Qual Era a Posição da Bíblia
Sobre a Origem e a Ascendência da Raça Humana? Como Cristóvão Colombo
Descreveu os “Índios” Descobertos na América? Como Foi a Luta de Las Casas em
Favor dos Índios?
Em, 1537 o cartógrafo português Pedro Nunes ao
cartografar o mundo descoberto no Ocidente, rejubilou com “novas ilhas, novas
terras, novos mares e um novo céu”. A descoberta da América colocou os Europeus
frente a frente dos surpreendentes continentes americanos os habitats
das raças lendárias e “monstruosas” que estavam descritas na “História Natural”
de Plínio e que desde então tinham fascinado os viajantes.
Quando
os Europeus apelidaram de “índios” do Novo Mundo, não só cometerem um erro
geográfico como também proclamaram as suas esperanças de encontrarem criaturas
fantásticas.
Cristóvão Colombo relatou que “nestas ilhas não
encontrei até agora nenhuma monstruosidade humana, como muitos esperavam e,
pelo contrário, entre todos esses povos o bom companheirismo é estimado. Assim,
não encontrei nem monstros ou qualquer notícia de povo que coma carne humana e,
aliás, esses índios são muito bem constituídos, com corpos perfeitos e
excelentes caras”. Embora essa tranquilidade despojasse as novas terras de um encanto
lendário, as “raças monstruosas” continuaram a viver. A poesia, o folclore e o
romance repetiam histórias antigas de “comedores de homens” e das guerreiras
Amazonas.
No pensamento cristão medieval não havia lugar para
instituições evolutivas, já que toda humanidade começou ao mesmo tempo e todo o
espectro das instituições humanas foi revelada e cumprido na Bíblia. Mas
algumas pessoas tinham-se desviado da norma. Depois do Dilúvio, os descendentes
culpados de Caim ou de Ham, filho de Noé, mereceram exílio e castigo, que ainda
maculavam os seus corpos e as suas instituições.
Três vezes a cultura uniforme da humanidade foi
corrompida pela diversidade, pois Caim foi punido por assassinar Abel, sendo
exilado para leste do Éden, onde ele e sua prole encontraram estranhos
costumes. Mais tarde, os filhos de Noé foram dispersos pela Terra para seguirem
seus caminhos separadamente. E depois a humanidade única do homem foi mais uma
vez misturada em Babel. A diversidade na religião, língua ou qualquer outra
coisa era a marca de Caim.
Quando Colombo informou que as pessoas que encontrou
não eram monstros, mas apenas selvagens, apontou inconscientemente para uma
nova ciência de cultura e para uma ideia de progresso. Os extremos de
diversidade humana deixaram de ser exilados para reinos de fantasia, pois agora
podiam ser observados de perto. Por muito medieval que fosse a geografia de
Colombo, com sua nova descrição minuciosa dos rios do Éden, todavia, quando
descreveu os nativos, falou inesperadamente no tom de um antropólogo no campo,
pois revelou os seus “corpos muito perfeitos e excelentes caras; o cabelo
usam-no sobre as sobrancelhas, exceto uma madeixa atrás; que usam comprida e
nunca cortam. Alguns deles pintam-se de preto e alguns de branco, e outros de
vermelho e outros com o que têm”.
Os Europeus ainda não tinham associado “raça” ou
níveis de humanidade, com a cor da pele. Consideravam a sua própria cor a cor
“normal” original da pele humana. As peles escuras dos Africanos explicavam-nas
pela queimadura do Sol nos climas quentes e isso, claro, afirmava a humanidade
dos povos africanos. A experiência europeia era ainda demasiado limitada para
suscitar questões a respeito da correlação da cor da pele com o clima. A Bíblia
era suficientemente clara na origem única e na ascendência homogênea de toda
raça humana. Como todos os homens descendiam de Adão e Eva, não havia lugar
para inferioridade de herança genética.
A descoberta da América abriu intrigantes e
revolucionárias possibilidades e, no século XVIII, já era evidente que existiam
muitas espécies de plantas e animais “peculiares” daquelas partes do Mundo. Em
1789, Jefferson observou que não havia uma espécie única de ave terrestre e que
desconfiava não haver uma espécie única de quadrúpede comum à Europa e à América.
Como explicar a presença na América da marmota e outros roedores? Se esses
animais tinham estado na Arca de Noé, também não deveriam encontrar-se em
outros lugares? Alguns naturalistas sugeriam que, em vez de uma única criação,
no Princípio, no Jardim do Éden, talvez tivessem havido “criações separadas” em
outras partes do Mundo. Talvez Deus tivesse criado espécies de plantas e
animais peculiarmente adequadas para cada habitat continental. Sendo
assim, por que não, também, “criações separadas” de espécie humana?
