Por Que o Homem Precisava Construir Máquinas Para Medir o Tempo? Qual a Origem da Hora? Quando a Hora se Transformou na Nossa Hora Moderna? Por Que o Dia Tem 24 Horas?
Enquanto o
homem consentiu que o seu tempo fosse repartido pelos ciclos variáveis da luz
do dia ele permaneceu escravo do Sol e, para se tornar senhor do seu tempo e
dividir sua vida em parcelas certas, o homem tinha que descobrir uma forma de
assinalar porções pequenas – e exatas –, não apenas horas iguais, mas até
minutos e segundos. Isto é, o Homem precisava fazer uma máquina.
É
surpreendente que as máquinas para medir o tempo tivessem tardado tanto a
aparecer, pois somente no século XIV os Europeus conceberam instrumentos
mecânicos medidores de tempo. Até então, a medição do tempo esteve entregue ao
Relógio de Sombra, ao relógio de Água ou à Ampulheta.
Os primeiros
passos no sentido da medição mecânica do tempo não se originaram com os
agricultores, pastores e tampouco artesãos, mas sim de pessoas religiosas que
estavam ansiosas em desempenhar regularmente seus deveres com Deus. Os monges
precisavam saber as horas das orações que lhes cumpria rezar.
Na Europa, os
primeiros relógios mecânicos foram concebidos não para mostrar o
tempo, mas sim para soar. Os primeiros relógios eram do tipo hoje
chamados despertadores. Eram máquinas impulsionadas por pesos que
tocavam um sino após o decorrer de determinado intervalo de tempo.
Provavelmente os mais antigos foram os pequenos despertadores monásticos, os quais
faziam soar um pequeno sino para avisar ao monge que, por sua vez, chamava os
outros para a oração. O número de badaladas do sino variava de quatro (ao
nascer do Sol) para uma ao meio-dia e novamente quatro ao anoitecer.
Mas, uma nova
espécie de medidor de tempo mecânico que fosse um verdadeiro relógio iria se
adaptar muito melhor às novas necessidades mecânicas. A palavra inglesa “Glocke”([1])
tem a marca da sua origem monástica. Esse vocábulo derivou do holandês e do
alemão que significava “Sino”. Os medidores de tempo não eram
considerados relógios a não ser que tocassem um sino e, só muito mais tarde,
ele passou a significar qualquer instrumento que medisse a passagem do tempo.
Mas, fazer
uma máquina soar as horas canônicas exigiu novidades mecânicas
que seriam a base da fabricação de relógios, ao longo dos séculos vindouros. A
força que movia o braço – que fazia tocar o sino – era fornecida pela queda dos
pesos.
O que tornava
a máquina verdadeiramente nova era o dispositivo que impedia a queda livre dos
pesos e lhes interrompia a descida a intervalos regulares. O que conferia a
essa máquina uma nova duração mais longa e media as unidades, era um simples
dispositivo que tem permanecido quase ignorado na história.
Ele
chamava-se “escape”, porque era uma maneira de regular o escape da
força motriz dentro do relógio, e revestiu-se de um significado revolucionário
para a experiência humana. O escape não era mais do que um
dispositivo que interrompia – alternadamente – e soltava a força do peso da
máquina do relógio em movimento.
Graças a ele,
um peso caindo apenas a uma curta distância podia manter um relógio trabalhando
durante horas, enquanto a atração descendente dos pesos em queda era traduzida
no movimento de escape interrompido do mecanismo do relógio. Daí o tempo
mecanizado não mais fluiria e o tique-taque do escape do relógio se tornaria a
voz do tempo.
Foi em 1330
que a hora se tornou na nossa hora moderna; ou seja, uma das 24 partes iguais
do dia. Este “dia” novo incluía a noite. Media-se pelo tempo entre um meio-dia
e o seguinte, ou mais precisamente pelo que os astrônomos modernos chamam de
“tempo solar médio”. Pela 1ª vez na história, uma “hora” adquiria em toda parte
– e ao longo de todo o ano – um significado preciso.
Os primeiros
relógios não tinham mostradores ou ponteiros. Nem precisavam, pois, sua missão
era soar a hora. Uma população iletrada tinha dificuldade em
ler um mostrador, mas não se enganava com o som dos sinos. Na Europa do século
XIV grandes relógios de torre nos campanários das Igrejas e nas repartições
municipais batiam as horas iguais, anunciando uma nova percepção do tempo. As
torres das Igrejas – construídas para saudar Deus – tornaram-se “Torres de
Relógios” e a torre passou a ser o “Campanário”.
Inconscientemente
as pessoas reconheceram a nova era quando, ao se referirem às horas do dia ou
da noite, diziam que eram 9 “horas soadas” (horas do sino). E, quando as
personagens de Shakespeare mencionavam o tempo “of the clock” ([2])
eles o relacionavam com a última hora que tinham ouvido soar. Durante todo o
século XIV era raro encontrarem-se mostradores nos relógios, pois a função
destes continuava a ser soar as horas.
