segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Brasil Independente: Como Criar um País Que Tinha Tudo Para Dar Errado

 

Qual Era o Perfil Socioeconômico da População Brasileira em 1822? Quais os Principais Obstáculos de D. Pedro na Organização Brasileira? O Que Levou o Príncipe Regente a Declarar a Independência do Brasil? Qual Era o Perfil de D. Pedro?

 

 


 

No ano de sua Independência o Brasil tinha tudo para dar errado, pois de cada 3 brasileiros, 2 eram escravos, negros, mulatos, índios ou mestiços. Ou seja, tratava-se de uma população pobre e carente de tudo. O medo de uma rebelião dos cativos assombrava a minoria branca e, de cada dez pessoas, apenas uma sabia ler e escrever.

O isolamento entre as províncias prenunciava uma guerra civil e, para piorar, ao voltar a Portugal – em 1821 – D. João VI havia raspado os cofres.

O novo país nascia falido, pois faltavam dinheiro, soldados, navios, armas e munições para sustentar a guerra contra os portugueses, que se prenunciava longa e sangrenta. A pergunta é: _ Como o Brasil conseguiu manter seu território como uma nação independente?

Por uma notável combinação de sorte, acaso, improvisação e sabedoria de algumas lideranças. Os obstáculos pareciam insuperáveis em 1822 e, a Independência, foi apenas o 1º passo de um caminho que se revelaria difícil, longo e turbulento.

Em 1877 (43 anos após a morte de D. Pedro I e doze anos antes da Proclamação da República), o abolicionista Joaquim Nabuco perguntava: _ “Deve ou não o povo participar da política, pelas condições de território, de população, de trabalho escravo e de distribuição de propriedade?

Dá para construir um país com essa matéria prima? Seria possível fazer um Brasil homogêneo e funcional com tantos escravos, pobres, analfabetos e tantas rivalidades internas? ”

José Bonifácio de Andrada e Silva – homem sábio e experiente – defendia o fim do tráfico negreiro e a abolição da escravatura, reforma agrária e o estímulo à agricultura familiar, tolerância política e religiosa, educação para todos, proteção das florestas e tratamento respeitoso aos índios.

Achava necessária a transferência da capital do Rio de Janeiro para algum ponto da região Centro-Oeste. O próprio imperador Pedro I tinha ideias avançadas a respeito da forma de organizar e governar a sociedade brasileira.

A Constituição que outorgou em 1824 era inovadora, embora tivesse nascido de um gesto autoritário – a dissolução da Assembleia Constituinte no ano anterior – e o imperador era um abolicionista.

O Brasil conseguiu se separar de Portugal sem romper a ordem social vigente. Viciada no tráfico negreiro, a economia brasileira dependia da mão de obra cativa, de tal forma que a abolição da escravatura se revelou impraticável.

Defendida por homens poderosos – como Bonifácio e o próprio D. Pedro I – só viria 66 anos mais tarde. Mas, em 1884, faltando 5 anos para a Proclamação da República, ainda havia no Brasil cerca de um milhão e trezentos mil escravos.

É curioso observar como o cenário da Independência foi construído pelos portugueses, justamente aqueles que mais tinham a perder com a autonomia da colônia. O “Grito do Ipiranga” foi consequência da fuga da corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808.

Ao transformar o Brasil, nos 13 anos seguintes, D. João tornou a separação inevitável e, ao contrário do que se imagina, a ruptura resultou menos da vontade dos brasileiros do que das divergências entre os portugueses.

Segundo Sérgio Buarque de Holanda, a Independência foi produto de uma “guerra civil entre portugueses”, desencadeada na Revolução Liberal do Porto de 1820 e cuja motivação teriam sido os ressentimentos acumulados na antiga metrópole pelas decisões favoráveis ao Brasil adotadas por D. João.

De forma e imprevista, Portugal completou o ciclo de sua criação nos trópicos: _ descoberto em 1500 graças ao espírito de aventura do povo lusitano, o Brasil foi transformado em 1808 em razão das fragilidades da Coroa portuguesa, obrigada a abandonar sua metrópole para não cair refém de Napoleão Bonaparte e, finalmente, tornado independente em 1822 pelas divergências entre os próprios portugueses.

Outra tese de Sérgio Buarque de Holanda afirma que o medo – fomentado pela constante ameaça de uma rebelião escrava – fez com que a elite colonial brasileira se mantivesse unida em torno da Coroa.

No Brasil de 1822 havia muitos grupos com opiniões diferentes sobre a forma de organizar o país independente, mas todos estravam em acordo diante do perigo de uma insurreição dos cativos – esta sim a grande preocupação que pairava no horizonte.

Dessa forma, o Brasil de 1822 triunfou mais pelas suas fragilidades do que pelas suas virtudes. Os riscos do processo de ruptura com Portugal eram tantos que a pequena elite brasileira – traficantes de escravos, fazendeiros, senhores de engenho, pecuaristas, comerciantes, padres e advogados – se congregou em torno de D. Pedro I a fim de evitar o caos de uma guerra civil (ou étnica), que parecia inevitável.

E, cercado de repúblicas por todos os lados, o Brasil se manteve como monarquia por mais ½ século. Como resultado, o país foi edificado de cima para baixo, cabendo à pequena elite imperial, conduzir o processo o processo de construção nacional de modo a evitar que a participação do restante da sociedade resultasse em caos e rupturas.

Para um pesquisador, a Independência do Brasil é um acontecimento repleto de personagens fascinantes em que os papéis de heróis e vilões se confundem, dependendo de quem os avalia.

No entanto, de todos eles, o mais controvertido é D. Pedro I – o príncipe romântico e aventureiro – que fez a independência com apenas 23 anos e aparece em algumas obras como um herói, sem vacilações ou defeitos. Em outras obras ele aparece como um homem inculto, mulherengo, boêmio e arbitrário.

A pergunta é: Seria possível traçar um perfil mais equilibrado do 1º imperador brasileiro? Mas, tentar decifrar o ser humano por trás do mito, é uma tarefa encantadora no trabalho de uma boa pesquisa jornalística.

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