em 2017 e, enquanto essas embarcações envelhecem, essa atividade ganha fôlego. “É um mercado que está em ebulição”, afirmou Maurício Almeida – especialista do setor naval da Sigma Consultoria – acrescentando ainda que essa atividade já é conhecida no Mar do Norte e no Golfo do México, mas ainda está em estágio inicial no Brasil.

Como quase tudo que envolve essa indústria, a aposentadoria das embarcações é envolta em polêmicas e alvo das críticas de ambientalistas. No exterior, o desmonte já significa tampar poços, vender partes, peças e afundar a plataforma no mar. A opção de transformar as estruturas em recifes artificiais é uma alternativa vista com ceticismo pelos defensores do meio ambiente.

O Greenpeace é contra e, em 1995, eles ocuparam a plataforma de Brent Spar por três (3) semanas para protestar contra os planos de que a estrutura de 15 mil TON fosse enterrada no Oceano Atlântico. A estratégia deu certo, pois a embarcação foi desmontada e parte da estrutura foi usada para fazer um novo cais na Noruega. Após esse evento, a Convenção para a Proteção do Ambiente Marinho no Atlântico Norte recomendou a remoção de plataformas.

Na aposentadoria de plataformas é importante contar com um centro integrado em condições de receber em terra materiais que serão desmontados, descontaminados ou triturados. Marcelo Igor Souza – professor da Coppe / UFRJ – observou que a hipótese de transformar uma plataforma num recife artificial requer muito estudo, a fim de evitar os efeitos do inimigo de alto potencial destrutivo – o coral-sol.

Essa espécie teria chegado ao Brasil nos anos 80, incrustada em cascos de navios e plataformas de petróleo. O risco é levar o coral-sol para perto da superfície. De acordo com o IBAMA uma das preocupações é garantir que as pessoas afetadas pelo projeto sejam respeitadas e que suas opiniões sejam ouvidas.

Já existe uma instrução do órgão que trata do licenciamento ambiental de recifes artificiais e, exercer essa alternativa, requer um estudo para determinar o local apropriado e verificar se a área é usada pata turismo ou desenvolvimento da vida marinha. Além de evitar a propagação do coral-sol, a empresa deve ficar responsável pela instalação e manutenção do recife artificial.

O processo para encerrar as atividades de uma plataforma inclui desligar e tampar os poços, retirar todos os materiais e equipamentos localizados na parte superior da embarcação e remover os equipamentos da parte submersa, quando então serão levados para uma área em terra. Outra alternativa seria reutilizar a própria unidade, sendo possível usar a parte fixa como base para mergulhadores ou trabalhadores de outras plataformas.

É possível ainda usar a estrutura para a geração de energia solar ou eólica. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) está reformulando a regulamentação sobre o desmonte de plataformas, num trabalho com a participação da Marinha e do IBAMA.

A Petrobrás já se desfez de 5 plataformas e, como eram estruturas flutuantes, elas foram rebocadas. Algumas foram convertidas para ter outras finalidades como sondas de perfuração de poços, mas até agora a estatal optou por vender – ou reaproveitar – as estruturas usadas. Porém, ela não descarta transformar alguma das futuras embarcações – que serão aposentadas – num recife artificial no fundo do oceano.




A petroleira brasileira tem planos de aposentar mais cinco (5) embarcações até 2020. Por ora, a ideia é reutilizar equipamentos em novos projetos de desenvolvimento, ou vendê-los. O custo de desmontar uma plataforma é de U$ 600 milhões para uma embarcação de 10 mil TON.

Um dos entraves para o cálculo exato de quantas embarcações serão desmontadas, é o fato de existirem iniciativas para aumentar a vida útil dessas plataformas. Após 25 anos de operação, a empresa precisa decidir se vai tentar dar uma sobrevida ao projeto ou desmontá-lo.

A Noruega tem unidades que produzem petróleo há mais de 45 anos e o Brasil tem plataformas em funcionamento há 35 anos. A ANP diz que trabalha para que o desmonte seja postergado ao máximo. Ela antecipou os pontos que serão exigidos na nova regulamentação. A ideia é mostra que o desmonte é a última opção tanto para os equipamentos quanto para a situação dos reservatórios.

Outra estratégia para aumentar a vida útil dos equipamentos é elevar o chamado fator de recuperação que, na prática, é a quantidade de petróleo que se consegue extrair de um reservatório. Esse será o principal fator da nova regulamentação, além da caracterização ambiental da área onde estão as instalações.

