quinta-feira, 16 de outubro de 2025

A Baixa Idade Média

 Como a Igreja Católica Lidou Com as Heresias e os Desvios de Doutrina na Idade Média? Quais as Principais Diferenças Entre Feudalismo e Senhorio?

 



A Baixa Idade Média foi o período histórico europeu entre os séculos XI e XV, marcado por um renascimento urbano e comercial, pelo auge e posterior declínio do Feudalismo, e pela transição para a Idade Moderna, com eventos como a invenção da imprensa, a descoberta da América e a Queda de Constantinopla. Esse período se caracterizou pela expansão agrícola, pela centralização do poder monárquico e pela crescente influência do Papado, culminando em crises como as epidemias e a Grande Fome, mas também com o surgimento da arte gótica e o desenvolvimento de novas tecnologias. Veremos também como a Igreja Católica lidou com as heresias, os desvios de doutrina que surgiram e ganharam força na Idade Média, e o porquê dessa difusão. Tentaremos entender o que foram os movimentos chamados Cruzadas, seus propósitos e motivações, os conflitos decorrentes dessa proposta belicosa do Ocidente, as traições e as consequências para a Europa e para o mundo conhecido.

 

Feudalismo e Senhorio

 

Os objetivos são analisar as relações político-sociais da nova ordem medieval do séc. XI; analisar as relações econômico-sociais da nova ordem e o significado de servidão; e compreender as diferenças entre Feudalismo e Senhorio. Desde Carlos Magno, os reis quiseram fazer da vassalagem um instrumento de governo. Havia insuficiência e ineficácia nos quadros administrativos do Estado, sendo preciso criar mecanismos que permitissem o governo de um vasto território. A grande maioria das pessoas era analfabeta, as distâncias eram enormes, os caminhos difíceis.  A vassalagem surgiu, então, como uma maneira de o rei controlar seus súditos e impor a autoridade real por um mecanismo conhecido como “interposta pessoa”, isto é, o rei governa por intermédio de outros, escolhidos por ele e que a ele devem respeito.  Esse grupo restrito eram os grandes proprietários de terra, os grandes aristocratas. Pois a base do poder sobre os homens permanece a terra, e o poder, em geral, se reparte da mesma maneira. E como era constituída essa relação? 

A avassalagem baseava-se em um juramento de reciprocidade, em que um senhor (no caso o rei) oferece segurança, cargos, terras   e   privilégios   a   membros   da   aristocracia (no   caso   os   grandes proprietários de terras), que em troca juravam fidelidade, obediência e ajuda militar ao seu suserano, ao seu senhor. O rei, assim, delegava parte de seu poder aos senhores regionais, que, por sua vez, aplicavam o mesmo mecanismo da vassalagem aos senhores locais, os médios e pequenos proprietários de terra. Essas cadeias de juramentos mantiveram coesa, por um certo tempo, a ordem política na Europa Ocidental, desde o Império Carolíngio.

 

Suserania e Vassalagem

 

Na Vassalagem também havia:

 

·        Considerações Militares: Os vassalos do suserano estavam obrigados por juramento a dispor de seus exércitos de vassalos em caso de necessidade de seu suserano, como uma guerra ou disputa com inimigos. 

·        Considerações Políticas e Administrativas: Os vassalos diretos do rei recebiam benefícios e privilégios, e até mesmo terras (honores) para exercerem a administração do território. Foi dado a eles o símbolo da autoridade pública, o bannum do rei. E o que era bannum? Era um poder geral do rei de comandar, coagir e punir os homens livres. Até o século X, esse poder de bannum passa a ser exercido não mais em favor do suserano (o rei), mas em favor desses grandes proprietários regionais, os vassalos do rei, que o aplicavam em proveito próprio.

 

O que temos aqui é que para poder governar, o rei precisou usar de um mecanismo, a vassalagem, que acabou por diluir sua autoridade entre seus vassalos reais, os membros da aristocracia (principalmente condes e príncipes) que passam a ter cada vez mais poder sobre os seus próprios vassalos, sem temer a autoridade cada vez mais esvaziada do soberano.

Curiosamente, porém, a vassalagem vai salvaguardar o princípio monárquico, pois mesmo o rei não tendo poder, de fato, ele tinha um poder simbólico, pois representava algo que não se queria perder: a ideia de unidade, a ideia de realeza, a própria ideia de poder.