Não foi
difícil aperfeiçoar relógios que já batiam a hora de modo que batessem o quarto
de hora. Um mostrador marcado de 1 a 4 era algumas vezes acrescentado para
indicar os quartos de hora. Sendo assim, não foi muito difícil aperfeiçoar
relógios que já batiam a hora de modo que batessem o quarto de hora. Mais
tarde, essas marcas foram substituídas pelos números 15, 30, 45 e 60 a fim de
indicar os minutos, embora ainda não houvesse ponteiros de minutos.
No ano de
1500, o relógio da Catedral de Wells na Inglaterra batia os quartos de hora,
mas não havia nenhuma forma de assinalar os minutos e para medi-los continuava
sendo necessário recorrer à Ampulheta. O ponteiro de minutos só começou a ser
usado depois de o pêndulo ter sido aplicado com êxito aos relógios. Por volta
de 1670 não era invulgar os relógios terem um ponteiro dos segundos, cujos
movimentos eram controlados por um pêndulo de 97,5 cm com um período de um
segundo apenas.
Perguntar
como chagamos ao nosso dia, hora, minuto e segundo nos leva à arqueologia na
vida de todos os dias. A palavra inglesa “Day”, que não tem relação
com o latim “Dies” (Dia), vem do saxão “queimar” que significava a
estação quente. Já a palavra “Hour” deriva do latim que significa
tempo do dia; ou seja, uma duodécima parte do período de claridade ou de
escuridão, variando conforme a estação e a latitude.
Mas, por que
24 horas? Os Egípcios escolheram esse número porque utilizavam o sistema
numérico sexagesimal, baseado em múltiplos de 60. Mas, o uso do número 60
parece não ter tido nada a ver com a astronomia, pois já vimos que os Egípcios
fixavam em 360 os dias o seu ano e 12 meses de 30 dias cada um, suplementados
por 5 dias ao fim de cada ano. Também dividiram um círculo em 360º por analogia
com o circuito anual do Sol. Sendo 60 um sexto dos 360º e, portanto, uma
subdivisão do seu sistema sexagesimal, tornou-se uma subdivisão do círculo e
também de cada “grau”; isto é, cada hora.
O
circulozinho que usamos para designar um grau é provavelmente um hieróglifo que
representa o Sol. Se esse sinal de grau (º) era uma imagem do Sol, então 360º
(um círculo completo) também poderia significar um ciclo de 360 dias, ou um ano
completo. A Arqueologia do nosso cotidiano nos conduz a todo o Mundo, pois os
365 dias do nosso ano reconhecem a nossa dívida com os Egípcios, enquanto os
nomes dos meses (Janeiro, Fevereiro e Março) e os dias da nossa semana de 7
dias (Sábado, Domingo e Segunda-Feira) são os laços que nos unem aos astrólogos
romanos e gregos.
Quando
assinalamos cada hora do nosso dia de 24 horas e designamos os minutos depois
da hora, estamos agindo conforme os resultados de uma modificação de uma
prática egípcia, combinada com práticas numéricas babilônicas.
O
analfabetismo nos ajuda a compreender por que motivo os mostradores demoraram
tanto a aparecer nos relógios públicos, pois nem todos sabiam ler sequer os
algarismos. Os mesmos fatores que atrasaram a produção desses mostradores
instigaram a experiência, no que se refere ao funcionamento dos mecanismos do
relógio.
Os grandes
relógios públicos da Idade Média não fizeram progredir muito a precisão dos
mecanismos do relógio, que antes do pêndulo chegavam a adiantar-se (ou
atrasar-se) uma hora por dia. Pois era difícil aperfeiçoar o escape do interior
do maquinário, e era isso que regulava a exatidão do movimento.
Os dramas
populares da Idade Média não foram representados em teatros ou feiras livres,
mas transmitidos das torres dos relógios. Quando os relógios de torre estavam
em voga representavam todas as horas e todos os dias, incluindo sábados,
domingos e feriados.
O relógio da
Catedral de Wells (construído em 1392) oferecia um espetáculo de grande
interesse. Mostradores indicavam a hora, o século e as fases da Lua e outro
mostrador apresentava um ponteiro de minutos que transportava a imagem do Sol,
descrevendo um círculo completo em cada 24 horas.
Acima desse
mostrador ficavam dois pares de cavaleiros combatentes e, quando o sino batia
as horas, um deles desmontava do seu cavalo e depois retomava à sela ao ficar
oculto da vista. Ou seja, os fabricantes de relógios não perdiam a oportunidade
de teatralizar.
Portanto,
vale lembrar que os mostradores de relógios – uma comodidade para os letrados
da época e o 1º engenho mecânico a registrar o tempo – parece ter sido
inventado em 1334, por Jacopo de Dondi (Itália) que, por esse fato, foi honrado
com o título de “Relojoeiro” o qual se tornou o seu nome de família.
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([1]) Relógio. Mas,
diferente de “Relógio de Pulso” ou de “Relógio de Bolso” que é “Watch”.
O 1º é de ouvir e o 2º é de ver.
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