Como a Igreja Católica Lidou Com as Heresias e os Desvios de Doutrina na Idade Média? Quais as Principais Diferenças Entre Feudalismo e Senhorio?
A Baixa Idade Média foi o período histórico europeu entre os séculos XI e XV, marcado por um renascimento urbano e comercial, pelo auge e posterior declínio do Feudalismo, e pela transição para a Idade Moderna, com eventos como a invenção da imprensa, a descoberta da América e a Queda de Constantinopla. Esse período se caracterizou pela expansão agrícola, pela centralização do poder monárquico e pela crescente influência do Papado, culminando em crises como as epidemias e a Grande Fome, mas também com o surgimento da arte gótica e o desenvolvimento de novas tecnologias. Veremos também como a Igreja Católica lidou com as heresias, os desvios de doutrina que surgiram e ganharam força na Idade Média, e o porquê dessa difusão. Tentaremos entender o que foram os movimentos chamados Cruzadas, seus propósitos e motivações, os conflitos decorrentes dessa proposta belicosa do Ocidente, as traições e as consequências para a Europa e para o mundo conhecido.
Feudalismo e Senhorio
Os objetivos são analisar as
relações político-sociais da nova ordem medieval do séc. XI; analisar as
relações econômico-sociais da nova ordem e o significado de servidão; e
compreender as diferenças entre Feudalismo e Senhorio. Desde Carlos Magno, os
reis quiseram fazer da vassalagem um instrumento de governo. Havia
insuficiência e ineficácia nos quadros administrativos do Estado, sendo preciso
criar mecanismos que permitissem o governo de um vasto território. A grande
maioria das pessoas era analfabeta, as distâncias eram enormes, os caminhos
difíceis. A vassalagem surgiu, então,
como uma maneira de o rei controlar seus súditos e impor a autoridade real por
um mecanismo conhecido como “interposta pessoa”, isto é, o rei governa por
intermédio de outros, escolhidos por ele e que a ele devem respeito. Esse grupo restrito eram os grandes
proprietários de terra, os grandes aristocratas. Pois a base do poder sobre os
homens permanece a terra, e o poder, em geral, se reparte da mesma maneira. E
como era constituída essa relação?
A avassalagem baseava-se em um
juramento de reciprocidade, em que um senhor (no caso o rei) oferece segurança,
cargos, terras e privilégios
a membros da
aristocracia (no caso os
grandes proprietários de terras), que em troca juravam fidelidade,
obediência e ajuda militar ao seu suserano, ao seu senhor. O rei, assim,
delegava parte de seu poder aos senhores regionais, que, por sua vez, aplicavam
o mesmo mecanismo da vassalagem aos senhores locais, os médios e pequenos
proprietários de terra. Essas cadeias de juramentos mantiveram coesa, por um
certo tempo, a ordem política na Europa Ocidental, desde o Império Carolíngio.
Suserania e
Vassalagem
Na Vassalagem também havia:
·
Considerações Militares: Os vassalos do
suserano estavam obrigados por juramento a dispor de seus exércitos de vassalos
em caso de necessidade de seu suserano, como uma guerra ou disputa com
inimigos.
·
Considerações Políticas e Administrativas:
Os vassalos diretos do rei recebiam benefícios e privilégios, e até mesmo
terras (honores) para exercerem a administração do território. Foi dado a eles
o símbolo da autoridade pública, o bannum
do rei. E o que era bannum? Era um poder geral do rei de comandar, coagir e
punir os homens livres. Até o século X, esse poder de bannum passa a ser
exercido não mais em favor do suserano (o rei), mas em favor desses grandes
proprietários regionais, os vassalos do rei, que o aplicavam em proveito
próprio.
O que temos aqui é que para poder
governar, o rei precisou usar de um mecanismo, a vassalagem, que acabou por
diluir sua autoridade entre seus vassalos reais, os membros da aristocracia
(principalmente condes e príncipes) que passam a ter cada vez mais poder sobre
os seus próprios vassalos, sem temer a autoridade cada vez mais esvaziada do
soberano.
Curiosamente, porém, a vassalagem
vai salvaguardar o princípio monárquico, pois mesmo o rei não tendo poder, de
fato, ele tinha um poder simbólico, pois representava algo que não se queria
perder: a ideia de unidade, a ideia de realeza, a própria ideia de poder.