 

 

Revista Época (06/08/2018)

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

O Microscópio e os Novos Mundos Interiores

 

O Que as Pessoas Procuravam nas Primeiras Utilizações do Microscópio? Por Que a Descoberta do Microscópio Foi Acidental? O Que Revelaram as Primeiras Visões Proporcionadas Pelos Microscópios?




O microscópio foi um produto que vivenciou a mesma era do telescópio. Porém, enquanto Copérnico e Galileu – precursores do telescópio – se tornaram os heróis da modernidade, Robert Hook e Anton Leeuwenhoek (seus correlatos no mundo microscópico) foram relegados ao mundo das ciências especializadas.

Na verdade, tanto Copérnico quanto Galileu desempenharam papéis principais na “batalha” entre a ciência e a religião e seus correlatos não. Sabe-se que o microscópio – como os óculos e o telescópio – já era utilizado bem antes de o princípio da ótica ser compreendidos e que, provavelmente, a sua descoberta foi tão acidental como a do telescópio.

Então, dificilmente o microscópio poderia ter sido concebido por alguém muito ansioso por olhar para dentro de um mundo ainda não imaginado. Pois, ao utilizarem os primeiros telescópios, as pessoas procuravam apenas ampliar os objetos próximos e, por isso, Galileu disse que “com este tubo tenho visto moscas que parecem do tamanho de cordeiros e soube que elas são cobertas de pelos e têm unhas muito pontiagudas, por meio das quais se mantém direitas e caminham sobre vidros”.

Mas, as mesmas desconfianças que tornaram os críticos de Galileu renitentes em olhar através do telescópio, igualmente atormentaram o microscópio. O telescópio era obviamente útil em combates, mas ainda não existiam combates onde o microscópio pudesse ajudar. Na ausência de uma ciência ótica, as pessoas temiam as “ilusões” da ótica.

Esta desconfiança de todos os instrumentos óticos foi o grande obstáculo levantado a uma ciência nesse seguimento. Acreditava-se que qualquer instrumento colocado entre os sentidos e o objeto a ser sentido só poderia induzir em erro as faculdades dadas por Deus.

Em 1665, Robert Hooke publicou sua obra que era uma fascinante miscelânea onde expunha sua teoria da luz, da cor, suas teorias da combustão, da respiração e uma descrição do microscópio e dos seus usos. Mas as suspeitas das ilusões de ótica haveriam de atormentá-lo. O que Galileu fez pelo telescópio, Hook fez pelo microscópio, embora não tenham inventado seus respectivos instrumentos.

Mas, o que Hook descreveu acordou a Europa culta para o maravilhoso mundo interior. Foram 57 espantosas ilustrações desenhadas por ele que revelaram pela primeira vez o olho de uma mosca, a forma do ferrão de uma abelha, a anatomia de uma pulga e de um piolho. As ilustrações de Hook permaneceram nos manuais de ensino até o século XIX.

Do mesmo modo que o telescópio uniu a Terra e os mais distantes corpos celestes num único esquema de pensamento, as vistas proporcionadas pelo microscópio revelaram um mundo minúsculo surpreendentemente semelhante ao que era visto todos os dias em grande escala. O microscópio desbravou continentes nunca antes penetrados e em muitos aspectos, fáceis de explorar.

As grandes viagens marítimas tinham exigido capital vultoso, gênio organizativo e o carisma de um Infante D. Henrique ou de um Cristóvão Colombo ou mesmo um Vasco da Gama. A exploração astronômica exigiu observações coordenadas de pessoas em muitos lugares. Mas, um homem sozinho com um microscópio podia se aventurar pela primeira vez onde não existiam nem navegadores com experiência nem hábeis pilotos.

O holandês Anton van Leeuwenhoek foi pioneiro da nova ciência de exploração de outros mundos. Ele ganhava a vida vendendo seda, lã e algodão e tinha um bom rendimento como presidente do Conselho Municipal. Após a morte do seu amigo íntimo (o pintor Jan Vermeer), ele acabou se tornando curador da sua massa falida.

Anton jamais frequentou uma universidade e, durante os 90 anos de sua vida, só saiu da Holanda duas vezes. Ele não sabia latim e só escrevia em holandês, mas naquela altura já não era mais preciso saber hebreu, grego, latim ou árabe para entrar na comunidade dos cientistas. Pois, cientistas ingleses e holandeses permutavam cordialmente informações e compartilhavam opiniões científicas.

Em 1668, a Royal Society de Londres publicou o trabalho de um fabricante de lentes italiano que, servindo-se de um microscópio, descobriu “um animal mais pequeno do que quaisquer dos vistos até hoje”. Anton foi atraído para uma comunidade científica, onde desfrutou de 50 anos de comunicação com um mundo de colegas invisíveis.

