sexta-feira, 24 de maio de 2024

A Política das Nacionalidades na Europa Durante a Idade Moderna

 Qual Era a Ideologia da Burguesia? Por Que a Unificação Alemã Dependeu do Seu Fortalecimento Político e Econômico? Por Que a Rússia Queria Intervir no Império Otomano?

 

 



Na Europa, entre 1815 e 1848 houve certa valorização do Liberalismo -  que era chamado de “ideologia da burguesia” por defender os direitos e liberdades do indivíduo – uma vez que isso justificava a sua ascensão política, paralela à ascensão socioeconômica. E, ao lado do Liberalismo europeu surgiu também a ideia do Nacionalismo.

Na primeira metade do século XIX houve uma tentativa de afirmação das forças de conservação sobre as forças de transformação. Mas, era impossível mudar o rumo da História e a ideia do Nacionalismo surgiu como afirmação dos princípios liberais aplicados à Nação.

As revoluções desse período também foram feitas em nome do Nacionalismo, pois era urgente a defesa do direito de autodeterminação dos povos como reação à política de intervenção. No entanto, em 1848 essas forças de transformação cindiram-se em proletariado urbano e socialismo.

Então, qual seria a alternativa da burguesia? Ela continuaria integrada ás forças de transformação? Pragmática e realista a burguesia renunciou aos movimentos revolucionários e, passando a achar romântica a via revolucionária, valorizou o Nacionalismo para manter sua posição política e socioeconômica.

Nos anos subsequentes o panorama político europeu foi marcado pela Política das Nacionalidades, quando ocorreu a formação do Reino da Itália, o surgimento do Império Alemão e a Questão do Oriente prosseguiu com suas crises internacionais.

Na Itália e na Alemanha a unificação partiu das áreas de crescente industrialização e atendeu basicamente aos interesses de uma burguesia desejosa de formar um amplo mercado nacional para seus produtos. Assim ocorreu na Itália. Na Alemanha, a unificação econômica antecedeu à unificação política, a qual foi realizada sob a direção da Prússia em três guerras sucessivas.

Em 1870 Paris foi sitiada pelos prussianos e, nesse mesmo ano, surgiu a Alemanha como Estado Unificado após muitos séculos de fragmentação: _ era o Segundo Reich (Império) que só terminou com a Primeira Guerra Mundial, quando de sua derrota.

A Questão do Oriente ocorreu como uma luta de libertação das nacionalidades eslavas do Império Otomano, pois a Inglaterra, a França, a Rússia e a Alemanha defendiam a fragmentação (ou integridade) do Império Turco Otomano, de acordo com seus interesses políticos e econômicos.

 

A Unidade Alemã

 

 Assim como na Itália, a unificação alemã dependeu do fortalecimento político e econômico – dentro do Liberalismo – de um Estado que defendesse o Princípio das Nacionalidades. No caso germânico, o Estado foi o reino da Prússia onde, entre 1850 e 1860 teve notável desenvolvimento o capitalismo industrial, embora persistisse o predomínio da aristocracia territorial (os junkers).

 Os junkers eram monarquistas, nacionalistas exaltados e partidários de soluções à força que tinham Otto Von Bismarck como primeiro-ministro de Guilherme I (rei prussiano de 1861 / 1888). Na sua concepção a unificação só poderia ocorrer pela eliminação da influência política da Áustria, o que implicaria o emprego da força militar.

Habilmente Bismarck criou uma imagem odiosa da Áustria perante os demais Estados da Confederação Germânica. Aliou-se a ela na Guerra dos Ducados Dinamarqueses, onde os condados de Slesvig e de Holstein eram habitados por germânicos, mas pertenciam ao rei da Dinamarca. Pela Paz de Viena foram colocados sob a administração austríaca (Holstein) e prussiana (Slesvig).

Censurando as atitudes austríacas nessa administração, Bismarck acabou provocando a guerra ao ocupar o Holstein. A Guerra Austro-Prussiano (1866) foi precedida pela ação diplomática de Bismarck que obteve a aliança da Itália e a neutralidade da França.

Esmagada pelo exército prussiano, a Áustria saiu da Confederação da Alemanha do Norte, presidida pelo rei da Prússia e fortalecida pela anexação de Estados que se haviam aliado à vencida Áustria.

 

A Unidade Italiana

 



Assumindo o trono de Piemonte-Sardenha, o rei Vítor Emanuel II teve no seu chefe de gabinete (Camilo de Cavour) a grande figura para a execução da unificação da Itália. Depois de ter fortalecido política e economicamente o Reino Sardo-Piemontês – dentro do Liberalismo – aproveitou-se da conjuntura internacional europeia para obter apoio ao seu intento de unificar a Itália. Isto era impedido pela Áustria, que possuía a Lombardia-Venécia e estava unida à maioria dos dirigentes dos Estados italianos. 

