quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Fatores Conjunturais e Estruturais na Evolução do Desemprego no Brasil

 Qual a Diferença de Índices de Desempregados Entre o IBGE e o DIEESE? Que Fatores Explicam a Desindustrialização no Brasil? A Partir de Quando o Desemprego no Brasil se Tornou um Problema Crônico? 

 


 

Esse texto tentará trazer uma breve análise do desemprego na economia brasileira como resultado da reorientação no modelo de desenvolvimento a partir de 1980. Veremos também que a crise do emprego que marcou nossa evolução econômica desde então também se deveu a fatores conjunturais.  Como nossa economia se abriu rapidamente ao exterior, ficamos mais vulneráveis a oscilações da demanda externa, o que dificultou a manutenção do nível de emprego em níveis razoáveis. É importante esclarecermos a respeito de que medida vamos falar, a fim de tratarmos do problema do desemprego, pois conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é considerado como desempregados todos aqueles que pertencem à população economicamente ativa e procuravam trabalho no período de realização da pesquisa. Já para o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) agrega-se também à estatística de desempregados aqueles que se encontram em situação de trabalho precário (auto ocupação ocasional, remunerada ou não) e aqueles que desistiram de procurar trabalho por sentirem-se desestimulados. Todas as pessoas em idade acima de 10   anos são computadas como população economicamente ativa e, nesta definição, incluem-se tanto os indivíduos ocupados como os indivíduos desocupados. São excluídos desse cálculo as pessoas inativas, ou seja, que não exercem (ou não buscam exercer) alguma atividade no mercado de trabalho, como estudantes (maiores de 10 anos), aposentados e donas de casa. Como você viu na disciplina Introdução a Economia, há desemprego quando uma pessoa em idade produtiva quer trabalhar, mas não encontra emprego ou encontra trabalho em condições precárias de subemprego. Um “bico”, portanto, também costuma ser considerado como desemprego, já que não dá garantias de estabilidade e segurança para o trabalhador. O desemprego é, na realidade, um resultado involuntário de todo processo de industrialização. É importante destacarmos que foi a revolução industrial inglesa, entre fins do século XVIII e início do século XIX, que gerou uma enorme massa de desempregados. O mesmo ocorreria com outras potências europeias em seguida.  Isso acontece, de um lado, porque as máquinas, em constante evolução tecnológica, são poupadoras de mão de obra.  E, por outro lado, porque a industrialização se acompanhada da urbanização, pois os trabalhadores rurais são atraídos pelos salários dos centros urbanos. Como o sistema não gera trabalho para todos, sempre existe uma massa, mais ou menos importante, de desempregados. O tamanho dessa massa de desempregados está em função da conjuntura econômica, mas também das políticas sociais e de emprego que o governo adota.

No Brasil, a rápida evolução industrial e o inchaço dos centros urbanos que se deu entre os anos 1950 e 1980 não acompanhou, como em outros países, de uma preocupação sistemática dos governos com a fixação de uma parcela da população no campo por meio de reforma agrária ou de políticas bem articuladas de seguridade social. Um segmento importante, em torno da metade da população economicamente ativa, seguiu sem emprego formal e, portanto, excluída dos benefícios que os trabalhadores com carteira assinada recebem do sistema de proteção social, como seguro desemprego, aposentadoria entre outros mecanismos que regulam as relações trabalhistas, reforçados com a Constituição de 1988. Nessa perspectiva, a crise do emprego no Brasil se tornou um problema econômico crônico de sua economia a partir da recessão do início de 1980. Os planos de ajuste macroeconômico adotados desde então colocaram o foco sempre na inflação, sem se preocuparem com as consequências em termos de emprego. Segundo Pochmann (2008, p. 65), [...] o colapso no padrão de financiamento da evolução nacional logo no início da década de 1980, com a crise da dívida externa, levou à adoção de programas de ajustes macroeconômicos que até hoje inviabilizam a plena retomada do crescimento econômico sustentado. No cenário de semi-estagnação, de fortes e rápidas oscilações econômicas e de alta inflação, o país acabou por romper com a estruturação do mercado de trabalho inaugurada ainda na década de 1930.A oscilação no nível emprego ficou dependente, desde então, da situação conjuntural da economia brasileira. Com exceção do primeiro governo Lula não houve uma preocupação em abordar as causas estruturais do desemprego e da informalidade no País e, pelo contrário, o que se viu foi uma política de flexibilização do trabalho, mais claramente colocada em prática a partir de 1990, a qual foi apoiada por vários economistas liberais.

