Qual Era a Ideologia da Burguesia? Por Que a Unificação Alemã Dependeu do Seu Fortalecimento Político e Econômico? Por Que a Rússia Queria Intervir no Império Otomano?
Na
Europa, entre 1815 e 1848 houve certa valorização do Liberalismo - que era chamado de “ideologia da
burguesia” por defender os direitos e liberdades do indivíduo – uma vez
que isso justificava a sua ascensão política, paralela à ascensão
socioeconômica. E, ao lado do Liberalismo europeu surgiu também a ideia do Nacionalismo.
Na
primeira metade do século XIX houve uma tentativa de afirmação das forças
de conservação sobre as forças de transformação. Mas, era
impossível mudar o rumo da História e a ideia do Nacionalismo surgiu como
afirmação dos princípios liberais aplicados à Nação.
As
revoluções desse período também foram feitas em nome do Nacionalismo, pois era
urgente a defesa do direito de autodeterminação dos povos como reação à
política de intervenção. No entanto, em 1848 essas forças de transformação
cindiram-se em proletariado urbano e socialismo.
Então,
qual seria a alternativa da burguesia? Ela continuaria integrada ás forças de
transformação? Pragmática e realista a burguesia renunciou aos movimentos revolucionários
e, passando a achar romântica a via revolucionária, valorizou o Nacionalismo
para manter sua posição política e socioeconômica.
Nos anos
subsequentes o panorama político europeu foi marcado pela Política das
Nacionalidades, quando ocorreu a formação do Reino da Itália,
o surgimento do Império Alemão e a Questão
do Oriente prosseguiu com suas crises internacionais.
Na Itália
e na Alemanha a unificação partiu das áreas de crescente industrialização e
atendeu basicamente aos interesses de uma burguesia desejosa de formar um amplo
mercado nacional para seus produtos. Assim ocorreu na Itália. Na Alemanha, a
unificação econômica antecedeu à unificação política, a qual foi realizada sob
a direção da Prússia em três guerras sucessivas.
Em 1870
Paris foi sitiada pelos prussianos e, nesse mesmo ano, surgiu a Alemanha como
Estado Unificado após muitos séculos de fragmentação: _ era o Segundo Reich
(Império) que só terminou com a Primeira Guerra Mundial, quando de sua derrota.
A Questão
do Oriente ocorreu como uma luta de libertação das nacionalidades eslavas do
Império Otomano, pois a Inglaterra, a França, a Rússia e a Alemanha defendiam a
fragmentação (ou integridade) do Império Turco Otomano, de acordo com seus
interesses políticos e econômicos.
A Unidade
Alemã
Assim
como na Itália, a unificação alemã dependeu do fortalecimento político e
econômico – dentro do Liberalismo – de um Estado que defendesse o Princípio das
Nacionalidades. No caso germânico, o Estado foi o reino da Prússia onde, entre
1850 e 1860 teve notável desenvolvimento o capitalismo industrial, embora
persistisse o predomínio da aristocracia territorial (os junkers).
Os junkers eram
monarquistas, nacionalistas exaltados e partidários de soluções à força que
tinham Otto Von Bismarck como primeiro-ministro de Guilherme I (rei prussiano
de 1861 / 1888). Na sua concepção a unificação só poderia ocorrer pela
eliminação da influência política da Áustria, o que implicaria o emprego da
força militar.
Habilmente
Bismarck criou uma imagem odiosa da Áustria perante os demais Estados da
Confederação Germânica. Aliou-se a ela na Guerra dos Ducados Dinamarqueses,
onde os condados de Slesvig e de Holstein eram habitados por germânicos, mas
pertenciam ao rei da Dinamarca. Pela Paz de Viena foram colocados sob a
administração austríaca (Holstein) e prussiana (Slesvig).
Censurando
as atitudes austríacas nessa administração, Bismarck acabou provocando a guerra
ao ocupar o Holstein. A Guerra Austro-Prussiano (1866) foi precedida pela ação
diplomática de Bismarck que obteve a aliança da Itália e a neutralidade da
França.
Esmagada
pelo exército prussiano, a Áustria saiu da Confederação da Alemanha do Norte,
presidida pelo rei da Prússia e fortalecida pela anexação de Estados que se
haviam aliado à vencida Áustria.
A Unidade
Italiana
Assumindo o trono de Piemonte-Sardenha, o rei Vítor Emanuel II teve no seu chefe de gabinete (Camilo de Cavour) a grande figura para a execução da unificação da Itália. Depois de ter fortalecido política e economicamente o Reino Sardo-Piemontês – dentro do Liberalismo – aproveitou-se da conjuntura internacional europeia para obter apoio ao seu intento de unificar a Itália. Isto era impedido pela Áustria, que possuía a Lombardia-Venécia e estava unida à maioria dos dirigentes dos Estados italianos.
