O Que Superou as Contradições do Capitalismo no
Início do Século 20? O Que Taylor Enxergou nas Ideias de Karl Marx? Qual Era o
Poder dos Sindicatos Americanos Nessa Época?
Em 1950
muitas pessoas já sabiam que o marxismo fracassara tanto moral como
economicamente, embora ele ainda fosse a única ideologia coerente para a maior
parte do mundo. Havia antimarxistas em abundância, mas poucos não marxistas.
Isto é, pessoas que achavam que o marxismo havia se tornado irrelevante e,
mesmo os maiores opositores do socialismo, ainda estavam convencidos de que ele
estava em ascensão. O que então superou as inevitáveis contradições do
capitalismo?
A
“alienação” e a indigência da classe trabalhadora e com ela toda a noção de
proletariado? A resposta está na Revolução da Produtividade, pois quando o
conhecimento mudou de significado ele começou a ser aplicado a ferramentas,
processos e produtos. Mas, dois anos antes da morte de Marx já havia começado a
Revolução industrial e, em 1881, pela primeira vez Frederick Winston Taylor
aplicou o conhecimento ao estudo do trabalho, à sua análise e à sua engenharia.
Foi por
acidente que Taylor – um homem rico e educado – se tornou um trabalhador, pois
uma deficiência visual forçou-o a desistir de ir para Harvard e obter um
emprego numa fundição de ferro. Suas invenções em metalurgia o deixaram rico
muito cedo e, o que o levou a iniciar o estudo do trabalho, foi seu choque
diante do ódio entre capitalistas e trabalhadores que acabara de dominar o
final do século 19.
Em outras
palavras, Taylor viu o mesmo que Marx, mas ele também viu algo que eles
deixaram de ver. Ele percebeu que o conflito era desnecessário e tratou de
tornar os trabalhadores produtivos para que pudessem receber salários decentes.
A motivação
de Taylor não era a eficiência nem a geração de lucros para os proprietários,
pois até a sua morte ele afirmava que o maior beneficiário dos frutos da
produtividade deveria ser o próprio trabalhador e não o patrão. Sua maior
motivação era a criação de uma sociedade na qual proprietários e trabalhadores
ou capitalistas e proletários poderiam ter um interesse comum ela produtividade
e construir um relacionamento harmonioso a partir da aplicação do conhecimento
ao trabalho.
Poucas
figuras na história intelectual tiveram mais impacto do que Taylor e poucas
foram tão obstinadamente mal compreendidas. Ele sofreu porque a história provou
que ele estava certo e os intelectuais errados e – em parte – ele é ignorado
porque o desprezo pelo trabalho ainda está presente, principalmente entre os
intelectuais.
Mas, a
reputação de Taylor sofreu muito porque ele aplicou o conhecimento ao estudo do
trabalho e certamente isso era um anátema para os sindicatos, os quais montaram
contra ele uma campanha odiosa para o assassinato da sua reputação.
Aos olhos
dos sindicatos o crime de Taylor foi sua afirmativa de que “não existe
trabalho qualificado, pois nas operações manuais existe somente trabalho”.
De acordo com a Administração Científica de Taylor todo trabalho pode ser
analisado da mesma maneira. Assim qualquer trabalhador disposto a executar o
trabalho da maneira ditada pela análise é um “homem de primeira classe” e merece
um “salário de primeira classe” – isto é, tanto quanto (ou mais) aquilo que um
trabalhador qualificado conseguiu depois de longos anos de aprendizado.
Mas, os
sindicatos mais poderosos da América eram aqueles dos arsenais e dos estaleiros
estatais que centralizavam a produção da defesa em tempo de paz. Esses
sindicatos eram monopólios de artesanatos: _ a participação neles era restrita
a filhos e parentes dos seus membros. Eles exigiam um aprendizado de 5 a 7
anos, mas não tinham treinamento nem estudo do trabalho. Não era permitido
anotar nada e não havia nem mesmo plantas ou outros desenhos do trabalho a ser
feito.