Os negociantes de tecidos (como Anton) utilizavam um óculo para inspecionar a qualidade dos tecidos. Seu primeiro microscópio foi uma pequena lente, desbastada à mão a partir de um glóbulo de vidro e presa entre duas placas metálicas e perfuradas, através das quais se podiam observar o objeto. Anton desbastou 550 lentes, a melhor das quais tinha uma capacidade ampliadora de 500 e uma capacidade de resolução de um milionésimo de um metro.

Fiel às tradições da alquimia, da construção de instrumentos e da cartografia, Anton era de um grande secretismo. O que os visitantes de sua loja viam não era nada comparado com o que ele próprio enxergava com as suas lentes superiores.

A Royal Society de Londres encorajou Anton a comunicar suas descobertas e, como não tinha nenhum programa de investigação, uma carta era o formato ideal para comunicar seus vislumbres das entranhas de tudo. Algumas das primeiras observações se revelaram mais surpreendentes e, se Galileu ficou emocionado quando distinguiu estrelas na Via Láctea e os quatro satélites de Júpiter, mais emocionante foi para Anton descobrir um universo em cada gota de água.

Uma vez de posse de um microscópio, Anton começou a procurar qualquer coisa a fazer com ele e, em setembro de 1674, encheu um frasquinho de vidro com água turva de um lago pantanoso. Quando a colocou sob a lente de aumentar ele descobriu “muitos animais pequenos”. Numa famosa carta enviada à Royal Society concluiu dizendo que “estes pequenos animais eram mais de 10 mil vezes menores que o animal retratado por Swammerdam, o qual deu o nome de pulga de água”.

Tendo descoberto o mundo das bactérias Anton foi avante e, contradizendo os dogmas de Aristóteles a respeito de animais inferiores, declarou que “cada um dos animais tinha o seu complemento completo de órgãos corporais necessários à vida que levava”.

Portanto, não havia nenhuma razão para crer que os pequenos animais, insetos e vermes intestinais nascessem espontaneamente da imundície, do esterco e da matéria orgânica em decomposição. Antes, como a Bíblia insinuava, cada um se reproduzia segundo a sua espécie e era rebento de um predecessor da mesma espécie.

Explorador irreprimível, Anton meteu-se por muitos becos sem saída, explicando o gosto pungente da pimenta pela sua textura microscópica, e o crescimento humano pela “pré-formação” de órgãos no esperma. Mas, ele também abriu perspectivas para a microbiologia, histologia, botânica e cristalografia.

Portanto, sua merecida eleição para a Royal Society encantou-o e assinalou um novo mundo de cientistas sem graus acadêmicos, onde o saber seria promovido não apenas pelos tradicionais zeladores, pois os simples mecânicos e/ou amadores também poderiam desempenhar seu próprio papel.



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quarta-feira, 2 de outubro de 2024

Pesquisa Científica: Conceitos, Definições e Classificação

 

O Que Significa Uma Pesquisa Científica? Quais São os Tipos de Pesquisas Científicas? O Que é Uma Pesquisa Bibliográfica?




Trata-se de um procedimento sistemático, controlado e crítico, o qual permite descobrir novos fatos, dados, relações ou leis em qualquer campo de conhecimento. Dessa forma, a pesquisa se define em encontrar as relações entre os fenômenos, fatos, coisas. Mas para uma pesquisa científica ser eficaz faz-se necessário um procedimento sistemático, a fim de seguir um planejamento específico do pesquisador. 


TIPOS DE PESQUISA


Inicialmente, definiremos a pesquisa qualitativa, pois segundo Minayo (1), “a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, ela se preocupa, nas ciências sociais, com o nível da realidade que não pode ser quantificado.” 

Todavia, esse tipo de pesquisa se preocupa em descrever crenças, aspirações, valores e atitudes correspondendo a um determinado espaço de relações e, por esse motivo, delimitando nosso assunto, apontando três (3) tipos de pesquisa: 


PESQUISA DESCRITIVA – Aborda fenômenos e os fatos, as suas relações e interações entre eles. O pesquisador somente observa os dados sem adulterar os resultados. A pesquisa descritiva busca caracterizar as múltiplas situações e relações que ocorrem na sociedade, econômica, política e no comportamento humano, tanto do indivíduo isolado ou nos grupos e comunidades. 

PESQUISA EXPERIMENTAL – Utiliza o trabalho com as variáveis envolvidas no objeto pesquisado. Nessa pesquisa, empregam-se aparelhos e instrumentos disponíveis pela técnica, para identificar as relações que existem entre as variáveis do objeto de estudo.