Cavour compreendeu que o apoio de uma grande potência que fosse capaz de enfrentar a Áustria era fundamental e, após sua entrevista com Napoleão III, concluiu a aliança com a França. Caso o Piemonte fosse atacado pela Áustria teria o apoio francês, inclusive para anexar a Lombardia-Venécia e expulsar os austríacos da Península Italiana e, em troca, o Piemonte cederia Nice e Sabóia à França.

Napoleão III se comprometeu movido por compensações territoriais, além de procurar assegurar garantias financeiras e comerciais ao capitalismo francês. O conflito começou tendo italianos e franceses derrotados os austríacos e conquistado a Lombardia: pelo Tratado de Zurique ela foi entregue ao Piemonte-Sardenha.

Perdendo a cobertura de Napoleão III, Cavour teve que tomar rumos próprios para a unificação: as derrotas austríacas repercutiram em toda a Itália, onde os movimentos revolucionários tomaram o poder nos ducados de Luca, Parma, Módena e Toscana e no reino de Nápoles. Em 1861 Vítor Emanuel II foi proclamado rei da Itália, cuja capital passou de Turim para Florença em 1865.

Ainda permaneciam sem solução a Venécia (em poder da Áustria) e Roma (em poder do Papa, agora protegido por tropas francesas). Negociações diplomáticas – realizadas pelo governo italiano com a Áustria e o Papa – fracassaram e a solução desses problemas ocorreu em estreita ligação com as etapas finais da unificação alemã.

Aliando-se à Prússia contra a Áustria, em 1866 a Itália conseguiu anexar a Venécia e, em 1870 após Napoleão III ter retirado suas tropas da “Cidade Eterna”, os italianos ocuparam Roma – logo transformada em capital do reino da Itália.

 

A Questão do Oriente

 

Foi o conjunto de problemas políticos internacionais surgidos em consequência do declínio do Império Otomano e, além disso, a área do Estreito de Bósforo passou a ser alvo da disputa das potências europeias como a Rússia, a Inglaterra, a França e a Áustria.

Essas potências ora defendiam a integridade do Império Otomano, ora defendiam a sua desintegração em vários Estados, sempre em função dos interesses políticos e econômicos dessas grandes potências. A Rússia era uma das únicas potências europeias que não possuía bons portos, os quais estavam afastados das rotas comerciais, regiões de águas geladas ou facilmente bloqueáveis.

Durante todo o século XIX a Rússia desenvolveu uma política de buscar uma saída para o Mediterrâneo através do Estreito de Bósforo, daí o seu interesse em intervir no Império Otomano – a pretexto de proteger os cidadãos eslavos.

A Inglaterra tinha interesses econômicos e políticos no Mediterrâneo Oriental e em garantir as rotas terrestres e marítimas que possibilitavam comunicação com a Índia, fundamental para o Império Britânico. Por isso, não admitia uma expansão russa à custa do Império Otomano.

Após a derrota de Bonaparte, a França ficou isolada na Europa e procurou sair desse isolamento aliando-se – por vezes – à Inglaterra e, ao mesmo tempo, ela tinha interesses econômicos em várias áreas do Império Otomano, especialmente o Egito. 

A Áustria era outro Estado europeu que necessitava de bons portos e por isso estava interessada na livre navegação do rio Danúbio. Daí, ela procurou evitar que o Princípio da Nacionalidade atingisse igualmente a nações a ela subordinadas naquela área. A Áustria só veio intervir na Questão do Oriente a partir da segunda metade do século XIX, quando foi afastada da Itália e da Alemanha por ocasião da unificação política daqueles países.

Em consequência dos interesses das potências europeias o Império Otomano sofreu constantes desmembramentos e, essa fragmentação, representou o recuo dos turcos da Península Balcânica e o surgimento de novos Estados com base nas nacionalidades não turcas – búlgaros, romenos, gregos e sérvios. Portanto, as principais “questões” do Oriente foram:

 

·                     A Independência da Grécia apoiada pela Rússia (em 1829)

·                     A Convenção dos Estreitos: vitória da diplomacia inglesa desejosa de assegurar a sobrevivência do Império Otomano, estabelecendo (contra os interesses da Rússia) que os Estreitos (Bósforo e Dardanelos) estariam livres para a navegação em tempo de paz e fechados em tempos de guerra.

·                     A Guerra da Criméia (1835 / 1878) que resultou na independência da Bulgária, da Romênia, do Montenegro e da Sérvia, além da cessão da Bósnia e da Herzegovina à Áustria que recebeu a incumbência de administrar aquelas províncias turcas.

 

OBSERVAÇÃO: No século XX outras crises balcânicas ocorreram e acabaram se constituindo nos antecedentes da Primeira Guerra Mundial.



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