quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Os Dilemas Éticos da Negociação



Como Alguns Autores Definem a Negociação? Por Que a Negociação é Uma das Práticas Empresariais Mais Interessantes? Como se Caracteriza o Campo da Ética em Uma Negociação?





A negociação é uma das práticas empresariais mais interessantes para se estudar a honestidade e a ética na tomada de decisões, primeiramente por ser uma área rica em dilemas éticos. Pode-se dizer que a negociação é uma interação socialmente motivada entre indivíduos – ou grupos – com interesses divergentes. Ao procurar conciliar esses interesses sem sacrificar os interesses individuais, as partes podem se sentir tentadas a adotar um comportamento furtivo e, em alguns casos, manipulador.


Segundo, porque alguns pesquisadores sugerem que algumas formas de desonestidade podem ser apropriadas e mesmo necessárias para ser um negociador eficaz. No entanto, apesar do reconhecimento da negociação como área rica em dilemas éticos, poucos têm sido os estudos que buscam compreender como o sistema de valores influencia o julgamento ético de práticas negociais eticamente ambíguas.


Ética e Negociação


O termo ética deriva do grego “éthos” que significa “costume” ou “hábito”, pelo que, tradicionalmente, a ética é entendida como uma reflexão científica filosófica e até teológica sobre os costumes e as ações humanas. Os termos “ética” e “moral” são usados indistintamente na literatura sobre ética empresarial e, no entanto, a distinção filosófica pode fazer-se referindo a moral como prática dos homens como membros de uma sociedade, enquanto a ética é a reflexão sobre essas práticas.

O campo da ética na negociação é caracterizado por uma fértil, porém controversa, discussão teórica. As reflexões teóricas e as pesquisas empíricas apresentadas são tanto diversas quanto contraditórias, entre si. Definições clássicas de negociação são responsáveis pelo seu distanciamento de algumas perspectivas éticas.

Por exemplo, LAX e SEBENIUS (1986:11) ([1]) definem negociação como “um processo interativo, essencialmente oportunista, pelo qual duas ou mais partes, com algum conflito aparente, procuram um melhor resultado através de uma ação conjunta do que se a tomassem isoladamente”.
Alguns acadêmicos afirmam que a própria dinâmica dos processos de negociação é contraditória ao pensamento ético. WHITE (1980:928) ([2]) afirma que “esconder a verdadeira posição, induzir a outra parte em erro....é a essência da negociação”. Para ele, a negociação honesta não é, por definição, negociação, uma vez que o engano e a mentira são inerentes ao processo de troca.



Por outro lado, alguns autores de orientação idealista acreditam que princípios universais como honestidade absoluta, podem estar presentes em qualquer negociação. Para eles, a negociação honesta é uma possibilidade real, mas para isso é necessário condenar qualquer forma de engano ou inverdade que possa surgir no decorrer do processo.

No entanto, esses mesmos autores divergem nas suas perspectivas sobre a ética na negociação. Enquanto alguns argumentam que a honestidade é incondicional e os negociadores devem abandonar a negociação na sua ausência, a maioria defende-a pelas consequências positivas que traz no longo prazo, assumindo uma perspectiva mais pragmática; ou seja, ser ético sempre compensa.

Apesar de reconhecerem que comportamentos oportunistas e enganosos podem trazer vantagens de curto prazo e que, por vezes, uma negociação baseada em princípios éticos pode colocar os negociadores numa posição de vulnerabilidade perante seus oponentes, esses autores defendem que a honestidade não só se traduz em melhores resultados, como evita consequências de custos muito elevados, tais como a rigidez em futuras negociações, a destruição da relação com o oponente, a criação de uma reputação negativa, a escalada do conflito e a perda de oportunidades.

Portanto, partindo-se da premissa de que os negociadores não são santos, nem vilões amorais e sem escrúpulos, e que eles enfrentam diversos dilemas éticos na sua atividade, é necessário que os negociadores entendam como as diferenças individuais nos sistemas de valores condicionam o julgamento moral de práticas negociais eticamente ambíguas.




([1]) LAX, D. & SEBENIUS, J. “The Manager as Negotiator”. Bargaining for Cooperation and Competitive Gain. New York: Free Press, 1986
([2]) WHITE, J. J. “Machiavelli and the Bar: Ethical Limitations on Lying in Negotiation”. American Bar Foundation Research Journal. Chicago, v. 5, n. 4, p. 926-936, Autumm, 1980



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