Qual a Importância do Pêndulo Introduzido Por Galileu? Quando Houve Efetivamente a Difusão dos Relógios? O Que Tornou Possível a Criação de Outras Máquinas Portáteis?
Precisamente porque o relógio não
começou por ser um instrumento prático feito para corresponder a um único
objetivo, é que ele estava destinado a ser “a mãe das máquinas”.
Pois, os
fabricantes de relógios foram os primeiros a aplicar – de forma consciente
– as teorias da mecânica e da física no fabrico de máquinas.
Assim, eles se tornaram os pioneiros
na produção de instrumentos científicos e os seus legados foram as tecnologias
básicas das máquinas-ferramentas. Os dois exemplos principais são a engrenagem
(ou roda dentada) e o parafuso.
A introdução do pêndulo (por Galileu)
tornou possível a exatidão dos relógios, mas isso só se conseguia com as rodas
dentadas divididas e cortadas com precisão. Os relojoeiros aperfeiçoaram
técnicas precisas para dividir a circunferência de uma placa de metal circular
em unidades iguais e para cortar os dentes da engrenagem com um perfil
eficiente. Os relógios também exigiam parafusos de precisão, o que por sua vez exigia
o aperfeiçoamento do torno.
Um cientista grego (Hero) concebeu
ferramentas para cortar parafusos, embora durante muito tempo fosse considerado
uma operação difícil. E, até meados do século XIX – altura em que os parafusos
foram feitos com bicos – era sempre necessário preparar um orifício com todo o
comprimento do parafuso. Na Idade Média os parafusos de metal foram raros e,
durante muitos séculos, eles foram usados na prensa para fazer vinho ou na
irrigação.
O relógio mais antigo do mundo (1380)
– que ainda funciona na Inglaterra – foi feito sem uma única rosca de parafuso,
sua estrutura de ferro é unida por rebites e grande parte da sua construção foi
obra de um ferreiro. Mas, a difusão dos relógios só veio com o fabrico de
relógios menores e portáteis.
Para serem fornecidos a mosteiros,
edifícios municipais, palácios e cidadãos os relógios tinham de ser feitos em
tamanhos adequados, tanto para casas modestas quanto para as lojas de artesãos.
Claro que pequenos relógios não
podiam ser feitos à marteladas ou forjados por um ferreiro
e, para montá-los sem quebrá-los, eram necessários parafusos, os quais tornaram
possíveis uma infinidade de outras máquinas portáteis. Óbvio que relógios
menores atraíam um vasto mercado, cujas exigências foram motivos para fabricar
relógios baratos que as pessoas pudessem comprar.
Na verdade, o relógio instigou os
homens a transpor as fronteiras da religião, da língua e até da política. Antes
da colonização do Novo Mundo, os movimentos dos artífices exerciam uma
influência muito desproporcional ao seu número, pois antes do transporte movido
a energia e da produção em massa eram os próprios artífices e não os produtos
quem viajava.
Quando os relógios ainda eram
máquinas gigantescas no cimo de torres, tinham de ser erguidos onde fossem
usados. No início não havia demanda por mais do que um relógio por cada
comunidade, o que significava que o fabricante de relógios tinha de ser um
viajante.
O 1º relógio mecânico público de
Gênova foi construído em Milão em 1353 e o relógio que ainda pode ser visto na
Praça San Marco (Veneza) foi – na verdade – levado para lá da cidade de Reggio.
E, depois de os relógios terem sido reduzidos a pequenas máquinas houve novas
razões para serem feitos próximos dos seus clientes.
Antes do fim do século XV não havia
grandes centros de relojoaria na Europa e, dessa forma, o futuro dessas máquinas
encontrava-se isolado por montanhas na Suíça e, por mar, na Inglaterra.
Em ambos os países existiam pontos de encontro entre artífices de toda Europa a
fim de intercambiar seus talentos.
Assim como quatro séculos depois as
perseguições nazistas e fascistas transformaram os EUA num centro mundial de
ciência e tecnologia, Genebra tirou proveito da ciência e da tecnologia do seu
tempo e tornou-se um centro mundial de relojoaria.
No ano de 1600, a cidade suíça de
Genebra contava com 25 mestres relojoeiros e um número considerável de
aprendizes e artífices. E, antes de terminar o século XVII, mais de 100 mestres
e uns 400 artífices produziam cerca de 5 mil relógios por ano.
A Inglaterra protestante se tornou
lugar de refúgio progresso da relojoaria, pois embora não fosse uma terra de
pioneiros, para ela convergiu grande número de empreendedores estrangeiros. Um
desses estrangeiros (Lewis Cuper) saiu da Alemanha para se tornar um eminente
relojoeiro na Inglaterra, utilizando a técnica da especialização e da divisão
do trabalho entre os aprendizes. Consta que em 1786 foram exportados 80 mil
relógios de vários tipos para a Holanda, Alemanha, Suécia, Dinamarca, Rússia,
Espanha, Itália, China e Turquia.
Na história da humanidade os
filósofos sempre procuraram modos de controlar
o universo e, apesar do seu desdém pelos que projetavam o Criador do universo
na imagem do homem, os teólogos não se cansavam de perscrutar o próprio homem
tentando encontrar pistas que os conduzissem a Deus.
Mas, agora o homem era um construtor
de relógios, um construtor de máquinas que funcionavam sozinhas. Uma vez posto
para funcionar o relógio parecia funcionar com “vida própria” e, por isso
mesmo, alguns se perguntavam se o universo não poderia ser um imenso relógio
posto em movimento pelo próprio Criador? Essa possibilidade inconcebível antes
de o relógio mecânico entrar em cena tornar-se-ia a principal estação no
caminho da Física moderna.
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