·
Feudalismo: Essa aristocracia, rica,
proprietária de grandes extensões de terras e gozando de prerrogativas e
privilégios reais, no século XI é considerada nobreza. Nobreza seria a aristocracia que tem posição
de honra, que tem linhagem (isto é, qualidades que derivam de seus
antepassados), que goza de privilégios dentro da aristocracia (alta
aristocracia) e que tem consciência da sua posição (evolução do poder
político). Essa nobreza é a que tem, portanto, glória ancestral, riqueza
fundiária, isto é, terras, autoridade sobre seus vassalos e sobre os
camponeses, autonomia frente ao poder real, e linhagem, quando o nome de
família ou da casa passa a fazer parte do nome pessoal, mostrando deferência,
respeito e orgulho do pertencimento.
·
Senhorio: O Senhorio era a propriedade
agrícola possuída por um senhor e onde viviam camponeses dependentes (conhecida
na Inglaterra como Manor e na França como Seigneurie, daí o nome) era a unidade
agrícola mais encontrada na Europa Ocidental na Idade Média, pelo menos a
partir do século IX. Havia também
pequenas propriedades agrícolas cujos donos eram livres, conhecidas como
alódios, mas essas diminuíram
muito em número
quase desaparecendo no séc. XI ao XIII.
·
Senhorio e Servidão: Os camponeses podiam
ser:
- Donos de
alódios (que aos poucos foram desaparecendo, absorvidos pelas grandes
propriedades);
- Servos, que
era a grande maioria da população da Europa no período. Quem eram os servos? Eram os não-livres, dependentes de um senhor.
Tiveram dupla origem (ou até mesmo tripla, veremos):
- Originados dos
colonos (do fim do período imperial romano), que estavam vinculados à terra e
dela não podiam sair;
- originados dos
escravos (também do fim do período imperial romano), já em número bastante
reduzido e que foram sendo libertados, por influência do cristianismo. Eles foram fixados à terra pois era mais
fácil exigir deles serviços específicos e em determinados momentos do que vigiá-los
constantemente e fornecer-lhes o sustento. - se levarmos em consideração os
pequenos proprietários de alódios que acabaram tendo de se colocarem a serviço
de algum senhor, eles e suas pequenas propriedades, teremos estes também
tornados servos, pois acabaram também perdendo parte de sua liberdade. O fato
de nascer servo faz da pessoa um servo. É o nascimento que mantém o não-livre
nessa condição servil. Os colonos tiveram sua condição de liberdade rebaixada à
categoria de servos. Da mesma maneira, os proprietários de alódios acabaram
também por terem sua condição rebaixada, ao se colocarem a serviço de um grande
senhor local. E os escravos tiveram sua condição de algum modo melhorada à
categoria de servo, pois obtiveram um pedaço de terra para trabalhar e habitar,
apesar de não gozarem de liberdade. Todas essas categorias de camponeses
encontradas nos períodos anteriores, do final do período imperial romano ao
período carolíngio acabarão por constituir a grande massa de camponeses servis
da Idade Média entre o século XI e o XIII, com o Feudalismo. Estavam submetidos
aos senhores proprietários, a sua autoridade e a sua justiça. Os senhores
proprietários cobravam uma série de impostos e taxas a seus servos, do uso de
instalações como moinhos à passagem do pedaço de terra que os servos dispunham
(chamada manso) a seus descendentes por ocasião da morte do chefe da família.
Essas obrigações eram chamadas banalidades.
·
Feudalismo e Senhorio: Não devemos
confundir o Feudalismo com o Senhorio. Feudalismo são as estruturas políticas,
o regime feudal, e o Senhorio é o regime de exploração da terra na Baixa Idade
Média. Um se refere às relações
político-sociais e o outro, às relações econômico-sociais da época.
·
Camponeses e Servos: não devem ser
confundidos com súditos e vassalos. Os camponeses não são vassalos do seu
senhor. Estão subordinados a eles pela vinculação à terra. São não-livres. Onde
ouvimos Feudalismo, devemos entender Vassalidade, isto é, o sistema político
que definia as relações de homem a homem numa hierarquia de poderes e de
comandos, realizadas entre membros de uma mesma classe, a aristocracia, em que
se trocam fidelidade e serviço militar (da parte do vassalo) por proteção e
benefícios (por parte do suserano), benefício esse conhecido como feudo(que
pode ser tanto terra quanto o direito de receber determinados impostos, ou
explorar uma área, cobrar pedágio em uma ponte, por exemplo).
