quarta-feira, 8 de novembro de 2023

A Ciência e o Conhecimento Científico – Origens e Conceitos

 

Como se Classifica a Ciência? Quando a Ciência Adquiriu Contornos Científicos? O Que é Um Método Científico?

 



As origens do pensamento científico remontam até a Grécia Antiga, embora a ciência, tal como a entendemos hoje, só adquiriu seus contornos durante o Renascimento. Mas, a Ciência Renascentista era uma ciência voltada para os fatos naturais; assim, articular ciência com sociedade é algo bem recente. Até o século XIX, a Filosofia era a disciplina que buscava entender as questões naturais, sociais e humanas, mas ela não conseguia, por si só, explicar alguns problemas como miséria, desigualdade social, conflitos de classe etc.

Os pesquisadores dessa época não possuíam instrumentais metodológicos para abordar tais assuntos de forma científica. Cabe destacar que a evolução humana teve significativa contribuição do método construído pelos pensadores desde o século XV, passando por René Descartes, Francis Bacon e Galileu Galilei, buscando o conhecimento das ciências naturais, até o século XIX com Comte e Durkheim. Esses renomados pensadores dedicaram suas vidas a explicar as aspirações sociais humanas por meio de métodos das ciências naturais para as sociais.

Após essa contextualização cabe-nos perguntar: o que é ciência? E, para tentar responder essa questão crucial pode-se refletir que, quando o homem do paleolítico encontrou um mamute, percebeu imediatamente que não podia enfrentá-lo. Então ele fugiu correndo e, em sua aterrorizada da corrida, caiu e feriu o joelho em um sílex. Compreendeu que o sílex era mais duro do que seu joelho.

O homem é o único animal que reuniu essas diversas experiências para formular uma hipótese de trabalho, uma hipótese que verificará experimentalmente. Essa foi, sem dúvida, uma “atividade científica”. Assim, as disciplinas de Sociologia, História, Geografia – e outras – podem ser entendidas como ciência porque abrigam uma série de teorias que se propõem a explicar determinada realidade, seguindo uma metodologia e cujas conclusões podem ser generalizadas. Evidentemente que o homem paleolítico não tinha consciência do que estava fazendo: ele realizava suas ações seguindo seus instintos para sobreviver. No entanto, no momento em que age e começa a pensar no “porquê” faz algo, esse homem ancestral passa a elaborar teorias: passa, portanto, a construir ciência.

É por meio dessa e de outras regras, capazes de explicar determinado fenômeno social ou natural, que se constitui uma ciência. Então, podemos entender que a teoria é um tipo de engrenagem capaz de articular relações do cotidiano abstratamente, ou seja, é a teoria que retira da realidade o objeto e o transforma em representação. Dessa forma, as ciências podem ser divididas em algumas áreas e, segundo MATTAR ([1]) elas são classificadas, pelo menos, a partir de seus aspectos básicos e nos seus métodos científicos, porém, esta não é uma atividade simples. Grosso modo, as ciências podem ser divididas em três (3) grandes grupos:

 

·        Ciências Exatas: são todas aquelas que têm a Matemática como fundamento. Assim, a Matemática, a Física, a Astronomia, as ciências da computação e as engenharias podem ser classificadas como exatas.

·        Ciências Biológicas: são aquelas que têm como base o estudo dos seres vivos em seus aspectos biológicos. São exemplos de biológicas a Medicina, a Odontologia, a Educação Física, a Agronomia, a Fisioterapia e a Fonoaudiologia.

·        Ciências Humanas: desenvolvem, em seus estudos, uma ótica sociológica do ser humano. A Filosofia, a Sociologia, as Letras, a Pedagogia, a Administração, a Contabilidade e o Direito são exemplos de cursos na área de ciências humanas.

  

Considerações Sobre o Conhecimento

 

Você já tentou definir o que é conhecimento? Pode pensar que é simples e estar dizendo para si mesmo que conhecimento é tudo aquilo que alguém sabe. Entretanto, definir o que é conhecimento é uma tarefa muito complexa e, primeiramente, pode-se dizer que o conhecimento transita por diferentes áreas e espaços de aprendizagem, sendo que, conforme FRANÇA ([2]):

Conhecer é atividade especificamente humana. Ultrapassa o mero 'dar-se conta de', e significa a apreensão, a interpretação. Conhecer supõe a presença de sujeitos; um objeto que suscita sua atenção compreensiva; o uso de instrumentos de apreensão; um trabalho de debruçar-se sobre. Como fruto desse trabalho, ao conhecer, cria-se uma representação do conhecido - que já não é mais o objeto, mas uma construção do sujeito. O conhecimento produz, assim, modelos de apreensão - que por sua vez vão instruir conhecimentos futuros. ” (p. 140).

