Qual Era o Perfil
Socioeconômico da População Brasileira em 1822? Quais os Principais Obstáculos
de D. Pedro na Organização Brasileira? O Que Levou o Príncipe Regente a
Declarar a Independência do Brasil? Qual Era o Perfil de D. Pedro?
No ano de sua
Independência o Brasil tinha tudo para dar errado, pois de cada 3 brasileiros,
2 eram escravos, negros, mulatos, índios ou mestiços. Ou seja, tratava-se de
uma população pobre e carente de tudo. O medo de uma rebelião dos cativos
assombrava a minoria branca e, de cada dez pessoas, apenas uma sabia ler e
escrever.
O isolamento
entre as províncias prenunciava uma guerra civil e, para piorar, ao voltar a
Portugal – em 1821 – D. João VI havia raspado os cofres.
O novo país
nascia falido, pois faltavam dinheiro, soldados, navios, armas e munições para
sustentar a guerra contra os portugueses, que se prenunciava longa e sangrenta.
A pergunta é: _ Como o Brasil conseguiu manter seu território como uma nação
independente?
Por uma
notável combinação de sorte, acaso, improvisação e sabedoria de algumas
lideranças. Os obstáculos pareciam insuperáveis em 1822 e, a Independência, foi
apenas o 1º passo de um caminho que se revelaria difícil, longo e turbulento.
Em 1877 (43
anos após a morte de D. Pedro I e doze anos antes da Proclamação da República),
o abolicionista Joaquim Nabuco perguntava: _ “Deve ou não o povo participar da
política, pelas condições de território, de população, de trabalho escravo e de
distribuição de propriedade?
Dá para
construir um país com essa matéria prima? Seria possível fazer um Brasil
homogêneo e funcional com tantos escravos, pobres, analfabetos e tantas
rivalidades internas? ”
José
Bonifácio de Andrada e Silva – homem sábio e experiente – defendia o fim do
tráfico negreiro e a abolição da escravatura, reforma agrária e o estímulo à
agricultura familiar, tolerância política e religiosa, educação para todos,
proteção das florestas e tratamento respeitoso aos índios.
Achava
necessária a transferência da capital do Rio de Janeiro para algum ponto da
região Centro-Oeste. O próprio imperador Pedro I tinha ideias avançadas a
respeito da forma de organizar e governar a sociedade brasileira.
A
Constituição que outorgou em 1824 era inovadora, embora tivesse nascido de um
gesto autoritário – a dissolução da Assembleia Constituinte no ano anterior – e
o imperador era um abolicionista.
O Brasil
conseguiu se separar de Portugal sem romper a ordem social vigente. Viciada no
tráfico negreiro, a economia brasileira dependia da mão de obra cativa, de tal
forma que a abolição da escravatura se revelou impraticável.
Defendida por
homens poderosos – como Bonifácio e o próprio D. Pedro I – só viria 66 anos
mais tarde. Mas, em 1884, faltando 5 anos para a Proclamação da República,
ainda havia no Brasil cerca de um milhão e trezentos mil escravos.
É curioso
observar como o cenário da Independência foi construído pelos portugueses,
justamente aqueles que mais tinham a perder com a autonomia da colônia. O
“Grito do Ipiranga” foi consequência da fuga da corte portuguesa para o Rio de
Janeiro, em 1808.
Ao
transformar o Brasil, nos 13 anos seguintes, D. João tornou a separação
inevitável e, ao contrário do que se imagina, a ruptura resultou menos da
vontade dos brasileiros do que das divergências entre os portugueses.
Segundo
Sérgio Buarque de Holanda, a Independência foi produto de uma “guerra civil
entre portugueses”, desencadeada na Revolução Liberal do Porto de 1820 e cuja
motivação teriam sido os ressentimentos acumulados na antiga metrópole pelas
decisões favoráveis ao Brasil adotadas por D. João.
De forma e
imprevista, Portugal completou o ciclo de sua criação nos trópicos: _
descoberto em 1500 graças ao espírito de aventura do povo lusitano, o Brasil
foi transformado em 1808 em razão das fragilidades da Coroa portuguesa,
obrigada a abandonar sua metrópole para não cair refém de Napoleão Bonaparte e,
finalmente, tornado independente em 1822 pelas divergências entre os próprios
portugueses.
Outra tese de
Sérgio Buarque de Holanda afirma que o medo – fomentado pela constante ameaça
de uma rebelião escrava – fez com que a elite colonial brasileira se mantivesse
unida em torno da Coroa.
No Brasil de
1822 havia muitos grupos com opiniões diferentes sobre a forma de organizar o
país independente, mas todos estravam em acordo diante do perigo de uma
insurreição dos cativos – esta sim a grande preocupação que pairava no
horizonte.
Dessa forma,
o Brasil de 1822 triunfou mais pelas suas fragilidades do que pelas suas
virtudes. Os riscos do processo de ruptura com Portugal eram tantos que a
pequena elite brasileira – traficantes de escravos, fazendeiros, senhores de
engenho, pecuaristas, comerciantes, padres e advogados – se congregou em torno
de D. Pedro I a fim de evitar o caos de uma guerra civil (ou étnica), que
parecia inevitável.
E, cercado de
repúblicas por todos os lados, o Brasil se manteve como monarquia por mais ½
século. Como resultado, o país foi edificado de cima para baixo, cabendo à
pequena elite imperial, conduzir o processo o processo de construção nacional
de modo a evitar que a participação do restante da sociedade resultasse em caos
e rupturas.
Para um
pesquisador, a Independência do Brasil é um acontecimento repleto de
personagens fascinantes em que os papéis de heróis e vilões se confundem,
dependendo de quem os avalia.
No entanto,
de todos eles, o mais controvertido é D. Pedro I – o príncipe romântico e
aventureiro – que fez a independência com apenas 23 anos e aparece em algumas
obras como um herói, sem vacilações ou defeitos. Em outras obras ele aparece
como um homem inculto, mulherengo, boêmio e arbitrário.
A pergunta é:
Seria possível traçar um perfil mais equilibrado do 1º imperador brasileiro?
Mas, tentar decifrar o ser humano por trás do mito, é uma tarefa encantadora no
trabalho de uma boa pesquisa jornalística.
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