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA – Desenvolve um estudo a partir do problema, assim delimita-se a partir de um referencial teórico, inserido em publicações e material documental. O objetivo dessa pesquisa é recolher, desenvolver, desvendar e analisar as principais fontes teóricas sobre um determinado assunto. Ou seja, determinado objeto de estudo, através das seguintes pesquisas descritivas: 




- PESQUISA DOCUMENTAL – Realiza sua pesquisa através de documentos, procurando descrever e comparação dos costumes, usos e tendências. 

- PESQUISA DE OPINIÃO- Trata-se uma pesquisa de cunho “subjetivo”. Procura desvendar as razões inconscientes que levam a determinar a inclinação por alguma atitude ou produto. 

- ESTUDOS EXPLORATÓRIOS - Identificado por alguns de pesquisa de cunho não científica. Não desenvolvem hipóteses, mas desenvolvem objetivos em busca formações mais aprofundadas sobre determinado assunto. Esses estudos são sugeridos para a construção de conhecimentos sobre o problema em estudo. 

- ESTUDOS DESCRITIVOS – Objetivam-se em estudar e descrever as características na realidade objeto da pesquisa. 

- ESTUDO DE CASO - Realiza uma pesquisa sobre algum indivíduo, grupo ou sociedade objetivando estudar variados aspectos da vida.


Já a pesquisa quantitativa visa, segundo Minayo et al (2002:22): 

(...) o método quantitativo enquanto suficiente para explicarmos a realidade social está a questão da objetividade. Para os positivistas, a análise social seria objetiva se fosse realizada por instrumentos padronizados, pretensamente neutros. A linguagem das variáveis ofereceria a possibilidade de expressar generalizações com precisão e objetividade. 

Em suma, a pesquisa quantitativa requer o uso de coletas de dados, uso de medidas e estatísticas, questionário fechado com técnicas descritivas em termos de codificação numérica.


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(1MINAYO, Maria Cecília (org) et al, Pesquisa Social-Teoria, método e criatividade.21ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.


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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

O HUMANISMO e o RENASCIMENTO

 

Qual Era o Perfil das Pessoas Que Apoiavam o Humanismo? Que Fatores Ajudaram na Difusão do Humanismo? Quais Eram as Condições Para o Início do Renascimento?




 Que Obra de Arte é o Homem! ”. Essa pequena inversão da frase de Shakespeare é fundamental para explicar as mudanças ocorridas – na Idade Média – no plano das ideias. Emergia então uma nova visão do mundo, em que o Homem passou a ser o centro das atenções intelectuais.

O rígido teocentrismo medieval – que focava suas atenções na relação Deus-Homem – foi substituído pela glorificação do Homem e pela preocupação da relação Homem-Natureza.

As pessoas interessadas nessa ruptura com as ideias medievais buscavam inspiração nas obras greco-romanas para representar seu próprio mundo. Era o Renascimento, que revelou ao mundo muitos pensadores a artistas.

O estudo do Homem e da Natureza levou ao progresso das ciências, onde se destacavam Copérnico e Giordano Bruno. E, enquanto o Humanismo era universalista, o Renascimento era revestido de cores nacionais e envolvia não só as letras, como as artes e as ciências.

 

Humanismo

 

Desde o fim do século XIV, na Itália, certo número de homens cultos – os humanistas ([1]) – apaixonou-se pela recordação da Antiguidade Greco-Latina. Para alguns, os humanistas eram “letrados profissionais, geralmente provenientes da burguesia, eclesiásticos, professores universitários e funcionários a serviço de uma editora”.

O Humanismo deve ser entendido como um movimento intelectual de valorização da Antiguidade Clássica, não se tratando apenas de copiar as realizações do Classismo Greco-Romano. E, embora não fosse rigorosamente uma filosofia, o humanismo representou um movimento de glorificação do Homem.

Eles não aceitavam mais os valores e as maneiras de ser e viver da Idade Média, pois viam na Antiguidade aquilo que correspondia aos desejos que sentiam e, dessa forma, os humanistas valorizavam mais a produção cultural da Antiguidade Greco-Romana sem pregarem um retorno ao passado. Alguns fatores ajudaram na difusão do Humanismo, tais como:

 

·                     O aperfeiçoamento da imprensa – o que possibilitou a impressão dos clássicos gregos e romanos, pois até então os livros eram manuscritos e caríssimos.

·                     A decadência de Constantinopla com as Cruzadas – acarretando o êxodo de intelectuais bizantinos e grande afluxo de textos antigos para a Itália (berço do Humanismo).

·                     A expansão comercial e marítima que, ao alargar horizontes geográficos e culturais, proporcionou o contato europeu com povos de culturas distintas, contribuindo para derrubar ideias tidas como absolutas.