Os problemas que a Reforma Protestante criou à Igreja
Romana deram à questão da igualdade humana uma nova premência, pois só 25 anos
depois de Colombo desembarcar na América, Martinho Lutero colocou suas teses na
porta da Igreja de Wittenberg. Na Europa, a Igreja de Roma estava perdendo
almas em favor das heresias protestantes, as quais se multiplicavam. Ao mesmo
tempo, o Novo Mundo ofereceu seus incontáveis pagãos para uma imensa colheita
de novos crentes. E os missionários espanhóis se sentiram encorajados com os
êxitos iniciais.
Em 1540 um cálculo otimista indicava seis (6) milhões
o número de índios americanos batizados e, no entanto, o estatuto humano do
índio americano era cada vez mais discutido. Os conquistadores espanhóis tinham
razões para insistir na inferioridade natural dos Índios, o que significava que
Deus os destinara para escravos. Houve vivos debates acerca das faculdades dos
nativos do Novo Mundo.
O Papa Paulo III declarou-se patrocinador de esforços
missionários no Novo Mundo, embora quando jovem, tenha sido uma caricatura da
sensualidade da época. Tendo explorado as relações da sua família para se
tornar tesoureiro da Igreja Romana, construiu um grande palácio em Roma e fez
quatro (4) filhos na sua amante romana. O Papa Bórgia Alexandre VI nomeou-o
cardeal em 1493, já com mais de 50 anos, quando então ele abandonou as farras.
Aos 67 anos fez-se Papa, organizando uma reforma católica e, quando a disputa a
respeito da humanidade dos Índios chegou a Roma, Paulo III tentou arrumar o assunto
com a sua eloquente bula “Sublimis Deus”:
_ Deus amava tanto a raça humana que não só criou o
homem de tal modo que ele pudesse participar do bem que outras criaturas fruem,
como também o dotou com a capacidade de atingir o inacessível e invisível. Bem
Supremo e olhá-lo cara a cara (...) Tampouco é verossímil que alguém que possua
tão pouco discernimento ao ponto de desejar a fé e contudo ser destituído da
faculdade mais necessária para lhe permitir recebe-la. Por isso Cristo disse
aos pregadores da fé que Ele escolheu para esse mister: “Ide e ensinai todas as
nações”. Disse todas, sem exceção, porque todas são aptas a receber as
doutrinas da fé.
Mas, o heroico defensor dos Índios foi também o
primeiro homem a receber ordens sagradas na América. Nascido em Sevilha,
Bartolomeu de Las Casas encontrava-se lá quando Cristóvão Colombo regressou da
sua primeira viagem, em 1493. Com 19 anos teve um vislumbre dos índios que
Colombo fez desfilar pelas ruas e, quando seu pai regressou da segunda viagem
de Colombo, consta que deu de presente um escravo índio a Las Casas. Ele tomou
gosto à vida de conquistador quando foi para a América em 1502, adquirindo
escravos índios os quais os fez trabalharem nas minas e acumulando grande
riqueza.
Mesmo depois de receber ordens sagradas, por volta de
1512, permaneceu cego para o tormento dos índios. Até que um dia (em 1514) na
sua propriedade cubana, quando estava preparando o sermão de Domingo de
Pentecoste, foi subitamente iluminado. “A oferta daquele que sacrifica uma coisa
injustamente obtida é ridícula e as dádivas de homens injustos não são
aceitas”. Passados poucos dias, repetindo a experiência de São Paulo, era um
homem diferente. Absolutamente convencido, agora, “de que tudo o que foi feito
até este momento aos Índios foi injusto e titânico”, ele decidiu devotar sua
vida “à justiça desses povos índios e condenar o roubo, o mal e a injustiça
cometidos contra eles”.
O clímax público da luta de Las Casas constituiu um
espetáculo único na história da colonização e, em 6 de abril de 1550, Carlos V
instigado pelas dívidas e pelas acusações de Las casas ordenou que as
conquistas do Novo Mundo fossem suspensas e só reatassem depois de os seus
teólogos terem chegado a um acordo quanto a um procedimento justo.
Carlos V demonstrou confiança no critério moral dos
seus teólogos, pois embora eles não lhe fornecessem uma resposta simples e
rápida, também não o decepcionariam totalmente. Os escrúpulos do imperador não
deixariam de produzir efeitos no futuro do Mundo. Os colonos espanhóis, o grupo
dos conquistadores e outros opositores das novas leis tinham conquistado um
defensor de peso.