Cavour
compreendeu que o apoio de uma grande potência que fosse capaz de enfrentar a
Áustria era fundamental e, após sua entrevista com Napoleão III, concluiu a
aliança com a França. Caso o Piemonte fosse atacado pela Áustria teria o apoio
francês, inclusive para anexar a Lombardia-Venécia e expulsar os austríacos da
Península Italiana e, em troca, o Piemonte cederia Nice e Sabóia à França.
Napoleão
III se comprometeu movido por compensações territoriais, além de procurar
assegurar garantias financeiras e comerciais ao capitalismo francês. O conflito
começou tendo italianos e franceses derrotados os austríacos e conquistado a
Lombardia: pelo Tratado de Zurique ela foi entregue ao Piemonte-Sardenha.
Perdendo
a cobertura de Napoleão III, Cavour teve que tomar rumos próprios para a
unificação: as derrotas austríacas repercutiram em toda a Itália, onde os
movimentos revolucionários tomaram o poder nos ducados de Luca, Parma, Módena e
Toscana e no reino de Nápoles. Em 1861 Vítor Emanuel II foi proclamado rei da
Itália, cuja capital passou de Turim para Florença em 1865.
Ainda
permaneciam sem solução a Venécia (em poder da Áustria) e Roma (em poder do
Papa, agora protegido por tropas francesas). Negociações diplomáticas –
realizadas pelo governo italiano com a Áustria e o Papa – fracassaram e a
solução desses problemas ocorreu em estreita ligação com as etapas finais da
unificação alemã.
Aliando-se
à Prússia contra a Áustria, em 1866 a Itália conseguiu anexar a Venécia e, em
1870 após Napoleão III ter retirado suas tropas da “Cidade Eterna”, os
italianos ocuparam Roma – logo transformada em capital do reino da Itália.
A Questão
do Oriente
Foi o
conjunto de problemas políticos internacionais surgidos em consequência do
declínio do Império Otomano e, além disso, a área do Estreito de Bósforo passou
a ser alvo da disputa das potências europeias como a Rússia, a Inglaterra, a
França e a Áustria.
Essas
potências ora defendiam a integridade do Império Otomano, ora defendiam a sua
desintegração em vários Estados, sempre em função dos interesses políticos e
econômicos dessas grandes potências. A Rússia era uma das únicas potências
europeias que não possuía bons portos, os quais estavam afastados das rotas
comerciais, regiões de águas geladas ou facilmente bloqueáveis.
Durante
todo o século XIX a Rússia desenvolveu uma política de buscar uma saída para o
Mediterrâneo através do Estreito de Bósforo, daí o seu interesse em intervir no
Império Otomano – a pretexto de proteger os cidadãos eslavos.
A Inglaterra
tinha interesses econômicos e políticos no Mediterrâneo Oriental e em garantir
as rotas terrestres e marítimas que possibilitavam comunicação com a Índia,
fundamental para o Império Britânico. Por isso, não admitia uma expansão russa
à custa do Império Otomano.
Após a
derrota de Bonaparte, a França ficou isolada na Europa e procurou sair desse
isolamento aliando-se – por vezes – à Inglaterra e, ao mesmo tempo, ela tinha
interesses econômicos em várias áreas do Império Otomano, especialmente o
Egito.
A Áustria
era outro Estado europeu que necessitava de bons portos e por isso estava
interessada na livre navegação do rio Danúbio. Daí, ela procurou evitar que o
Princípio da Nacionalidade atingisse igualmente a nações a ela subordinadas
naquela área. A Áustria só veio intervir na Questão do Oriente a partir da
segunda metade do século XIX, quando foi afastada da Itália e da Alemanha por
ocasião da unificação política daqueles países.
Em
consequência dos interesses das potências europeias o Império Otomano sofreu
constantes desmembramentos e, essa fragmentação, representou o recuo dos turcos
da Península Balcânica e o surgimento de novos Estados com base nas
nacionalidades não turcas – búlgaros, romenos, gregos e sérvios. Portanto, as
principais “questões” do Oriente foram:
·
A Independência da Grécia apoiada pela Rússia (em
1829)
·
A Convenção dos Estreitos: vitória da diplomacia
inglesa desejosa de assegurar a sobrevivência do Império Otomano, estabelecendo
(contra os interesses da Rússia) que os Estreitos (Bósforo e Dardanelos)
estariam livres para a navegação em tempo de paz e fechados em tempos de
guerra.
·
A Guerra da Criméia (1835 / 1878) que resultou na
independência da Bulgária, da Romênia, do Montenegro e da Sérvia, além da
cessão da Bósnia e da Herzegovina à Áustria que recebeu a incumbência de
administrar aquelas províncias turcas.
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