 

·        Feudalismo: Essa aristocracia, rica, proprietária de grandes extensões de terras e gozando de prerrogativas e privilégios reais, no século XI é considerada nobreza.  Nobreza seria a aristocracia que tem posição de honra, que tem linhagem (isto é, qualidades que derivam de seus antepassados), que goza de privilégios dentro da aristocracia (alta aristocracia) e que tem consciência da sua posição (evolução do poder político). Essa nobreza é a que tem, portanto, glória ancestral, riqueza fundiária, isto é, terras, autoridade sobre seus vassalos e sobre os camponeses, autonomia frente ao poder real, e linhagem, quando o nome de família ou da casa passa a fazer parte do nome pessoal, mostrando deferência, respeito e orgulho do pertencimento.

·        Senhorio: O Senhorio era a propriedade agrícola possuída por um senhor e onde viviam camponeses dependentes (conhecida na Inglaterra como Manor e na França como Seigneurie, daí o nome) era a unidade agrícola mais encontrada na Europa Ocidental na Idade Média, pelo menos a partir do século IX.  Havia também pequenas propriedades agrícolas cujos donos eram livres, conhecidas   como   alódios, mas   essas   diminuíram   muito   em   número   quase desaparecendo no séc. XI ao XIII.

·        Senhorio e Servidão: Os camponeses podiam ser:

- Donos de alódios (que aos poucos foram desaparecendo, absorvidos pelas grandes propriedades);

- Servos, que era a grande maioria da população da Europa no período. Quem eram os servos?  Eram os não-livres, dependentes de um senhor. Tiveram dupla origem (ou até mesmo tripla, veremos):

- Originados dos colonos (do fim do período imperial romano), que estavam vinculados à terra e dela não podiam sair;

- originados dos escravos (também do fim do período imperial romano), já em número bastante reduzido e que foram sendo libertados, por influência do cristianismo.  Eles foram fixados à terra pois era mais fácil exigir deles serviços específicos e em determinados momentos do que vigiá-los constantemente e fornecer-lhes o sustento. - se levarmos em consideração os pequenos proprietários de alódios que acabaram tendo de se colocarem a serviço de algum senhor, eles e suas pequenas propriedades, teremos estes também tornados servos, pois acabaram também perdendo parte de sua liberdade. O fato de nascer servo faz da pessoa um servo. É o nascimento que mantém o não-livre nessa condição servil. Os colonos tiveram sua condição de liberdade rebaixada à categoria de servos. Da mesma maneira, os proprietários de alódios acabaram também por terem sua condição rebaixada, ao se colocarem a serviço de um grande senhor local. E os escravos tiveram sua condição de algum modo melhorada à categoria de servo, pois obtiveram um pedaço de terra para trabalhar e habitar, apesar de não gozarem de liberdade. Todas essas categorias de camponeses encontradas nos períodos anteriores, do final do período imperial romano ao período carolíngio acabarão por constituir a grande massa de camponeses servis da Idade Média entre o século XI e o XIII, com o Feudalismo. Estavam submetidos aos senhores proprietários, a sua autoridade e a sua justiça. Os senhores proprietários cobravam uma série de impostos e taxas a seus servos, do uso de instalações como moinhos à passagem do pedaço de terra que os servos dispunham (chamada manso) a seus descendentes por ocasião da morte do chefe da família. Essas obrigações eram chamadas banalidades.

·        Feudalismo e Senhorio: Não devemos confundir o Feudalismo com o Senhorio. Feudalismo são as estruturas políticas, o regime feudal, e o Senhorio é o regime de exploração da terra na Baixa Idade Média.  Um se refere às relações político-sociais e o outro, às relações econômico-sociais da época.

·        Camponeses e Servos: não devem ser confundidos com súditos e vassalos. Os camponeses não são vassalos do seu senhor. Estão subordinados a eles pela vinculação à terra. São não-livres. Onde ouvimos Feudalismo, devemos entender Vassalidade, isto é, o sistema político que definia as relações de homem a homem numa hierarquia de poderes e de comandos, realizadas entre membros de uma mesma classe, a aristocracia, em que se trocam fidelidade e serviço militar (da parte do vassalo) por proteção e benefícios (por parte do suserano), benefício esse conhecido como feudo(que pode ser tanto terra quanto o direito de receber determinados impostos, ou explorar uma área, cobrar pedágio em uma ponte, por exemplo). 