A flexibilização teve origem a partir de uma concepção do funcionamento da economia, segundo a qual as normas trabalhistas incorrem em um custo   demasiado elevado e afetam a eficiência do setor produtivo. Esse questionamento ganhou força em um momento de grande pressão sobre a estrutura produtiva a partir da crise de 1970 nos países centrais. Como essa concepção vem dominando o debate nos últimos anos, uma série de medidas foram adotadas, especialmente desde meados dos anos 1990, permitindo a instituição do contrato temporário de trabalho, a proliferação dos empregos terceirizados e a multiplicação de trabalhadores autônomos sem contrato fixo com as empresas. Note que a flexibilização do trabalho não é um processo exclusivo da economia brasileira. Ele vem ocorrendo em diferentes países da América Latina e também em países de capitalismo avançado, como EUA ou França. Contudo, é importante perceber que o Brasil parte de um nível inferior em termos da qualidade de sua rede de proteção social e das normas trabalhistas, se comparado ao conjunto de países desenvolvidos. Para citar alguns exemplos:

 

·        Menos de 10% da população adulta têm Ensino Superior no Brasil, frente a cerca de 25% nos países avançados (segundo dados do IBGE e OCDE);

·        O seguro-desemprego   não   contempla   a   massa   de   trabalhadores informais e tem duração e remuneração muito limitadas em nosso país;

·        A falta de investimentos no setor de saúde pública mantém o Brasil distante dos níveis adequados em uma série de indicadores da Organização Mundial de Saúde. Isso explica em parte a gravidade da crise social que enfrentamos atualmente.

 

Outro elemento importante para que se compreenda a evolução recente do desemprego e do subemprego (ou emprego precário) em nossa economia consiste em observar o que ocorreu com o emprego industrial nos últimos tempos. Vimos que, após um período relativamente exitoso pelo qual se caracterizou o nosso processo de industrialização, iniciou-se um período de retração na indústria nacional, a partir das sucessivas crises desencadeadas em princípios dos anos 1980. Em contraposição ao que ocorria no período anterior, costuma-se caracterizar o período atual de desindustrialização.  Diversos fatores estão por trás desse processo como a abertura comercial, a retração na política industrial e a adoção de novas tecnologias poupadoras de mão de obra não especializada. Sendo assim, pode-se dizer que o nível de emprego na indústria mergulhou em uma grave crise, que se iniciou com a abertura comercial decretada no governo Collor (1990). A produção industrial segue se expandindo, de forma bem lenta e apesar dos seguidos quadros recessivos.  Isso indica que os segmentos da indústria nacional que sobreviveram a esse processo o fizeram por meio de fortes transformações produtivas, cortando custos e adotando tecnologias poupadoras de mão de obra, como forma de fazer face à concorrência das importações. Durante o governo Cardoso, o preço da estabilização econômica e do controle da inflação foi o crescimento lento da indústria e a redução no emprego.

Como se sabe, um dos instrumentos principais para a manutenção da inflação em níveis baixos foi a valorização do câmbio, o que tornava as importações extremamente atraentes para o consumidor local. Assim, muitas indústrias tiveram de abandonar a produção, enquanto outras recorreram aos insumos importados, em lugar de comprá-los de fornecedores brasileiros. Note também que, pela primeira vez desde meados dos anos 1980, emprego e produto na indústria voltaram a crescer juntos no 1º governo Lula, como fruto do excelente cenário externo até meados de. O crescimento econômico observado nesse governo não beneficiou apenas o setor secundário, pois ele se estendeu a vários setores da economia. Isso explica a importante redução no desemprego entre 2004 e 2008, pouco antes da nova crise global atingir também a economia brasileira. A recuperação no nível de emprego no País se acompanhou de uma pequena melhora no nível de formalização, medido pela proporção de trabalhadores com carteira assinada no setor privado.  Ambos os indicadores estavam ao final de 2008 em seu melhor nível dos últimos dez anos, o que apontava para a boa conjuntura do mercado de trabalho naquele momento.  Ainda que parte dessas melhorias nas condições de emprego tenham sido revertidas por conta do impacto da crise global no Brasil, ao longo de 2009, em 2010 a expansão econômica já se dava em ritmo acelerado, registrando bons índices de contratação de trabalhadores.

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

IBGE. Síntese de indicadores sociais. Brasília, 2008.IPEA. Sobre a recente queda da desigualdade de renda no Brasil. Brasília, 2006.LESSA, Carlos. 15 anos de política econômica. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.

POCHMANN, Marcio. A década dos mitos. O novo modelo econômico e a crise do trabalho no Brasil. São Paulo: Contexto, 2001.

______. O emprego no desenvolvimento da nação. São Paulo: Boitempo Editorial, 2008.

 

 

 

Nenhum comentário :

Postar um comentário