Os
membros tinham que jurar segredo e não podiam discutir seu trabalho com
“não-membros”. A afirmação de Taylor de que o trabalho podia ser estudado,
analisado e dividido em movimentos repetitivos era de fato um ataque frontal
aos sindicatos. E assim eles o difamaram e conseguiram que o Congresso
proibisse qualquer aplicação de “estudo de tarefas” em arsenais e estaleiros do
governo – uma proibição que vigorou até depois da 2ª Guerra.
Taylor
não melhorou a situação, ofendendo os proprietários das indústrias tanto quanto
havia ofendido os sindicatos. Ele era desdenhosamente hostil aos industriais e
o seu apelido favorito para eles era de “porcos”. Além disso, ele insistia que
os trabalhadores – não os patrões – ficassem com a “parte do leão” nos ganhos
produzidos pela Administração Científica e, para acrescentar o insulto à
injúria, seu “quarto princípio” exigia que o estudo do trabalho fosse feito
consultando-se o trabalhador – ou mesmo em parceria com ele.
Finalmente,
Taylor afirmava que a autoridade na fábrica não podia ser baseada na
propriedade, mas sim no conhecimento superior. Em outras palavras, ele exigia
aquilo que hoje chamamos de “gerência profissional” – uma heresia radical para
os capitalistas do século 19.
O axioma
de Taylor – pelo qual todo trabalho manual qualificado ou não podia ser
analisado e organizado pela aplicação do conhecimento – era um absurdo para os
contemporâneos. E o fato de que havia uma mística nas aptidões artesanais ainda
continuou sendo aceito por muitos anos e foi essa crença que encorajou Hitler a
declarar guerra aos EUA em 1941. Para que esse país colocasse uma força eficaz
na Europa seria necessária uma grande frota para o transporte das tropas.
Naquela
época os EUA quase não tinham marinha mercante nem destroieres para
protegê-los. Além disso, a guerra moderna exigia instrumentos óticos de
precisão em grandes quantidades e, diante disso, não havia trabalhadores óticos
qualificados nos EUA. Porém, aplicando a Administração científica a indústria
americana treinou trabalhadores desqualificados, transformando-os (em 90 dias)
em soldadores e construtores de navios. Pessoas dessa mesma espécie também
foram treinadas para que produzissem em pouco tempo instrumentos óticos de
precisão com qualidade superior à dos alemães.
Todas as
potências econômicas anteriores da história moderna – Inglaterra, EUA, Alemanha
– emergiram através da liderança em novas tecnologias. As potências econômicas
pós Segunda Guerra – inicialmente o Japão, depois Coréia, Taiwan, Hong-Kong e
Cingapura – devem toda sua ascensão ao treinamento de Taylor. Este possibilitou
que elas dotassem uma força de trabalho em grande parte ainda pré-industrial e,
portanto, de baixos salários, com uma produtividade de classe mundial em
pouquíssimo tempo.
A
aplicação do conhecimento ao trabalho elevou a produtividade ([1])
de forma explosiva. Por centenas de anos não tinha havido nenhum aumento na
capacidade dos trabalhadores para produzir bens. As máquinas criaram maior
capacidade, mas os próprios trabalhadores não eram mais produtivos do que nas
oficinas da Grécia antiga ou na construção das estradas da Roma imperial.
Porém,
alguns anos depois que Taylor começou a aplicar o conhecimento ao trabalho, a
produtividade começou a subir e aumentou cerca de 50 vezes em todos os países
avançados. Em 1910, os trabalhadores nos países desenvolvidos ainda trabalhavam
no mínimo três mil horas por ano. Hoje, os japoneses trabalham duas mil horas,
os americanos cerca de 1850, os alemães 1600 e todos eles produzem 50 vezes
mais por hora do que há 80 anos.
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[1] O termo era desconhecido na
época de Taylor e, na verdade, até a 2ª Guerra Mundial, quando começou a ser
usado nos EUA. Em 1950, o mais autorizado dicionário inglês ainda não trazia a
palavra “produtividade” com seu significado atual.
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