No Livro de Galileu, Quais Eram as Discrepâncias Entre as Palavras das Escrituras e os Fatos da Natureza? Como Galileu Tentou Persuadir as Autoridades Eclesiásticas de Que a Terra se Movia? O Que Continha o Livro o “Diálogo”?
Em Florença, Galileu começou a reunir argumentos que justificassem as verdades da Bíblia e da teoria copernicana. Desejoso de conservar sua ortodoxia, ele apresentou uma explicação engenhosa das aparentes discrepâncias entre as palavras das Escrituras e os fatos da Natureza.
“Só
existe uma Verdade, mas é comunicada de duas formas – a linguagem da Bíblia e a
linguagem da Natureza e ambas são a linguagem de Deus, pois nas escrituras Deus
usou o vernáculo, enquanto que na Natureza falou uma língua mais recôndita”.
Entretanto,
os padres jesuítas não se deixavam convencer facilmente e, espicaçados pelo
paladino do Papa, o Cardeal Roberto Bellarmine, cheirou-lhes a heresia. Mestre
nas artes da polêmica teológica e da ortodoxia aristotélica, Bellarmine tinha o
senso comum do seu lado.
Recordou aos
seus irmãos que o próprio Santo Agostinho arguira que o significado literal das
Escrituras deveria ser sempre considerado como correto, a não ser que o
contrário fosse “rigorosamente demonstrado”.
Galileu
cometeu o erro de ir a Roma a fim de se defender. No famoso julgamento pela
Inquisição – 17 anos depois – as acusações contra ele assentariam no que fora
ou não fora dito durante a sua audiência com o Cardeal Bellarmine e o Papa
Paulo V, em 1616. Fora-lhe ordenado que desistisse de ensinar a doutrina
copernicana? O que fora realmente dito?
Se ele não
tivesse voltado a Roma, a Igreja talvez tivesse de submetê-lo a um julgamento
diferente. Durante a sua visita, Galileu não logrou persuadir as autoridades
eclesiásticas de que deveriam aprovar o seu ensino de que a Terra se movia.
Esse conceito foi expressamente condenado, mas Galileu não foi pessoalmente condenado
nem os seus livros proibidos.
Alguns dos
mais sofisticados filósofos modernos argumentam que, à luz do positivismo
moderno, o Cardeal Bellarmine estava de fato mais perto da verdade do que
Galileu. Dizem que Galileu não explicou o que realmente acontece, ao passo que
Bellarmine reconhecia que a teoria copernicana meramente “salva as aparências”.
Em 1624
Galileu voltou a Roma a fim de cumprimentar o recém-eleito Papa Urbano VIII.
Fez em vão um pedido de permissão para publicar um livro imparcial, comparando
as doutrinas ptolomaicas e copernicanas. Embora não se tratasse de nenhuma
polêmica a favor do sistema copernicano, uma explicação convincente do novo
cosmo.
Seguindo a
tradição de Platão, Galileu deixava os argumentos pró e contra o sistema
copernicano emergir de uma conversa entre três (3) amigos: _ um nobre
florentino que acreditava no sistema copernicano; um imaginário defensor
aristotélico da teoria geocêntrica e um aristocrata veneziano de espírito
aberto, em benefício do qual os outros dois expunham seus argumentos. Se a
intenção de Galileu era embaralhar os censores, não o conseguiu.
A doutrina
copernicana permanecera adormecida durante meio século após a morte de
Copérnico. Sem o telescópio, a teoria heliocêntrica poderia ter continuado a
ser uma hipótese interessante, mas não convincente. No entanto, o telescópio
modificou tudo. O que Galileu viu convenceu-o da verdade do que lera.
Até o desenvolvimento
do telescópio, os defensores da ortodoxia cristã não tinham sentido necessidade
de banir as ideias copernicanas. Mas, este novo instrumento causava
curto-circuito à jurisdição de tribunal de recurso dos padres no tocante ao
firmamento. A astronomia se transformava.
Quando
Galileu olhou através do seu telescópio pela primeira vez já desafiara os
aristotélicos e, se alguma vez efetuou suas experiências a partir da Torre de
Pisa, fê-lo para desacreditá-los. Mas era agora que o arremessavam para o mundo
tempestuoso da controvérsia cosmológica e, diante disso, ele não fugiu aos seus
desafios.
De
temperamento belicoso acolheu a oportunidade de bom grado, indo até onde a
ortodoxia lhe permitisse levar um novo evangelho. Com aquele tentador instrumento
empreendeu uma dupla campanha de persuasão: _ interessar leigos letrados no
novo modo de olhar para o Universo e convencer a Igreja a aceitar o inevitável.
Porém, causas
que nada tinham a ver com a astronomia conspiraram para destruir as esperanças
de Galileu de converter a Igreja de Roma. Foi apanhado pelo fogo cruzado entre
católicos e protestantes, cujos ataques tornaram necessário que o Papa Urbano
VIII reagisse, mostrando a determinação da Igreja em preservar a pureza dos
antigos dogmas cristãos.
Assim,
impunha-se que os protestantes não tivessem nenhum monopólio do fundamentalismo
e, derrubar um seu antigo favorito como Galileu, dramatizaria o zelo apostólico
do pontífice. E uma bagatela tipográfica ajudou a confirmar os impulsos do
Papa, pois a impresso que imprimiu o “Diálogo” de Galileu, marcou o livro com
seu logotipo habitual (três peixes). Tratar-se-ia de uma alusão caluniadora aos
três sobrinhos de duvidosa competência que o Papa promovera na hierarquia da
Igreja?
A fim de
garantir a veracidade do seu testemunho, Galileu foi ameaçado de tortura,
embora o veredito do Papa tenha optado pela mais humilhante de todas as
alternativas. O pontífice poderia ter-se limitado a proibir o “Diálogo” até ele
ser “corrigido” ou ter condenado o autor à penitência privada; mas, em vez
disso, o “Diálogo” foi totalmente proibido e Galileu condenado à abjuração
pública e formal e à detenção por um período indefinido.
Sem contestar
a decisão Galileu pediu aos juízes que, ao fazerem cumprir o seu veredito, tivessem
consideração com o seu estado de saúde, aos setenta anos. E, confinado a uma
casa isolada à saída de Florença, não lhe eram consentidas quaisquer visitas a
não ser com autorização do delegado papal. Pouco depois do seu regresso à
Florença, a morte da sua filha mergulhou-o em profunda tristeza e passou a se
desinteressar por tudo.
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