terça-feira, 23 de junho de 2020

As Principais Linhas de Pensamento Sobre a Qualidade



Quais São as Cinco Principais Abordagens Para a Definição da Qualidade? Quem São os Dois Principais Gurus da Qualidade? Qual Foi a Principal Contribuição de Philip Crosby? Quem Formulou o Conceito de Controle da Qualidade Total?





Constata-se uma enorme variedade de conceitos e definições sobre qualidade na literatura especializada e, segundo GARVIN ([1]), existem cinco (5) abordagens principais para a definição dessa palavra:

·        Transcendente: Qualidade é buscar o padrão mais alto, em vez de se contentar com o mal feito ou fraudulento. Conforme PIRSIG ([2]), qualidade não é uma ideia ou uma coisa concreta mas uma terceira entidade independente das duas e, embora não se possa defini-la, sabe-se o que ela é.
·        Baseada no Produto: Para ABBOTT ([3]) as diferenças de qualidade correspondem a diferenças de quantidade de algum ingrediente ou atributo desejado.
·        Baseada no Usuário: Conforme EDWARD ([4]) a qualidade consiste na capacidade de satisfazer desejos.
·        Baseada na Produção: Já para CROSBY ([5]) a qualidade quer dizer conformidade com as exigências.
·        Baseada no Valor: Segundo BROH ([6]), qualidade é o grau de excelência a um preço aceitável e o controle da variabilidade a um custo aceitável.

Outras definições podem ser enquadradas nas citadas, a partir de seus aspectos preponderantes, embora eventualmente seja possível perceber alguns conflitos entre elas. Dependendo da área considerada – Marketing, Vendas ou Produção – uma ou outra definição aplica-se melhor. Dessa forma, o caminho mais seguro para se definir qualidade em uma empresa é através da sua política de qualidade, que pode incluir mais de uma das abordagens indicadas.


Principais Linhas de Pensamento


Juran e Deming foram os dois principais responsáveis pelo movimento da qualidade no Japão. Os japoneses os consideram os inspiradores do milagre industrial no seu país – iniciado na década de 50 – e os americanos só lhes deram o devido valor no início de 1980. Mas, seria injusto associar o movimento a apenas essas duas pessoas, pois do lado americano, Philip Crosby contribuiu com a sua teoria do “zero defeito” e Armand Feigenbaum foi o grande impulsionador do conceito de “controle de qualidade total”. Veremos abaixo mais detalhes sobre a linha de pensamento desses – e de outros – estudiosos.

A) W. Edwards Deming: Suas ideias nortearam o conhecimento sobre a qualidade e uma das principais é a constância de propósito, a qual serve como agente libertador do poder de motivação, criando nos colaboradores satisfação, orgulho e felicidade no trabalho. Os atributos de liderança, obtenção do conhecimento, aplicação de metodologias estatísticas, compreensão e utilização das fontes de variação e perpetuação do ciclo de melhoria contínua da qualidade estão no âmago da filosofia de Deming.

Para ele, a qualidade é definida de acordo com as exigências e necessidades do consumidor e, como elas estão em permanente mudança, as especificações da qualidade devem ser alteradas frequentemente. No entanto, Deming considera não ser suficiente cumprir apenas as especificações, pois é preciso utilizar os instrumentos de controle estatístico da qualidade em vez de mera inspeção de produtos.

B) Joseph Juran: Foi o 1º a aplicar os conceitos da qualidade à estratégia empresarial, ao invés de meramente associá-la à estatística ou aos métodos de controle total da qualidade. Segundo ele, a gestão da qualidade se divide em três (3) pontos: _ Planejamento, Controle e Melhoria. Conforme Juran, os processos de negócios são a maior e a mais negligenciada oportunidade de melhoria.

Uma parcela expressiva dos problemas de qualidade são causados por processos de gestão. Juran considera a melhoria da qualidade a principal prioridade do gestor, e o planejamento a segunda, esforço que deve contar com a participação das pessoas que irão implementá-lo. Na sua opinião, separar planejamento e execução é uma noção obsoleta, a qual remonta aos tempos de Taylor.

C) Armand Vallin Feigenbaum: Foi um dos formuladores do conceito de “Controle da Qualidade Total” (TQC) e, de acordo com essa abordagem, qualidade é um instrumento estratégico pelo qual todos os trabalhadores devem ser responsáveis. Mais do que uma técnica de eliminação de defeitos nas operações industriais, qualidade é uma filosofia de gestão e um compromisso com a excelência. A premissa básica do TQC é que a qualidade está ligada a todas as funções e atividades da organização e não apenas à fabricação e à engenharia.

D) Philip B. Crosby: Seu nome está associado aos conceitos de “zero defeito” e de “fazer certo na 1ª vez”. Para ele, qualidade significa conformidade com as especificações, que, por sua vez, variam conforme as necessidades dos clientes. Ele acredita que zero defeito não é apenas um slogan, mas um padrão de desempenho. Afirma também que os responsáveis pela falta de qualidade são os gestores, e não os trabalhadores.

As iniciativas voltadas para a qualidade devem vir de coma para baixo e ser ensinadas através de exemplos. A criação de um grupo estratégico de especialistas da qualidade nas empresas é um dos elementos de seu modelo. A base filosófica para a cultura da qualidade desejada é delineada pelos quatro (4) princípios de gestão da qualidade:

·        A qualidade é definida como conformidade aos requisitos.
·        O sistema que leva à qualidade é a prevenção.
·        O padrão de execução é o zero defeito.
·        A medida da qualidade é o preço da não-conformidade.

E) Outros Estudiosos: Kaoru Ishikawa – conhecido como o “pai” do TQC japonês – enfatizou os aspectos humanos e a implementação dos círculos de controle de qualidade (CCQ). Para ele, cada elemento da empresa tem que estudar, praticar e participar do controle da qualidade. O TQC enseja que, com a participação de todos, qualquer empresa ofereça produtos e serviços melhores a um custo mais baixo, aumente as vendas, melhores os lucros e se transforme em uma organização melhor. Já para Masaaki Imai, o melhoramento contínuo depende de uma profunda transformação na mentalidade, na filosofia, nos métodos e nos objetivos das organizações. Segundo ele, o melhoramento contínuo é a chave do sucesso competitivo japonês.

Por seu turno, a filosofia de Genichi Taguchi abrange todo o ciclo de produção. Desde o design até a transformação em produto acabado. Ele define a qualidade em função das perdas geradas pelo produto para a sociedade. Essas perdas podem ser estimadas em função do tempo, que compreende a fase de expedição de um produto até o final de sua vida útil. Para Taguchi, a chave para reduzir as perdas não está na conformidade com as especificações, mas na redução da variabilidade estatística em relação aos objetivos fixados.



([1]) GARVIN, David A. “Gerenciando a Qualidade: a Visão Estratégica e Competitiva”. Rio de janeiro, Qualitymark, 2002.

([2]) PIRSIG, Robert M. “Zen and the Art of Motorcycle Maintenance”. New York, Bantam Books, 1974.
([3]) ABBOTT, Lawrence. “Quality and Competition”. New York, Columbia University Press, 1955
([4]) EDWARD, Corwin D. “The Meaning os the Quality Progress”, Oct, 1968   
([5]) CROSBY, Philip B. “Cutting the Cost of Quality”. Industrial Education Institute, 1967
([6]) BROH, Robert A. “Managing Quality of Higher Profits”. New York, McGraw-Hill, 1982.

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