Em segundo lugar devemos entender que o conhecimento não é, e nem pode ser, somente individual. Diz-se isso porque ninguém sabe tudo sobre determinado assunto. Cada um sabe um pouco sobre algo, e esse pouco individual se junta para formar um conhecimento ainda maior. Então, o conhecimento que a sociedade tem hoje dos diversos setores que a formam foi algo construído com o tempo. Lembre-se de que nosso antepassado pré-histórico foi desenvolvendo as tecnologias aos poucos, pois, no início, nem o fogo ele sabia acender. Este foi um dos primeiros conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento da humanidade. Nesse contexto, hoje, a humanidade domina uma gama tão grande de conhecimento que estes foram sendo divididos em setores. Veja que o conhecimento de um padre ou de um pastor é bem diferente do conhecimento de um médico.

Para curar uma doença, por exemplo, o médico vai pedir exames, receitar uma medicação, já o padre ou o pastor pode realizar uma oração em benefício da cura do doente. Qual deles é o melhor conhecimento? Nenhum, pois não há juízo de valor para isso. Nos dois casos, pressupõe-se que tanto o médico quanto o pastor ou o padre sejam estudiosos de suas áreas de conhecimento. O diferencial entre uma área e outra é a linguagem e a metodologia aplicadas por quem constrói o conhecimento. Assim, quando o estudioso vai a fundo em seus estudos, ele pode ser considerado um pesquisador.

Mas o que faz um pesquisador? Perceba que, para esse profissional, o mais importante são as perguntas que fazemos para desvendar determinados mistérios. Isto porque esses questionamentos constituem a base das atividades do pesquisador e percorrerão toda a sua linha de investigação. A isto chamamos de Método, e às suas respostas chamamos de Conhecimento Científico. Além disso, esse conhecimento produzido a partir das respostas alcançadas pelas perguntas, surge para o pesquisador como representações da realidade. É um conhecimento construído sobre um conhecimento anterior, ampliando os horizontes dos saberes e produzindo novas perguntas que culminarão em novos conhecimentos. Diante desse contexto, observe que a construção do conhecimento – seja para entender a regra de um jogo desportivo ou uma complexa organização social – ocorre a partir da inquietude, curiosidade e proatividade de quem investiga.

Perceba que, em todos os tempos históricos, a humanidade sempre construiu conhecimento, seja de uma forma ou de outra, como colocam BASTOS e KELLER ([3]): “A história humana é a história das lutas pelo conhecimento da natureza para interpretá-la e para dominá-la. Cada geração recebe um mundo interpretado por gerações anteriores. Esta história está constituída por interpretações místicas, proféticas, filosóficas, científicas, enfim, por ideologias. Cada indivíduo que vem ao mundo já o encontra pensado, pronto: regras morais estabelecidas, sociedade organizada, religiões estruturadas, leis codificadas, classificações preparadas. No entanto, tal estruturação do mundo não justifica a alguém se sentir dispensado de repensar este mundo, porque caso contrário tem-se o lugar comum, a mediocridade e, o que é pior, a alienação” (p. 54).

Por meio do conhecimento, o homem entra em várias áreas da realidade, porém, é preciso ressaltar que a própria realidade apresenta natureza diferenciada. Por isso, o conhecimento humano foi classificado em níveis, ou tipos: o senso comum, o conhecimento teológico, o conhecimento artístico, o conhecimento filosófico e o conhecimento científico. MATTAR comenta que a divisão tradicional dos níveis de conhecimento mostra-se a partir de um exame mais apurado e muito frágil, pois o conhecimento artístico também pode ser um nível de conhecimento, ao passo que o conhecimento mitológico pode ser agregado ao conhecimento teológico.




([1])  MATTAR, J. Metodologia científica na era da informática. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

([2])  FRANÇA, J. L. et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 8. ed. rev. e aum. Belo Horizonte: UFMG, 2011.

 

([3])  BASTOS, C.; KELLER, V. Aprendendo a aprender: introdução à metodologia científica. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 54



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