·                     O mecenato praticado pelos burgueses ricos, príncipes e até papas, interessados em projetar suas cortes e daí financiarem as atividades do Humanismo.

 

O Humanismo conduziu a modificações dos métodos de ensino, enriquecidos com o estudo das línguas clássicas (como o grego e o latim) e em estudar a Natureza e desenvolver análise na investigação científica. Possibilitou maior conhecimento da Antiguidade, cujas realizações poderiam servir de modelos nas atividades humanas nos campos literários e artes plásticas.


 

Renascimento

 

Renascimento foi a expressão do movimento humanista nas artes, filosofia, música e nas ciências – cujas maiores manifestações ocorreram entre 1490 e 1560 – podendo-se afirmar que toda a Europa se transformou. As condições para o início do Humanismo e do Renascimento devem ser procuradas nas transformações estruturais do período, surgindo em função do Absolutismo e do crescimento da burguesia.

Enriquecida com o comércio, a burguesia procurou se firmar na sociedade onde os valores não eram os seus, mas sim os projetados pela Igreja e pela nobreza feudal. E, a fim de difundir os seus valores, os mercadores e os banqueiros promoveram as artes, as letras e as ciências.

Igualmente, a política de centralização monárquica levou diversos soberanos a estimular a produção artística e literária, visando a uma promoção pessoal: tratava-se de atrair partidários para o Absolutismo. Daí a atuação de um Francisco I (da França), de um Felipe II (Espanha) e de Elisabete I (Inglaterra), contratando arquitetos e fornecendo pensões a escritores, pintores e escultores.

O foco inicial foi a Itália, surgindo o movimento nas ricas cidades mercantis como Florença, Veneza e até na Corte Papal onde Leão X foi um dos grandes mecenas. Mas, procurar as causas do Renascimento na fuga de sábios bizantinos para a Itália ou na invenção da imprensa é ridículo, embora isso não queira dizer que tais acontecimentos – principalmente a imprensa, que possibilitou a invenção do livro – não tenham contribuído para estimular o Renascimento e o Humanismo.

Além do mais, a Itália fora no passado o centro da Civilização Romana, uma das raízes daqueles movimentos: nela ainda existiam reminiscências das antigas realizações romanas, podendo servir de modelo para as criações dos humanistas e dos renascentistas. Dessa forma, pode-se afirmar que o Renascimento é uma cultura urbana e burguesa, mas suas bases foram lançadas em plena Idade Média.

A visão deformada de Idade Média nos foi transmitida pelos próprios renascentistas, os quais a consideravam “uma noite de mil anos”. Ora, é um erro grave em termos de ciência histórica ignorar-se a produção intelectual de qualquer etapa histórica. Apesar da inegável influência medieval evidente na produção de muitos renascentistas, o Humanismo e o Renascimento representaram uma reação aos padrões culturais medievais.

Ao teocentrismo opuseram o antropocentrismo, à fé contrapuseram a razão, ao espírito de associação defrontaram o individualismo, à religiosidade opuseram o paganismo – o que não deve ser confundido com ateísmo.

Pela sua importância destacou-se o Renascimento italiano. O Renascimento Literário teve como representantes principais Dante Alighieri (“A Divina Comédia”), Nicolau Maquiavel (“O Príncipe”), Giovanni Boccacio (“Decameron”) – todos italianos – além do espanhol Miguel de Cervantes (“D. Quixote”), o inglês William Shakespeare (“Romeu e Julieta”) e o português Luís de camões (“Os Lusíadas”).

O Renascimento Artístico teve seus expoentes em Leonardo da Vince (“A Última Ceia”, alem de esculturas, músicas e trabalhos matemáticos) e Miguel Ângelo (decorou a “Capela Sistina”).

Paralelamente, o estudo do homem e da Natureza conduziu ao Renascimento Científico, onde a impressão de obras da Antiguidade Clássica, o espírito crítico e a rejeição do princípio da autoridade conduziram ao nascimento da ciência experimental.

Diante disso, generalizou-se o costume de observar os fenômenos da Natureza, explicando-os racionalmente e correlacionando-os com os fenômenos já conhecidos. Destaca-se o polonês Nicolau Copérnico, cuja teoria heliocêntrica foi completada pelo italiano Galileu Galilei e pelo alemão Johann Kepler.

A medicina contou com os estudos de William Harvey (mecanismo de circulação do sangue), André Vesálio (considerado o pai da anatomia moderna) e muitos outros.


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([1]) Da palavra latina “humanus”, “polido” ou “culto”.



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