 

São relações de certa maneira horizontais:

 

·        O sistema feudal não intervinha diretamente na gestão e exploração das terras, nem nas relações entre proprietários e camponeses. 

·        O Senhorio rural é conjunto de terras em parte exploradas diretamente e em outra divididas em parcelas menores (mansos), unidades de cultivo confiadas aos servos. O Senhorio não nasceu de modo nenhum do feudalismo, ele já existia enquanto modo de produção agrícola, desde o período dos reinos francos. 

 

Em síntese, devemos compreender as relações políticas e as relações   econômicas   que   se desenvolvem na Europa entre o séc. XI e XIII a fim de entendermos esse momento chave da Idade Média do Feudalismo e do Senhorio. 

 

A Igreja e as Heresias

 

Para a formação e organização da hierarquia eclesiástica, no início da estruturação da Igreja, acabou contribuindo bastante um elemento que punha em risco a própria existência da Igreja, as heresias.  Heresias são produtos do sincretismo que tinha para os e contras para o Cristianismo, ele se tornava mais facilmente assimilável, mas também passível de diversas interpretações. Heresia é, do ponto de vista da Igreja, um desvio dogmático, ou seja, uma interpretação discordante do pensamento oficial do clero cristão, e que por isso mesmo coloca em risco a unidade da fé. O Primeiro Concílio Ecumênico, que reunia bispos de todas as regiões para debater   questões   da   doutrina   cristã, celebrado   em   Nicéia   em   325, visava fundamentalmente se posicionar frente ao arianismo, corrente para a qual Cristo, por ter sido criado pelo pai, não era da mesma substância Dele, sendo-lhe inferior. 

Os arianos não aceitavam a divindade de Jesus.  O concílio concluiu que tal ideia contrariava o dogma da Santíssima Trindade, daí ter sido condenado. Os conflitos provocados pela questão ariana enfraqueceram a autoridade moral dos sínodos (assembleias episcopais que tratavam de tudo que interessava às igrejas locais), que se contradiziam, mostrando que era preciso um poder acima de todos, uma monarquia como a que Cristo exerce sobre o Universo. Foi em função disso que o bispo de Roma se sobrepôs aos outros bispos da igreja, podendo usar a partir do século IV o título de papa. É a constituição de uma monarquia eclesiástica, apesar de haver um só Deus, uma só fé, uma só igreja para os cristãos, e a necessidade de se preservar tal unidade.

Na baixa Idade Média também surgiram heresias, sendo a dos cátaros a de maior repercussão e a mais desafiadora da autoridade da igreja. Ela aconteceu em territórios do sul da França, em quatro dioceses:  Toulouse, Albi, Carcassone e Narbona. A data de 1140 marca o início da forte expansão herética pela região, e ela se estendeu até 1190.  O movimento foi desencadeado pelo monge Henrique, que foi duramente combatido pelo religioso Bernardo de Clairvaux (depois, São Bernardo). Os cátaros acreditavam na dualidade da divindade, que Deus reinava sobre as almas, e outra divindade maligna reinava sobre as coisas da matéria, da carne. Portanto, abominavam tudo que dizia a satisfazer os desejos da carne. Desprezavam o casamento, eram vegetarianos e não acreditavam que Deus se fez homem, porque homem é matéria. A Igreja de Roma precisou de vários anos, muitos embates e até uma Cruzada (A Cruzada contra os albigenses) para acabar com o catarismo, em que milhares foram mortos.

  

 

REFERÊNCIAS

 

BLASCO, Maria de lá Concepcional (1 de setembro de 1993). El Bonce final (1ª adicione). Madrid: Editorial Sínteses. p. 176. ISBN 84-7738-195-X. BRÉZILLON, Michel (1969). Dictionnaire de lá Préhistoire (en francés). París: Librairie Larousse. ISBN 2-03- 075437-4.

CLAIRBORNE, Robert (1977). Los primeros americanos. Ciudad de México: Lito Offset Latina. Libros TIMELIFE. Clark, John E., ed. (1994). Los olmecas en Mesoamérica. Ciudad de México: Ediciones del Equilibrista. ISBN 968-7318-22-8.

CONRAD, Geoffrey W. (1984). «Los incas». Historia de las Civilizaciones antiguas (II): Europa, América, China, India. Arthur Cotterell, ed. Barcelona: Editorial Crítica. ISBN 84-7423-252-X

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