O Dr. Juan Ginés de Sepúlveda – humanista erudito e
discípulo de Aristóteles – nunca havia visitado o Novo Mundo, mas tinha firmes
opiniões, as quais eram apoiadas pelo seu ensaio que argumentava ser justo
guerrear contra os Índios e escraviza-los. Opondo-se à Sepúlveda, Las Casas
opunha-se também a Aristóteles, cuja “Política” Sepúlveda acabara de traduzir
para o espanhol. A proposição de Aristóteles de que alguns homens são por
natureza escravos fornecia a base ao argumento de Sepúlveda. Tal como as
crianças são naturalmente inferiores aos adultos, as mulheres aos homens e os
macacos aos seres humanos, assim também os Índios – dizia – eram naturalmente inferiores
aos Espanhóis.
A fim de decidir entre Sepúlveda e Las Casas, em julho
de 1550 o imperador Carlos V anunciou uma congregação de teólogos e
conselheiros, que se reunião em Castela. Las Casas já havia preparado uma bula
sobre os Índios (com 870 páginas) a fim de provar que eles eram modelos de
razão e virtude. Em quase todos os aspectos, argumentou, os Índios eram
superiores aos antigos Gregos e Romanos e, em alguns aspectos, eram até mesmo
superiores aos Espanhóis.
Las Casas não negou declaradamente a doutrina
aristotélica da escravidão natural, mas insistiu em que “os escravos naturais”
eram uma espécie de monstruosidade, coisa que, seguramente, não incluía os
Índios. O Conselho – de 14 membros – composto por alguns dos homens mais cultos
e poderosos da época, tomou a missão a sério. Solenidade e “suspense” rodearam
o grande debate entre os dois paladinos de causas opostas.
O Conselho jamais chegou a um acordo e,
consequentemente, nunca apresentou uma decisão ao rei. Ambas as facções
clamaram vitória e, segundo todos os testes, Sepúlveda revelou-se o porta-voz
da política espanhola na vasta arena das Américas. Os conquistadores
adoravam-no, mandavam-lhe presentes e transformaram-lhe as obras na sua defesa
ortodoxa.
Las Casas continuou a ser o porta-voz da doutrina
professada pela Igreja Romana e, claro, não conseguiu converter conquistadores
em pacifistas. Mas, imprimiu a marca da Igreja na humanidade dos Índios e, em
1566 quando voltou a conceder autorizações de descoberta e conquista, o rei
Carlos V se sentiu constrangido a exortar todos a respeitarem as leis de uma
guerra justa. Se os colonos espanhóis achassem necessário usar força contra os
nativos não deveriam usar mais do que a necessária e, em circunstância alguma,
deveriam escravizar os índios. Numa homenagem a Las Casas, o soberano baniu a
palavra “conquista”, que no futuro seria substituída por “pacificação”.
A oportunidade de refletir na variedade e unidade da
humanidade que a descoberta da América e das extensas colônias impôs ao
Ocidente não foi aproveitada pelos povos de outras partes do Mundo. O Islã
expandiu-se como um império em ampliação em vez de por colônias-à-distância,
pela conquista e ocupação em vez de por postos avançados missionários.
Mas a teologia muçulmana e os acasos da história
inocularam o Islã contra o vírus do racismo. O dogma sólido da igualdade de
todos os crentes, a propagação do islamismo através da África negra, os
casamentos frequentes com escravas e concubinas de raças diferentes
desencorajou qualquer crença muçulmana em níveis raciais de humanidade. Para os
Muçulmanos a distinção de suprema importância residia entre crentes e não
crentes.
Por razões completamente diferentes, o problema da
igualdade humana não foi grave na China. Aí, onde a tradição e o costume imperavam,
as melhores qualidades da vida eram encaradas como produto da tradição e do
costume chineses. E a tradição isolacionista afastou os Chineses de reencontros
com povos distantes e diferentes. Em nenhum lugar da Ásia oriental, no Japão ou
na Coreia, tampouco encontramos nada que se pareça com o racismo ocidental.
Só na Índia, a casta racial se tornou integrante da
religião. Embora a origem das castas esteja oculta nas névoas pré-históricas, o
sistema de castas hindu pode ter sido causado por diferenças de cor. “Varna”, a
palavra hindu para dizer casta, significa “cor”, mas talvez a sua aplicação
original se referisse a qualquer outra coisa que não a cor da pele.
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