São relações de certa maneira
horizontais:
·
O sistema feudal não intervinha diretamente na
gestão e exploração das terras, nem nas relações entre proprietários e
camponeses.
·
O Senhorio rural é conjunto de terras em parte
exploradas diretamente e em outra divididas em parcelas menores (mansos), unidades
de cultivo confiadas aos servos. O Senhorio não nasceu de modo nenhum do
feudalismo, ele já existia enquanto modo de produção agrícola, desde o período
dos reinos francos.
Em síntese,
devemos compreender as relações políticas e as relações econômicas
que se desenvolvem na Europa
entre o séc. XI e XIII a fim de entendermos esse momento chave da Idade Média
do Feudalismo e do Senhorio.
A Igreja e as Heresias
Para a formação e organização da hierarquia
eclesiástica, no início da estruturação da Igreja, acabou contribuindo bastante
um elemento que punha em risco a própria existência da Igreja, as
heresias. Heresias são produtos do sincretismo
que tinha para os e contras para o Cristianismo, ele se tornava mais facilmente
assimilável, mas também passível de diversas interpretações. Heresia é, do ponto
de vista da Igreja, um desvio dogmático, ou seja, uma interpretação discordante
do pensamento oficial do clero cristão, e que por isso mesmo coloca em risco a
unidade da fé. O Primeiro Concílio Ecumênico, que reunia bispos de todas as regiões
para debater questões da
doutrina cristã, celebrado em
Nicéia em 325, visava fundamentalmente se posicionar
frente ao arianismo, corrente para a qual Cristo, por ter sido criado pelo pai,
não era da mesma substância Dele, sendo-lhe inferior.
Os arianos não aceitavam a divindade
de Jesus. O concílio concluiu que tal
ideia contrariava o dogma da Santíssima Trindade, daí ter sido condenado. Os
conflitos provocados pela questão ariana enfraqueceram a autoridade moral dos
sínodos (assembleias episcopais que tratavam de tudo que interessava às igrejas
locais), que se contradiziam, mostrando que era preciso um poder acima de todos,
uma monarquia como a que Cristo exerce sobre o Universo. Foi em função disso
que o bispo de Roma se sobrepôs aos outros bispos da igreja, podendo usar a partir
do século IV o título de papa. É a constituição de uma monarquia eclesiástica,
apesar de haver um só Deus, uma só fé, uma só igreja para os cristãos, e a
necessidade de se preservar tal unidade.
Na baixa Idade Média também surgiram
heresias, sendo a dos cátaros a de maior repercussão e a mais desafiadora da
autoridade da igreja. Ela aconteceu em territórios do sul da França, em quatro
dioceses: Toulouse, Albi, Carcassone e
Narbona. A data de 1140 marca o início da forte expansão herética pela região,
e ela se estendeu até 1190. O movimento foi
desencadeado pelo monge Henrique, que foi duramente combatido pelo religioso
Bernardo de Clairvaux (depois, São Bernardo). Os cátaros acreditavam na
dualidade da divindade, que Deus reinava sobre as almas, e outra divindade maligna
reinava sobre as coisas da matéria, da carne. Portanto, abominavam tudo que
dizia a satisfazer os desejos da carne. Desprezavam o casamento, eram
vegetarianos e não acreditavam que Deus se fez homem, porque homem é matéria. A
Igreja de Roma precisou de vários anos, muitos embates e até uma Cruzada (A Cruzada
contra os albigenses) para acabar com o catarismo, em que milhares foram
mortos.
REFERÊNCIAS
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CLAIRBORNE, Robert (1977). Los primeros americanos. Ciudad de
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Clark, John E., ed. (1994). Los olmecas en Mesoamérica. Ciudad de México:
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CONRAD, Geoffrey W. (1984). «Los incas». Historia de las
Civilizaciones antiguas (II): Europa, América, China, India. Arthur Cotterell,
ed. Barcelona: Editorial Crítica. ISBN 84-7423-252-X

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