quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Métodos de Pesquisas Científicas

 

Como se Caracterizam as Ciências? O Que é um Método Científico? O Que Ele Pretende Descobrir? Qual a Relação dos Métodos Dedutivo e Hipotético-Dedutivo?

 



 

O principal objetivo desse texto é tentar desmistificar algumas crenças de que a pesquisa científica – e seu processo – é privilégio de alguns poucos iluminados. É também mostrar que cada indivíduo pesquisa todo o tempo e, dessa forma, é preciso compreender a importância do uso do método – e suas normas – para que a pesquisa científica tenha resultados confiáveis e se torne em um novo conhecimento universal.

Não se refuta a existência dos conhecimentos filosóficos, teológicos ou empíricos, mas para a academia, o que vale é o conhecimento baseado na observação dos fatos, no teste das hipóteses, na verificação e comprovação e na possibilidade de sua contestação.

Como dizem Lakatos e Marconi ([1]) todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos e, em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam esses métodos são ciências. Dessas afirmações pode-se concluir que a utilização dos métodos científicos não é da alçada da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos.

Conforme CERVO; BERVIAN; SILVA ([2]), um método é “a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir um certo fim ou um resultado desejado”. Nas ciências, entende-se como o conjunto de processos empregados na investigação e na demonstração da verdade. Mas, Lakatos e Marconi oferecem vários conceitos de método e dentre eles:

 

- “Caminho pelo qual se chega a determinado resultado, ainda que esse caminho tenha sido fixado de antemão de modo refletido e deliberado”.

- “Forma de proceder ao longo de um caminho”.

- “Procedimento regular, explícito e passível de ser repetido para conseguir-se alguma coisa, seja material ou conceitual”.

 

Segundo Cervo, Bervian e Silva o método não é inventado, pois ele depende do objeto da pesquisa. Os cientistas cujas investigações foram coroadas de êxito tiveram o cuidado de anotar os passos percorridos e os meios que os levaram aos resultados. Mesmo que no começo tenha sido usado de maneira empírica, gradativamente eles foram se transformando em métodos verdadeiramente científicos.

O método científico quer descobrir a realidade dos fatos, e estes, ao serem descobertos, devem por sua vez, guiar o uso do método. Entretanto, ele é apenas um meio de acesso, pois é preciso inteligência e reflexão juntas para se descobrir o que os fatos e os fenômenos realmente são.

O método científico segue o caminho da dúvida sistemática, metódica, que não se confunde com a dúvida universal dos céticos, cuja solução e impossível. O pesquisador que não tiver a evidência como arrimo, precisará questionar sempre e interrogar a realidade. Mesmo no campo das ciências sociais, deve ser aplicado de modo positivo, e não de modo normativo; isto é, a pesquisa positiva deve preocupar- se com o que é, e não com o que se pensa que deve ser.

O método científico aproveita a observação, a descrição, a comparação, a análise e a síntese. Além, é claro, dos processos mentais da dedução e da indução, comuns a todo tipo de investigação, quer experimental, quer racional. Quando falamos em método científico nos reportamos aos métodos indutivo, dedutivo e hipotético-dedutivo. Todos possuem alguma variante ou ramificação e evidentemente são criticados.

Numa acepção bem simples, a diferença fundamental entre o método dedutivo e o método indutivo é que o primeiro aspira a demonstrar, mediante a lógica pura, a conclusão na sua totalidade a partir de umas premissas, de maneira que se garante a veracidade das conclusões, se não se invalida a lógica aplicada. Trata-se do modelo axiomático proposto por Aristóteles como método científico ideal ([3]).

Pelo contrário, o método indutivo cria leis a partir da observação dos fatos, mediante a generalização do comportamento observado; na realidade, o que realiza é uma espécie de generalização, sem que através da lógica possa conseguir uma demonstração das citadas leis ou conjunto de conclusões (MOLINA, 2007).

As referidas conclusões poderiam ser falsas e, ao mesmo tempo, a aplicação parcial efetuada da lógica poderia manter a sua validade; por isso, o método indutivo necessita de uma condição adicional, a sua aplicação considera-se válida enquanto não se encontrar nenhum caso que não cumpra o modelo proposto.

O método hipotético-dedutivo ou de verificação de hipóteses não coloca, em princípio, nenhum problema, visto que a sua validade depende dos resultados da própria verificação (MOLINA, 2007).

Temos ainda o Método Dialético que foi proposto por Hegel, o qual postula que as contradições se transcendem dando origem a novas contradições que passam a requerer solução. Nesse sentido, os fatos não podem ser considerados fora de um contexto social, político, econômico, etc. Outros métodos específicos das Ciências Sociais seriam o Método Histórico, o Comparativo, o Monográfico, o Estatístico, o Tipológico, o Funcionalista e o Estruturalista.

Para maior clareza com relação a estes métodos citados acima, sugere-se a leitura do livro Metodologia Científica de Lakatos e Marconi, utilizado como referência nesta apostila, o qual traz de forma clara os detalhes e variantes de cada um deles.

Como diz Lakatos e Marconi (2004) do mesmo modo que o conhecimento se desenvolveu, o método, sistematização das atividades, também sofreu transformações. Para Galileu, por exemplo, o primeiro teórico do método experimental, as ciências não tinham como foco principal a preocupação com a qualidade, mas com as relações quantitativas. Seu método é descrito como indução experimental, chegando-se a uma lei geral por intermédio da observação de certo número de casos particulares.

Para Francis Bacon são essenciais a observação e a experimentação dos fenômenos, pois somente esta última pode confirmar a verdade: uma autêntica demonstração sobre o que é verdadeiro ou falso, somente é proporcionada pela experimentação.

O tipo de experimentação proposto por Bacon é denominado coincidências constantes. Ele postula que: aparecendo a causa, dá-se o fenômeno; retirando-se a causa, o efeito não ocorre; variando-se a causa, o efeito altera-se. René Descartes afasta-se dos processos indutivos e utiliza o método dedutivo.

Conforme Descartes, chega-se à certeza por intermédio da razão, princípio absoluto do conhecimento humano. Portanto, para ele, desmistifica-se as crenças de que a pesquisa científica (e seu processo) seja um privilégio de alguns poucos iluminados.




([1]) LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1983, p.99

 

([2]) CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro A; SILVA, Roberto da. Metodologia científica. 6 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

 

([3]) MOLINA, Maria José T. O método dialético global (2007). Disponível em: <http://www.molwick.com/pt/metodos-cientificos/524-metodoscientificos.html#texto> Acesso em: 06 jun. 2010.


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